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CAPÍTULO 2 – DESIGUALDADES REGIONAIS EM ANGOLA 2.1 Histórico e Periodização da Economia Angolana

2.1.2 A Crise Econômica na Primeira República: De 1975 a 1992

No período anterior a independência, Angola registrava avanços significativos no seu desenvolvimento econômico e social decorrente do fato da potência colonizadora - Portugal - querer recuperá-la do atraso a que fora devotada ao longo de cerca de cinco

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Os dados sobre “A Crise Econômica da Primeira República de 1975 a 1992”, foram informados na Monografia com o título: Crescimento e Desenvolvimento Econômico de Angola, defendida na Universidade Jean Piaget de Angola, Luanda, 2008, deste autor (AMBRÓSIO, 2008).

séculos, com o objetivo estratégico de conter o ímpeto dos movimentos nacionalistas na sua luta contra a ocupação colonial, balizada pelos anos de 1961 a 1974.

Por conseguinte, de 1971 até 1973, Angola atinge lugares cimeiros em muito dos produtos agrícolas que eram de interesse para outras potencias mundiais. Angola chegou a ocupar o quarto lugar em nível mundial na produção de café com a cifra de 228.000 toneladas, em 1971 e o terceiro lugar como maior produtor de sisal, chegando a produzir 72.270 toneladas, em 1972. De entre outras produções, há o registro das cifras máximas em relação ao algodão, 86.015 toneladas, em 1971; tabaco 5.000 toneladas, em 1971; pescado, 599.109 toneladas, em 1972; farinha de peixe, 89.500 toneladas, em 1973; madeira, 555.149 m3, em 1973; petróleo, 7.323.304 toneladas, em 1973; diamantes, 2.413.021 quilates, em 1971; mineiro de ferro, 160.256 toneladas, em 1971; rebanho, 8.230.000 cabeças, das quais 58% de bovinos, 15,8% de caprinos e 26,2% de suínos, entre outras (DILOLWA, 1978, apud AMBRÓSIO, 2008).

No que se refere às infraestruturas, em 1973 estavam instaladas 1542 centrais, das quais 1472 térmicas e 70 hidroelétricas. O valor global da potência instalada superou os 580 MVA, provindo 428 MVA das centrais hidroelétricas (73% do total) e 152 MVA das térmicas (26,2%). A produção de energia elétrica saltou de 181 milhões para 984 milhões de Kwh de 1961 a 1973 e que corresponde a uma elevada taxa de crescimento anual na ordem dos 15%. Nesse período foram aplicadas as barragens de Cambambe e de Luachimo, e foi construída a barragem do Gove, fazendo já parte do importante projeto do Kunene, financiado pela África do Sul racista. Registraram-se, igualmente, avanços significativos ao nível da produção material, como atestam algumas das maiores cifras referentes aos anos 1970 - 1973 (AMBRÓSIO, 2008). Os transportes e comunicações também sofreram um grande incremento. As duas centenas de quilômetros de estradas asfaltadas em 1960 deram lugar a 7.777 quilômetros pavimentados em 1973. Os portos movimentaram 2,8 milhões de toneladas em 1960 e 18,8 milhões em 1973.

No que toca ao setor bancário, atraídos por tão vastos negócios cinco bancos vieram juntar-se ao banco de Angola, que até 1957 deteve o exclusivo do comércio bancário no país e ao banco comercial de Angola. O capital desses bancos era quase todo português com exceção do banco Totta Standart (Capitais do Standart Bank of South África) e do banco Inter-Unido (Capitais americanos do first national city bank).

Outro apontamento igualmente importante é o registro no período 1960-1970 de taxas médias anuais de crescimento do PNB na ordem dos 9,9% e de 9,4% em relação ao PIB, entre 1967-1970 (AMBRÓSIO, 2008).

Da análise desses dados, conclui-se que o período 1961-1973 caracterizou-se por uma forte implantação do capitalismo em Angola, suportado em uma estratégia do desenvolvimento colonial delineada pelos I, II, III e IV planos de fomento econômico. Planos com um caráter quase exclusivamente indicativo em que o desenvolvimento era considerado possível atingir desde que, por um lado, o setor privado respondesse satisfatoriamente como se previa ao conjunto de incentivos e atuações do setor público e, por outro lado, a administração controlasse o ritmo de crescimento dos seus gastos correntes em benefícios das despesas de formação de capital.

Na estratégia geral de desenvolvimento, os investimentos públicos visavam à criação de infraestruturas onde existisse uma ação planificada da administração que, face às potencialidades locais assegurasse um desenvolvimento muito mais rápido. Isto não impedia, todavia, a implementação de infraestruturas em certas zonas muito carenciadas com objetivos manifestos de equilíbrio social e melhoria de condições de vida em detrimento da vertente estrita de fomento.

Adentrando ao período propriamente dito de 1975 a 1992, é neste contexto que, após o conturbado período vivido na maior parte dos anos de 1974-1975, verificou-se a independência em 11 de Novembro de 1975. Assim, com a implantação da Ia República - República Popular de Angola -, o MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola, força política no poder, inicia um processo de desenvolvimento baseado na criação das condições materiais conducentes à construção de uma sociedade socialista - opção que viria colidir frontalmente no plano econômico com a estratégia de desenvolvimento colonial então delineada pelos planos de fomento cuja inviabilização prática só viria a ser reconhecida na seqüência da implosão da União Soviética, quando em 1992 é criada a 2a República - República de Angola.8 (AMBRÓSIO, 2008 apud Dilolwa, 1978).

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Observa que de 1992 até 2002, Angola atinge um nível muito acentuado de deseconomia através do retorno do conflito armado que, por sua vez, se tornou mais agressivo sem dar espaço de manobra aos planos de crescimento e desenvolvimento da economia angolana, visto que a preocupação do governo no poder era pôr fim ao conflito que se fazia sentir na altura. Após 2002, se veio verificar a retoma da

Após a proclamação da independência, coloca-se como tarefa estratégica primordial a destruição do aparelho de Estado colonial-fascista e a construção de um Estado de Democracia Popular, estratégia esta que ao invés de transferir o bem-estar de uma minoria para todo o povo pela adaptação gradual das estruturas do regime deposto às necessidades de criação da base técnico-material do socialismo, foi adotada e implementada sem a definição de objetivos claros e precisos, de modo que fosse freada a destruição e o abandono das infraestruturas e do parque industrial do país, fato que veio a acontecer sem que a consciência nacional conseguisse impedir.

Face à situação guerra, motivada por forças internas e externas para o derrube do poder então instituído, devido fundamentalmente à divergência no plano ideológico, o Estado dos explorados e oprimidos é alicerçado numa política econômica de resistência caracterizada pela construção de uma economia planificada, na qual coexistiriam três setores: as unidades econômicas estatais, as cooperativas e as empresas privadas.

Os sintomas de uma crise profunda resultante da opção política e ideológica que conduzira o país para uma guerra fratricida - a qual viria a durar mais de 27 anos - vão-se tornando cada vez mais evidentes, pois não existe uma estratégia de desenvolvimento do setor produtivo industrial de apoio à guerra e os esforços desenvolvidos para a reabilitação das cinturas verdes das principais cidades do país e na reestruturação organizacional do tecido empresarial, industrial e agrícola, assim como o das pescas, resultam infrutíferos (estéril) ou sem resultado, o que leva ao exercício de uma política de abastecimento seletiva.

Com o abandono dos campos agrícolas e a paralisação da quase totalidade da indústria transformadora e extrativa, subsistem apenas o café, o petróleo e o diamante, que viriam a suportar a estratégia de uma economia de resistência centralmente dirigida, cujos reflexos no desenvolvimento econômico e social do país não se faz sentir, pese o fato do esforço de guerra que a situação exigia. A crise foi-se agravando com o decorrer dos anos, chegando ao ponto de em 1983 pela primeira vez Angola recorrer a um empréstimo externo fora do bloco socialista para implementação de projetos priorizados do setor das pescas no montante de 20 milhões de dólares americanos, dos quais,

economia já com a inclusão do modelo capitalista, embora esse modelo já se fazia sentir quando da criação da 2ª República.

metade foi concedida pelo fundo do Kuwait e o restante pelo BADEA,9 foi obtido um terceiro empréstimo no montante de 10 milhões florins para aquisição de mercadorias e pagamento de serviços relacionados com projetos e programas a serem executados no país.

É assegurada a assistência do programa alimentar mundial na ajuda alimentar por um período de cinco anos, a algumas empresas territoriais do café e negociassem financiamentos junto da Caísse Centrale de Coopération Économique (CCCE) 10, de França para dotar algumas empresas de café dos meios e condições indispensáveis à sua atividade. Por efeito dos vários empréstimos, urge um novo renascer da economia em Angola a par das décadas de 1960 e 1970, antes da independência do território nacional. (AMBRÓSIO, 2008)

O partido no poder não deu continuidade ao programa de desenvolvimento do colonizador ou seus planos citados acima, por não fazer parte de sua linha política. A guerra civil foi um dos maiores inimigos, causando desestruturação da sociedade e da economia no país nestes períodos. Ora, a guerra causou grandes estragos na agricultura (fazendo com que as zonas rurais se tornassem num campo de batalha e com o agravante de incentivar a população aos grandes centros - desertificação do interior) e muito mais.

A guerra causou a desindustrialização (principalmente no interior e muitas dessas indústrias são irrecuperáveis nos dias de hoje, ou seja, os custos de recuperação são muito elevados, um exemplo claro, é a fábrica de refringentes do Uíge onde minha mãe foi funcionária sênior – Bangola - que até então constatei o seu nível de destruição e abandono) entre outras. Também causou destruição e paralisação nas infraestruturas, nos serviços bancários, na comunicação entre outras áreas.

Por via disso, Angola estava a entrar no caos econômico, ou seja, era o princípio dos fundamentos da deseconomia angolana. Só em 2002 após o fim da guerra, se começou a notar flutuações cíclicas crescentes do crescimento da economia e o alavancar das estruturas sociais, isto é, a unificação das famílias e não só.

9Banco Árabe para o Desenvolvimento de África (BADEA).

10Fundo Central para a Cooperação Econômica, herdeiro do Fundo Central da França no exterior, tornou-