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3 METODOLOGIA

3.3 A MCS de Pernambuco

A MCS regional gerada para o Estado de Pernambuco apresenta como ano-base 1999 em virtude da maior disponibilidade de dados. Uma parte dos dados é proveniente da MIP de Pernambuco10. Também são utilizadas informações do Tesouro Nacional, do Anuário

Estatístico da Previdência Social, da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicilio (PNAD), Receita Federal, Ministério do Planejamento e Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco. A classificação das atividades que compõem a MCS segue a mesma estrutura contida na Matriz de Insumo-Produto (MIP)11.

Sabe-se que não há uma estrutura fixa para classificar ou desagregar bem como uma seqüência para se começar a construção de uma MCS. No caso da matriz de Pernambuco, o processo de montagem da matriz foi iniciado com o estabelecimento do ano-base. Em seguida, identificou-se a estrutura produtiva e as principais ligações estabelecidas com o setor externo da economia pernambucana, bem como foi escolhido o nível de desagregação de forma a capturar os detalhes e mecanismos de acordo com o objetivo da pesquisa e a disponibilidade de dados. Além disso, uma série de ajustes foi realizada com o intuito de compatibilizar os dados e obter uma MCS equilibrada. Assim, a matriz resultante contempla uma classificação de trinta e cinco setores produtivos (com mesmo número de produtos), dois fatores de produção (capital e trabalho) e quatro agentes econômicos (famílias, empresas, governos, setor externo). O estudo pretende ainda colaborar com os formuladores de política econômica no que tange o crescimento da economia pernambucana (QUADRO 1).

A classificação dada à MCS em relação às atividades tem a finalidade de aproveitar o detalhamento da MIP estadual e a disponibilidade de dados relativos a elas. Essas atividades reproduzem os setores produtivos da economia pernambucana cujas receitas (linhas) são oriundas das vendas nos mercados interno e externo e dos investimentos (que inclui a formação bruta de capital fixo e variação de estoques) enquanto as despesas (colunas), do consumo intermediário (itens produzidos dentro e fora da economia pernambucana) e dos pagamentos aos fatores de produção (referente à remuneração pelo aluguel destes) e de impostos ao governo. Assim, a conta das atividades produtivas retrata a oferta e a demanda de bens e serviços do estado, cujo equilíbrio entre estes valores significa dizer que não há desperdícios nesta economia.

11 Segundo os mesmos autores, a escolha das atividades e produtos para compor a MIP foi efetuada com base na

participação de cada um deles no contexto econômico do estado daquela época. Assim, os setores selecionados são aqueles de maior representatividade da economia pernambucana.

QUADRO 1 – Matriz de Contabilidade Social de Pernambuco, 1999.

Despesa

Atividades Trabalho Capital Famílias Empresas Governo estadual Governo federal Exportações para o resto do Brasil Exportações para o resto do mundo Investimento Demanda Total Receita Atividades CI CF CGE CGF XB XM I Trabalho RT Capital RK

Famílias RFT TEF TGEF TGFF

Empresas RFK

Governo estadual TIGE TDGE TGFE TXB TXM TIE

Governo federal TIGF CST CSK TDGF TIGF

Importações do

resto do Brasil MB MBF MIB

Importações do

resto do mundo MM MMF OXB OXM MIM

Poupança SF SE SGE SGF SXB SXM

Oferta Total

Onde: CI = consumo intermediário; CF = consumo das famílias; CGE = consumo do governo estadual; CGF = consumo do governo federal; XB = exportações do resto do Brasil; XM = exportações do resto do mundo; I = Investimento; RT = remuneração do trabalho; RK = remuneração do capital; RFT = remuneração do fator de produção (trabalho); TEF = transferência das empresas às famílias; TGEF = transferência do governo estadual às famílias; TGFF = transferências do governo federal às famílias; RFK = remuneração do fator de

produção (capital); TIGE = tributos indiretos pagos ao governo estadual; TDGE = tributos diretos pagos ao governo estadual; TGFE = transferências do governo federal ao governo estadual; TXB = Tributos pagos pela aquisição de bens produzidos em Pernambuco pelo resto do Brasil; TXM = Tributos pagos pela aquisição de bens produzidos em Pernambuco pelo resto mundo; TIE = tributos pagos pela aquisição de bens de investimento ao governo estadual; TIGF = tributos indiretos pagos ao governo federal; CST = contribuições sociais pagas pelo fator trabalho; CSK = contribuições sociais pagas pelo fator capital; TDGF = tributos diretos pagos ao governo federal; TIGF = tributos indiretos pagos ao governo federal; MB = importações do resto do Brasil; MBF = importações do reto do Brasil pagas pelas famílias; MIB = aquisições de bens de investimento do resto do Brasil; MM = importações do resto do mundo; MMF = importações do resto do mundo pagas pelas famílias; OXB = operações externas associadas às exportações do resto do Brasil; OXM = operações externas associadas às exportações do resto do mundo; MIM = aquisições de bens de investimento do resto do mundo; SF = poupança das famílias; SE = poupança das empresas; SGE = poupança do governo estadual; SGF = poupança do governo federal; SXB = poupança do resto do Brasil; SXM = poupança do resto do mundo.

Os fatores de produção englobam o trabalho e o capital, cujos rendimentos constituem o valor adicionado que é distribuído entre as instituições. No caso do fator trabalho12, a renda

foi estimada somando o rendimento do pessoal ocupado nas atividades e o rendimento do trabalho dos autônomos menos as contribuições sociais ao governo federal e a despesa, como sendo a alocação dos salários às famílias e o pagamento das contribuições sociais ao governo federal. Para o capital, as receitas são provenientes do resíduo entre o valor adicionado bruto total a preço básico (cuja fonte de dados foi a MIP de Pernambuco) e os salários menos as contribuições sociais e as reservas para depreciação. No caso das despesas, foi considerada a alocação da remuneração do capital às famílias, o pagamento das contribuições sociais ao governo federal e a provisão para depreciação13.

Quanto aos agentes econômicos, estes foram divididos em “famílias”, “empresas”, “governo” e “setor externo” cujas contas receberam as seguintes desagregações: (i) As “famílias” e as “empresas” permaneceram agregadas em um único grupo; (ii) O “governo” foi separado em estadual e federal com o intuito de evidenciar as transferências de recursos inter- governamentais; (iii) O setor externo foi desagregado em duas partes, denominadas de “resto do Brasil” e “resto do mundo”, para simular as transações da economia pernambucana com essas regiões externas.

As “famílias” recebem as remunerações provenientes do aluguel dos fatores de produção, pelas atividades e das transferências das empresas (na forma de Excedente Operacional Bruto) e das esferas de governo (pensões, aposentadorias etc.14). Já as despesas

são compostas pelo consumo de bens e serviços domésticos e importados, pagamento de tributos ao governo e formação de poupança. Vale ressaltar que há a igualdade entre os recebimentos e as despesas das famílias.

As “empresas” utilizam os fatores de produção e insumos intermediários para realizar o seu plano de produção ótimo. A produção, então, é distribuída no mercado doméstico e externo. Elas recebem rendimentos pela posse do fator de produção capital enquanto suas

12 A renda do fator trabalho recebeu a seguinte subdivisão: (i) empregados com carteira assinada; (ii)

empregados sem carteira assinada; (iii) empregadores; (iv) conta-própria. Estas informações foram geradas a partir de tabulações da PNAD. A desagregação dos rendimentos considerou aqueles oriundos do trabalho principal e do trabalho secundário e os não provenientes do trabalho para permitir a separação entre a remuneração efetiva do trabalho e a proveniente de aposentarias e pensões.

13 Considera-se a taxa de depreciação do estoque de capital adotada por Fochezzato e Curzel (2001). 14

despesas são formadas pelos tributos pagos aos governos, pelas transferências às famílias (EOB) e pelos lucros retidos.

As receitas do governo estadual correspondem ao total recolhido de impostos indiretos sobre comércio e serviço (ICMS, ISS), das transferências do governo federal para o governo estadual, impostos pela aquisição de bens de investimento e de produtos nacionais (pelo setor externo) e as despesas, ao consumo do governo estadual, às transferências do governo estadual para as famílias e à poupança. Em relação às transferências do governo estadual para o governo federal, assume-se valor zero. Para o governo federal, o total de recebimentos equivale ao montante arrecadado de impostos indiretos sobre as atividades de produção (IPI, Impostos sobre importações internacionais e Outro impostos sobre produto), das contribuições sociais sobre os fatores trabalho (INSS) e capital (Cofins, PIS/Pasep e outros) e dos impostos diretos sobre a renda das pessoas físicas e jurídicas que incidem sobre as “famílias” e “firmas” e impostos pela aquisição de bens de investimento e de produtos estrangeiros (pelo setor externo). As despesas referem-se ao consumo governamental, às transferências do governo federal para o governo estadual e para as famílias e formação de poupança. Similarmente às famílias e às empresas, os recebimentos e as despesas das esferas do governo devem coincidir.

Por fim, as contas “resto do Brasil” e “resto do mundo” registram os fluxos financeiros entre a economia de Pernambuco e o setor externo. Neste contexto, as receitas do setor externo aparecem na MCS como sendo as exportações (ou seja, o resultado das vendas a outros estados e países) e o ingresso de capital (poupança externa15). Em contrapartida, as importações representam as despesas, pois denotam os pagamentos por parte do estado, ao setor externo, pela aquisição de insumos e produtos acabados, refletindo o fluxo físico em sentido inverso ao das exportações. O saldo desses fluxos representa o valor recebido pela economia pernambucana como poupança externa corrente. Para estas contas, exige-se a igualdade entre o fluxo de entrada e saída de divisas do Estado.

A conta de acumulação registra a poupança das “famílias”, das “empresas” (na forma de depreciação), dos governos estadual e federal, e do “resto do Brasil” e do “resto do mundo”. Ela reproduz a igualdade entre a poupança e o investimento.

15 “... o qual é positivo quando a região apresenta déficit nas transações com o exterior e vice-versa.”