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2. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A DEFESA DO

2.2 CONCEPÇÕES DA DIGNIDADE HUMANA NO ORDENAMENTO JURÍDICO

2.2.1 A dignidade da pessoa humana como princípio constitucional

O respeito à dignidade humana tornou-se um comando jurídico no Brasil após duas décadas de ditadura militar, com o intuito de resguardar e defender os direitos fundamentais do indivíduo através de uma fórmula repleta de princípios com o intuito de fazer virar norma.

Do preâmbulo passando pelos artigos 1º e 2º da Constituição da República constata-se o delimitar de um Estado com o intuito de garantir os direitos individuais e sociais, cujos principais fundamentos são a dignidade humana e os valores sociais, buscando a construção de uma sociedade pautada na liberdade, na justiça, na solidariedade e igualdade formal e material para promover o bem a todos89.

A dignidade da pessoa humana é valor fundante que serve de alicerce e alcança todos os setores da ordem jurídica democrática, tornando um desafio a extensão do alcance. Em busca do referido limite é que muitos filósofos nortearam o conceito de dignidade humana como um valor intrínseco às pessoas humanas90.

Nesta linha de pensamento, o princípio da dignidade é considerado como princípio fundamental e que através dele todo o ordenamento jurídico deve ser lido e interpretado. Constitui a cláusula geral de proteção e promoção da personalidade na medida em que a pessoa natural é a primeira e última destinatária da ordem jurídica, vindo a ser considerado um princípio matriz, do qual irradiam todos os direitos fundamentais do ser humano.

88 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal

de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 50.

89 CANTALI, Fernanda Borghetti. Direitos da personalidade: disponibilidade relativa, autonomia privada e

dignidade humana. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 85.

90 CANTALI, Fernanda Borghetti. Direitos da Personalidade: Disponibilidade relativa, autonomia privada e

Rizzato Nunes afirma que a dignidade da pessoa, nasce com ela e é o primeiro e o mais importante fundamento de todo o sistema constitucional brasileiro, primeiro fundamento e estrutura de proteção dos direitos individuais91.

O princípio da dignidade da pessoa humana abriga um conjunto de valores que servem para à defesa dos direitos individuais do ser humano cabendo ao Estado o dever de guardião. São eles direitos, liberdades e garantias (art. 5º), direitos sociais (art. 6º), interesses que dizem respeito aos trabalhadores e à vida humana (art. 7º), direitos de participação política (art. 14). Em outras palavras, o princípio da dignidade é “um princípio fundamental matriz, gerador de outros direitos fundamentais, um princípio absoluto e um direito subjetivo” cuja atuação possui eficácia vinculante em relação ao poder público e aos particulares92.

Assim o ser humano somente poderá desenvolver-se plenamente em um ambiente comprometido com as modificações sociais em que o Estado e sociedade possam sofrer as adaptações necessárias as necessidades de seus cidadãos.

Nesse sentido, Elimar Szaniawski afirma que o ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema de proteção misto no que toca a tutela da pessoa humana: traz um sistema geral de proteção da personalidade extraído do princípio da dignidade humana e, ao lado, protege alguns direitos especiais de personalidade tipificados na Constituição enquanto direitos fundamentais, os quais convivem e atuam harmonicamente, e cujo fim é permitir o desenvolvimento livre da personalidade93.

A Constituição consagra em seu artigo 1º, que a dignidade da pessoa humana por si só traz todos os atributos inerentes à personalidade humana, bem como tutela no caput e em vários incisos do artigo 5º, o rol os direitos individuais fundamentais, diversos direitos da personalidade, como vida, liberdade, igualdade, integridade psicofísica, privacidade, intimidade, honra, imagem, dentre outros.

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral intrínseco à pessoa e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, em face de um mínimo para existência digna que o ordenamento jurídico deve garantir de forma a respeitar os direitos fundamentais.

Para superar as desigualdades sociais faz-se necessário ações afirmativas do Estado e da sociedade com o intuito de garantir a proteção dos direitos fundamentais de todos, garantindo

91 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo:

Saraiva, 2002, p. 45.

92 CANTALI, Fernanda Borghetti. Direitos da personalidade: disponibilidade relativa, autonomia privada e

dignidade humana. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 89.

a participação do cidadão na sociedade e nas políticas sociais, fazendo com que os princípios jurídicos fundamentais, sejam interpretados e integrados para aplicação do direito positivo constitucional e infraconstitucional.

A tutela efetiva da personalidade admite proteção à eventual direito de personalidade que possa vir reclamar tutela, não é possível a negativa de tutela a quem peça em relação a algum aspecto de sua existência sob o argumento de que não há previsão específica94.

Neste diapasão, Gustavo Tepedino apresenta que a prioridade conferida à cidadania e à dignidade da pessoa humana (art. 1º, I e III, CF/88) como fundamento da República, aliados à garantia da igualdade substancial (art. 3º, III, CF/88) e formal (art. 5º, CF/88), bem como a garantia residual consagrada no §2º do artigo 5º da CF/88, no sentido da não exclusão de garantias e direitos que mesmo não expressos decorram dos princípios do texto maior, condicionam o intérprete da constituição a analisar o corpo normativo infraconstitucional com a base de valores eleita pelo constituinte95.

A dignidade da pessoa humana como princípio normativo fundamental, na medida que aproxima a matéria de todos os direitos fundamentais, estabelece a identificação e proteção dos direitos fundamentais a todas as gerações. Porém, tais estruturas encontram-se abaladas devido às desigualdades socioeconômicas e culturais da sociedade, onde o exercício e aplicabilidade dos direitos e garantias fundamentais é a base necessária e fundamental para diminuir essas desigualdades que desmoralizam o Estado Democrático de Direito.