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2.3 Empreendedorismo

2.3.5 A dialética entre Empreendedorismo e Desenvolvimento Econômico

Atribui-se a Schumpeter (1934) uma das primeiras definições de empreendedor, em que se concebe o agente como aquele que destrói a ordem econômica existente e é responsável por introduzir novos produtos e serviços, principalmente pela descoberta de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos materiais.

Acredita-se que referido conceito não se limita a definir determinados tipos de empresários, mas também os demais agentes (executivos e empregados) que reúnem aquelas características. Para o estudo em comento, parece que esse conceito mais abrangente é o mais adequado a tentar identificar a dialética entre o empreendedor e o desenvolvimento econômico.

A visão de Say do empreendedor, compreendido pelo autor como um agente que inova e promove mudanças (FILION, 1999) ainda é muito atual. Todavia, Schumpeter associa de forma mais contundente o empreendedor ao fomento do desenvolvimento econômico. Segundo Gomes (2011), no corpo central do pensamento econômico, não estão os economistas que se interessam pelos empreendedores.

Antônio Delfim Netto (“O papel do empresário privado no Processo de Desenvolvimento Econômico”, “Problemas Brasileiros”, 1964, nº 24, p. 2) afirmou que:

“É preciso lembrar que o desenvolvimento econômico é um processo global de transformação, que implica em modificações quantitativas e qualitativas no sistema produzido; em modificação das relações entre os indivíduos e que altera não apenas a estrutura econômica, mas também os valores básicos e as formas de comportamento de toda a sociedade tradicional”

O tripé Shumpteriano assenta o desenvolvimento econômico em três fatores: a inovação tecnológica, a presença do empresário empreendedor e o acesso ao crédito. Observa-se que o autor não considera que o crescimento da população e/ou da produção

são isoladamente fatores que determinam o desenvolvimento econômico. Quando muito, pode induzir “crescimento econômico”. O desenvolvimento econômico, no entanto, seria disruptivo, exigindo do empresário inovador que seja o agente capaz de mobilizar crédito bancário e empreender negócios inovadores. Nesse sentido, o empreendedor não será necessariamente o investidor do capital, mas precisa ter a capacidade de mobilizá-lo (SCHUMPETER, 1982).

Barros e Pereira (2008) destacaram que “a teoria econômica neoclássica ignorou essa advertência de Schumpeter”, tendo como causa provável a adoção do paradigma do equilíbrio, segundo o qual: “... a teoria padrão de equilíbrio neoclássico não tem, pelo

seu próprio caráter, nenhum papel para o empreendedor. Em equilíbrio, não há margem para lucro puro: simplesmente não há nada para o empreendedor fazer”.

Schumpeter já havia criticado a tentativa de analisar o crescimento econômico sem tentar compreender o papel do empreendedor. Baumol (1968) advertiu seus pares economistas parafraseando Schumpeter e chamando atenção para o fato de que a empresa teórica não engloba o empreendedorismo, o que seria equivalente a expurgar o Príncipe da Dinamarca da discussão de Hamlet.

A literatura da segunda metade do século passado até aqui ignorou os autores entusiasta do papel do empreendedor, não reservando lugar aos empreendedores, tendo sedimentado os determinantes do crescimento econômico nos seguintes pilares: acumulação de capital físico e humano, progresso tecnológico e expansão dos mercados (Easterly, 2002; Mokyr, 1990).

Porter (1992) já havia destacado que a competitividade de um país está intimamente ligada à inovação de produtos e processos de produção. Segundo já abordado, essa é justamente a definição de Schumpeter (1982) para empreendedor, a do agente capaz de introduzir inovação que leva ao desenvolvimento econômico.

Para Nickel, Nicolitsas & Dryde (1997) é justamente essa a contribuição do empreendedor ao desenvolvimento econômico: a introdução da inovação e da concorrência no mercado.

Esses pensamentos diversos foram fundamentando as teorias que avaliam o desenvolvimento econômico, a partir do papel ou não papel do empreendedor como motor do crescimento. A destruição criativa promovida pelo empreendedor, modificando produtos e processos, ficou conhecida como Schumpeter Marco I (THURIK et al., 2002). O próprio Schumpeter (1982) em seu processo de produção de conhecimento afirmou em outro momento que somente as grandes empresas seriam

aptas a realizar investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), definindo o Marco II de Schumpeter. No pós-guerra, foi justamente essa tipologia de empresa que ganhou força: grandes empresas com administração profissional e que visavam a ganhar eficiência através das economias de escala (CHANDLER, 1990; GALBRAITH, 1971).

Conforme Lucas (1988), em outro momento, a Teoria do Crescimento Endógeno destaca a importância do capital humano e da inovação na determinação do crescimento econômico, no entanto, não avalia o papel do agente empreendedor. Audretsch et al. (2006) formalizou a Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do Conhecimento (Knowledge Spillover Theory of Entrepreneurship), primando por explicitar o papel do empreendedor, enunciando que os conhecimentos e as ideias novas concebidas por ocasião da pesquisa de uma grande empresa ou ambiente acadêmico, mas não aproveitadas comercialmente, criam oportunidades empreendedoras, sendo o empreendedorismo, então, uma resposta endógena aos investimentos realizados.

A partir da teoria narrada, os autores formularam a hipótese sobre crescimento econômico, a qual afirma que níveis mais altos de crescimento econômico são oriundos de maior atividade empreendedora, uma vez que o agente empreendedor serve como veículo para transbordamento e comercialização do conhecimento.

A hipótese de Audretschet (2006) foi testada no universo de 327 condados na Alemanha. Os achados indicaram que nas regiões onde havia mais empreendedorismo o produto interno bruto e sua variação eram maiores, tendo sido constatado que o empreendedorismo – tomado através do número de empresas nascentes numa região em relação à população – é um dos elementos para explicar o desempenho econômico regional.

A literatura até então pesquisada sobre o assunto parece convergir para o entendimento de que há em alguma medida uma correlação entre empreendedorismo e o desenvolvimento econômico.

Mais recentemente, aquela hipótese formulada por Schumpeter, no denominado Marco II, tem recebido contribuição no sentido de demonstrar que os tipos de empreendedorismo exercem influência diversa sobre o desenvolvimento econômico da região a depender do seu próprio estágio de desenvolvimento. Aghion e Howitt (2005) conceberam a ideia que mais ingressos ou potenciais ingressos no mercado de novos entrantes conduzem a mais inovação e aumento de produtividade. Tal fenômeno não ocorre apenas porque é o resultado natural da inovação, mas também em virtude do receio que provoca nos agentes empresários tradicionais de ter seu negócio afetado

pelos entrantes, podendo até mesmo ser desalojado, incentivando-os a inovar e criar barreiras a novos entrantes. Uma das conclusões empíricas dessa hipótese, segundo Barros e Pereira (2008), seria que novos entrantes provocam efeito positivo mais significativo no crescimento de países, ou até mesmo setores, que se encontram na fronteira tecnológica, ao passo que os efeitos são menores naqueles que estão bem abaixo da fronteira

Nesse momento, parece ser relevante a distinção entre dois tipos de empreendedorismo, a partir da motivação do agente empreendedor, cujos conceitos já foram tratados no item 2.3.2, do capítulo 2, o empreendedorismo por necessidade e por oportunidade, sendo o primeiro aquele em que “o envolvimento no negócio aconteceu por falta de alternativa de trabalho e renda”, ao passo que, quanto ao segundo, o agente empreendedor identificou efetivamente uma oportunidade de negócio a ser explorada (BARROS E PEREIRA; 2008).

Alguns autores constatam que, para países ou regiões em que há menor nível de desenvolvimento, o empreendedorismo por necessidade torna-se o tipo mais presente de atividade empreendedora e contribui de forma negativa para o crescimento econômico, enquanto, em países e regiões com maior desenvolvimento econômico, o empreendedorismo por oportunidade prevalece e contribui de forma positiva para o crescimento (ROCHA, 2014; OLIVEIRA, CARDOSO, 2015; BARTOLOMEU, 2015).

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