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3 METODOLOGIA

3.2 Caracterização de uma MCS

As MCS foram inicialmente desenvolvidas pelo trabalho pioneiro de Richard Stone nos anos 1970. Posteriormente, Graham Pyatt e Erik Thorbecke formalizaram essas matrizes para análise de impacto e mostraram como as mesmas poderiam ser empregadas para a formulação de políticas e propostas de planejamento econômico. As MCS oferecem uma estrutura organizacional de dados úteis para analistas e tomadores de decisão, pois incorpora vários relacionamentos entre as variáveis que mapeiam a distribuição de renda de uma estrutura produtiva (THORBECKE, 2000). Sua estrutura registra as transações econômicas dos agentes em um dado período de tempo, contabilizando as despesas e as receitas dos agentes econômicos representados genericamente pelas famílias, governo, firmas e resto do mundo, além dos fatores de produção empregados nas atividades produtivas (PINHEIRO; ELLERY JÚNIOR, 2007).

Torna-se importante ressaltar que os resultados diferem das estimativas baseadas nas tradicionais MIP. Os multiplicadores de uma MIP podem ser acrescidos em virtude da introdução dos efeitos induzidos. Em outras palavras, seus multiplicadores capturam somente os efeitos interindustriais, enquanto que os da MCS captam não somente os efeitos diretos e

indiretos, mas também os efeitos induzidos sobre a renda dos fatores de produção e das famílias e o produto das atividades econômicas. Outra característica das MCS é que a matriz de multiplicadores pode ser facilmente decomposta, adicionando um grau extra de transparências na compreensão da natureza das ligações de uma economia e dos efeitos distributivos e suas conseqüências (ROUND, 2007).

A construção dessas matrizes exige uma grande quantidade de dados, encontrada nas mais variadas fontes como, por exemplo, contas nacionais ou regionais, a matriz de relações intersetoriais e os censos. Também não há uma forma padrão para a estrutura das MCS, pois elas podem ser construídas de diferentes maneiras, dependendo do propósito do estudo, das características específicas do espaço econômico a ser analisado e da disponibilidade de dados. Na verdade, um dos aspectos mais relevantes na montagem de qualquer MCS consiste na sua capacidade de responder aos questionamentos para os quais foi destinada (FORCHEZATTO, 2005).

O resultado da compilação dessa diversidade de fontes de informações é uma matriz quadrada desbalanceada. Para solucionar esse problema, alguns métodos matemáticos de balanceamento são tratados na literatura. Schneider e Zenios (1990 apud ANDRADE; NAJBERG, 1997), mencionam duas classes de algoritmos usadas para gerar uma MCS equilibrada: a dos algoritmos escalares e a dos algoritmos de otimização. A primeira engloba o método RAS e suas variantes enquanto a segunda incorpora as funções denominadas de quadrática (compreende a utilização do método de mínimos quadrados ordinários) e entropia (baseia-se nos fundamentos da teoria da informação).

Apesar das diferenças estruturais entre as MCS, elas mantêm algumas características comuns. Tratam-se de matrizes quadradas em que cada linha (entrada) representa os recebimentos referentes a cada conta, ao passo que as colunas (saída) registram os gastos correspondentes e que a soma da linha deve ser igual à soma de coluna correspondente. A MCS é organizada em vários conjuntos de contas, que representam setores e instituições de uma economia. Em geral, a estrutura básica de uma MCS contempla as seguintes contas: a conta de fatores de produção (que inclui as subcontas de trabalho e capital), a conta das famílias, a conta das empresas, a conta do governo, a conta de capital e a conta do resto do mundo (FORCHEZATTO, 2005).

As contas definidas para compor uma MCS, por sua vez, podem receber diferentes classificações ou modos de desagregação. Kureski (2003) apresenta algumas dessas desagregações: (i) a conta produção pode ser segmentada conforme a tecnologia empregada pela indústria, pelo tamanho da empresa, pelo número de empregados, pela localização ou pela produção de produtos para exportação ou consumo interno; (ii) a conta das famílias pode ser dividida em rural e urbana, nível de renda, categoria profissional ou nível de escolaridade; (iii) as empresas podem ser agrupadas de acordo com a propriedade, nacional ou multinacional e privada ou pública; (iii) a conta do governo pode ser desagregada em federal, estadual ou municipal e também aberta por categoria de despesa; (iv) os fatores de produção podem ser desagregados, no caso do trabalho, em assalariado, conta própria ou empresário, sexo, educação e tamanho da empresa. Para o fator terra, este pode ser desagregado pelo tamanho das propriedades ou pela localização enquanto o capital, em público ou privado e nacional ou multinacional.

Conforme o tipo de desagregação adotado, as MCS têm sido empregadas em diferentes níveis e campos de estudo. No tocante às análises voltadas para a realidade brasileira, podem ser citados alguns trabalhos que tratam os seguintes aspectos: determinar os impactos macroeconômicos e sociais devido às variações das exportações brasileiras (URANI

et al, 1994); apresentar uma metodologia que permita a atualização da MCS e das relações

interindustriais contidas na MIP para o Brasil (ANDRADE; NAJBERG, 1997); descrever o processo de construção da MCS do Rio Grande do Sul para 1995 (FORCHEZATTO; CURZEL, 2001); construir uma Matriz de Contabilidade Social atualizada para a economia da Amazônia (SANTANA, 2004); construir uma MCS referente ao Estado do Paraná (NUÑEZ; KURESKI, 2005)9 .

Contudo, apesar da vasta aplicação das MCS em diferentes tipos de estudo, essas matrizes não são isentas de limitações. Santana et al. (2006) comentam rapidamente algumas hipóteses básicas das MCS que restringem a sua aplicabilidade, mas que são fundamentais ao seu correto funcionamento. Uma delas está ligada a suposição de coeficientes técnicos fixos, pois supõe-se rendimentos constantes de escala para todos os setores da economia e a não substitutibilidade entre os fatores de produção. Essa hipótese limita o uso destes modelos em análises de longo prazo. Já a hipótese de agregação assume que as atividades econômicas que operam em dado setor fabricam produtos homogêneos e diferentes dos segmentos dos demais

9 Kureski (2003) desenvolveu uma revisão de literatura sobre as MCS desenvolvidas tanto para o Brasil quanto

setores. Esse pressuposto contribui para reunir as atividades conforme o perfil de produtos gerados por cada uma delas, apesar de se distanciar da realidade onde as empresas promovem algum tipo de diferenciação de produto. O uso de uma MCS também pressupõe que a economia opera com capacidade ociosa, onde um aumento exógeno na demanda pode ser atendido mediante o aumento da escala de produção de uma determinada atividade, nos mesmos níveis de custo. Isto permite que a estrutura da MCS funcione de acordo com os princípios teóricos de estímulos exógenos. Quanto ao ajustamento do mercado no curto prazo, este ocorrerá a partir de alterações nas quantidades produzidas e não por meio de alterações nos preços. Finalmente, assume-se que os preços das mercadorias da economia regional permanecem rígidos, pelo menos no curto prazo.

A partir da sua construção, essas matrizes representam uma imagem estática da economia em questão, compreendendo aspectos importantes dessa estrutura econômica. No entanto, o estudo do funcionamento da economia e dos efeitos de intervenções de políticas econômicas requer algo além dessa imagem estática, ou seja, a formulação de um Modelo de Equilíbrio Geral Computável (MEGC) (HADDAD, 2004). Na verdade, a construção desses modelos se fundamenta em atribuir formas funcionais ao comportamento dos agentes econômicos. Dessa forma, os MEGC podem ser tratados como extensões modernas das tradicionais MCS e MIP, uma vez que incorporam as variações nos preços relativos e na substituição de fatores de produção e de produtos, sendo mais ricos em detalhes (CARRARO

et al, 2006).

A partir da apresentação dos principais aspectos que envolvem uma MCS, o próximo passo é descrever os procedimentos utilizados para a construção dessa matriz para Pernambuco.