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Percebe-se uma coexistência de uma relação entre Cultura, Sociedade e Direito. Reale (2012) esclarece que só se pode falar em experiência jurídica a partir de relações subjetivas. Em outras palavras, onde e quando se formam relações entre os homens, de modo que uma das características da realidade jurídica é a sua sociabilidade, isto é, sua qualidade de ser social. Para o referido autor o Direito “não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela”, de forma que daí sempre a lição, “ubis societas, ibi jus (onde está a sociedade está o Direito). A recíproca também é verdadeira ubi jus, íbi societas, não se podendo conceber qualquer atividade social desprovida de forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra jurídica que não se refira à sociedade” (REALE, 2012, p. 2).

Bens Informacionais Bens Imateriais Bens Materiais Direitos individuais homogêneos Direito público ou privado

Para Nader (2013, p.19), é conferida ao Direito a missão de instrumentalização e regência de valores, tendo o Direito como faixa ontológica o mundo da cultura:

As necessidades de paz, ordem e bem comum levam a sociedade à criação de um organismo responsável pela instrumentalização e regência desses valores. Ao Direito é conferida esta importante missão. A sua faixa ontológica localiza-se no mundo da cultura, pois representa elaboração humana. O direito não corresponde às necessidades individuais, mas a uma carência de coletividade. A sua existência exige uma equação social. Só se tem direito relativamente à alguém. O homem que vive fora da sociedade vive fora do império das leis. O homem só, não possui direitos nem deveres.

A conexão estabelecida entre a Cultura e o mundo do Direito, se dá a partir da apreensão entre o “dado” e o “construído”, o “ser” e o “dever ser”, passando a reconhecê-lo como um valor, medida de conduta que pode considerá-la licita ou ilícita.

Constitui-se, desse modo, o mundo do “dado” e do “construído”. O “construído”, reflete a indicação de tudo que o homem acrescenta no corpo da sociedade através do conhecimento de suas leis visando a atingir determinado fim. Nestas condições, “o dado” da natureza se converte em elemento da cultura, adquirindo uma significação ou dimensão nova. Do mesmo modo, se dá com a relação entre o ser e o dever ser. Este surge em virtude de ter sido reconhecido como um valor, razão determinante de comportamentos declarados pela sociedade como obrigatórios, onde os juízos de valor assumem aparência diversa em face do caráter de obrigatoriedade conferido ao valor que se quer preservar ou efetivar (REALE, 2012).

Hodiernamente, conforme discutido anteriormente, ressalta-se o valor atribuído não apenas a bens materiais, mas também a bens imateriais. Importante contribuição é realizada por Vasconcelos e Brito (2006), ao enfatizarem que, gradativamente, vem ocorrendo nos últimos anos uma fase de mudança de estrutura econômica, a qual os economistas vêm denominando de “economia da informação”, concebendo-a como “desmaterialização parcial da riqueza”. Nesse sentido, foi colocado que:

A desmaterialização consiste em uma modificação de parâmetros para se medir a riqueza. Antes a riqueza era demonstrada pela maior quantidade de bens materiais que as empresas ou os indivíduos tinham em seu poder. O que o mercado valoriza hoje são outros tipos de bens (de caráter imaterial), como por exemplo: a informação, o conhecimento, a tecnologia, o tempo etc (VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 84).

Indo mais além, esses bens de caráter imaterial passam a compor os denominados bens informacionais. Neste sentido, na tentativa de acrescentar possibilidades e realizar ajustes que possam contribuir para uma melhor reorientação aos institutos da Propriedade Intelectual, torna-se perfeitamente possível construir um conceito jurídico de “bem informacionais”, que

envolvam os mesmos. Desse modo, o termo “bens informacionais” pode ser definido como utilidade material ou imaterial de reconhecido valor econômico, por meio da informação, vista como produção de sentido para as criações intelectuais, reconhecida pelo valor incorporado através de trabalho intelectual, que surge a partir do acesso e uso pelo usuário, que será motivada pelo seu fluxo, também passível de ser determinável assumindo forma ou estado individualizado do objeto por meio do suporte.

Com esse fundamento, é possível estabelecer subcategorias que se apresentam conexas, entre Propriedade Intelectual, os instrumentos jurídicos de sua proteção e a informação, capazes de contribuir para uma definição de “bens informacionais”, que possibilite abranger tanto o caráter de materialidade como o de imaterialidade:

Simbolismo - visto como uma busca pela produção de sentidos. Essa produção de sentido parte da noção de signo, que possibilita a promoção de um significado, que após interpretado pelo homem torna-se informação (AZEVEDO NETTO, 2002).

Imaterialidade – a imaterialidade envolvida é a que se refere às criações intelectuais que não tenham natureza material que são passíveis de apropriação (GONÇALVES, 2014).

Seletividade do objeto - a informação pode ser considerada importante ou não, dependendo da necessidade do receptor que recebe a mensagem do emissor, de modo que as TICs podem passar a ser reconhecidas dentro da Propriedade Intelectual pelo poder público e, consequentemente, pode ser adotada a existência de natureza jurídica de bens informacionais, por incluir as TICs como uma categoria da PI.

Universalidade – deve-se levar os bens imateriais à categoria de universalidade, deslocando-se de uma natureza jurídica de bens imateriais, e portanto particular, para uma ideia de bens informacionais, passando os mesmos a serem abrangidos como bem coletivo, e portanto passível de regulação pelos denominados direitos individuais homogêneos.

Informação como “valor” – ver a informação a partir do mundo construído, daquilo que o homem acrescenta à natureza, através do conhecimento de suas leis, nas relações interpessoais onde ocorre transmissão ou disseminação da informação. A informação passa a ser reconhecida pelo valor incorporado, que surge a partir do acesso e uso do usuário, que será determinada pelo seu fluxo. Essa necessidade surge a partir de aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos, que se constrói através de fatores tempo/espaço, permitindo que ela se recontextualize, buscando atender novas demandas, advindas da denominada “economia da informação”. A informação que é considerada útil para a Propriedade Intelectual é a que é “escassa” e que surge a partir do trabalho intelectual, entendendo-o como meio de transformar o bem imaterial em informações acessíveis e replicáveis. Neste sentido, Kinsella (2010, p. 25)

afirma que, “a função dos direitos de propriedade é prevenir conflito interpessoal quanto a recursos escassos”. Para a referida autora, ao cumprir essa função, direitos de propriedade devem ser visíveis (apresentar limites objetivos) e justos (deve ser aceito pelo indivíduo envolvido).

Neste sentido, a informação passa a ser quantificada economicamente, reconhecendo-a como bem por se dar através da criação de produtos e serviços. Seguindo essa compreensão, Pinheiro (2013) coloca que dessa forma a própria sociedade tende a regular o mercado.

Reserva de direito – as informações devem estar disponíveis aos usuários, entretanto, a existência dos direitos morais deve ser comprovada pelo titular através do registro, mas podendo ser assegurados pelo Estado quanto a sua autenticidade, como exemplo o uso do DOI (objeto de identificação digital). Garantidos como forma de promoção da inclusão digital, redução de desigualdades e fomentar a produção e circulação de conteúdo nacional, conforme artigo 27 da lei nº 12.965 de 23 de abril de 2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil (Marco Civil da Internet).

Interesse judicial - que a reconhece como bem informacional e passa a regê-lo através de instrumentos jurídicos especiais que o diferencia dos demais bens.

5 A PROPRIEDADE INTELECTUAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO INTERNACIONAL E NACIONAL

“A moderna concepção do ordenamento jurídico, como um conjunto hierarquizado de normas escritas e não escritas parece incompatível com a existência de ‘lacunas’ ou ‘vazios’ jurídicos.”

(COSTA, 2004, p. 13)

Para uma compreensão mais apurada sobre PI torna-se relevante ressaltar alguns aspectos que marcaram sua regulação, enfatizando que o alcance dos institutos que a regem varia consideravelmente nos diferentes países do mundo, levando-se em consideração sua importância nos aspectos econômicos, sociais e jurídicos.