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cenário de reafirmação política da sociedade brasileira e com ela uma grande produção científica sobre os novos movimentos sociais (SILVA, 2003). Acompanhando a tendência, proliferam estudos e pesquisas na área de Biblioteconomia, acerca do papel social e político das bibliotecas, entre os quais estão Cysne (1993) e Gico (1990) que cito neste trabalho.

Foram principalmente os movimentos sociais brasileiros que impulsionaram a participação na composição da nova Carta Magna de 1988, o que garantiu que o texto constitucional fosse um marco na democratização e no reconhecimento institucional dos direitos sociais.

No que tange a prática bibliotecária, Cavalcante (2007, p.95) afirma que até então os bibliotecários tinham a tendência de “olhar para dentro”, visavam mais o documento do que o usuário, inseridos numa prática dissociada da sociedade, da política, do cidadão e da vida, voltada principalmente para o acervo, o processamento técnico e a palavra escrita.

Tais discussões geraram uma espécie de mal estar com a questão da qualidade técnica, ou a chamada predominância do modelo tecnicista, como vimos em Castro (2000) e fez emergir uma consciência renovada, voltada para o predomínio da concepção social das bibliotecas.

No âmbito das universidades, no entanto, é a C&T que dá o tom das mudanças estruturais. O período de 1984/85 aparece como de extrema importância para o planejamento desse setor no Brasil. Com a articulação do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) foram constituídos vários grupos de trabalho, de diversas Instituições, voltados para elaborar a Ação Programada em Informação, Ciência e Tecnologia (ICT), com a participação de mais de 1000 profissionais oriundos de sociedades científicas, agências de C&T, associações de classe e outros (CHASTINET, 1989).

Assim como a Reforma Universitária de 1968, as bibliotecas universitárias não foram mencionadas no documento, apesar de existentes em todas as instituições participantes. Contudo, foram beneficiadas com as diretrizes da Ação e, diante da oportunidade, iniciaram as discussões para a criação de um plano que tivesse como pressuposto formular uma política para a área de bibliotecas

universitárias. Em abril de 1986 criam o I Plano Nacional de Bibliotecas Universitárias (PNBU), composto por 12 diretrizes e 46 ações. (CHASTINET, 1989; GARCIA, 1991).

Para assegurar as condições necessárias foi criado ainda, na mesma ocasião, o Programa Nacional de Bibliotecas Universitárias (PROBIB), sob a responsabilidade da Secretaria de Ensino Superior (SESU) do MEC. De acordo com o regimento do programa, o PROBIB era constituído de uma Secretaria Executiva e de um Comitê Técnico Assessor (CTA) (CHASTINET, 1989; GARCIA, 1991).

Conforme Chastinet (1989), O PROBIB implementou dez programas: o Programa de Pesquisas, Estudos Técnicos e Desenvolvimento de Recursos Humanos para Bibliotecas Universitárias (PET); o Programa de Ação Planificada de Periódicos para Bibliotecas das IES (PAP); a Central de Duplicatas de Periódicos; o Projeto BIBLOS (financiamento de livros para a graduação); a Central de Catalogação Cooperativa – apoio à Rede BIBLIODATA; a Automação de Bibliotecas; a Cooperação Nacional (orientação técnica às BUs); o Apoio a projetos específicos; o Apoio à realização de eventos; e à Produção de documentos.

Chastinet (1989) atribui a criação do PNBU à efetivação da Ação Programada do ICT. Contudo, as duas autoras concordam que um dos fatores de fundamental importância para a gestação e implementação do Plano, foi a inovadora e ampla participação dos bibliotecários. Para Garcia(1991) essas ações foram inspiradas pela prática do espírito democrático, na época exercido pelos novos movimentos e sujeitos sociais, reconquistado com a redemocratização do país e o respeito à liberdade no que se refere à autonomia das instituições e à opinião das pessoas.

Outro ponto de concordância entre Chastinet (1989) e Garcia (1991) diz respeito à importância dos Seminários Nacionais de Bibliotecas Universitárias (SNBUs), que desde a década de 1970 são realizados a cada dois anos.

Garcia (1991, p.5) afirma que os SNBUs propiciaram a construção da “consciência crítica da biblioteca universitária (sic)”, diante das dificuldades crescentes, somadas aos problemas relacionados às históricas condições precárias das atividades de informação e documentação nas universidades brasileiras.

Há que se destacar que durante a realização do 6º SNBU, financiado com recursos do PNBU em 1987, foi criada por iniciativa da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), a Comissão Brasileira de Bibliotecas

Universitárias (CBBU), que até a presente data, representa os interesses políticos e as demandas das Bibliotecas das IES.

Apesar da ampla participação de especialistas e bibliotecários na gestação, alguns estudiosos criticaram o direcionamento do PNBU, por este ter atuado, quase que totalmente, em torno de problemas técnico-administrativos e técnico- profissionais, e não no direcionamento aos usuários e serviços, desprezando uma espécie de consenso social, onde as diferenças regionais, em matéria de acesso à informação, pudessem ser diminuídas (GICO, 1990).

O tempo mostrou, contudo, que o PNBU não conseguiu criar uma cultura política no Brasil favorável às bibliotecas. Durante os quatro primeiros anos não funcionou com dotação orçamentária própria dentro do MEC, já que era deste que provinha a maior parte dos recursos. O volume investido foi declinante durante os quatro anos de implementação, ou seja, do valor total (US$ 7.533.254,00), 32,5% foi distribuído em 1986, 28,6% em 1987, 18,7% em 1988 e 20,2% em 1989. Para Garcia (1991) foi essa vulnerabilidade que contribuiu decisivamente para a desativação do Plano, tão logo ocorreu a mudança para o novo governo.

A grande articulação junto às agências de fomento não garantiu o prestígio necessário à institucionalização do Plano, fundamental à sua manutenção. A administração superior do MEC protelou a institucionalização do PROBIB, que ocorrera no fim do governo Sarney, mas não assegurou a sua continuidade, vindo a declinar gradativamente.

A vigência do Plano ocorreu bem na época em que o Brasil encontrava-se numa grande crise política e econômica, o que também contribuiu para dificultar a distribuição e aplicação eficiente dos recursos, tendo em vista a alta constante da inflação.

(...) Foram contabilizados nesse período oito planos de estabilização monetária, quatro diferentes moedas (uma a cada trinta meses), onze índices de cálculo inflacionário, cinco congelamentos de preços e salários, catorze políticas salariais, dezoito modificações nas regras de câmbio, cinqüenta e quatro alterações nas regras de controle de preços, vinte uma propostas de negociação da dívida externa e dezenove decretos sobre a autoridade fiscal (PEREIRA, 2002, p.36).

Beneficiado pela crise, Fernando Collor de Mello é eleito Presidente do Brasil, em 1989, na eleição que consolidou a ruptura com os trinta anos de

autoritarismo. A partir dai, inicia-se o desmonte devastador da máquina governamental, empreendido logo nos primeiros dias do governo,

É (...) conhecida de todos a corrente de opinião que, em governos anteriores e nesse, contesta a universidade pública. Ainda é recente a tentativa do MEC de ‘livrar-se’ das universidades federais durante o período Chiarelli 6

(GARCIA, 1991, p.29).

Inseridas no rol de ataques do governo contra o serviço público, as condições de manutenção do Programa tornaram-se inexeqüíveis e foi desativado.

O PNBU foi um marco entre as ações direcionadas para as bibliotecas universitárias. De acordo com Pinheiro e Loureiro (2004, p. 10), o salto de qualidade vivenciado pelas bibliotecas universitárias pode ser dimensionado pelo crescimento e enriquecimento dos acervos; pela existência de uma política de aquisição planificada nas universidades; pela melhor capacitação de bibliotecários; pela aceleração do processo automatizado e a criação de sistemas de informação universitários e pela modernização de serviços e produtos de informação.

Conforme Carvalho (2004), o PNBU talvez tenha sido o embrião da única política pública para o setor e, até hoje, não são poucas as manifestações que propõem a retomada de programas com a sua envergadura.

Seguindo as diretrizes das ações em C&T, os estados amazônicos também expandiram seus investimentos em pesquisas e sistemas de informações pertinentes ao desenvolvimento da Região. Entre as experiências gestadas nesse período, temos o Sistema de Informação Científica e Tecnológica da Amazônia Brasileira (INFORMAM).

O INFORMAM surgiu em 1982, sob a coordenação do Museu Paraense Emílio Goeldi, para facilitar a produção e a disseminação de informações científicas e tecnológicas sobre a Amazônia. Caracterizava-se como um sistema referencial, com recursos automatizados. No ano de 1986, o Sistema passa a ser coordenado pela UFPA, que investe na cooperação entre as instituições da Amazônia, constituída de uma Unidade Central e várias Unidades Cooperativas, distribuídas pela Região (AZEVEDO, 1989).

O INFORMAM também contribuiu para a atualização e capacitação dos bibliotecários da Região, pois realizou treinamentos, reuniões técnicas, publicou

artigos e outros produtos como o Quem é Quem da Amazônia. Em 1995, suas bases de dados foram disponibilizadas pela internet (CONDURU, 2007).

Na década de 90, passa a ser o Centro Coordenador no Brasil do Sistema de Informação da Amazônia (SIAMAZ), institucionalizado pela Associação das Universidades Amazônicas (UNAMAZ), que funcionava como um sistema de informações cientificas e tecnológicas no âmbito dos países amazônicos (BELLESI; SILVA, 1992).

Condurú (2007) lamenta a descontinuidade dessas e de outras redes de informações amazônicas, que para a autora, deve-se à forma isolada como os sistemas atuam e, principalmente, à falta de continuidade dos financiamentos. Atualmente, o INFORMAM está desativado, mas alguns dos seus serviços foram incorporados pelo Portal da Amazônia, mantido pela UFPA, e que também possui bibliotecários em sua equipe de trabalho.

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