• Nenhum resultado encontrado

2.3 Empreendedorismo

2.3.6 Fatores que definem a atratividade do Ambiente Empreendedor

Questão de relevância para o presente estudo consiste em identificar os fatores que eventualmente interagem com o Ambiente Empreendedor tornando-o mais atrativo ou mais hostil ao agente empreendedor.

Os fatores são variáveis preditoras (também chamadas variáveis independentes) que você escolhe para variar sistematicamente durante um experimento para determinar seu efeito sobre a variável de resposta (SILVA; 2017).

Partindo do conceito acima, seria possível identificar variáveis que uma vez presentes e dependendo de sua intensidade poderiam influenciar na atratividade da atividade empreendedora.

Diversos estudos definem múltiplas variáveis que promoveriam mudanças na receptividade de países ou regiões geográficas ao empreendedorismo, sendo esses fatores importantes para o desenvolvimento econômico.

Entre os principais estudos de abrangência mundial sobre o empreendedorismo estão os realizados pelo Global Entrepreunership Monitor (GEM) e pelo World

Economic Forum (WEF).

Segundo definição do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), o GEM consiste em um programa de pesquisa que promove a avaliação anual do nível nacional da atividade empreendedora. Iniciou em 1999, com 10 países sendo objeto de estudo, fruto de uma parceria entre London Business School, da Inglaterra, e Babson

College, dos Estados Unidos. Mais de 80 países já participaram do estudo do programa,

que atualmente é a maior avaliação contínua da atividade empreendedora.

O WEF, conforme definição constante em seu website, é uma organização sem fins lucrativos que se localiza em Genebra na Suíça e tem entre suas atribuições a realização anual do Fórum Econômico Mundial realizado na cidade de Davos e, por esse motivo, também denominado de Fórum de Davos. O Fórum divulga anualmente o

Global Competitiveness Index (GCI), índice que captura as principais variáveis que

estimulam a atividade empresarial.

No Brasil, além dos dados nacionais condensados pelo GEM, este estudo localizou também a pesquisa elaborada pelo Centro de Liderança Pública associado à consultoria Tendências Consultoria Integrada, a qual, através da análise de diversos indicadores, cataloga a ambiência competitiva dos Estados Brasileiros para abrigar o agente empreendedor.

Estes três estudos anteriores elencam fatores e avaliam a sua presença e intensidade nas regiões analisadas com o objetivo de medir o grau de competitividade das regiões.

Quanto ao GEM, seu principal indicador é o Total early-stage Entrepreneurial

Activity (TEA), o qual mensura a proporção de pessoas entre 18 e 64 anos exercendo

atividades em negócios nascentes e/ou novos, conforme definição no capítulo anterior (PAULA; UHR; UHR; 2017).

O TEA tem sido objeto de correlações com outros indicadores com o objetivo de definir a importância do empreendedorismo, no estágio inicial ponderado pelo indicador, para o ambiente econômico dos países.

ACS et al. (2004) e Bosma et al. (2008) estabeleceram uma correlação entre o

TEA e o GDP per capita (Gross Domestic Product), a denominação do PIB per capita

menos desenvolvidas em detrimento das economias mais desenvolvidas, voltando a crescer em economias sofisticadas.

Por sua vez, o GCI almeja medir os fundamentos microeconômicos e macroeconômicos da competitividade, a qual é definida como o conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade de uma economia (SALA-I-MARTÍN et al., 2015; SALA-I-MARTÍN et al., 2016).

O GCI considera a existência três estágios de economia a partir do seu grau de desenvolvimento – Orientadas por Fatores, Orientadas pela Eficiência e Orientadas pela Inovação. Nas economias “orientadas por fatores” há altas taxas de empreendedorismo por necessidade, os empreendedores comumente possuem baixos níveis de educação formal e essas economias tendem a utilizar tecnologias menos sofisticadas o que provoca a oferta basicamente de produtos de origem extrativistas. Nas economias “orientadas por eficiência”, por ocasião do crescimento da renda per capita e o desenvolvimento do setor industrial, começam a surgir instituições para apoiar novas indústrias, grandes empresas se estabelecem, tornando-se uma opção viável de empregos estáveis. Nas economias “orientadas pela inovação”, o ambiente econômico permite a exploração de diversas oportunidades surgidas a partir do aumento das pesquisas e instituições provedoras de conhecimento. Nesse último contexto, a atividade empresarial baseia-se na oportunidade e na busca pela inovação (PAULA, UHR E UHR, 2017). Há um verdadeiro desafio aos operadores conhecidos, o que representa alegoricamente a “destruição criativa” utilizada por Schumpeter ao definir empreendedor.

Paula, Uhr e Uhr (2017) também perceberam que o TEA comporta-se de maneira distinta nesses três estágios econômicos:

a) Orientação por Fatores – Há um TEA elevado em virtude das poucas oportunidades de empregos estáveis existentes, o que incrementa o empreendedorismo por necessidade;

b) Orientação por Eficiência – O estabelecimento de grandes empresas contribui para a oferta de emprego estável, reduzindo o número de empreendedores por necessidade. O TEA, nesse cenário, cai, o que deve, no entanto, ser entendido como uma ocorrência positiva desde que acompanhado de estabilidade macroeconômica e política.

c) Orientação por Inovação – A TEA volta a crescer puxada pelo empreendedorismo orientado por oportunidade. A difusão de novas tecnologias e economias de escala contribuem para o aumento da produtividade, absorvendo as demandas crescentes de mercado, e impulsionando a formação de capital financeiro, o que por sua vez estimula o surgimento de novos setores industriais, permitindo o surgimento de um setor emergente de fabricação em pequena escala.

O Global Competitiveness Index leva em consideração doze pilares divididos em subíndices – requerimentos básicos, potenciadores de eficiência e fatores de inovação e sofisticação. Esses doze fatores são considerados mais ou menos importantes em virtude dos estágios de desenvolvimento daquela economia, recebendo, portanto, na metodologia do índice, pesos diferentes.

Tabela 5 – Pilares que formam o GCI – Fórum Econômico Mundial

Fonte: Global Competitiveness Report 2015-2016 baseado em Paula, Uhr e Uhr, 2017

O GEM, por sua vez, também avalia a importância de alguns fatores nos países pesquisados, utilizando a percepção de respondentes quanto aos fatores favoráveis ao empreendedorismo e limitantes à atividade empreendedora.

Tabela 6 – Fatores Favoráveis à abertura de novos negócios – GEM 2016

Fonte: GEM 2016

A Tendências Consultoria Integrada, consultoria do economista Mailson da Nóbrega1, produz anualmente o Relatório “Ranking de Competitividade dos Estados”, o qual condensa, em 10 pilares, 66 indicadores de diversas fontes, que possuem agenda própria de divulgação, que vão desde “Emissão de CO2”, produzido pela SEEG/OC, passando por “PEA com Ensino Superior” – produzido pelo IBGE, na pesquisa PNAD – até “Qualidade dos Serviços de Telecomunicações” da ANATEL.

1

Economista, Ex-Ministro da Fazendo do Governo Sarney, Colunista de Diversos veículos de comunicação, entre eles, Folha de São Paulo, Estado de S. Paulo e Revista Veja

Ao final, a Consultoria produz um Ranking que classifica os Estados Brasileiros de acordo com seu ambiente convidativo ao empreendedorismo.

A pesquisa analisa os seguintes pilares:

Quadro 1 – Pilares de Competitividade – Tendências Consultoria

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Tendência e CLP (2017)

Em cada um dos pilares, a pesquisa avalia diversos fatores através de dados obtidos em outras pesquisas com agenda própria. São os seguintes os fatores e suas respectivas fontes para cada um dos pilares:

Quadro 1.1 – Indicadores do Pilar Sustentabilidade Ambiental

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.2 – Indicadores do Pilar Capital Humano

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.3 – Indicadores do Pilar Educação

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.4 – Indicadores do Pilar Eficiência da Máquina Pública

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.6 – Indicadores do Pilar Inovação

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.7 – Indicadores do Pilar Potencial de Mercado

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.8 – Indicadores do Pilar Solidez Fiscal

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.9 – Indicadores do Pilar Segurança Pública

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Quadro 1.10 – Indicadores do Pilar Sustentabilidade Social

Fonte: Ranking de Competitividade dos Estados 2017. Elaborado pela Tendências Consultoria e pelo Centro de Liderança Pública

Smith (2010) avalia a interação do empreendedorismo com o crescimento econômico mediante um conjunto de dados transversais para 77 países, para o ano de 2005, extraídos do Banco Mundial. O autor elenca seis diferentes fatores, distribuídos em sete variáveis, sendo um deles o próprio empreendedorismo, medido pela taxa de novos negócios nascentes, e os outros cinco fatores que, segundo a literatura, também estão presentes em cenários de crescimento econômico:

Tabela 7 – Fatores de Smith (2010)

Nome da Variável Fator Medido

Rendimento Nacional Bruto Per Capta (paridade do poder de compra medida em dólares)

Crescimento Econômico

Taxa de Novos Negócios Empreendedorismo

Percentual da População na Força de Trabalho

Trabalho

Formação de Capital Bruto Per Capita (Referência de USD 2.000)

Capital

Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (Percentual do PIB)

Conhecimento

Soma dos gastos com estudantes na educação básica, ensino médio e ensino superior (Percentual do PIB per capta)

Conhecimento

Classificação no Índice de Facilidade em Fazer negócios

Políticas Governamentais Pró-Mercado

Fonte: Baseado em Smith (2010)

Smith (2010) extraiu todas as informações para cruzamento dos dados da Base de Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial (World Bank Group).

Todos os fatores explorados por Smith (2010) também estão, de alguma forma, presentes no Ranking de Competitividade dos Estados (TENDÊNCIAS; 2017).

Bednarzick (2000), ao analisar os fatores da pesquisa GEM, destacou que o empreendedorismo não é apenas um resultado dos fatores tradicionais de desenvolvimento econômico. Em sua pesquisa, Robert Bednarzick identificou sete fatores, entre aqueles que promovem crescimento econômico, que influenciam o empreendedorismo:

Quadro 2 – Fatores de Bednarzick (2000) Fatores Oportunidades de Empreendedorismo Demografia Nível de Educação Capacidade Empreendedora Infraestrutura

Nível cultural de Estímulo ao Empreendedorismo

Controle do Capital por Agentes Privados ou Públicos

Fonte: Baseado em Bednarzick (2000)

Isenberg (2011) tem desenvolvido um estudo que denomina de “Estratégia do Ecossistema de Empreendedorismo para o Desenvolvimento Econômico”, propondo que referido modelo seja utilizado para implantação de estratégias bem sucedidas de

cluster, sistema de inovação, sistema de inovação de conhecimento e políticas nacionais

de competitividade. Daniel Isenberg propõe um sistema empresarial com seis domínios principais, os quais também se podem assumir como fatores para efeito dessa pesquisa: Cultura Favorável, Capacidade Política e de Liderança, Disponibilidade de Financiamento Adequado, Qualidade dos Recursos Humanos, Mercados com Aceitação a Risco para Produtos, Rede de Suporte.

Quadro 3 – Domínios do Ecossistema Empresarial Fatores

Cultura Favorável

Estímulos Políticos e de Lideranças Sociais

Disponibilidade de Financiamento Adequado

Qualidade dos Recursos Humanos

Mercados com Aceitação a Risco para Produtos

Rede de Suporte

Fonte: Baseado em Isenberg (2011)

Na verdade, Isenberg (2011) propõe uma interação desses denominados “domínios” (fatores) com uma centena de variáveis (subfatores) cujo produto é justamente uma infinidade de ecossistemas possíveis, com características bem próprias. A figura 6 abaixo representa bem essas interações:

Figura 4 – Modelo de Isenberg para um Ecossistema de Empreendedorismo

Verifica-se que há interesse pelo assunto, ainda que observado em poucas pesquisas, no mundo acadêmico. Outras pesquisas que se debruçam sobre o assunto acabam promovendo correlações entre indicadores de empreendedorismo e aqueles já identificados nos trabalhos do GEM e do Fórum Econômico Mundial (WEF).

Documentos relacionados