• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR

1.3 A DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE

O Estágio Supervisionado na condição de disciplina que prepara o profissional para atuar no seu ambiente de trabalho tem como um de seus objetivos a experimentação de procedimentos didático-pedagógicos específicos de seu campo de intervenção profissional.

A expectativa de que essa disciplina dará conta de toda a demanda existente no cotidiano escolar, torna muitas vezes as demais disciplinas sem a obrigação de articular seus conteúdos com a realidade das escolas, uma vez que o estágio curricular terá como pressuposto esta aquisição.

Essa expectativa se justifica uma vez que se entende por estágio o conjunto de atividades desenvolvidas pelos alunos no decorrer do curso diretamente no campo de trabalho futuro (PIMENTA, 1997). Porém, isso não significa que as demais disciplinas devem ser desarticuladas, pois fazem parte do mesmo processo formativo e, portanto, tão indispensáveis

quanto o estágio para a formação profissional. Diante desta compreensão, o estágio se torna muitas vezes desvinculado do processo de formação, considerado um momento prático em que as ações são estabelecidas no campo do cotidiano da escola.

Uma compreensão dicotômica da relação teoria/prática contribui para fragilizar o processo de formação proposto, seja do ponto de vista acadêmico, seja do ponto de vista profissional. Essa dicotomia faz parte da história da formação de professores desde a década de 1930 com Leis Estaduais e em seguida a Lei Orgânica de Ensino de 1946, culminando com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1971. Para Pimenta (1997) a LDB de 1971 promoveu uma fragmentação ainda maior na formação de professores “[...] acabou de desmontar um ensino que vinha precário e não acenou nenhuma possibilidade real” (PIMENTA, 1997, p. 57).

Neste contexto histórico, entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, surgem movimentos associativos que deram vozes às críticas a essas reformas com estudos, pesquisas, dissertações e teses sobre a formação de professores. Dentre esses movimentos destacamos: Associação Nacional de Educação (ANDE), Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd) e Associação Nacional pela Formação dos Profissionais de Educação (ANFOPE). Percebe-se que esse momento histórico possibilitou uma repercussão qualitativa no que tange as produções acadêmicas, fomentando debates e posicionamentos em relação a formação de professores.

No entanto, percebe-se também que no caso específico do Estágio Supervisionado, que esta disciplina está vinculada as questões práticas da ação pedagógica, estabelecendo dessa forma a reflexão teórica para outras disciplinas do eixo curricular. Essa dissociação entre as disciplinas que são consideradas de cunho teórico e as que estabelecem ações práticas simplifica em demasia o conhecimento, uma vez que empodera uma única disciplina a dar conta de todas as demandas da ação pedagógica em seu ambiente real de trabalho.

Esse empoderamento acaba refletindo nos conhecimentos apresentados por essa disciplina durante a formação. Os conteúdos em sua maioria são transmitidos sob o formato de receituários sem possibilidade de articulá-los com problemas reais apresentados no campo de trabalho, tornando, portanto, um momento insipiente no contexto da formação do professor (CANDAU, 1987).

Ao considerar essa problemática, Candau (1987) acredita que as reflexões deveriam abarcar a base da disciplina de Estágio Supervisionado, que no seu entender trata-se da matriz do pensamento, bem como sua epistemologia. Uma vez, isso sendo considerado estabeleceria

uma clareza entre o pensamento e o ensino, possibilitando dessas forma uma articulação entre a formação e a realidade escolar.

Nessa ótica, se faz pertinente adentrar em reflexões referente a práxis, seu conceito e significado. Pimenta (1997) em seu estudo sobre Estágio Supervisionado estabeleceu o conceito de práxis como uma atitude teórico-prática humana que tem a capacidade de transformar a natureza e a sociedade, portanto, não se torna possível somente conhecer e interpretar o mundo se faz necessário transformá-lo.

Compreende-se diante desse conceito que a ação pedagógica que envolve o processo ensino e aprendizagem vai além da interpretação, é necessário abranger nesse processo uma visão ampliada de mundo em que oportunize o aluno a capacidade de transformar o ambiente que o circunda.

Com esse entendimento acredita-se que a disciplina de Estágio Supervisionado deve oportunizar a reflexão e o entendimento do conceito práxis, permitindo assim aproximar os conhecimentos acadêmicos com a ação pedagógica, por meio das diversas disciplinas que contemplam o currículo. Desse modo, considera-se que as disciplinas devem ter um caráter integrador, mediante um ensino crítico e reflexivo remetendo a unicidade teoria/prática. As disciplinas teóricas podem contemplar reflexões relacionadas ao campo de estágio, assim como, ele pode conduzir a novas inquietações teóricas.

Ao se repensar a disciplina de Estágio Supervisionado, observa-se que ele ainda cumpre sua função como parte de exigência em termos legais, recaindo muitas vezes em certo tarefismo no processo de preparação para a docência. Assim, percebe-se a impossibilidade de falar de prática, pois “não há nem uma prática idealizada, nem uma prática meramente instrumentalizadora. Há uma burocratização do estágio, um cumprimento formal do requisito legal” (PIMENTA, 1997, p. 77).

Nessas circunstâncias, ao adentrar no mercado de trabalho e se confrontar com a realidade educacional, o docente provavelmente encontrará dificuldades para elaborar os saberes que o subsidiarão em seu trabalho (SILVA, 2002). Portanto, a disciplina de Estágio Supervisionado deve ser um eixo articulador dos saberes acadêmicos refletidos durante a formação profissional com as práticas pedagógicas que o professor irá articular na realidade de suas ações, sem com isso assumir a condição de panacéia para as tensões e distensões que se manifestam nos cursos de formação para professores.

No que concerne a carga horária das exigências legais, a disciplina de Estágio Supervisionado teve sua carga horária aumentada para 400 horas, que devem ser cumpridas

na segunda metade do curso (CNE/CP 2/2002), porém a diminuiu para aqueles que já exercem atividades docentes, podendo essa carga horária ser reduzida até 200 horas.

No entender de Borges (2010), uma vez que esta experiência está relacionada ao aluno, não dever ser “reduzida a uma relação linear de equivalência de créditos a serem integralizados no fluxo curricular do professor estudante, ao contrário deverá ser objeto de reflexão e ressignificação da mesma prática que se quer considerar” (BORGES, 2010, p. 52).

Observa-se assim, ao mesmo tempo que os documentos legais priorizam um aumento em relação a carga horária na grade curricular no curso de formação do professor, também o esvazia e fragiliza, uma vez que o reduz simplesmente em cumprimento de carga horária. Nesse sentido vale atentar para o fato de que:

O estágio supervisionado tem uma importante contribuição na confluência de ideias e práticas pedagógicas que, de modo articulado, resultam em profícuo trabalho interdisciplinar em que diferentes áreas do conhecimento, representadas ou não pelas diferentes disciplinas escolares fazem-se presentes (BORGES, 2010, p. 52).

Ao retratar a questão dicotômica envolvendo a formação do professor e consequentemente a disciplina de Estágio Supervisionado, entende-se que a formação do professor de Educação Física não está deslocada dessa situação. Sabe-se que essa formação sempre esteve atrelada a atividades meramente práticas, sem o devido aprofundamento de análise sobre as problemáticas envolvendo a ação pedagógica no contexto escolar.

Os estudos que propõem refletir sobre essa temática (BETTI; BETTI, 1996; MOLINA NETO, 2005; SANTOS JUNIOR 2005; ROCHA JUNIOR, 2005; BRACHT 2007; TAFFAREL et al, 2007; REZER, 2007) são claros ao apontar que não há comprovação de que o conhecimento científico seja utilizado pelo professor durante sua ação pedagógica, ou seja, há extrema dificuldade do professor de Educação Física articular os conhecimentos científicos - supostamente adquiridos em sua formação - com sua prática profissional ao adentrar no espaço escolar.

Nesse contexto, a pesquisa estabelece como primordial desvelar e refletir especificamente sobre a formação profissional em Educação Física com o vislumbre de possibilitar um avanço na questão dicotômica teoria/prática nos variados segmentos que a envolvem.