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2.1 O conceito de natureza de Galileu a Kant.

2.5 A DIALÉTICA E NATUREZA

2.5.1 A DIALÉTICA HEGELIANA

Hegel (1770-1831) viveu numa época extremamente romântica, o próprio Vita (1964) classifica-o como filósofo romântico ao lado Fichte, Schelling, Schopenhauer, Rosmini e Kierkegaard. Só que tomá-lo como romântico é parcial e incompleto por demais, não que Vita não tenha autoridade filosófica para tal classificação, mas é conveniente e mais apurado tomá-lo partindo do romantismo mas não permanecendo no mesmo enquanto fim.

Devemos lembrar que nossa preocupação central não é em detalhar o pensamento hegeliano, sim possibilitar a contribuição do mesmo na formulação e estruturação do método dialético e como o respectivo filósofo construiu sua idéia de natureza.

A dialética hegeliana parte sempre do indivíduo, não mais apartado da sua própria história, pois para Hegel (1961) o indivíduo é sujeito histórico, bem como pode apresentar-se enquanto objeto (Estado e família) também compactuado pelo processo histórico.

O movimento salta do indivíduo (HEGEL, 1961) (sujeito sensível e portador da razão subjetiva) (HEGEL, 2002) para uma análise dinâmica do Estado e da família (pontos objetivos na História humana) até alcançar o absoluto hegeliano (a compreensão do todo por meio da verdade em si mesmo, a consciência absoluta retornando a mesma após “passear”pela espiral dialética).

“Nos modos precedentes da certeza, o verdadeiro é para a consciência algo outro que ela mesma. Mas o conceito desse verdadeiro desvanece na experiência [que a consciência faz] dele”. (HEGEL, 2002, p. 135).

A verdade hegeliana parte do sujeito (do ser, da consciência-em-si), o caminho é limitado pela objetividade do Estado e da família, os quais moldam a tradição do pensar e do agir, estando inseridos num momento histórico (tempo-espaço), mas a superação disso está na luta realizada na consciência-em-si ao tocar o absoluto, o estado de consciência filosófico, dialético.

Hegel (1961) parte do indivíduo como um caminho seguro e até naquele momento pouco explorado pelos filósofos, na verdade o caminho do indivíduo já estava muito trabalhado por outros pensadores anteriores e até mesmo contemporâneos, o grande diferencial estava na conduta do indivíduo para com a sociedade e a mesma retornando até o sujeito. O processo dialético na conduta do sujeito para com a realidade somada a própria

história humana foi a diferença gritante na filosofia hegeliana. Bem como, o destaque essencial de sua filosofia quando o mesmo afirma a luta humana como um processo revitalizador e inovador para uma sociedade carcomida. A contradição dos acontecimentos no mundo é que movimentavam o próprio, desta forma, se o mundo aceitasse uma tradição seria o caos para o mesmo, uma vez que só há melhorias ao existir o contrário da tradição, de uma tese, de uma idéia, enfim, os contrários é que movimentam tudo.

Hegel, portanto, tem a dialética como ação ininterrupta na sua filosofia. Ver e entender o mundo para Hegel significava o constante retorno ao indivíduo e seus problemas subjetivos (no mesmo) e objetivos (Estado e família, podemos, então, entender como sociedade), assim em Hegel define-se a contradição das coisas como certezas, como caminhos para a verdade (DURANT, 1996).

Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da historia; ou para falar com mais exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o passado é apenas modo permanente, está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O patrimônio da razão auto- consciente que nos pertence, não surgiu sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano (HEGEL, 1961, p. 38).

Hegel contribui decididamente para o fim da inércia analítica na construção do pensamento voltado, sobretudo, para a realidade e o desvendar do conhecimento partindo não mais de si, parte-se do sujeito e este não é vazio ou isolado do tempo-espaço, é fruto de sua época e de todas as épocas passadas, como posteriormente escreveu Marx (1975, p. 13):

“A tradição de todas as gerações passadas pesa inexoravelmente sobre a consciência dos vivos”.

Só que Hegel não estava preocupado em analisar os processos históricos como Marx realizou posteriormente. Preocupava-se em descortinar os processos lógicos do pensamento na edificação do conhecimento e daí entender a realidade não apartada do ser, ou seja, numa trilha ontológica e somente depois epistemológica.

O caminho da lógica dialética de Hegel percorre os viés do entendimento humano na expectativa de encontrar a consciência do próprio homem e como o mesmo cotidianamente age.

Hegel, segundo Vita (1964), abandona a simples intuição intelectual e o sentimento, preferindo a razão, assim abandona o sentimentalismo e o idealismo intuitivo, busca, sobretudo, o caminho lógico para alcançar o pleno entendimento do mundo por meio do saber absoluto.

“Mas este saber não é dado de uma vez em sua origem; é o final de um desenvolvimento que das formas inferiores se eleva até as superiores”. (VITA, 1964, p. 232).

Há um preocupação de Hegel em compreender o todo, em não ficar limitado por parcialidades, preso no sistema metodológico das aparências, deseja durante toda a construção de sua filosofia entender o todo, ir buscar o entendimento das coisas nas origens. Posteriormente K. Marx escreverá que devemos ser radicais, ou seja, buscar as coisas nas raízes (ou raízes das coisas), nas origens.

Hegel (1961) toma o todo na somatória do pensamento e do concreto, ao trilhar a lógica enumera o pensamento não para o próprio pensamento, não da abstração para a abstração, ruma da abstração para o concreto. Ninguém pensa por pensar, todo pensamento possui uma seqüência lógica e concreta de algo.

“Se a verdade é abstracta, não é verdadeira. A sã razão humana somente visa ao concreto.” (HEGEL, 1961, p. 65-66).

Sartre (2003, p. 53) interpretando a Lógica de Hegel entende que:

“O verdadeiro concreto, para Hegel, é o Existente, com sua essência; é a Totalidade produzida pela integração sintética de todos os momentos abstratos que nela são transcendidos, a exigir seu complemento”.

A busca do concreto para entender a totalidade foi tarefa árdua e constante na dialética de Hegel, pois propôs partir do ideal, do mundo das idéias, para somente depois alcançar o concreto. Todavia, não permitiu que o pensamento fosse destinado de forma errônea, pontuou a fundamental ordenação sistemática do mesmo através da razão e de um encadeamento lógico resultando no concreto. Há a busca do todo, do absoluto, na constante emergência do conhecimento e de sua construção.

Hegel, segundo M. Santos (2002), labora dialeticamente no processo metamórfico da idéia em objeto e o objeto em idéia, portanto, para Hegel a idéia é o constante movimento de uma coisa sendo outra e vice-versa, ou seja, penso agora numa mesa a mesma é única por meio de meus pensamentos, não penso numa cadeira, assim meu espírito (idéia hegeliana) é tomado pelo objeto mesa e minha idéia em simultaneidade é também uma mesa. Todavia, para que eu pense numa mesa, tenho que entender, por menores, do que se trata: forma, tamanho, utilidade e outros. Se eu não conhecesse mesa nunca poderia pensar na mesma, ou quando pensasse em tal objeto seria uma nova invenção.

Em Hegel (1961, 1969 e 2002) o espírito (a idéia) avança sobre o objeto, a mesa é constituída e nomeada assim por ser mesa, pois não é uma cadeira, a dialética da negação traz uma confirmação de algo, só que tal afirmação será válida quando a compatibilidade entre idéia e objeto permanecerem.

Tudo isso formou a idéia de natureza em Hegel, pois o mesmo entendeu a natureza da mesma forma que entende o mundo .Para Hegel (1969) a natureza é a idéia, a negação de si ou, ainda, exterior a si. A natureza é “[...] a Idéia na forma de ser outro.”(p. 11).

A natureza para Hegel é a tomada de consciência do homem, quando o homem consegue expandir seu espírito até o mundo das experiências e estas são efetuadas enquanto o movimento contínuo da própria consciência (MOREIRA, 2004).

[...] a natureza não contém em si mesma o fim último absoluto; mas quando esta consideração parte dos fins particulares, finitos, transforma-os, por um lado, em pressupostos cujo conteúdo acidental pode por si mesmo ser até insignificante e vazio; e, por outro, a relação de fim exige para si um mais profundo modo de concepção, que não seja segundo relações externas e finitas – o modo de consideração do conceito que, segundo a sua natureza, é imanente em geral e, portanto, imanente à natureza como tal (HEGEL. 1969, p. 09).

A natureza hegeliana é a superação da dicotomia homem e natureza, uma vez que a própria natureza é, no sentido de Hegel, a idéia e o objeto, aquilo que é abstrato alcançará pelo movimento contínuo da consciência aquilo que é concreto. Ao mesmo tempo que tenta superar a dicotomia kantiana, dá-nos a impressão de uma dicotomia quando o mesmo escala o movimento da consciência para fora na busca do concreto.

A consciência não é uma sensibilidade ou intuição (VITA, 1964; MOREIRA, 2004; SANTOS, 2002), bem como não é absoluta no sentido das deidades (metafísica), é o resultado do movimento da própria história (HEGEL, 1969), da própria dialética dos acontecimentos humanos (HEGEL, 1961).

Para concluímos a concepção e a idéia de natureza em Hegel e não mais nos alongarmos, vamos definir a natureza pelo próprio Hegel (1969, p. 15-16):

A natureza é em si um todo vivo; o movimento ao longo da sua série de graus consiste mais precisamente em que a idéia se põe como o que ela é em si; ou o que é o mesmo, a idéia a partir da sua imediatidade e exterioridade, que é a morte, retorna a si para ser primeiro o vivo; mas, depois, supera também esta determinidade em que é apenas vida e produz-se para a existência do espírito, o qual é a verdade e o fim último da natureza e a verdadeira realidade efetiva da idéia.

Hegel , conforme Lefebvre (1963), tentou, portanto, entender a realidade das coisas num contínuo jogo lógico das idéias postas e contrapostas; assim, ficou preso no mundo das idéias e não conseguiu avançar para a realidade concreta, a qual tanto dizia

alcançar por meio de sua força abstrativa vinculada diretamente a uma lógica comprometida com o movimento da história e da natureza.

Hegel compreendeu muito bem que o concreto é o concreto porque é complexo, rico em facetas várias, em elementos, em múltiplas determinações; logo, para o conhecimento, este concreto só pode resultar da análise, através dela e segundo ela; e isto, embora o concreto seja o verdadeiro ponto de partida e o seu conhecimento o único objetivo do pensamento. Mas Hegel julgou que poderia alcançar este resultado, apenas por meio do pensamento em isolada reflexão, com as suas exclusivas forças, por seu exclusivo movimento (LEFEBVRE, 1963, p.38).

Posterior a tudo isso, Marx influenciado por esse mesmo filósofo idealista, conseguiu superar a situação circular da dialética hegeliana e rompeu com tudo isso, percorrendo um novo caminho no entendimento do mundo.

2.5.2 A DIALÉTICA MARXISTA

Os filósofos por meio da dialética sempre procuram a totalidade das coisas (KOSIK, 1995), através da concepção imorredoura das contradições existentes no cosmos (LEFEBVRE, 1963), ora na história, ora entre os próprios homens ou simplesmente na natureza como tentou Engels (1985).

Marx buscou a inovação do método dialético, seguindo toda a tradição crítica ocidental, uma vez que superou o mundo como simples particularidades no mundo das idéias, pois avançou na direção da história, não mais uma história contemplativa das contradições - Hegel (2002) - sim, uma história material e motivada por todo um complexo jogo de interesses materiais.

Tentaremos de forma breve sistematizar o pensamento marxista , no tocante ao método e sua visão de natureza.

“Por ser también ciência del pensamiento, la dialéctica materialista enfoca su objeto desde un punto de vista histórico, poniendo al descubierto el origem y el desarollo del conocimento.” (KONSTANTINOV, 1960, p. 286).