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A difícil sobrevivência das Misericórdias

A dinâmica das Misericórdias na América portuguesa

2.4. A difícil sobrevivência das Misericórdias

Ao longo dos três séculos de colonização, os relatos sobre a dura situação econômica das Misericórdias americanas não eram exatamente uma novidade para a coroa. A manutenção de um discurso compassivo de exaltação da ruína e da liberalidade como partes complementares foi usada à exaustão pelos confrades. Contudo, seria temeroso analisar as diversas petições de auxílio enviadas por diferentes Misericórdias como um recurso meramente retórico. De fato, para os irmãos de mesa, o exercício da caridade institucional era privilégio oneroso do ponto de vista financeiro. O pertencimento a essas confrarias era imperativo nesse quesito: as Misericórdias demandavam tempo e dinheiro. Acrescente-se ainda que não eram resultado do esforço individual, mas partiam do princípio de solidariedade social, devendo convergir, além de legados, certo número de abastados que pudessem se alternar nos cargos diretivos.

Os compromissos de Lisboa de 1618 e de 1739 eram claros quanto à participação dessas pessoas remediadas. Para além das conhecidas interdições de cristãos-novos, mouros e mulheres, o primeiro capítulo explicitava ainda que os confrades não servissem à irmandade por salário. Além disso, deveriam ser pródigos em fazenda de maneira que pudessem “acudir ao serviço da irmandade sem cair em necessidade e sem suspeita de se aproveitarem do que correr por suas mãos”.152 Nas

Misericórdias americanas que tiveram compromissos próprios, essa cláusula se manteve longeva, tal como se observam dos estatutos do Maranhão de 1738;153 de Goiana de 1763;154 de Itu, de 1804;155 de Sorocaba, de 1805;156 e de São João del Rei, do início do século XIX.157

No entanto, a maior parte dos recursos financeiros das irmandades deveria vir das esmolas e legados pios feitos pelos fiéis nos testamentos. O gerenciamento de um portentoso patrimônio não raro causou disputas na ocupação dos principais cargos

152 Compromisso da Misericórdia de Lisboa, 1619. Compromisso da Misericórdia de Lisboa, 1739.

Capítulo 1º, parágrafos 4 e 7.

153 “A quarta não sirva à Casa por salário (...) A sétima que seja abastado em fazenda, de maneira que

possa acudir ao serviço da irmandade sem cair em necessidade e sem suspeita de se aproveitar do que correr por suas mãos”. Compromisso da Misericórdia do Maranhão. In: PMM, v. 6, p. 337-359. AHU, Códices I, cód. 1935.

154 Compromisso da Misericórdia de Goiana. AHU, Códices I, cód. 1940 155 Compromisso da Misericórdia de Itu. AHU, Códices I, cód. 1957, f. 3. 156 Compromisso da Misericórdia de Sorocaba. AHU, Códices I, cód. 1298.

157 “Haverá nessa irmandade um provedor que será eleito por votos de todos os irmãos, na forma que ao

diante se dirá, um escrivão, um tesoureiro e um procurador, e além desses, aquele número de irmãos que quiserem servir por sua vontade, sendo, porém, pessoas de probidade e possibilidades” (grifos meus) ANRJ, Mesa de Consciência e Ordens, Compromisso da Santa Casa de São João del Rei, Códice 638.

98 dessas confrarias. Quando os legados não estipulavam o destino dos benefícios, os confrades investiam os dividendos de diferentes maneiras: fosse por meio de aluguéis de propriedades, ou empréstimo de dinheiro a juros, de forma a angariar lucro dos bens e, assim, exercer a misericórdia. Além disso, os vários decretos reais concederam regalias significativamente lucrativas como o monopólio das tumbas, que garantia uma soma considerável de capitais, manejada conforme as decisões da mesa, segundo as prioridades estabelecidas por confraria. Embora fosse uma combinação perigosa e que levou a profundas alterações administrativas a partir da segunda metade do século XVIII, num primeiro momento o sucesso das Misericórdias parecia seguir um direcionamento quase inelutável: o patrimônio era gerido com grande liberdade e não raro serviu aos interesses dos seus principais irmãos.

As fontes de renda da Misericórdia da Bahia, por exemplo, eram aplicadas num primeiro momento em bens imóveis e, posteriormente, também em empréstimos a juros.158 A irmandade de Ponte de Lima tinha a maior parte dos bens aplicada em propriedades urbanas e rurais que eram arrendadas, mas aumentaram consideravelmente, a partir de fins do século XVII, os dividendos resultantes do dinheiro emprestado a juros.159 Até 1750, a preeminência das Misericórdias se fazia

sentir pelos grandes patrimônios formados a partir da vinculação de missas perpétuas, propriedades e empréstimos a juros.

A extensão dos privilégios concedidos a Lisboa para as demais congêneres também não foi um grande entrave. De modo geral, quando o compromisso estava formado, a extensão das precedências dava-se sem grandes querelas. A partir do início do século XVII, avolumou-se a concessão das regalias que iriam continuar até o século XIX, como foi o caso de, por exemplo, o caso do Espírito Santo (1605), Rio de Janeiro (1605), Olinda (1606), Itamaracá (1611), Bahia (1622), Pará (1667), Nossa Senhora das Neves (1676), Igarassu (1705), Vila Rica (1760), São João del Rei (1816).160

Diferente das Misericórdias do Estado da Índia, que tiveram em Goa um papel centralizador,161 as congêneres americanas gozaram de total independência administrativa como as demais do reino. As principais congêneres limitavam-se a funcionar como uma espécie de parâmetro para as mais novas. Assim, em 1676, quando foram concedidos os privilégios à Misericórdia de Nossa Senhora das Neves, eles foram

158 RUSSELL-WOOD, A. J. R. Fidalgos e filantropos...

159 ARAÚJO, Maria Marta Lobo de. Dar aos pobres e emprestar a Deus... p. 463-510. 160 PMM, vols. 5, 6, 7.

99 baseados nos haviam sido concedidos a Olinda e a Salvador.162 Olinda, que, em 1606,

recebera os privilégios de Lisboa, mas que perdera sua documentação durante a invasão holandesa, reportou-se à coroa, em 1672, solicitando os privilégios que foram concedidos a Salvador, que, por sua vez, tinha os mesmos benefícios de Lisboa.163 O mesmo sucedeu a Vila Rica, que em 1760 recebeu os mesmos privilégios do Rio de Janeiro, idênticos aos de Lisboa.164

Os privilégios das Misericórdias tinham natureza variada, como as condições preferenciais para o exercício das atividades assistenciais e a precedência na angariação de recursos. No entanto, os que notadamente atraíam das elites eram as regalias que gozavam os confrades. Os irmãos de mesa eram isentos de todos os ofícios e cargos concelhios obrigatórios; seus bens estavam isentos de exações forçadas e do pagamento de certos impostos (peitas, fintas, talhas, pedidos ou empréstimos). Além disso, não poderiam ser constrangidos pelas autoridades municipais a integrar procissões contra sua vontade.165

Não obstante todas as isenções, o funcionamento dessas entidades dependia ainda das reais possibilidades das elites locais de preencher quadros dentro de uma entidade extremamente seletiva. No século XVI e início do XVII, estupefatos com a importância das Misericórdias, os habitantes da colônia fizeram surgir, na esteira da euforia régia, um significativo número de congêneres para os padrões americanos, garantindo um funcionamento irregular de diversas irmandades e sinalizando à coroa a necessidade de maior lastro das vilas e arraiais para abrigar tais estabelecimentos, como se verificou a partir de fins do XVII. Para além das congêneres que foram consideradas extintas por determinadas épocas, como as Misericórdias de Ilhéus, Vitória, Goiana ou Recife, os relatos sobre aquelas que se estabeleceram de modo contínuo muitas vezes deixavam claro o estado de precarização material e a falta de rendimentos fixos.

Em 1682, a Câmara de Vitória emitiu uma certidão atestando as obras empreendidas pelo donatário da capitania do Espírito Santo, Francisco Gil de Araújo, que teria chegado à cidade e encontrara arruinadas a cadeia e a casa de Câmara. A irmandade da Misericórdia estaria extinta havia mais de 50 anos.166 No entanto, esse documento laudatório dos bons préstimos de Gil de Araújo deve ser entendido com

162 PMM, v. 6, p. 87. 163 PMM, v. 6, p. 85. 164 APM, SC, 131, f. 26v

165 SÁ, Isabel dos Guimarães. Quando o rico se faz pobre... p. 62-63. 166 AHU, Espírito Santo, cx. 01, doc. 88.

100 cautela. Cerca de 30 anos antes, em 1658, a Misericórdia do Espírito Santo lutava para receber uma pomposa herança avaliada em 50 cruzados da falecida Isabel Perestrela,167

que, ao que tudo indica, não se efetivou.

Arthur Vianna, que estudou a Misericórdia do Pará, cita o exemplo da penúria da irmandade de São Luís que, mesmo depois do auxílio régio concedido em 1654, escreveu ao rei, em 1721, afirmando que sua igreja ameaçava ruir, motivo pelo qual havia transportado suas imagens para o templo da irmandade de São João, “em vista de não permitirem os parcos 20 mil réis de renda o conserto ou reconstrução da igreja”. Em 1735, a mesma irmandade solicitava “alguns índios forros” para a condução dos cadáveres nas tumbas, pois muitas vezes não tinham com que pagar os carregadores.168

Como já referido acima, a Misericórdia de Igarassu, que não tinha hospital, em 1723, narrava que passou mais de 14 anos para reconstruir e paramentar sua capela.169 Em 1725, o provedor da Misericórdia de Goiana pediu ao rei imagens para o culto: “uma de Nossa Senhora, outra de Santa Isabel, mais a imagem de um Santo Cristo”. No entanto, os desafios da confraria não eram exclusivamente financeiros; na mesma carta, o então provedor queixava-se de estar por volta de quatro anos, desde a recriação da irmandade, no mesmo posto porque não havia “quem queira ficar pela impossibilidade da terra”.170 Para agravar as dificuldades internas, o entorno de Goiana enfrentava grandes secas durante o período.171

Em 1738, a Misericórdia do Pará propôs, como solução à sua difícil condição financeira, comprar uma fazenda de cacau. Segundo os confrades, todos os atos de caridade, como dar esmolas aos presos, acompanhar os justiçados, curar os enfermos, enterrar encarcerados e pobres, eram pagos pelos mesários, do que resultava a recusa dos cargos de provedor e demais irmãos de mesa.172 Comprada a fazenda, em 1778, os irmãos tornavam a suplicar à rainha em virtude da grande decadência da irmandade: a maior parte do patrimônio tinha sido investida em índios, que foram legalmente libertados pelos decretos régios de 1755. Os irmãos, que “não podem socorrer as próprias necessidades”, não conseguiriam tampouco continuar com as obras de

167 AHU, Espírito Santo, cx. 01, doc. 53.

168 VIANNA, Arthur. A Santa Casa de Misericórdia Paraense... p. 17-18. 169 PMM, v. 6, p. 474.

170 AHU, Paraíba, cx. 5, doc. 385. 171 PMM, v. 6, p. 487.

172 Provisão régia de 23/03/1738 integralmente transcrita em VIANNA, Arthur. A Santa Casa de Misericórdia Paraense... p. 19.

101 misericórdia.173 Em 1787, o governador do Pará, Martinho de Sousa e Albuquerque,

esclarecia que, de fato, a Misericórdia local encontrava-se em total decadência:

de que não tem sido por má administração das suas rendas e só sim porque as mesmas consistindo em um avultado número de índios que possuía no tempo em que eram escravos e com os quais trabalhavam em plantações de cacau e de café, veio tudo a extinguir-se logo que a lei da liberdade dos índios foi mandada publicar neste estado, ficando abandonada a fazenda em que trabalhavam os mesmos índios e por consequência sem rendas a Santa Casa.174

Martinho de Albuquerque recomendou então a consignação do dízimo das miunças ou da alfândega ou o privilégio dos enterramentos. Segundo o governador, ele próprio procurava conservar a irmandade “chegando até o ponto de falar a quem haja de aceitar o emprego de provedor e irmãos da mesa, como aconteceu no presente ano, visto que todos se escusavam por ser necessário fazerem à sua custa todas as despesas”. Segundo Vianna,175 a Misericórdia logrou apenas alcançar o privilégio dos enterramentos, que já há algum tempo vinha tentando fazer valer junto a ordens terceiras locais.176

Em 1763, a Misericórdia de Sergipe del Rei solicitou ao monarca a autorização para cobrar dívidas judicialmente dos senhores de engenho e lavradores que deviam a irmandade. Àquela altura, parte do patrimônio que era investido em empréstimo de dinheiro encontrava-se malparado, impossibilitando os confrades de cumprir as obras de misericórdia, “como são curar enfermos, criar enjeitados e as outras obras pias de esmolas, casamento de órfãs e principalmente o trato do culto divino com a necessária decência”.177

Não deixa de ser notório também que, além das Misericórdias de Salvador e do Rio de Janeiro, nenhuma outra irmandade tivesse sob sua administração a criação dos expostos,178 tarefa tipicamente assumida por essas confrarias em parceria com as Câmaras. Do mesmo modo aconteceu com os recolhimentos de órfãs, instalados apenas

173 VIANNA, Arthur. A Santa Casa de Misericórdia Paraense... p. 24.

174 Ofício de 22/01/1787 integralmente transcrito em VIANNA, Arthur. A Santa Casa de Misericórdia Paraense... p. 29.

175 Ofício de 22/01/1787 integralmente transcrito em VIANNA, Arthur. A Santa Casa de Misericórdia Paraense... p. 29.

176 Em 1761, a Misericórdia do Pará solicitou uma solução para a renitente recusa das Ordens Terceiras

em fazerem cumprir o privilégio dos enterramentos. PMM, 7, p. 538-539.

177 AHU, Sergipe, cx. 7, doc. 63.

178 Ver: VENÂNCIO, Renato Pinto. Famílias abandonadas... MARCÍLIO, Maria Luíza. História Social da Criança Abandonada... FRANCO, Renato J. Desassistidas Minas...

102 nas mesmas duas cidades até o fim do século XVIII.179 Ou ainda com o privilégio dos

enterramentos que permaneceu letra morta para várias congêneres, como foi o caso de Vila Rica, Recife ou São Luís.180

Tal como ressaltou Laurinda Abreu para as Misericórdias da Índia,181 também as confrarias da América tiveram no tratamento aos militares um forte argumento para alcançar benefícios régios. Tratava-se, na verdade, de certo desvirtuamento da função primordial dessas confrarias, uma vez que seus alvos preferenciais eram os considerados pobres de cada localidade, mas, por outro lado, o atendimento aos soldados era uma maneira de angariar consideráveis quantias e manter um hospital regular. Assim, as Misericórdias, se não redirecionaram de todo o traçado original de instituições de “solidariedade social”,182 ao menos viram-se encarregadas de serviços bastante

onerosos, gerando súplicas reincidentes sobre o alto custo do tratamento das milícias. É bastante significativo que, a despeito das reclamações dos respectivos irmãos, as congêneres da Bahia e do Rio de Janeiro pudessem ser consideradas exemplos bem sucedidos em termos americanos. Tudo indica que o crescente número de soldados atendidos não acompanhou o aumento no valor das esmolas. Obviamente o dinamismo dessas confrarias não poderia ser atestado apenas pelo financiamento dado ao tratamento das infantarias, mas certamente garantiu-lhes uma regularidade monetária difícil de ser observada em confrarias sem estipêndios régios. Era nesse sentido que a então modesta Misericórdia de São Paulo, cujo hospital começara a ser construído em 1717 e ainda em 1752 não estava finalizado,183 reivindicou, em 1726, auxílio para reconstruir seu templo que ameaçava desabar. Na petição, deixava-se claro que a irmandade cuidava de pobres forasteiros e dos “soldados que nela se acham e morrem desamparadamente por falta de quem os acuda com o necessário e não haver na Casa com que se lhe possa assistir e valer, ou dentro ou fora dela”.184 (grifos meus)

Um dos dividendos mais reivindicados foi o dízimo das miunças do termo, ou da comarca. Os argumentos para requerê-los passavam sobretudo pelo atendimento de indivíduos que fugiam ao público-alvo das Misericórdias. Em 1605, por exemplo, Olinda o requereu e conseguiu aprovação para os pobres enfermos do hospital, porque

179 ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas... GANDELMAN, Luciana Mendes. Mulheres para um império...

180 Para o caso do Maranhão, ver PMM, v. 7, p. 581.

181 ABREU, Laurinda. O papel das Misericórdias dos “lugares de além-mar”... p. 591-611. 182 ABREU, Laurinda. O papel das Misericórdias dos “lugares de além-mar”... p. 601. 183 MESGRAVIS, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo... p. 66. 184 AHU, São Paulo, cx. 01, doc. 78.

103 os irmãos que gastavam o dinheiro de suas próprias bolsas, além dos miseráveis locais, estavam também custeando o tratamento dos enfermos dos “novos presídios que Vossa Majestade tem de ordinário” em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande e Angola.185 A

confraria de Salvador que, em 1584, já se queixava que os 3 mil cruzados dados pela Fazenda Real para tratamento da infantaria era pouco diante do alto custo,186 tornou a pedir auxílio na esteira do sucesso obtido pela Misericórdia de Olinda. Em 1640, o dízimo das miunças foi solicitado pelos confrades de Salvador, cuja renda, alegavam, não chegava a um terço da sua despesa, sendo a maior parte consumida pelos soldados, que tiravam o lugar dos pobres.187 Em 1654, a Misericórdia do Maranhão recebeu uma esmola anual de 25 mil réis, pelo período de seis anos, para “cura dos soldados pobres e forasteiros que de contínuo ali há”.188 Em 1685, a Misericórdia do Rio de Janeiro, a

partir do que havia sido concedido às congêneres de Pernambuco, Bahia e Angola,189 alcançou a esmola de 200 mil réis anuais por seis anos também para curar os soldados,190 em 1694 a mesma irmandade conseguiu fazer com que o valor fosse pago regularmente pela Fazenda Real.191 Em 1702, a Bahia prorrogou por mais dois anos o

direito de cobrar as miunças no valor de 130 mil réis anuais.192

O privilégio de cobrar as miunças foi solicitado frequentemente como forma de sustentar irmandades recentes, como foi o caso da proposta de criação da confraria de Cuiabá,193 que, como já se referiu, não foi concretizada. Com o correr do século XVIII, governadores e conselheiros lembraram continuamente a necessidade de desonerar a Fazenda Real, desaconselhando a apropriação de rendas das cobranças régias, típica do século XVII. Em 1769, o conde de Valadares informou a penúria do hospital de Vila

185 AHU, Pernambuco, cx. 01, doc. 24. PMM, v. 5, p. 429.

186 ABREU, Laurinda. O papel das Misericórdias dos “lugares de além-mar”... p. 600.

187“Viu-se neste Conselho uma carta do provedor e irmãos da Santa Casa da Misericórdia da cidade de

Salvador da Bahia de Todos os Santos do Estado do Brasil, em que dizem que representando os anos atrás a Vossa Majestade os irmãos daquela Santa Casa a grande despesa que tinha continuamente com a infantaria que na dita cidade está de guarnição, curando-a e sustentando-a em suas enfermidades e sem da fazenda de Vossa Majestade se lhe dar o necessário”. PMM, v. 5, p. 574-576.

188 SILVA, José Justino de Andrade e. Collecção Chronológica da Legislação Portuguesa. Segunda Série

(1675-1683) e suplemento à Segunda Série (1641-1685)... p. 223.

189 Em 1676, a Misericórdia de Angola recebera o privilégio dos dízimos das miunças, por 10 anos, para

curar os soldados enfermos. SILVA, José Justino de Andrade e. Collecção Chronológica da Legislação

Portuguesa. Segunda Série (1675-1683) e suplemento à Segunda Série (1641-1685)... p. 271.

190 PMM, v. 6, p. 91. SILVA, José Justino de Andrade e. Collecção Chronológica da Legislação Portuguesa. Segunda Série (1675-1683) e suplemento à Segunda Série (1641-1685)... s/p.

191 SILVA, José Justino de Andrade e. Collecção Chronológica da Legislação Portuguesa. (1683-1700)...

p. 834. Em 1778, a Misericórdia do Rio teve esse privilégio confirmado para o sustento do hospital.

PMM, v. 7. p. 133. 192 PMM, v. 6, p. 103 193 PMM, v. 6, p. 570.

104 Rica e sugeriu que o costumeiro privilégio das miunças fosse entregue à Misericórdia local:

Em Pernambuco, me dizem, e em outras capitanias, tem Sua Majestade pela sua inata piedade socorrido as Misericórdias com esmolas perpétuas, para que os pobres não padeçam, ordenando-se lhe paguem as miunças de algum certo distrito, conforme as necessidades das mesmas Misericórdias; as miunças do termos desta vila costumam render pouco mais ou menos três mil cruzados e com elas o pouco rendimento da mesma Misericórdia bem se poderão remediar os ditos doentes. (...)

tenho diligenciado sem despesa da Real Fazenda (que não podia fazer) a reedificação do dito hospital194 (grifos meus)

A irmandade não obteve sucesso em sua demanda e a requisição do conde permaneceu sem resposta. No mesmo sentido, em 1803, o governador da capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul enviou um desesperançoso ofício ao visconde de Anadia sobre a necessidade de fundar um hospital, não obstante a Fazenda Real não pudesse arcar com os custos:

Já no meu ofício de 18 de fevereiro deste ano (de 1803) representei a Vossa Excelência o estado de abandono em que achei esta capitania, e que no meio de precisão geral mais que tudo contemplava de extrema necessidade nesta vila um quartel para tropa, um hospital, casa de pólvora, armazéns, e outros indispensáveis edifícios desta natureza. Por outra parte a necessidade de economizar a Real

Fazenda poucas esperanças me deixavam de o poder formar com a brevidade que exigiam195 (grifos meus)

É notável que o privilégio das miunças fosse marcadamente concedido no século XVII, sobretudo para localidades onde se curavam soldados. Na centúria seguinte, a coroa se restringiu a confirmar esmolas que assumiram um caráter inveterado, abstendo- se de concedê-los a novas confrarias. Outro fator relevante para a ausência de concessões de financiamentos pode ser encontrado no acirramento das tensões da irritadiça parceria entre Misericórdias e coroa no que dizia respeito ao tratamento dos