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A necessidade de mão de obra qualificada

No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 137-142)

Uma das maiores dificuldades encontradas pelo frigorífico Safrita nos primeiros anos de funcionamento foi mão de obra qualificada. Como a produção era destinada a um mercado consumidor cada vez mais exigente diante da modernização do setor de alimentos no Brasil, foi necessário um esforço por parte da direção da empresa para buscar a qualificação do seu quadro de funcionários. Diante das perspectivas de comercialização era necessário dinamizar o setor produtivo do frigorífico visando uma maior produção no menor tempo possível e também era necessário efetuar os cortes corretos frente a cada linha de produtos comercializados pela empresa.

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Grande parte dos operários do frigorífico era provinda do município de Itapiranga e de municípios vizinhos do Rio Grande do Sul. Os operários, em sua maioria, eram filhos de colonos que não possuíam o interesse em trabalhar na agricultura por diversos fatores, principalmente pela falta de terra disponível para a formação de novos lotes ou até mesmo pelo simples desinteresse na atividade.

Podemos considerar que a implantação de um frigorífico em Itapiranga foi um dos grandes atrativos para os filhos de colonos abandonarem a agricultura e trabalharem na indústria. Isso representou uma ruptura histórica considerável na região, pois se formou a classe dos operários no município de Itapiranga, o que trouxe como consequência o êxodo rural e a intensificação da urbanização do município. No entanto, muitos dos operários continuaram vivendo no meio rural exercendo suas atividades profissionais no frigorífico, mas não abandonando completamente o estilo de vida característico da zona rural.194

O modelo de organização da linha e produção nos primeiros anos de funcionamento do frigorífico era bastante simples, sem muita utilização de equipamentos, sendo o trabalho feito quase que exclusivamente de forma braçal pelos operários. Com o passar dos anos e com o processo de expansão dos mercados consumidores, foi necessário dinamizar a linha de produção para aumentar a produtividade. Nesse sentido, alguns funcionários da empresa foram estimulados a fazerem cursos de aperfeiçoamento.

A principal inovação na linha de produção do frigorífico foi a implantação do sistema de nórias no final da década de 1970. Esse sistema já era utilizado em outros frigoríficos e consistia numa linha de produção onde os frangos, suínos e perus eram pendurados de modo que passassem por uma série de operários, onde cada um deles exercia um corte específico. Assim, era a matéria prima que ia em direção ao operário, e não o contrário, o que organizou o ambiente de trabalho e aumentou a produtividade. Para aperfeiçoar os cortes e dinamizar a produção, a empresa realizou diversas experiências visando implantar um sistema próprio.

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Figura 23: Linha de corte de frangos no sistema de nórias, década de 1970. Foto: Arquivo de Jacó Klagenberg.

Como podemos perceber na imagem acima, o sistema de nórias no abate de frangos dinamizou a produção do frigorífico. Assim, foi possível alcançar uma produtividade maior de cada operário. Precisamos destacar ainda a não utilização de equipamentos de higiene como luvas e máscaras.

Figura 24: Sistema de nória no abate de frangos, década de 1970. Foto: Arquivo de Dirce Drebel Sehnem.

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Na linha de abate de suínos, o sistema de nórias também implantou uma maior produtividade. Como se tratava de um animal de maior porte, nesse setor foram utilizadas serras e outros equipamentos visando o corte correto da carne. Temos de destacar que a implantação do sistema de nórias e necessidade de uma maior produção por parte dos operários, trouxe uma perspectiva de produção para os sujeitos que trabalhavam no setor produtivo do frigorífico.

Para aperfeiçoar e aumentar a produção, foram implantados modelos de metas por funcionários e por setor. Conforme funcionário responsável pela coordenação dos operários da Safrita, a qualificação e a agilidade dos operários para exercer os cortes da carne de forma correta foram uma das grandes dificuldades encontradas:

A maior dificuldade foi gente para trabalhar. Não, gente para trabalhar você conseguia. A dificuldade era achar gente para fazer o serviço, saber trabalhar, ensinar. A maior dificuldade foi ensinar o pessoal. O pessoal vinha da roça, não sabia nem pegar faca na mão e carne se cortou mal, tá cortada, não tem.195

Figura 25: Sistema de nórias no abate de suínos, década de 1970. Foto: Arquivo de Jacó Klagenberg.



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Com o processo de expansão da produção da Safrita no abate de suínos, frangos e perus, a empresa necessitou contratar mais operários para atuarem no abatedouro. Esse processo intensificou o crescimento de funcionários provindos do interior do município de Itapiranga, bem como dos municípios do Rio Grande do Sul. Juntamente nesse processo, os operários foram se profissionalizando, na medida em que foram sendo adotadas novas técnicas de produção no interior da fábrica. O operário passou a ter uma rotina maior dentro do frigorífico, como regras de postura e de trabalho que visavam dinamizar a produção.

Temos de destacar que o aumento de funcionários do frigorífico gerou novos padrões de trabalho na região de Itapiranga. Historicamente uma região predominantemente agrícola, onde grande parte da população trabalhava na agricultura e consequentemente vivia no estilo de vida típico do setor primário, o aumento dos trabalhadores vinculados ao setor industrial gerou novas perspectivas de trabalho e consequentemente novas visões de mundo. Nesse processo intensificaram-se novos padrões de tempo e de produção, novas relações sociais e novas perspectivas de mundo, característicos dos padrões de trabalho do setor industrial.

Figura 26: Refeitório para funcionários, década de 1970. Foto: Arquivo de Jacó Klagenberg

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No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 137-142)