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5.1 A PROPRIEDADE INTELECTUAL NO DIREITO INTERNACIONAL

5.1.1 A Convenção de Paris de 1883 (Propriedade Industrial)

A Convenção de Paris, denominada “Convenção da União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial” (CUP), trata-se do primeiro acordo internacional concernente à Propriedade Intelectual, assinado em 1883 em Paris. Atualmente, são mais de 150 países membros e entre os 11 primeiros signatários está o Brasil, em que vigora a revisão de Estocolmo (1967), desde 1992. Para Gontijo (2005), firmada por onze países, a CUP, buscando harmonizar, dentro do possível, os diversos sistemas jurídicos dos vários países sobre a propriedade intelectual, é um dos tratados de mais importante consolidação em face do número expressivo de associados e pela sua duração sem mudanças muito substanciais.

A CUP sofreu algumas revisões, quais sejam, em 1990, em Madri; em 1900, em Bruxelas; em 1911, em Washington; em 1925, em Haia, em 1934, em Londres; em1958, em Lisboa; em 1967, em Estocolmo (em vigor no Brasil desde 1992), uma emenda em 02 de outubro de 1979 e teve um processo de revisão iniciado em 1980, em Genebra (DENIS BARBOSA, 2010). Para o referido autor,

Cada nova revisão da Convenção visou aperfeiçoar os mecanismos de internacionalização da propriedade da tecnologia e dos mercados de produtos, à proporção em que estes mecanismos iam surgindo naturalmente do intercâmbio entre as nações de economia de mercado do hemisfério Norte. A maneira da Convenção conseguir isto é extremamente hábil, o que lhe valeu a sobrevivência por

muito mais de um século (DENIS BARBOSA, 2010, p. 165).

Com natureza jurídica de tratados-leis ou tratados normativos, suprimiu o princípio da reciprocidade entre países unionistas, trazendo como objetivo resolver conflitos de leis, bem como previsão de ampla liberdade legislativa para cada País, estabelecendo dois princípios que podem ser considerados relevantes, quais sejam, o “princípio do tratamento nacional” e o “princípio do tratamento unionista”.

A referida Convenção estabelece princípios que podem ser considerados relevantes, destacando-se o princípio do tratamento nacional, que buscou oferecer uma proteção jurídica equilibrada entre titulares nacionais e estrangeiros como garantia internacionalmente assegurada para o exercício de direitos de propriedade intelectual, conforme o artigo 2:

Article 2 [...]

1)Les ressortissants de chacun des pays de l’Union jouiront dans tous les autres pays de l’Union, encequi concerne la protection de la propriété industrielle, desavantages que les lois respectives accordent actuellement ou accorderont par la suíte aux nationaux, le tout sans préjudice des droits spécialement prévus par la presente Convention. Em conséquence, ils auront la même protection que ceux-ci et le même recours legal contre toute atteinte portée à leurs droits, sous réserve de l’accomplissement des conditions et formalités imposées aux nationaux.

(CONVENTION DE PARIS, 1883, online).

O “princípio do tratamento nacional” exige que quando a Convenção der mais direitos aos estrangeiros do que os derivados da Lei nacional, prevalecerá a Convenção (DENIS BARBOSA, 2010). Nesse sentido, o artigo 2 da CUP determina que “cidadãos de cada um dos países contratantes gozarão em todos os demais países da União, no que concerne à Propriedade Industrial, das vantagens que as respectivas leis concedem atualmente ou vierem posteriormente a conceder aos nacionais” (CONVENÇÃO DE PARIS, 1883, online). Basso (2000, p. 75), esclarece que “o tratamento nacional implica a aquisição dos direitos, sua extensão e exercício, bem como a concessão de ações e garantia de sanções a todos que se encontram em território unionista”. Para Polido (2010, p. 38),

Por outro lado, do ponto de vista normativo, as Convenções de Paris de 1883 e de Berna de 1886 resultaram em categorias inovadoras nas disciplinas do Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado, justificando a individualização de normas e instituições de um domínio normativo próprio. A primeira delas foi ter consagrado o principio do tratamento nacional para as relações internacionais envolvendo os direitos de propriedade intelectual, contraponto ao principio da reciprocidade em tratados e convenções bilaterais adotadas pelos países da Europa no final do século XIX.

Dessa forma, o princípio do tratamento nacional buscou oferecer uma proteção jurídica equilibrada entre titulares nacionais e estrangeiros como garantia internacionalmente assegurada para o exercício de direitos de propriedade intelectual.

Já o “princípio do tratamento unionista” determina que as disposições mais vantajosas devem prevalecer sobre as disposições nacionais, implicando vantagens e direitos especiais não conhecidos, na época, por nenhuma outra lei (BASSO, 2000). Para Polido (2010, p. 39) o significado do tratamento unionista:

[...] está ligado à criação de um domínio normativo transnacional no qual inventores e autores são legitimados à aquisição e exercício de direitos de propriedade intelectual. O direito unionista passa a delimitar as relações envolvendo prioridade de depósitos, e consequentemente de registros dos direitos de propriedade intelectual nos ordenamentos países da União. A chamada prioridade unionista passa a delimitar, por exemplo, a aquisição da proteção dos direitos de propriedade intelectual em múltiplos territórios pelo titular, nas mesmas condições e vantagens dos autores e inventores nacionais, e de acordo com um critério temporal dos depósitos de pedidos de registros.

Verifica-se ainda que, conforme a referida convenção, quanto à independência das patentes, os países signatários, nos pedidos de patentes, são independentes na apreciação e julgamento dentro dos seus territórios, de modo que a obtenção de cada patente passa a ser considerada um título nacional, independente da patente concedida de outros países. Já quanto à territorialidade, a proteção da patente tem validade somente dentro dos limites territoriais do país que a concedeu.

Conforme Denis Barbosa (2010), a CUP admite a qualquer tempo a saída e entrada de novos países, neste último caso, desde que adote o último dos tratados em vigor, tendo os antigos unionistas que aplicarem a última versão a qual aderiram: assim, o Brasil aplicava, até 1992, o texto de 1925 à Argentina, enquanto esta submetia as patentes brasileiras ao regime de 1967.

Por oportuno, torna-se importante citar o Patent Cooperation Treaty (PCT), de 1970, subsidiário à Convenção de Paris. Por este tratado, possibilitou-se fazer um só pedido internacional, ao invés de múltiplos depósitos nacionais, buscando inicialmente pesquisar o estado da técnica mundial em relação ao pedido com posterior publicação internacional e consequente reconhecimento do estado da técnica e posterior exame preliminar internacional.