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3.2 Teoria do prospecto

3.2.2 A contribui¸ c˜ ao da economia experimental

Experimentos em economia s˜ao, conforme Croson e G¨achter

(2010), um processo gerador de dados controlados. Neste contexto, “con- trole” significa que a maioria dos fatores que influenciam o comporta- mento s˜ao mantidos constantes e apenas um fator de interesse (o trata- mento) ´e variado de acordo com o tempo. Esta varia¸c˜ao controlada dos fatores ´e crucial para viabilizar inferˆencias causais. Em situa¸c˜oes raras este processo gerador de dados controlados ocorreria de forma natural. No ano de 2002, juntamente com Daniel Kahneman, o econo- mista Vernon Smith recebeu o prˆemio Nobel de economia. A contribui- ¸

c˜ao de Smith que o levou a ser premiado foi em rela¸c˜ao `as inova¸c˜oes feitas na economia experimental. Vernon Smith foi um dos principais precursores do uso de experimentos em economia, que at´e ent˜ao baseava suas pesquisas predominantemente em observa¸c˜oes reais do mercado, ou seja, em dados de campo. Desde a d´ecada de 1960 Vernon Smith j´a rea- lizava estudos experimentais.Smith(1976, p. 274) afirma que o estudo do comportamento de indiv´ıduos e grupos tem aplica¸c˜ao importante e significativa para o desenvolvimento e verifica¸c˜ao de teorias do sistema econˆomico de forma geral. Dessa forma, entende-se que tanto as contri- bui¸c˜oes vindas da psicologia cognitiva quanto da economia experimen- tal foram importantes para o desenvolvimento de pesquisas posteriores

a Smith (1976), Tversky e Kahneman (1974), Kahneman e Tversky

(1979) no campo de finan¸cas comportamentais (CROSON,2005). De acordo comSmith(1982) eSmith(1994), um experimento econˆomico envolve trˆes principais aspectos a serem observados pelo re- alizador do experimento. O primeiro ´e o ambiente (environment ), que

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consiste de uma s´erie de agentes econˆomicos, produtos ou recursos a serem negociados e algumas caracter´ısticas de cada agente, como a uti- lidade e o conhecimento do ambiente que cada um possui. Para conhecer o ambiente ´e necess´ario que o elaborador do experimento identifique os custos e preferˆencias que motivam os participantes a realizarem transa- ¸

c˜oes. O ambiente pode ser controlado atrav´es de um sistema que distri- bua recompensas financeiras. O segundo aspecto ´e a organiza¸c˜ao (insti-

tution) do experimento, ´e neste aspecto que ´e definida a mensagem que

ser´a passada aos participantes e as instru¸c˜oes de como o experimento ser´a realizado. ´E tamb´em a organiza¸c˜ao que define as regras de comu- nica¸c˜ao e de negocia¸c˜ao dos recursos que precisam ser seguidas pelos participantes do experimento. Finalmente, o terceiro aspecto de um ex- perimento ´e o comportamento dos participantes do experimento como uma fun¸c˜ao dos dois primeiros aspectos, que comp˜oem as vari´aveis que podem ser controladas.

Os valores monet´arios utilizados nas negocia¸c˜oes reais de mer- cado s˜ao de uma magnitude muito superior `as recompensas oferecidas em experimentos. Para resolver este problema a utiliza¸c˜ao de um meio de recompensas bem planejado ´e de fundamental importˆancia para au- mentar a validade interna de um experimento. Vernon Smith, especi- almente em Smith(1976), apresenta o que chamou de teoria do valor induzido (induced value theory). O autor enfatiza a importˆancia de ha- ver um meio de recompensas nos experimentos realizados dentro da economia experimental. Este meio de recompensas permite ao pesqui- sador induzir certas caracter´ısticas pr´e-definidas nos sujeitos.Friedman e Cassar(2004) comentam que existem trˆes condi¸c˜oes necess´arias para caracterizar um bom meio de recompensas: 1) monotonicidade (mono-

tonicity); 2) saliˆencia (salience); e 3) dominˆancia (dominance).

Monotonicidade significa que em um meio de recompensas ade- quado, “mais” ´e sempre melhor, ou o contr´ario, dependendo da situa¸c˜ao. A utilidade dos participantes – no sentido de satisfa¸c˜ao, da Teoria da Utilidade – de um experimento ´e uma fun¸c˜ao monotˆonica crescente da recompensa financeira (SMITH, 1976, p. 275). Saliˆencia significa que o sistema de recompensas precisa ser uma fun¸c˜ao do resultado que os agentes obtˆem no experimento, e isto deve ficar bem claro para os par- ticipantes. Dominˆancia significa que os aumentos na recompensa s˜ao muito mais importantes do que os outros componentes da utilidade do participante que podem afetar o experimento. Conforme Friedman e Cassar (2004), estes trˆes princ´ıpios b´asicos devem fazer parte de um sistema de recompensas em um experimento econˆomico. Os autores

46 Cap´ıtulo 3. Finan¸cas Comportamentais

ainda afirmam que um experimento sem um sistema de recompensas saliente n˜ao ´e um experimento econˆomico. Question´arios, por exemplo, normalmente n˜ao podem ser classificados como experimentos, pois n˜ao possuem formas de pagamento relacionadas ao desempenho dos parti- cipantes.

Um ponto bastante importante para ser definido na organiza- ¸c˜ao de um experimento ´e quem ser˜ao os participantes. Os autoresFried-

man e Cassar(2004) afirmam que os participantes de um experimento

devem ser pessoas com um baixo custo de oportunidade e com uma curva de aprendizagem ´ıngreme. Dessa forma os autores explicam que estudantes de gradua¸c˜ao geralmente s˜ao boas op¸c˜oes, pois (i) normal- mente ainda n˜ao s˜ao profissionais com altos sal´arios (sendo motivados para participarem de experimentos mesmo com recompensas n˜ao t˜ao elevadas); e (ii) s˜ao geralmente pessoas que conseguem aprender de forma r´apida.

Antes de realizar um experimento, o pesquisador necessita ela- borar um projeto (design) de acordo com suas propostas. Existem dois tipos de vari´aveis a serem identificadas pelo executor do experimento: as vari´aveis foco, onde est˜ao presentes os efeitos que s˜ao objeto da pes- quisa; e outras vari´aveis que tamb´em podem afetar os resultados dos experimentos e podem gerar conclus˜oes precipitadas se n˜ao forem con- sideradas. A fim de separar os efeitos gerados por estes dois tipos de vari´aveis existem dois dispositivos b´asicos: controle e aleatoriza¸c˜ao.

Croson (2005) discorre sobre algumas diferen¸cas entre expe-

rimentos em economia e experimentos em psicologia. Um dos pontos abordados pela autora diz respeito aos incentivos oferecidos aos parti- cipantes de experimentos. A autora refor¸ca que em experimentos em economia ´e necess´ario que exista um sistema de pagamentos a fim de incentivar os participantes, principalmente quando os resultados encon- trados s˜ao inconsistentes com a teoria econˆomica que est´a sendo estu- dada.

Realizar pagamentos ´e uma pr´atica considerada crucial para a validade de um experimento e para alcan¸car o objetivo de testar alguma teoria. Na psicologia os experimentos normalmente n˜ao s˜ao realizados com incentivos financeiros, contudo,Croson(2005) afirma que no con- texto econˆomico ´e imprescind´ıvel o uso desta pr´atica.

Harrison e List(2004) discorrem sobre experimentos de campo,

que utilizam de situa¸c˜oes, ferramentas e tarefas j´a utilizadas pelos su- jeitos analisados em suas rotinas.Bardsley et al. (2010) explicam que