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A construção do frigorífico Safrita

No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 120-127)



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Com o recurso financeiro à disposição, a direção da empresa comprou o terreno e iniciou a execução do projeto. A Prefeitura Municipal de Itapiranga colaborou com o maquinário e os funcionários necessários para preparar o espaço físico com terraplanagem e a estrutura exigida para iniciar a construção do abatedouro. As obras de construção do frigorífico iniciaram no ano de 1963. Nesse sentido, o maior desafio da direção da empresa era o de manter o capital social e seus sócios coesos no projeto, evitando que a instituição entrasse em descrédito perante a população, visto que a obra iria se estender por quatro anos até que o frigorífico entrasse em funcionamento no ano de 1967.

A Câmara Municipal de Vereadores de Itapiranga aprovou uma lei no mês de Agosto de 1963, isentando o Frigorífico Safrita do pagamento de impostos municipais pelo período de dez anos. O projeto de lei foi da autoria do vereador Arthur Goerck, que se manteve na presidência da Safrita durante um longo período de seu funcionamento.

Figura 15: Obras de construção do frigorífico Safrita, ano de 1964.

Foto: Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller.

As obras de construção do frigorífico mantiveram-se constantes, visto a disponibilidade de recursos financeiros à disposição da direção para esse fim. Em atas de assembleias realizadas nos anos de 1963, 1964 e 1965, consta que os acionistas aprovaram por unanimidade os balanços financeiros da Sociedade Anônima. Fato que merece destaque é o que consta na ata da Assembleia Geral Ordinária de 27 de Outubro de 1963, quando a direção se absteve de qualquer honorário até que o frigorífico entrasse em funcionamento. Representado a diretoria, Rudi Goerck manifestou que a diretoria, “ao que pese seu esforço e

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seus gastos pessoais, ainda não desistiu de seu entusiasmo inicial de proporcionar à Itapiranga, o funcionamento desta indústria que assinalará o desenvolvimento do município. Até lá o faremos por mero idealismo.”177 Nessa mesma ata, o contador da Sociedade Anônima faz um apelo quanto à necessidade de mais uma chamada de capital junto aos associados e à população, o que demonstra a escassez de recursos próprios para dar continuidade ao projeto de construção do frigorífico.

Figura 16: Construção do frigorífico, ano de 1966. Fonte: Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller.

Como podemos perceber no comparativo entre as fotos 15 e 16, a obra avançou de forma lenta em dois anos. Diversos fatores podem explicar o ritmo do andamento das obras. Supomos que foi a escassez de capital disponível que pudesse agilizar a construção do frigorífico. Inicialmente o único capital disponível era provindo da venda de ações, sendo que o primeiro financiamento de uma agência de fomento somente foi viabilizado no ano de 1965. Em relatório publicado em jornal local, a diretoria da Safrita demonstra o empenho quanto à necessidade de diminuir os custos para o término da obra. Nesse sentido, foi utilizada uma rocha localizada no terreno da Safrita que foi utilizada para a produção de pedra brita para a obra. Através da análise da água do Rio Uruguai, cogitou-se a utilização da areia depositada no leito do rio, que submetida a um método obsoleto de lavagem, foi reprovada pelo engenheiro responsável pela obra. O artigo é finalizado com uma decisão da diretoria 

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frente aos custos da obra: “Insatisfeitos e impressionados ainda com o vulto monetário da obra, autorizamos o rebaixamento da construção de 5 para 3 andares, sem prejuízo de capacidade de matança.”178

Diante das adversidades e das dificuldades financeiras enfrentadas pela direção da empresa para a construção do frigorífico, as assembleias eram um momento em que a direção da empresa poderia demonstrar aos associados algo de concreto para justificar os seus investimentos no empreendimento, já que ainda não havia uma produção do frigorífico que pudesse gerar algum retorno financeiro aos investidores. Nas assembleias, os acionistas poderiam acompanhar o desenvolvimento da obra. Além disso, a direção da empresa buscava realizar discursos afirmativos da necessidade dos acionistas acreditar no projeto Safrita.

Na Assembleia Ordinária Geral de 20 de Setembro de 1964, em nome da diretoria da empresa, Lauro Schoeler novamente renunciou a quaisquer honorários enquanto o frigorífico não estivesse produzindo. “Entendem os diretores que a fase de construção não é época de se apropriar de polpudas gratificações mensais.”179 Na mesma assembleia, foi convidado o Padre da Paróquia de Itapiranga para fazer uso da palavra, e, conforme consta na ata, num momento verdadeiramente inspirado, elogiou mais uma vez a atitude da diretora em renunciar os honorários.

Percebemos que nas assembleias a diretoria recorria a muitos recursos para convencer os acionistas da legitimidade de seus investimentos na compra de ações do empreendimento Safrita. Na assembleia citada acima, em que estavam presentes 122 acionistas, perfazendo um total de 46.500 ações, além da fala de uma autoridade religiosa, foi realizada uma visita ao parque de obras do frigorífico.



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Figura 17: Assembleia da Safrita, ano de 1965. Foto: Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller

O frigorífico foi concluído e iniciou sua produção no ano de 1967, e para custear as despesas iniciais para as primeiras compras de matéria prima e para a instalação de equipamentos necessários para a fábrica, a Safrita realizou mais uma chamada de capital entre o seu quadro social e a comunidade de Itapiranga.

Figura 18: Inauguração oficial da Safrita em Setembro de 1967. Foto: Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller

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Na imagem acima do flagrante de inauguração do frigorífico, podemos perceber o quanto as autoridades religiosas participaram do processo de criação Sociedade Anônima Frigorífico de Itapiranga. Percebemos o clérigo benzendo o crucifixo de Jesus Cristo, imagem que ficou exposta no setor produtivo da fábrica, como sendo uma benção divina ao projeto Safrita.

5.3 O texto no contexto

Iniciado no ano de 1962, através da fundação da Sociedade Anônima Frigorífico de Itapiranga, o frigorífico de Itapiranga teve uma caminhada de quatro anos até que entrasse em funcionamento. Nesse período foram empreendidos esforços por parte da direção da empresa, autoridades políticas, lideranças religiosas e civis, no intuito de buscar os colonos para investirem no empreendimento Safrita. O objetivo maior era alavancar o capital social presente na região para concretizar a obra e também canalizar a matéria prima existente na região para o abate que se iniciaria com a inauguração da obra.

Da mesma forma, foram buscados recursos externos, provindos principalmente de instituições financeiras na forma de empréstimos para a construção do frigorífico, como o Banco do Brasil, visto que o capital coletado através da venda de ações não foi o suficiente para finalizar a obra. O frigorífico Safrita não recebeu de forma direta recursos financeiros de entidades estrangeiras, a não ser de forma indireta, através de pequenos repasses efetuados pela Caixa Rural de Itapiranga e da Comissão Municipal de Desenvolvimento Econômico, responsáveis por administrar os recursos das entidades alemãs Misereor e Adveniat.ϭϴϬ

 Constatamos que os colonos investiram no projeto Safrita motivados por certo grau de empreendedorismo, no intuito de investir suas economias num projeto em que se idealizava o desenvolvimento da região. No entanto, temos de ter presente que a influência que as lideranças envolvidas no empreendimento, como os comerciantes e os padres jesuítas, também foi um grande condicionante que deu certa segurança aos compradores de ações da Safrita.

 O desafio de construir o frigorífico foi vencido a muito custo por parte da direção da empresa, frente às adversidades e dúvidas que pairavam quanto à viabilidade do projeto Safrita. Era necessário convencer a população local da legitimidade do empreendimento, pois 

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foi necessário um valor financeiro considerável para construir um frigorífico dessa envergadura. O frigorífico Safrita pode ser contextualizado diante do empenho de lideranças locais interessadas na efetivação de um empreendimento industrial vinculado ao ramo da agricultura, principalmente de um projeto de visão positiva quanto às potencialidades da suinocultura na região. Podemos considerar que se tratou de um projeto de grande teor de empreendedorismo, favorecido, é claro, pela conjuntura histórica de expansão das indústrias alimentícias em Santa Catarina.

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No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 120-127)