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3 METODOLOGIA

3.1 A construção da Matriz de Contabilidade Social

As Matrizes de Contabilidade Sociais (MCS) consistem em um sistema de dados amplo e complexo que captura as interdependências existentes no sistema socioeconômico. Essas matrizes contemplam não apenas as relações intersetoriais, mas também agregam um conjunto de informações acerca da produção, da remuneração dos fatores e de estrutura da demanda que podem receber desagregações por setores e grupos socioeconômicos (VALVERDE et al, 2003).

A literatura apresenta diferentes aplicações para essas matrizes como, por exemplo, para determinar os setores-chave da economia, os fluxos inter-regionais da região ou estado, a distribuição de renda entre os grupos socioeconômicos, a estrutura e a tecnologia da produção e os recursos obtidos pelos grupos. A partir das MCS, podem ser mensurados os impactos exógenos que resultam das exportações, dos gastos do governo e dos investimentos (KURESKI, 2003). Além disso, uma vez obtida uma MCS balanceada, esta constitui uma base de informação fundamental à modelagem de multiplicadores de impacto econômico e dos Modelos de Equilíbrio Geral Computável (MEGC).

Essas matrizes também recebem diversas classificações, dependendo da disponibilidade de dados e das características específicas do espaço econômico em análise (nacional, regional, inter-regional ou local). No âmbito nacional, por exemplo, uma MCS apresenta a vantagem de ser puramente oriunda de dados gerados por fontes nacionais possibilitando um estudo mais próximo da realidade em questão (PINHEIRO; ELLERY JÚNIOR, 2007). Em relação às análises regionais, a principal vantagem está em fornecer um detalhamento mais realístico da estrutura de produção e tecnológica, além de permitir uma melhor avaliação dos efeitos das políticas macroeconômicas nas regiões específicas (NUÑEZ; KURESKI, 2005). Além disso, as características próprias da MCS guardam uma importante relação com o processo de desenvolvimento regional, uma vez que essa metodologia captura os encadeamentos entre os diversos agentes e os mercados (SANTANA, 2004).

No entanto, a principal dificuldade vinculada à construção dessas matrizes no âmbito regional ou sub-regional consiste na obtenção de dados, sendo a provável razão para a escassez de estudos nestes contextos. Dessa maneira, explicita-se a necessidade de desenvolver uma estrutura consistente de informações no plano estadual, que estimule a construção dessas matrizes para outros estados da federação. Uma vez obtida a MCS, torna-se possível verificar o campo de ação de cada atividade e da economia como um todo do espaço econômico em análise, bem como as repercussões dos efeitos de políticas econômicas, por meio das análises dos modelos multiplicadores (FIGUEIREDO, 2006).

Com bases nas características da MCS, pode-se afirmar que a mesma constitui um importante instrumento de análise econômica, uma vez que oferece detalhes sobre o processo de geração de renda e as fontes e destinos das transações registradas entre os agentes econômicos de uma economia. Portanto, esta Tese tem por objetivo a construção de uma MCS para o Estado de Pernambuco, considerando a estrutura produtiva de 1999, e avaliar os impactos econômicos dos investimentos o setor de petróleo sobre a referida economia, que vem sendo considerado como um segmento estratégico no cenário atual. O uso dessa ferramenta se justifica não só pelas características inerentes dessas matrizes, mas também pela escassez de estudo desta natureza no âmbito estadual e sua capacidade de gerar informações para a formulação de políticas públicas.

A partir dessa matriz, inicialmente, serão obtidos os multiplicadores setoriais (ou contábeis) e promovidos os choques exógenos na demanda final dos macro setores selecionados (agropecuária, indústria e serviços) para observar os impactos em termos de geração de produção, emprego, renda, impostos e importações. Trata-se de um exercício importante para a análise geral da estrutura produtiva pernambucana e, especificamente, do comportamento do setor de petróleo, diante das referidas alterações nas demais atividades econômicas. Posteriormente, o setor de petróleo receberá injeções exógenas de recursos na sua demanda final, representadas pelo investimentos anunciados pelo governo federal para a implantação da refinaria. Além desses indicadores, calculam-se os índices de ligação e de dispersão para trás e para frente e delineia-se a matriz de intensidade para verificar o poder de encadeamento setorial, sobretudo do setor de petróleo na economia estadual. Ainda sobre este setor, desenvolver-se-á a decomposição da matriz de efeitos globais, uma vez que seus elementos desempenham papeis específicos, sendo uma outra contribuição alcançada pelo uso da MCS.

Outro aspecto referente a importância deste estudo, utilizando uma MCS, está no fato de que os estudos realizados para avaliar o impacto econômico desses investimentos se baseiam no uso das Matrizes de Insumo-Produto (MIP). Apesar do uso freqüente destas matrizes, as estimativas podem ser subestimadas, pois as MIP não contemplam diretamente os fluxos econômicos que se originam nas atividades produtivas em direção aos fatores de produção e destes para as instituições. Os referidos problemas foram contornados a partir da construção de uma nova geração de matrizes inicialmente delineadas por Stone e, posteriormente, formalizadas por Pyatt e Thorbecke, permitindo a análise de uma estrutura adequada que retrata o fluxo circular de qualquer economia.

Sendo assim, além desta introdução, este capitulo está organizado da seguinte forma: (i) caracterização geral das MCS; (ii) apresentação da estrutura e construção da MCS de Pernambuco; (iii) descrição dos multiplicadores de impacto global e sua decomposição; (iv) análise dos impactos das mudanças na demanda final; (v) estimação dos indicadores de encadeamento setorial.