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3 A EMERGENCIA DE UMA AGENDA AMBIENTAL INFLUENCIANDO O

3.1.3 A década de 80: definindo o desenvolvimento sustentável

Após a Conferência de Estocolmo, envolvendo os partidários do crescimento zero e os partidários de um crescimento acelerado, surgiu o conceito de ECODESENVOLVIMENTO , um novo tipo de desenvolvimento , onde se buscava ir ao encalço de objetivos de desenvolvimento através de meios compatíveis com a preservação do meio ambiente (LEIS,1999).

Este conceito foi utilizado pela primeira vez, em 1973, pelo canadense Maurice Strong, para definir uma proposta alternativa de política de desenvolvimento. Mas foi Ignacy Sachs quem pouco tempo depois formulou os seguintes princípios básicos desta nova interpretação do desenvolvimento: satisfação das necessidades essenciais da população; a solidariedade com as gerações futuras; a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas, e programas de educação (LEIS, 1999).

Estas cinco dimensões do ecodesenvolvimento anteriormente referidas refletem o entendimento, feito por Sachs, do desenvolvimento no contexto da ótica do ecodesenvolvimento que estabelece ações que explicitam a necessidade de tornar compatíveis a melhoria nos níveis de qualidade de vida e a preservação ambiental. O ecodesenvolvimento toma forma de uma estratégia alternativa à ordem econômica internacional, priorizando os modelos locais baseados em tecnologias apropriadas, em particular para as zonas rurais, com o intuito de reduzir a dependência técnica e cultural.

De uma forma mais ampla, as diretrizes do ecodesenvolvimento conseguiram introduzir o tema ambiental nos modelos tradicionais de desenvolvimento econômico prevalecentes na América Latina, e desde então muitos foram os avanços na adoção de políticas ambientais mais estruturadas e consistentes.

No âmbito da Conferência de Estocolmo foi assumido o entendimento de que meio ambiente e desenvolvimento não eram conceitos necessariamente inconciliáveis e que, além disso, as preocupações ambientais deveriam ser partes do processo de busca do desenvolvimento econômico. Assim, o termo de eco-desenvolvimento fundamentou teoricamente esta nova visão (LEIS, 1999).

A nova concepção de desenvolvimento gerou alguns incômodos, tanto para os países desenvolvidos quanto para os em desenvolvimento. Os países desenvolvidos passaram a ver o processo de desenvolvimento acelerado como a grande causa dos problemas ambientais; os países em desenvolvimento tinham o desenvolvimento como único veículo de correção dos desequilíbrios ambientais e sociais, afirmando que a pobreza é sua maior poluição.

O conceito de ecodesenvolvimento assumiu enormes proporções e toma impulso após 1983, com as atividades da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU), presidida pela Sra. Gro Harlem Brundtlan, primeira ministra da Noruega. Dessa Comissão surgiu o Relatório “Nosso Futuro Comum”, concluído em 1987, no qual os governantes signatários se comprometiam a promover o desenvolvimento econômico e social em conformidade com a preservação ambiental.

Esse Relatório destacou a interligação entre economia, tecnologia, sociedade e política, apresentando uma visão complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade global.

O referido relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade global. Destaca a interligação entre economia, tecnologia, sociedade e política, indicando procedimentos a serem executados no plano do Estado nacional como um possível caminho para o desenvolvimento sustentável. Define ainda metas a serem perseguidas a nível internacional, onde as organizações devem adotar estratégias da sustentabilidade (BARBIERI, 1997).

A partir da Comissão de Brundtland (1987), o conceito de ecodesenvolvimento passou a ser conhecido como Desenvolvimento Sustentável, devendo alcançar os seguintes objetivos: a) manter os processos ecológicos essenciais e os sistemas naturais vitais necessários à sobrevivência e ao desenvolvimento do ser humano; b) preservar a diversidade genética; c) assegurar o aproveitamento sustentável das espécies e dos ecossistemas que constituem a base da vida humana (BARBIERI, 1997, p.23).

A partir de então surgiram as mais distintas definições e explicações sobre o desenvolvimento sustentável, permitindo abrigar as mais diferentes visões acerca do crescimento econômico e da utilização dos recursos naturais, gerando uma série de dúvidas, tanto conceituais como, principalmente, relativas às implicações práticas desse conceito.

Dentro desta trajetória, a década de 80 foi marcada por diversos acontecimentos que favoreciam a uma gradativa mudança na visão da natureza dos problemas ambientais. Tiveram lugar posturas menos radicais, incorporando a idéia de complementariedade entre desenvolvimento e preservação ambiental, isto é, de crescimento econômico apoiado em práticas que assegurem a base de recursos ambientais. Nesse sentido, a degradação ambiental não seria um resultado inevitável do progresso humano, mas características de certos modelos econômicos que são, segundo essa visão insustentáveis em termos ecológicos e também desiguais e injustos socialmente (SCOTTO, 2007).

Nesse cenário de transformações da década de 80, os acontecimentos destacados a seguir ganharam realce:

a) surgimento, em grande parte dos países, de Leis regulamentando a atividade industrial no tocante a poluição; também teve impulso o formalismo da realização de Estudos de Impactos Ambientais e Relatórios de Impactos sobre o Meio Ambiente (EIA – RIMA), com audiências públicas e aprovações dos licenciamentos ambientais nas diferentes esferas do governo. (MOURA, 2002)

b) crescimento dos movimentos sociais em favor das causas ambientais, o que favoreceu a conscientização sobre a preservação ambiental e a necessidade de práticas de negócios “ecologicamente corretas”;

c) maior interação entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, com a inclusão, pelos agentes econômicos, de preocupações de caráter sóciopolíticos.

A despeito das controvérsias relacionadas à possibilidade de obtenção de um desenvolvimento sustentável em nível global, a operacionalização do referido conceito é o grande desafio da atualidade. E, de acordo com Scotto (2007), o desafio parece ainda maior, senão impossível, quando nos perguntamos de que modo concretizar uma sustentabilidade num contexto social dominado pelo mercado.

Vale a pena destacar que o conceito de sustentabilidade deve ser abordado com muita cautela, uma vez que traz em seu bojo uma nova proposta de sociedade, capaz de garantir a sobrevivência dos homens e da natureza (VEIGA, 2005). Assim, esse “novo” conceito incorpora variáveis econômicas, sociais e ambientais que se constituem em grande desafio da perspectiva de muitas áreas do conhecimento.

O conceito de Desenvolvimento Sustentável, adotado pela Comissão Brundtland, traz em seu bojo muitas ambigüidades e contradições, suscitando por isso muitas interpretações e muitas críticas pelos diferentes atores sociais, embora ainda seja o mais aceito mundialmente. E ganha importância justamente no momento em que “os centro de poder mundial declaram a falência do Estado como motor do desenvolvimento e propõe sua substituição pelo mercado” (GUIMARÃES, 1997, p. 22).

Guimarães chama atenção para o que ele denomina de “paradoxo institucional do discurso da sustentabilidade”, afirmando que vivemos na atualidade com duas realidades contrapostas:

Por um lado, todos concordam que o estilo atual está esgotado e é decididamente insustentável, não só do ponto de vista econômico e ambiental, mas, principalmente, no que se refere à justiça social. Por outro lado, não se adotam as medidas indispensáveis para transformar as instituições vigentes. Quando muito se faz uso da noção de sustentabilidade para introduzir o que equivale a uma restrição ambiental no processo de acumulação capitalista sem enfrentar, contudo, os processos institucionais e políticos que regulam a propriedade, o controle, o acesso e o uso dos recursos naturais...Até o momento, o que vemos são transformações cosméticas, tendentes a „enverdecer‟ o estilo atual sem promover, de fato, as mudanças que se haviam comprometido os governos presentes à Rio-92. (GUIMARÃES, 1997, P. 28).

Passados vinte anos, algumas mudanças na conjuntura mundial, econômica, sociais e tecnológicas levaram a uma expressiva discussão das questões relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento na esfera global.