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3 A EMERGENCIA DE UMA AGENDA AMBIENTAL INFLUENCIANDO O

3.1.2 Anos 70: a década decisiva

A década de 70 aparece no cenário mundial como um marco de emergência e manifestações das questões ambientais, que defendem a incorporação dos problemas ambientais na agenda do desenvolvimento das nações. Estas manifestações e questionamentos revelam a compreensão de uma crise crescente entre a expansão do modelo de crescimento econômico, de base industrial, que encontra seus limites através de vários fatores, tanto de ordem econômica quanto social e política, mas também e, sobretudo, devido ao volume de efeitos devastadores sobre o meio ambiente. (RAMPAZZO, 2001 e ALVATER, 1995).

Desastres ecológicos ocorridos depois da Revolução Industrial, que levaram à morte inúmera pessoas, serviram de fundamento para uma reflexão sobre os danos ambientais provocados no meio ambiente decorrentes de um modelo particular de desenvolvimento econômico. Esses acontecimentos despertaram os cientistas das mais diferentes áreas, quanto aos cuidados com a relação entre o homem e o meio aonde ele habita.

Diante dessa realidade, os debates sobre as questões relacionadas à preservação e conservação dos recursos naturais ganharam mais visibilidade logo após a publicação, em 1972, do livro Limits to Growth ( os Limites do Crescimento), ou a tese do crescimento zero, de Dennis e Donella Meadows. Através de simulações matemáticas, este grupo de pesquisadores observou as projeções de crescimento populacional, poluição e esgotamento dos recursos naturais da terra, informando que, mantidos os níveis de industrialização, crescimento da população mundial, produção de alimentos e exploração dos recursos, os limites de crescimento do planeta seriam alcançados dentro dos próximos 100 anos. Com base

nessas informações, previam uma queda súbita e incontrolável na população e na capacidade industrial. Em decorrência dessas observações, Bruseke (1995) destaca que o resultado mais provável nesse processo seria o declínio desenfreado da população mundial e da capacidade industrial.

De acordo com Spaargarem (1996), esses teóricos argumentam de diversas formas que a causa dos problemas socioambientais contemporâneos é resultante das atividades industrial e tecnológica que geram saturação ecossistêmica, especialmente na forma de poluição hídrica, atmosférica ou resíduos sólidos. Nesse caso, as estratégias de preservação ambiental devem ser vistas na esfera da política econômica, e esta passa efetivamente pela participação do Estado. Alguns autores, entre eles Foray e Grübler, (apud ANDRADE, 2004), destacam que esta era uma visão dispersa da tecnologia, isto é, a tecnologia era vista de forma fragmentada e estática.

As teses propostas encontravam ampla rejeição por parte dos países não desenvolvidos que defendiam o direito de crescer e ter acesso aos níveis de bem-estar atingidos pelas populações dos paises desenvolvidos. A tese de um crescimento zero significa uma forte e continuada crítica tanto ao crescimento contínuo da sociedade industrial como às teorias de desenvolvimento industrial que se basearam nela.

Sem dúvida, a chama das discussões sobre o meio ambiente ganha novas proporções com a deflagração da crise do petróleo em 1973, que revelava a gravidade da situação pela elevação dos preços desse recurso. Esta crise veio fortalecer a questão ambiental e trouxe para o debate a necessidade de uma nova ordem econômica internacional e de uma nova compreensão sobre o desenvolvimento em função da escassez dos recursos. Então, além da poluição, dois novos temas passaram a fazer parte da luta ambiental: a racionalização do uso de energia e a busca por combustíveis mais puros (ANDRADE, 2004).

Foi com base nessas questões que se realizou em Estocolmo (Suécia), em 1972, a primeira grande discussão internacional sobre a degradação do meio ambiente, onde foram firmados 27 princípios norteadores da relação homem-natureza. Nesta Conferência, o debate alcança a esfera governamental multilateral, através da criação do PNUMA – Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP – United Nations Environmental Programme ).

Essa Conferência foi o coroamento dos esforços das Nações Unidas que promoveram a primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano, com a participação de 113

países. A partir desse momento, foram lançadas as bases para um novo entendimento acerca de desenvolvimento e meio ambiente.

O ponto central da Conferência foi a questão ambiental, que trazia em seu bojo um chamamento para a conscientização dos governos e instituições internacionais sobre a necessidade de implementar medidas efetivas para a preservação do Meio Ambiente Humano.

A Conferencia de Estocolmo trouxe em seu bojo a preocupação, sobretudo do mundo desenvolvido, com a vulnerabilidade dos ecossistemas naturais. A ênfase maior estava centrada nos aspectos técnicos da contaminação provocada pela industrialização acelerada, pela explosão demográfica e pela expansão do crescimento urbano (LEIS, 1999).

Vale destacar a importância atribuída à polêmica entre países ricos e países pobres. A Conferência atribuía importância vital aos temas e objetivos de interesse dos países industrializados, e nesse cenário o Brasil foi um dos países a liderar uma resistência, defendendo o argumento de que precisamos de desenvolvimento e não de controle ambiental, e de que se a poluição é inevitável, que venha a poluição. Os diversos conflitos não conseguiram diminuir as repercussões mundiais da Conferência, desencadeando outras conferências internacionais, e a criação de diversas agências internacionais voltadas para a temática.

Na visão de Leis (1999), Estocolmo não deu soluções para os problemas convocados, mas seu papel mais importante deve ser centrado na legitimação política mundial da questão ambiental. Nesse sentido, a Conferência de Estocolmo pode ser considerada, no plano internacional, a primeira tomada de consciência da fragilidade dos ecossistemas do planeta e da conseqüente necessidade de realização de esforços para garantir sua manutenção.

Além disso, nesse encontro ficou estabelecida, entre outros pontos, a estreita ligação entre desenvolvimento e seus desdobramentos sobre o meio ambiente, e a necessidade da criação de uma administração sócio-ambiental racional através da criação de autoridades nas esferas federal, estadual e municipal, voltadas para a preservação sócio-ambiental. O uso dos conceitos da ecologia na área econômica começou a identificar, nesse período, as relações do setor industrial com o meio ambiente.

Os anos da década de 70 marcaram o início da regulamentação e do controle ambiental pelo Estado, visto que as Nações Unidas começaram a estruturar seus órgãos e estabelecer suas legislações visando o controle da poluição ambiental. Também nessa década, como

coloca Moura (2002), passou a ser exigida, nesse país, a realização de Estudos de Impacto Ambiental (EIA), como um pré-requisito à aprovação de empreendimentos potencialmente poluidores.

Nessa época, a solução encontrada para os problemas sócio-ambientais –decorrentes de exigências legais ou pressões da comunidade – foi a definição de estratégias ancoradas no princípio do “poluidor –pagador”42

, isto é, a degradação do meio ambiente seria evitada através da fixação de um preço a ser pago ao Estado pelo agente poluidor. Este preço corresponderia aos custos do tratamento dado aos resíduos gerados buscando reduzir os impactos negativos causados à sociedade. A implementação deste conceito provocou nos agentes econômicos uma postura reativa ou defensiva frente aos problemas ambientais , isto é, passaram a privilegiar o uso de estratégias tecnológicas de controle da poluição (MAY,2003).

Entretanto, nessa década, os inúmeros acidentes ambientais e o empobrecimento da biodiversidade, segundo Micheli (2000), passaram a ser questões urgentes tanto do prisma técnico-econômico quanto do político-institucional, exercendo fortes pressões sobre a política global das organizações, o que implicou em:

a) Rejeição dos consumidores aos produtos oriundos de empresas poluentes, paralelamente à expansão dos mercados de produtos fabricados que utilizam processos mais limpos;

b) Crescimento e fortalecimento de movimentos sócio-ambientalistas, fundamentados na avaliação dos Estudos de Impactos Ambientais (EIAs), nos Relatórios de Impactos sobre o Meio Ambiente(RIMA) e ainda na difusão de tecnologias alternativas;

c) Pressão para que os órgãos governamentais de controle da poluição industrial aperfeiçoassem seus desempenhos e efetivassem um aparato institucional e legal de caráter sóciopolítico.

Nesse quadro de mudanças globais, as empresas, visando atender às demandas externas crescentes por um desenvolvimento mais sustentável, começaram a valorar e incorporar as externalidades negativas de suas atividades econômicas às suas estratégias de crescimento. A partir de então, as preocupações com o meio ambiente passaram a exercer um

42 O princípio do poluidor pagador é uma das ferramentas de preservação ambiental a partir da internalização dos custos pelo próprio poluidor. Esta norma visa a garantir a manutenção da qualidade de vida com a preservação e o equilíbrio do meio ambiente, a partir de um instrumento econômico que define valor pecuniário ao bem ecológico, ver: SMITH (1992), SERRÕA DA MOTTA (1998).

forte impacto sobre as atividades empresariais e a resposta das empresas para o atendimento a essa nova demanda sócio-ambiental se deu por meio de investimentos adicionais na compra de equipamentos de controle da poluição (FERRAZ e SERÔA DA NOTA, 2001).

Para Schmidheiny (1992), nos primórdios do ambientalismo empresarial, o mais importante empecilho ao engajamento do empresariado nas questões em favor do meio ambiente residia na crença dominante de que proteção ambiental e lucratividade eram adversários naturais. Acreditava-se que com o melhor gerenciamento ambiental nas atividades industriais, além de reduzir lucros, as empresas estariam obrigadas a repassar os custos aos consumidores elevando os preços. Paralelamente, o custo da tecnologia ambiental era muito elevado, visto que ela não estava ainda totalmente disponível e nem era tão aperfeiçoada. Contudo, rapidamente ficou evidente que as tecnologias ambientais tinham possibilidade de reduzir custos – principalmente na utilização de insumos e no desperdício - por meio de uma eficaz operacionalização dos processos produtivos.