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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.4 Caracterização da amostra

Nossa amostragem optou por selecionar apenas os sujeitos residentes no Centro Histórico e imediações mais próximas como foi devidamente explicitado na caracterização espacial.

A preferência pelo nicho residencial como local propício para aplicação dos instrumentos científicos foi a princípio norteada pela primeira hipótese de nossa investigação (logo descartada) que apostava na tipologia residencial como um dos fatores determinantes para o processo afetivo do sujeito para com o seu bairro. O diagnóstico socioambiental do Centro realizado pelo PHRACF inspirou-nos a reorientar a hipótese espacial para o entorno em vez da tipologia habitacional em si. No entanto mantivemos o lócus habitacional como ideal para aplicação dos Mapas Afetivos devido às circunstâncias espaciais intrínsecas ao Centro da cidade, já que a aplicação dos Mapas Afetivos (pelo menos na versão que adotamos) requer certa configuração de fatores ambientais para que possa ser eficazmente aplicado.

Bertini (2006) aplicou parte do instrumento gerador dos Mapas Afetivos (em seu pré-teste) em idosos no Centro de Fortaleza explicando a extrema dificuldade de executá-los em logradouros públicos devido à profusão de estímulos sonoros e visuais que a área oferece. Como nossa pesquisa não incluía o usuário não residente do Centro, não fazia sentido tornar, mais penoso ainda, o nosso processo de coleta. Quase toda a aplicação do instrumento gerador dos Mapas Afetivos (assim como o questionário) foi realizada no interior do ambiente residencial (quase sempre na sala de visitas).

Para Da Matta (1985), a casa representa o domínio da autonomia do indivíduo, o local onde ele é reconhecido como pessoa. Já a rua, ou espaço urbano, é o local que se caracteriza pelo perigo e onde o sujeito é destituído de seu aspecto familiar que se caracteriza pela impessoalidade, daí ser fundado no descaso e na linguagem da lei que, igualando, subordina e explora. Essa diferença de domínio territorial existente entre rua e casa acaba, segundo o autor, por influenciar também as posturas morais do indivíduo dependendo do espaço em que ele se encontre. As opiniões costumam ser mais conservadoras sob a proteção do lar do que quando o indivíduo está no espaço público. Essa distinção temporal/espacial, no entanto, não se configura em oposição dicotômica. A oposição casa/rua nada tem de estática e absoluta, ao contrário, é dinâmica e relativa. Hão espaços na rua que podem ser fechados ou apropriados por um grupo, categoria social ou pessoas, tornando-se uma ‘casa’, ou seu ‘ponto’ assim como existem espaços no interior da casa devotados ao encontro social (DA MATTA, 1985).

Dentro de um universo de 100 pesquisados, em apenas 05 (cinco) ocasiões aplicamos o instrumento dos Mapas Afetivos e questionário fora do espaço de moradia dos sujeitos, especificamente em logradouros públicos (caso único) ou em ambiente de trabalho próximos às residências dos mesmos.

Tabela 1 – Caracterização geral da amostra dos habitantes do Centro. Fortaleza, 2012

Variável Níveis f %*

Sexo Masculino 40 40

Feminino 60 60

Faixa Etária Menos de 28 anos 18 18

Entre 29 e 40 anos 15 15

Entre 41 e 53 anos 28 28

Entre 54 e 65 anos 26 26

Entre 66 e 78 anos 7 7

Mais de 79 anos 6 6

Escolaridade Sabe ler, mas não foi à escola 2 2

Ensino Fundamental

Incompleto 2 2

Ensino Fundamental Completo 5 5

Ensino Médio Incompleto 10 10

Ensino Médio Completo 26 26

Ensino Superior Incompleto 21 21

Ensino Superior Completo 34 34

Moradia Casa 74 74

Apartamento 15 15

Quitinete 11 11

Trabalha Sim 56 56

Não 44 44

Renda Mensal Menos de um salário 1 1

Entre um e dois salários 22 22,9

Entre dois e cinco salários 47 49

Mais de cinco salários 26 27,1

Situação

laboral Empregado Desempregado 24 9 24,2 9,1

Profissional liberal 8 8,1

Autônomo 21 21,2

Outros 37 37,4

Fonte: Arquivo da pesquisa (2012).

Nota: *Porcentagem válida (desconsiderando as pessoas que não responderam).

Os sujeitos dessa amostragem foram selecionados em virtude de um único critério de escolha: o contexto sócio ambiental de cada entorno específico no qual estavam inseridos.

Os dados sociodemográficos constantes no instrumento dos Mapas Afetivos (BOMFIM, 2010) revelam – o mais representativamente possível – o perfil da população residente do Centro, visto que, a priori, não restringimos nossa amostragem a qualquer variável ou categoria sociodemográfica que não fosse imposta pelos limites cognitivos impostos pela faixa etária.

Entre as datas 17/03/2012 e 25/04/2012 aplicamos 200 (duzentos) instrumentos de pesquisa; 100 (cem) instrumentos dos Mapas Afetivos e 100 (cem) questionários do tipo fechado.

Como os Mapas Afetivos respondiam pela parte qualitativa da pesquisa, iniciamos com a sua aplicação seguida da aplicação do questionário contendo 15 perguntas objetivas relacionadas aos parâmetros de concepção da ONU para moradia digna.

Alguns números expostos na tabela acima podem estranhar pela expressividade, principalmente os dados que se referem ao grau de escolaridade dos participantes e a quantidade bem superior das mulheres sobre os homens.

De fato, num país (e mais ainda num estado) em que o grau de escolaridade está longe de configurar o desejável é de admirar que 55% (mais da metade da amostra) dos sujeitos pesquisados estejam entre aqueles que possuem instrução superior incompleto (21%) e superior completo (34%).

Pequeno (2009), em seu estudo sobre as categorias sócio-ocupacionais distribuídas pela região metropolitana, mapeou as regiões por onde se distribui os 08 (oito) tipos sócio-ocupacionais categorizados pela CBO41. Estes números expressam com mais

exatidão o perfil da população encontrado no Entorno 1, setor do Centro que pela história do desenvolvimento urbano da cidade, certamente concentram a maior parte da categoria sócio- ocupacional do tipo médio superior42. Já em relação à supremacia da tipologia residencial

unifamiliar (74%) deve-se à forma de moradia majoritariamente encontrada em toda a região central. Pelo número expressivo do uso habitacional encontrado no Entorno 1 aplicamos o instrumento dos Mapas Afetivos em 49% do total da população pesquisada, seguidos de 23% no Entorno 2, 20% no Entorno 3 e apenas 8% no Entorno 4. Esta frequência de amostragem seguiu, pois, a realidade da presença do uso habitacional de cada entorno.

Outro dado que chama atenção é a quantidade expressiva de mulheres sobre o número dos sujeitos masculinos. Esses números, se cotejados com a situação laboral dos sujeitos enquadrados em “Outros” 37% (categoria que – especificamente nesta pesquisa – foi

41CBO – Classificação Brasileira de Ocupação descreve e ordena as ocupações dentro de uma estrutura

hierarquizada que permite agregar as informações referentes à força de trabalho, segundo características ocupacionais que dizem respeito à natureza da força de trabalho (funções, tarefas e obrigações que tipificam a ocupação) e ao conteúdo do trabalho (conjunto de conhecimentos, habilidades, atributos pessoais e outros requisitos exigidos para ocupação).

42A tipologia médio superior aproxima-se da tipologia superior quanto às categorias que a compõe, no caso as

classes dirigentes, intelectuais e empregadores. Essas são as categorias que mais tem acesso às oportunidades de trabalho e ao ensino superior. A diferença básica entre as duas categorias (superior e média superior) é que o Centro e os eixos viários que dele partem em direção aos bairros oeste, sudoeste e sul são as primeiras alternativas de ocupação preferida por tais classes (PEQUENO, 2009).

associada em grande parte ao trabalho doméstico) veremos que essa modalidade de atividade – apesar da sempre crescente adesão das mulheres ao mercado de trabalho – pertence historicamente ao gênero feminino.

A renda mensal familiar de maior frequência (entre dois e cinco salários mínimos) também coincide com a maior presença da categoria sócio ocupacional superior média estudada por Pequeno (2009).

Em nossa análise qualitativa, entretanto, selecionamos 45% do material coletado subdividindo-o de forma igualitária por entornos. Dessa forma pinçamos 12% dos pesquisados do Entorno 1, 12% do Entorno 2 e 13% do Entorno 3. Os resultados quantitativos, tanto da escala Likert, quanto do questionário, foram integralmente computados.

Todos os pesquisados do Entorno 4 foram selecionados em virtude da pouca frequência apresentada durante nosso processo de coleta, ou seja, todos os 8% dos sujeitos entraram na análise qualitativa. O critério de seleção para análise qualitativa buscou pautar-se pelo grau de expressividade43 dos sujeitos registrados em cada entorno, menos, obviamente,

do Entorno 4.

Afirmamos anteriormente que a totalidade da população pesquisada fora escolhida por conveniência a partir da possibilidade do acesso direto às moradias dos mesmos. Não encontramos grande problema para realizar a pesquisa junto àqueles que habitam em residência do tipo unifamiliar. A dificuldade maior, experimentamos ao acessar as tipologias do tipo cubículos (quitinete) e principalmente os condomínios de apartamento. Com os primeiros, conseguimos a grande custo (e a golpe de sorte), penetrar nos velhos e decadentes edifícios do Centro que abrigam esse tipo de habitação.

Por questões de controle, a maior parte destas moradias mantém o seu acesso principal trancafiado por correntes e cadeados, fato que dificultou sobremaneira a abordagem junto aos sujeitos. Com os apartamentos, não houve jeito. Todos os moradores de residência multifamiliar (ao todo 15), pelas barreiras administrativas impostas pelos condomínios, foram-nos indicados por amigos ou pessoas conhecidas. Com todos eles tivemos dia e hora predeterminados para executar nossa pesquisa.

Para garantir o anonimato dos sujeitos e, ao mesmo tempo, identificar os entornos e tipologias habitacionais onde fixam suas residências estabelecemos um código alfa

43Foi interessante constatar, no processo de pesquisa, que a fluidez na escrita e o grau de expressividade pictórica

dos sujeitos com grau de instrução entre médio incompleto e superior completo não apresentaram distinções marcantes. Fato não constatado entre aqueles que possuíam até o fundamental completo. Para estes foi extremamente penoso o processo do desenho e principalmente da escrita (ver descrição dos Mapas Afetivos).

numérico de identificação que passamos a explicar sinteticamente: Por exemplo, o código

3 M K E2.

O número inicial representa a sequência numérica seguido da letra que representa o gênero. Depois a tipologia residencial que habita e o entorno onde estão inseridos o sujeito e sua moradia. No caso específico, esse seria o sujeito masculino de nº 3 que mora numa quitinete localizada no Entorno 2.