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6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.1 Articulando os dados

6.1.6 A Dimensão Temporal e a Afetividade

Veremos agora qual a correlação entre o ciclo de vida dos sujeitos e os níveis afetivos categorizados. Esta correlação foi vinculada aos entornos onde os mesmos estão inseridos.

Gráfico 1 – Relação faixa etária x Agradabilidade entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Conclui-se, como se vê no Gráfico 1, que os níveis de Agradabilidade mais altos do Entorno 1 (área onde essa categoria é significativa em comparação com os demais entornos) estão expressivamente situados entre as faixas etárias de 41 a 53 anos de idade. Essa tendência decai gradativamente tanto para faixas etárias situadas abaixo como acima desse ciclo de vida. Interessante observar que os níveis mais baixos de Agradabilidade estão justamente no Entorno 3, aquele, qualitativamente aludido, como entorno da “Destruição” em nossa análise qualitativa. No Entorno 3 são justamente os indivíduos jovens (menores de

28 anos) que apresentam os menores níveis de Agradabilidade, talvez por estarem mais expostos ao contato direto com o meio externo vulnerável onde vivem.

Em relação à categoria de Destruição, encontrada com maior frequência no

Entorno 4, podemos constatar, conforme o Gráfico 2, que esta imagem é predominantemente

marcante entre aqueles que estão numa faixa etária de 54 a 65 anos, ou seja, na faixa de idade em que é mais comum encontrar-se as referências sociais e ambientais em vivências passadas que confrontam com as dificuldades vividas pela atualidade. Na pesquisa de Bertini (2006) com os idosos do Centro de Fortaleza, realizada em sua maior parte no nosso cognominado

Entorno 4, destacaram-se as categorias de Contraste e Destruição. A imagem de Destruição

além das características que já expomos foi também associada à comparação feita a partir das memórias de um Centro do passado que para muitos idosos na atualidade foram destituídas de seus significados (BERTINI, 2006).

Gráfico 2 – Relação faixa etária x Destruição entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Aos níveis relativamente altos de Destruição encontrados no Entorno 1 (também presentes nas faixas etárias consideradas maduras), inferimos à maioria dos problemas encontrados no Entorno 4 (local para onde todos os moradores convergem em sua cotidianidade). Problemas sociourbanos repetidamente expressados pelos sujeitos de todos os

entornos, quais sejam: a presença de camelôs, os mendigos, a sujeira, a falta de policiamento, o caos urbano, o deterioro patrimonial, etc.

Se a categoria Destruição mostrou-se significativa no Entorno 4, especialmente entre a faixa etária já referida, será neste mesmo ciclo de vida (e no mesmo entorno) onde encontraremos a melhor expressão da categoria Atração. O fato de residir “dentro” do Centro Comercial foi visto com positividade por aqueles que possuem problemas óbvios de acessibilidade mesmo o Centro não oferecendo qualquer parâmetro de segurança para os indivíduos idosos, entretanto por estarem na proximidade de quase tudo a imagem de Atração revelou-se significativa entre os sujeitos do Entorno 4.

As comodidades de se morar nas imediações do chamado “Centro comercial” foi algo ressaltado com positividade por quase todos os entornos, menos o Entorno 3 onde o baixo nível de percepção da atratividade do Centro foi especialmente forte entre as faixas etárias mais elevadas. Fato perfeitamente compreensível, uma vez que os idosos, como é de senso comum, são o alvo preferido das pequenas ações contra o patrimônio (assaltos, furtos, etc.).

Gráfico 3 – Relação faixa etária x Atração entre os diferentes entornos

Em parâmetro de faixa etária, a categoria Pertencimento (Gráfico 4 abaixo) obedece praticamente à mesma configuração da imagem de Agradabilidade, ambas largamente significativas no Entorno 1, ou seja, os sujeitos compreendidos entre os 41 e 53 anos de idade foram aqueles onde o nível de pertença ao lugar ocupa o topo de uma formação em vórtice, ou seja, as faixas etárias à esquerda e à direita tendem a reduzir seus níveis de pertença. Esta imagem é encontrada ainda de forma a ser destacada entre os moradores do

Entorno 2 situados numa faixa etária de 54 a 65 anos. Há uma tendência – tanto no Entorno 1,

quanto no Entorno 2 – de alto nível de pertencimento nas faixas etárias de 66 anos para cima. Percebe-se que entre os Entornos 3 e 4, este tipo de imagem afetiva praticamente inexiste:

Gráfico 4 – Relação faixa etária x Pertencimento entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Partimos agora para ver as correlações entre o tipo de entorno, o tempo de moradia e os níveis de afetividade.

Buscando trabalhar apenas com as categorias que se mostraram significativas com relação aos seus entornos, vamos proceder exatamente com a mesma sequência.

Tomando-se como parâmetro o tempo de moradia, os níveis mais altos de agradabilidade ao local, registrados no Entorno 1, encontramos dentro de um período definido entre os 05 e 17 anos (ver Gráfico 5 abaixo) de moradia no Centro.48

Gráfico 5 – Relação tempo de moradia x Agradabilidade entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Esta resposta em alto nível de agradabilidade ao local praticamente se repete nos

Entornos 2 e 4 verificando-se no primeiro uma percepção maior ainda a partir dos 33 anos de

moradia.

Quando passamos a correlacionar tempo de moradia com a imagem de

Destruição percebemos que no Entorno 4 ela quase não possui diferenciação entre os

diferentes períodos de fixação dos sujeitos. Os altos níveis de destruição são encontrados (em menor escala) entre os sujeitos que moram até 05 anos e acima de 33 anos no local. Enquanto

48O tempo de moradia não foi definido em função do entorno atual de moradia do sujeito, mas do Centro como

um todo. No pré-teste percebemos que muitos sujeitos já haviam morado em outras áreas do Centro, inclusive em entornos e situações socioambientais diferentes das atuais, por isso associamos o tempo de moradia à região central de uma forma geral. Às vezes os sujeitos diziam que haviam se afastado temporariamente do Centro e haviam retornado depois, estes também foram considerados moradores ininterruptos.

as maiores escalas então entre aqueles que estão na faixa compreendidas por um tempo de moradia que varia de 05 a 33 anos de residência no Centro.

Moradores residentes no Entorno 3 até 5 anos também demonstraram ter altos níveis de imagens negativas ligadas à Destruição, enquanto que a tendência dos moradores mais antigos do local (geralmente os mais idosos) tendem mais a níveis mais medianos de destruição.

Gráfico 6 – Relação tempo de moradia x Destruição entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Interessante verificar que apesar de ter sido no Entorno 4 onde a imagem de

Atração obteve índice de relevância significativa, quando associamos o tempo de moradia

com a categoria afetiva da Atração (ver Gráfico 7 abaixo), notamos que no Entorno 1 encontramos altíssimos níveis de atratibilidade em relação ao Centro em todos os períodos de fixações residenciais, maiormente entre aqueles que habitam na área há mais de 17 anos, tendência esta verificada também no Entorno 4. Isso se deve, evidentemente, porque a imagem de Atração, especificamente no Centro, está associada a uma série de fatores que promovem a comodidade para os indivíduos principalmente em relação aos afazeres e obrigações cotidianas.

O Entorno 3 apresenta frequências de baixíssimos níveis de atratibilidade principalmente em duas situações: a primeira entre os sujeitos que moram na área de 5 a 17 anos, a seguinte entre aqueles que ali residem há mais de 33 anos.

Gráfico 7 – Relação tempo de moradia x Atração entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Voltemos ao Entorno 1 para analisar os níveis de pertencimento, desta vez associados ao tempo de moradia dos sujeitos. Desta vez ganha bastante destaque o tempo de ancoragem compreendido entre os sujeitos que moram no lugar entre 5 e 17 anos, tendência que decai bruscamente em forma de vórtice à proporção que nos afastamos para os períodos de moradia mais extremos.

Mais uma vez, encontramos no Entorno 2 a tendência a altos níveis de frequência de Pertencimento, desta vez, entre os moradores que se encontram na área à partir dos 05 anos de moradia sendo maiormente encontrados naqueles que estão no local de 17 a 33 anos.

Em nenhum momento, nos Entornos 3 e 4 , encontramos a tendência a altos níveis de pertença por tempo de moradia mas ao contrário, a tendência de baixos níveis de pertença se mostra nesses entornos praticamente em todos os tempos de ancoragem dos indivíduos com o local. Com destaque para o Entorno 3 que apresenta os mais baixos índices de pertença

justamente nos sujeitos que ali moram há menos de 05 anos, período coincidente onde o processo de “favelização” do entorno.

Gráfico 8 – Relação tempo de moradia x Pertencimento entre os diferentes entornos

Fonte: Arquivos da pesquisa (2012).

Associando as categorias da escala Likert com variáveis temporais (ciclo de vida e tempo de moradia) podemos divisar outras dimensões que estão por trás dos processos de apropriação do espaço e nem sempre levados em consideração pela Psicologia Ambiental (MOSER, 2001).

Ao articularmos os processos temporais às descobertas propiciadas pelos Mapas Afetivos, pudemos perceber nas falas dos nossos sujeitos – ainda que palidamente49 –, dois

dos três níveis de análises propostos por Moser (2001) quando se busca avaliar a influência da dimensão temporal sobre o processo de ancoragem dos sujeitos: A história residencial do

49Pudemos perceber implícita às respostas de muitos sujeitos, a interferência da dimensão temporal

principalmente quando os mesmos faziam referência ao passado ou avaliavam as facilidades de locomoção e a comodidade de morar “perto” do Centro, mas nossa investigação não disporia de espaço (nem tempo) para fazermos uma análise aprofundada da dimensão temporal sobre a afetividade dos sujeitos moradores do Centro.

sujeito e como o horizonte temporal e ciclo de vida condicionam necessidades ou gera ou fracassa na criação de um investimento positivo (MOSER, 2001).