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CAPÍTULO 2 O TEXTO E O PÓS-TEXTO DO RELATÓRIO

3.2 A construção dos convênios INCRA/FAPEC/SEPROMI/RTID e

A Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e a Cultura (FAPEC)173 e a Fundação de Assistência Socioeducativa e Cultural (FASEC)174 são entidades de fomento à pesquisa que apoiam projetos ligados, principalmente, à Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), respectivamente. As duas fundações não tinham experiência anterior com projetos para comunidades quilombolas, mas tinham estreitado diálogos institucionais para cooperação técnica com o INCRA/BA para ações de reforma agrária, educação no campo e ordenamento

172 Refiro-me a alguma Universidade (pública ou privada), Organização Não-Governamental ou entidade

privada. Neste período (2007) houve uma tentativa de parceria do INCRA/BA com a Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ), contudo, por questões burocráticas o convênio não foi à frente.

173 Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos que tem como objetivo o desenvolvimento de

atividades, projetos e pesquisa científicos, socioeducativas, culturais e assistenciais, voltada para o desenvolvimento dos recursos humanos que apoiava projetos de pesquisa ligados à Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

174 Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos que tem como objetivo o desenvolvimento de

atividades, projetos e pesquisa científicos, socioeducativas, culturais e assistenciais, voltada para o desenvolvimento dos recursos humanos que apoiava projetos de pesquisa ligados à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

fundiário175. A identificação e delimitação dos territórios quilombolas foi mais uma

demanda que se transformou, em 2007, em propostas de convênios.

No mesmo ano, 2007, tomou posse como Governador do Estado da Bahia o Sr. Jacques Wagner, eleito no ano anterior pelo Partido dos Trabalhadores176 e foi implantada a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade (SEPROMI)177, tendo sido o seu primeiro secretário o então Deputado Federal Luiz Alberto Silva dos Santos (PT/BA). Com o advento da SEPROMI, mais um ambiente institucional foi criado para tratar do tema das comunidades quilombolas na Bahia. O INCRA se aproximou e agregou-a às tratativas relacionadas a elaboração das propostas dos convênios que estava em curso e, como resultado, a SEPROMI tornou-se mais uma instituição parceira, figurando nos convênios na condição de interveniente, trazendo para estes a chancela do apoio institucional do Governo do Estado da Bahia178.

Em conversa com o então Chefe da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária do INCRA/BA, Luiz Eduardo Chagas Barreto, ocorrida em 18 de agosto de 2018, ele relatou que à época fez contato com algumas entidades mas que a decisão administrativa de fazer os convênios com estas Fundações levou em conta, além da relação institucional já construída, a expectativa da segurança de aportar os recursos em instituições voltadas para projetos de pesquisa científica e trabalhos técnicos e que tinham mais estrutura e agilidade burocrática para fazer a gestão dos recursos. Contudo, em função do ineditismo da proposta e do elevado montante de recursos financeiros

175 As Fundações tinham convênios em andamento com o INCRA/BA.

176 A eleição de Jacques Wagner, que governou a Bahia por dois mandatos consecutivos (de 2007 a 2010 e

de 2011 a 2014) representou uma derrota do grupo político do então PFL (hoje Democratas), conhecido como “carlismo”, que havia governado o estado por 16 anos consecutivos (Antônio Carlos Magalhães, de 1991 a 1994; Paulo Souto, de 1995 a 1998; César Borges, de 1999 a 2002 e Paulo Souto, de 2003 a 2006).

177 Atualmente denominada Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPROMI).

178 Para a SEPROMI os convênios representavam uma ótima oportunidade de inserção e divulgação das

ações da nova Secretaria nas comunidades quilombolas do estado. Na condição de interveniente dos dois convênios a SEPROMI responsabilizou-se por: a) realizar oficinas de capacitação jurídica, para conscientizar as comunidades a respeito dos direitos quilombolas e do processo de reconhecimento de seus territórios; b) realizar oficina de formação de lideranças quilombolas, com transversalidade de gênero, para que estas articulem e fortaleçam a organização interna das comunidades e suas respectivas associações quilombolas; c) acompanhar a equipe técnica contratada em eventuais assembleias ou reuniões nas comunidades em que havia situações sérias de conflito interno ou externo na luta pela terra ou e/ou situações de racismo; d) encaminhar solicitação de programas destinados às comunidades quilombolas, como o Luz para Todos, Bolsa Família, Saúde de Família, Educação Quilombola, entre outros, para as comunidades que estavam em processo de regularização; e) divulgar material impresso nas comunidades, que contenham informações sobre os direitos quilombolas e ações afirmativas para a população negra. Contudo, devido às dificuldades operacionais e financeiras da SEPROMI, a mesma teve uma participação limitada nas ações dos convênios.

envolvidos, optou-se por dividir o projeto entre duas Fundações para facilitar a operacionalização e a gestão administrativa dos convênios. A direção do INCRA/BA avaliou que seria muito arriscado fazer um único convênio só com uma das Fundações pois, caso houvesse algum problema (burocrático, administrativo, técnico etc) ao longo da execução, todas as metas de produção de RTID ficariam comprometidas179.

Com efeito, os dois convênios tiveram os mesmos termos e o mesmo objetivo: elaboração de todas as peças técnicas do RTID, inclusive os relatórios antropológicos. A única diferença entre eles eram as comunidades quilombolas beneficiadas. Os dois convênios foram publicados no Diário Oficial da União no mesmo dia (31 de dezembro de 2007), com previsão para duração de 01 ano. Após sucessivos termos aditivos de tempo, os convênios terminaram no dia 27 de setembro de 2009, contabilizando 01 (um) ano e 09 (nove) meses de vigência. Por isso, nesta tese, optei por fazer a análise dos convênios em conjunto já que foram acordos técnicos-científicos executados concomitantemente e acompanhados, por parte do INCRA, no mesmo bojo e pela mesma equipe técnica.

Até o fim de 2007, quando os Projetos Básicos dos dois convênios foram aprovados, na Bahia existiam 246 comunidades quilombolas180 certificadas pela

Fundação Cultural Palmares, mas só tramitavam formalmente no INCRA 16 (dezesseis) processos administrativos de regularização fundiária dos territórios quilombolas (embora já tivéssemos contato (com) ou notícias (de) várias outras comunidades que estavam se organizando para demandar a regularização fundiária junto ao INCRA181). Assim, na definição das comunidades que seriam beneficiadas nesses novos convênios foi considerada a demanda já posta por relatórios técnicos em 2007182 e a demanda vindoura (já esperada). Desta forma, os convênios tiveram como meta a elaboração de RTID em

179 Cada convênio teve como valor total o montante de R$ 524.664,00 (quinhentos e vinte e quatro mil

seiscentos e sessenta e quatro reais), sendo do INCRA a importância de R$ 499.680,00 (quatrocentos e noventa e nove mil seiscentos e oitenta reais) e da CONVENENTE, como contrapartida, o valor de R$ 24.984,00 (vinte e quatro mil novecentos e oitenta e quatro reais).

180 Fonte: www.palmares.gov.br (acesso em 02.10.2018).

181 Muitas comunidades quilombolas que ainda não tinham processos abertos procuravam o INCRA para

tomar informações sobre os procedimentos da regularização fundiária e os processos só eram formalmente abertos com a apresentação da documentação. Além disso, o MPF solicitava informações sobre algumas comunidades, o que gerou, em alguns casos, a posterior abertura dos processos de ofício.

182 Vale ressaltar que dos processos abertos até 2007, alguns já contavam com RTID’s elaborados no

convênio anterior com a FAPEX/UFBA/UNEB (05 RTID: Lagoa do Peixe; Jatobá; Sacutiaba e Riacho da Sacutiaba; Nova Batalhinha e Parateca e Pau D’Arco – como vimos no capítulo anterior) e alguns já tinham sido elaborados (Salamina Putumuju e Dandá) ou estava sendo elaborado (São Francisco do Paraguaçu) por execução direta, através da antropóloga Camila Dutervil.

20 comunidades quilombolas (10 do convênio com a FASEC e 10 do Convenio com a FAPEC). A expectativa era massificar a elaboração dos relatórios técnicos, uma vez que praticamente quase toda a demanda até então posta naquele momento seria atendida183.

O anexo 8 mostra as comunidades quilombolas que foram atendidas no bojo dos convênios com a FAPEC e a FASEC (independente dos RTID terem sido publicados ou não)184. Note-se que, embora o objeto dos convênios tenha sido a “elaboração de RTID em 10 comunidades quilombolas”, o número de RTID produzidos foi menor que 10 (08 no convênio FAPEC e 04 no convênio FASEC), mas o número de comunidades beneficiadas superou a meta pactuada (17 comunidades no convênio FAPEC e 14 comunidades no convênio FASEC), totalizando 31 comunidades. Isto aconteceu porque, no decorrer dos trabalhos antropológicos, percebeu-se que alguns territórios quilombolas não eram constituídos por uma única comunidade, mas na verdade formavam um território contínuo com várias comunidades quilombolas e decidiu-se fazer um único RTID185.

3.3 A formação e capacitação da equipe técnica dos convênios

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