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5.2 A PROPRIEDADE INTELECTUAL NO ORDENAMENTO PÁTRIO

5.2.3 Proteções Sui Generis

5.2.3.2 Cultivares

Com previsão constitucional no artigo 5º, inciso XXIX, o qual se refere às criações industriais, os cultivares regula-se pela Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. O artigo 3º, inciso IV define cultivar como:

[...] a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos (BRASIL, 1997, online).

No entendimento de Jungmann (2010, p. 76), entende-se por Cultivar “[...] o nome dado a uma nova variedade de planta, com características específicas resultantes de pesquisas em agronomia e biociências (genética, biotecnologia, botânica e ecologia) não existente na natureza”.

O Acordo TRIPS prevê que as variedades vegetais podem ser protegidas por três vias distintas, a saber, pelo mecanismo de patente; por um sistema sui generis; ou por um sistema misto, conforme o artigo 27 do acordo TRIPS:

Article 27

[…] However, Members shall provide for the protection of plant varieties either by patents or by an effective sui generis system or by any combination thereof. The provisions of this subparagraph shall be reviewed four years after the date of entry into force of the WTO Agreement (TRIPS, 1994, online).

No Brasil, a proteção ocorre por meio do sistema sui generis, por meio do Serviço Nacional de Proteção às Cultivares (SNPC).

A Lei de Propriedade Industrial estabelece em seu artigo 10, inciso IX, que as variedades vegetais não são patenteáveis. Se a planta for transgênica, ou seja, tenha sido inserido um DNA que não seja dela, ela não será patenteável de acordo com o Artigo 18, inciso III, da referida LPI. Entretanto, conforme expõe Jungmann (2010, p. 77), para que haja a proteção de uma obtenção vegetal torne-se necessário:

• Ser nova, significando que não tenha sido comercialmente explorada no exterior nos últimos quatro anos e no Brasil no último ano;

• Ser distintiva, significando que seja claramente distinguível de qualquer outra variedade cuja existência seja reconhecida;

• Ser homogênea, significando que as plantas de uma variedade devem ser todas iguais ou muito semelhantes, salvo as variações previsíveis tendo em conta as particularidades de sua multiplicação ou reprodução;

• Ser estável, significando que a variedade deve permanecer sem modificações nas suas características relevantes após sucessivas reproduções ou multiplicações; • Receber denominação adequada, significando que necessita ter um nome por meio do qual seja designada.

Em conformidade com a lei, em seu artigo 8º, a proteção conferida aos titulares de direitos sobre a nova Cultivar e/ou a derivada, de qualquer gênero ou espécie vegetal, recai sobre o material de reprodução ou de multiplicação vegetativa da planta inteira. A proteção garante ao titular o direito à reprodução comercial no território brasileiro, ficando vedados a terceiros, durante o prazo de proteção, sem autorização do titular, a produção com fins comerciais, o oferecimento à venda ou a comercialização, do material de propagação da cultivar.

Quanto à titularidade, o artigo 3º apresenta a definição de melhorista, como sendo “[...] a pessoa física que obtiver cultivar e estabelecer descritores que a diferenciem das demais”. Denis Barbosa (2010) afirma que quando o processo de obtenção for realizado por duas ou mais pessoas, em cooperação, sendo nesse caso de autoria coletiva, a proteção poderá ser requerida em conjunto ou isoladamente, mediante nomeação e qualificação de cada uma.

O pedido de proteção está previsto no artigo 13 da Lei nº 9.456/97, que estabelece que a formalização do pedido pode ocorrer mediante requerimento assinado pela pessoa física ou jurídica que obtiver cultivar, ou por seu procurador, e protocolado no órgão competente. A referida proteção pode ser formalizada por meio de concessão do Certificado de Proteção de Cultivar, de responsabilidade do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAPA).

Como requisitos para o pedido, o artigo 14 determina que além do requerimento, o pedido de proteção, que deve ocorrer sob uma única cultivar, deve conter a espécie botânica, o nome da cultivar, a origem genética, relatório descritivo mediante preenchimento de todos os descritores exigidos, declaração garantindo a existência de amostra viva à disposição do órgão competente e sua localização para eventual exame, o nome e o endereço do requerente e dos melhoristas, comprovação das características de DHE (teste de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade), para as cultivares nacionais e estrangeiras, relatório de outros descritores indicativos de sua distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade, ou a comprovação da efetivação, pelo requerente, de ensaios com a cultivar junto com controles específicos ou designados pelo órgão competente, prova do pagamento da taxa de pedido de proteção, declaração quanto à existência de comercialização da cultivar no País ou no exterior, declaração quanto à existência, em outro país, de proteção, ou de pedido de proteção, ou de qualquer requerimento de direito de prioridade, referente à cultivar cuja proteção esteja sendo requerida e extrato capaz de identificar o objeto do pedido (BRASIL, 1997).

A Lei nº 9.456/97 determina que, no Brasil, o prazo de proteção previsto corresponde a 15 anos para a maioria das espécies, principalmente de grãos (oleaginosas, cereais e outras), e para as videiras e árvores, incluindo os porta-enxertos, corresponde a 18 anos.

A extinção da proteção pode ocorrer por três fatores, quais sejam, a decorrência do prazo, renúncia do titular e cancelamento do certificado, que pode ocorrer pela perda da homogeneidade e/ou estabilidade, ausência de pagamento de anuidade, ausência de procurador, não apresentação de amostra viva e impacto desfavorável ao meio ambiente.