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O Capital Social e o desenvolvimento econômico e social

No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 87-89)

3.3 Propostas de desenvolvimento para Itapiranga

3.3.4 O Capital Social e o desenvolvimento econômico e social

O Capital Social pode ser considerado uma característica marcante no processo de formação do município de Itapiranga, sendo um aspecto determinante para o nosso foco de estudo. A região apresenta essa peculiaridade por dois motivos, a destacar: o primeiro deles é a herança histórica e cultural da valorização do capital social entre as colônias alemãs. O segundo é o aspecto da necessidade da mobilização do capital social na região de Itapiranga por uma simples questão de sobrevivência frente às adversidades históricas do espaço.

A concepção de capital social se baseia nas redes de relacionamento de confiança, cooperação e inovação, vinculadas principalmente ao capital humano de uma sociedade. O capital social pode ser expresso através do acúmulo de capital financeiro, da força de trabalho, da solidariedade, da associação e de variadas expressões coletivas de cooperação. O capital social tem a função de promover o desenvolvimento sócio-cultural e econômico dos grupos sociais, entidades e organizações.

No estudo de Castilhos (2001), o capital se refere às relações sociais que estariam institucionalizadas na forma de normas ou redes sociais. Na visão do autor, a institucionalização do capital social é fruto do acúmulo de práticas sociais culturalmente incorporadas na história das relações de grupos, de comunidades ou classes sociais.

Nas relações sociais que caracterizam o capital social, estabelecidas na forma de redes ou normas, estão presentes os atributos culturais da reciprocidade, da confiança e da cooperação. Ou seja, a noção de capital social mescla componentes “culturais” com outros componentes

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“estruturais”, intrínsecos às relações sociais propriamente ditas, isto é, as próprias normas ou redes sociais.129

No caso de Itapiranga, o capital social manifestou-se de diversas formas ao longo de sua história. A manifestação mais recorrente do capital social na região é o aspecto da coletividade em prol de obras de caráter público, que podem ser expressas nas relações comunitárias através da construção coletiva de igrejas, escolas e centros comunitários, através da força de trabalho e da doação de bens financeiros para o empreendimento. Outro aspecto que merece destaque é a atuação do capital social na formação de entidades associativas e representativas, como as cooperativas, por exemplo.

Conforme Mauro Hahn,

a noção de capital social permite ver que os indivíduos não agem independentemente e que seus objetivos não são estabelecidos de maneira isolada. As estruturas e as relações sociais fazem parte dos recursos, são ativos de capital de que os indivíduos podem dispor. O capital social, dessa maneira, pode ser produtivo, já que ele torna possível que se alcancem objetivos que não seriam atingidos na sua ausência.130

A formação do capital social pode ser compreendida em Itapiranga sob dois pontos de vista. O primeiro deles é através da manifestação dos indivíduos em prol de uma causa, ou seja, os componentes da sociedade através da intenção ou da necessidade particular empreendem a sua força de trabalho ou o seu capital financeiro por uma obra coletiva. Esse aspecto é fundamentado principalmente pela necessidade de melhoria das condições de vida dos indivíduos, ou seja, quando os membros da sociedade regional cooperam conscientemente com um empreendimento visando o aperfeiçoamento de uma situação de deficiência, através da construção de escolas para seus filhos, de igrejas para sua satisfação espiritual e de centros comunitários para o lazer.

O segundo aspecto a destacar, que já contextualizamos no Capítulo 1 através das relações de poder e da hierarquização social, é o aspecto do condicionamento estrutural através das normas ou redes sociais de poder. Assim, os indivíduos formavam o capital social de forma condicionada, ou inconsciente e involuntária. Temos como exemplo, a construção do Pré-Seminário no interior do município de Itapiranga, que recebeu muito investimentos



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provindos do capital social, através da força de trabalho dos colonos e de donativos recolhidos pelo Padre Oscar Puhl.

A literatura acerca deste empreendimento nos demonstra que o capital social necessário para a construção do Pré-Seminário da Linha Sede Capela foi, em sua maioria, recolhido de forma condicionada por pressão dos padres jesuítas. Ou seja, os colonos que entregaram dias de trabalho ou doações em forma e alimentos e dinheiro não estavam conscientes quanto à real necessidade deste empreendimento.131

Em fragmento da obra de Eidt (2009), percebemos a atuação dos padres jesuítas na intensão de coletar o capital social em prol de obras consideradas sacras e de interesse da igreja:

Durante a missa, o padre, com sua voz grave e quase insuportável, atacou apropriadamente os adversários, que criavam dificuldades extremas para edificar o seminário. Não se importando em ser descortês, insultou que as últimas coletas haviam sido pálidas, insignificantes e inverossímeis – Estou convencido de que alguns doadores de frangos velhos e chocas que não seguram ninhadas, nem eles próprios comeriam sua doação! E insultou, rangendo os dentes de raiva: - Se as coisas de Deus não valem mais do que aves velhas e pesteadas e sacos de chuchu murchos, ninguém precisa esperar a eternidade!132

O capital social investido na efetivação da Sociedade Anônima Frigorífico de Itapiranga – Safrita também pode ser concebido sob estes dois pontos de vista. Em algumas situações, os investimentos financeiros feitos pelos colonos na compra de ações do frigorífico foram de forma voluntária e consciente, através do espírito de empreendedorismo e da busca de alternativas para o futuro da região. Por outro lado, em algumas situações também foi de forma condicionada e inconsciente, através da estrutura de relações de poder características da sociedade regional. Essa hipótese parte do princípio de que os colonos não tinham real noção do que representava investir seu capital no empreendimento Safrita, sendo condicionados pela imprensa, pelos padres jesuítas e pelos comerciantes a investir suas economias.

No documento 2014DouglasOrestesFranzen (páginas 87-89)