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2. A INDÚSTRIA BRASILEIRA DO PETRÓLEO E O NOVO AMBIENTE DE

2.3. Uma breve análise do setor de refino brasileiro

Nas últimas décadas, o refino de petróleo tem enfrentado novos desafios no âmbito mundial, necessitando passar por um amplo processo de ajuste para eliminar o excesso de capacidade (fechamento de plantas ineficientes e/ou não adequadas aos padrões de consumo), elevar o grau de utilização do parque de refino e reduzir custos operacionais. Além disso, observa-se uma crescente demanda por derivados leves, cuja oferta tem se mostrado insuficiente, enquanto que a capacidade de refino instalada favorece a produção de petróleo

pesado. Com a oferta insuficiente de derivados leves, o prêmio por este tipo de produto tende a aumentar (SANTOS, 2006a). Essa mudança no perfil da demanda mundial por derivados pode ser explicada pelas recentes exigências ambientais por parte dos governos e por parte dos próprios mercados, que demandam produtos e processos cada vez mais “limpos” e forçam o setor a buscar de melhorias contínuas (MARIANO, 2001).

Outro fator que chama a atenção na atualidade é a crescente integração entre o refino e a indústria petroquímica. Esta importante ligação vem contribuindo para atendimento das necessidades de petroquímicos básicos. No caso brasileiro, dado o aumento na produção de petróleo, a integração entre os dois ramos industriais representa a forma mais viável e competitiva para atender o crescente mercado nacional de petroquímicos. Essa possibilidade pode diminuir a dependência externa para fornecimento de insumos petroquímicos, além de agregar valor ao petróleo brasileiro (MOREIRA et al, 2007). No entanto, o porte reduzido das empresas e a disponibilidade de matérias-primas representavam os principais limitadores da expansão petroquímica do País (BASTOS, 2009).

Ademais, até bem pouco tempo, considerava-se a falta de investimentos como um ponto problemático para o desenvolvimento do setor de refino do petróleo brasileiro, gerando um forte impacto negativo na cadeia. Assim, com base nas necessidades recentes da indústria petrolífera, o ambiente econômico exige o investimento em novas refinarias e desenvolvimento tecnológico que possibilitem a utilização do petróleo nacional como matéria-prima e que garantam uma efetiva melhora na qualidade dos produtos obtidos, visando ainda competir no mercado internacional (MARTINI; ANTUNES, 2003). Em consonância com estes aspectos, a Petrobras anunciou novos investimentos em refino e das perspectivas positivas com a descoberta das enormes reservas de petróleo/gás do pré-sal ocorrida em 2007(BASTOS, 2009). A descoberta dessas reservas constitui um importante marco na indústria do petróleo, uma vez que inaugura uma nova fronteira de exploração na camada pré-sal, com resultados possivelmente muito promissores. Essa nova fronteira poderá resultar em um grande redesenho das reservas brasileiras, podendo ampliá-las em até 40%, e elevar o Brasil à condição de grande produtor (POSTALI, 2009).

Para aproveitar as atuais oportunidades de negócio, a Petrobrás anunciou recentemente a implantação de duas refinarias: O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e Refinaria Abreu e Lima (RAL). No contexto específico desta Tese, serão utilizadas as

informações relativas à RAL para representar o aumentos nos investimentos da indústria petrolífera pernambucana e, assim, mensurar seus impactos sobre a economia estadual.

Essa refinaria processará petróleo pesado do campo de Carabobo 1 e do campo de Marlim Sul, na Bacia de Campos. A produção se destinará, basicamente, aos mercados das Regiões Norte e Nordeste. Além de óleo diesel, espera-se que a unidade produza gás liquefeito de petróleo, coque e nafta petroquímica, que é matéria-prima para a produção de resinas plásticas (LIMA, 2009). A opção por Pernambuco pode ser explicada pelo histórico de déficits de derivados de petróleo nas regiões Norte e Nordeste, pela possibilidade de redução de custos com transporte de derivados para esses mercados e por se enquadrar em uma política governamental desenvolvimentista. Além disso, a região nordestina se caracteriza pela sua inexpressiva participação na produção nacional de petróleo e sua capacidade instalada de refino se mostra insuficiente, gerando constantes necessidades de importações. Os investimentos da RAL proporcionarão um amplo rebatimento em diversas cadeias produtivas como o setor têxtil, máquinas, calçados, tintas, devido à participação dos derivados da matéria-prima. Deve-se salientar ainda os efeitos sobre a construção civil, comércio, serviços, mercado imobiliário etc. Sua instalação também poderá estimular a demanda por aço, reforçando a necessidade de construção de nova siderúrgica na Região, promover um reaquecimento das plantações de cana-de-açúcar e da fabricação do biodiesel, trazendo uma nova perspectiva de inclusão social no semi-árido nordestino. Além desses efeitos, esperam-se ainda a geração de receitas com os pagamentos de royalties aos estados e municípios e de aluguéis aos proprietários das terras exploradas e a geração de serviços e de empregos na região, beneficiando Pernambuco e o Nordeste (OLIVEIRA et al, 2007).

Dessa forma, com a instalação da RAL, a região Nordeste estará inserida no atual processo de expansão da indústria nacional de petróleo, nos investimentos diretos da Petrobras e de outras operadoras, nos pagamentos de royalties e de impostos e na criação da infraestrutura correlata, sendo beneficiada pela geração de emprego e renda em muitos setores da economia. No entanto, para que a Região possa melhor aproveitar os efeitos econômicos desse empreendimento, faz-se necessária a implementação de políticas de integração dos produtores locais aos novos investimentos na fase de construção e de operação. Neste contexto, deve-se salientar ainda a necessidade do fortalecimento das instituições como universidades, centros de capacitação, institutos de pesquisa, agências e bancos de

desenvolvimento que desempenham um importante papel no atual processo (OLIVEIRA et al, 2007)8.

Portanto, a partir desta breve análise das características e do contexto histórico da indústria petrolífera, torna-se possível compreender as recentes transformações pelas quais vem passando a referida indústria, bem como seus desafios e perspectivas. Tais mudanças nessa indústria foram ainda mais intensas com os choques do petróleo e as transformações estruturais ocorridas na economia brasileira na década de 1990. Verificou-se ainda a importância assumida por este setor no contexto de novos investimentos e a necessidade de inserir a região Nordeste nesse processo. Vale destacar que o Capítulo 5 desta Tese efetua uma abordagem mais aprofundada sobre a RAL e os efeitos do aumento nos investimentos do setor de petróleo sobre a economia pernambucana.

O capítulo seguinte traz uma breve abordagem a respeito das MCS, os procedimentos empregados para a construção dessa matriz para Pernambuco e os indicadores adotados para complementar as análises.

8 No entanto, conforme os autores, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo setor de petróleo nordestino é

a baixa oferta de mão-de-obra qualificada, o que pode comprometer os impactos econômicos positivos da atividade na Região. Para reverter esta situação, criou-se o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (PROMINP) em 2003, sendo o maior desafio é preparar mão-de-obra especializada para garantir o atendimento à demanda da cadeia de fornecedores da Petrobras e de seus concorrentes.