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A (in) disciplina e o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos alunos

Capítulo I – A Indisciplina: enquadramento teórico e normativo

2. O fenómeno da indisciplina na escola

2.3. A (in) disciplina e o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos alunos

motivos dos seus comportamentos, tal como defende Picado (2009).

Por último, salientamos ainda o impacte que esta problemática pode exercer sobre os professores, no sentido em que pode criar um desgaste na actividade docente e na vida em sala de aula. Segundo Estrela (1992), a perda de tempo e o desgaste dispendido na manutenção da ordem e da disciplina em contexto de aula acrescidos da tensão que daí resulta bem como, em alguns casos, da perda de sentido de eficácia geram sentimentos e estados de espírito de frustração e de desânimo que, em muitos casos equacionam o abandono da profissão.

2.3. A (in) disciplina e o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos alunos

A sociedade contemporânea espera da escola a dinamização de acções que garantam, via escolarização, o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso à educação e ao sucesso escolar, pese embora a diferença dos jovens à entrada na escola, quer do ponto de vista cultural, social e económico, quer do ponto de vista das experiências vividas que, de acordo com Jares (2001), preconizem uma acção educativa

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assente em determinados áreas transversais que propiciem a aprendizagem de uma convivência democrática e pacífica.

Cabe à escola promover o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos alunos através de uma organização activa, dinâmica e actual, auxiliada por um quadro de profissionais que promovam o desenvolvimento de acções concertadas, articuladas e coordenadas, em razão de uma estrutura capaz de criar desafios aos seus actores mais directos, sejam eles discentes ou docentes. Neste sentido, parece-nos importante referir que o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos alunos bem como o seu sucesso escolar exigem uma acção apoiada em princípios de democraticidade e de respeito, rejeitando autoritarismo e inflexibilidade que, do ponto de vista de Jares (2001) propiciam uma escalada de indisciplina. O mesmo autor (2001) entende que ambientes de negociação entre professores e alunos limitam a existência de conflitos. Mais refere que, em contrapartida, os ambientes frios e inseguros potenciam a indisciplina, a marginalização, o fracasso escolar e a exclusão dos alunos com menor potencial académico.

Se queremos formar pessoas democráticas e comprometidas com a democracia teremos que criar projectos educativos e estruturas que permitam alcançar esse objectivo tal como aponta Jares (2001).

O direito à educação, ancorado na escolaridade obrigatória, assume-se como um direito basilar no processo de desenvolvimento pessoal dos jovens e na sua participação cívica, conduzindo à edificação de uma sociedade livre, democrática e desenvolvida, constituindo, como escreve Arroteia (2008: 143), uma das preocupações que anima os

países dotados de níveis de desenvolvimento e de bem-estar mais avançados e, ainda, de muitos outros que registam contextos sociais e culturais mais desfavorecidos.

A dinâmica de toda a acção desenvolvida pelo processo educativo giza uma atitude pedagógica dimensionada pelas prerrogativas humanas de liberdade, de integração, de aceitação, de respeito, de autonomia, de acção e de responsabilidade que, de acordo com o Preâmbulo da lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro, exige a planificação de um sistema educativo flexível, pautado por uma política global que procure responder à diversidade de características e necessidades de todos os alunos, numa procura constante da inclusão das crianças e jovens com necessidades educativas especiais, almejando o sucesso educativo de todos os alunos.

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A indisciplina nas escolas mais não é do que o resultado e o reflexo de uma sociedade actual cada dia mais violenta e desumana, onde os fenómenos de massificação

do ensino e de crescente multiculturalidade tornam cada vez mais difícil o cumprimento do processo socializador em meio escolar (Ventura, 2002:44).

Sobre isto, convém referir que a natureza do contexto educativo deverá prever, naturalmente, a especificidade de cada jovem, no sentido de criar condições de ensino/aprendizagem singulares, procurando evitar uma amálgama de acções que conduzam a uma igualdade numérica dos discentes, pois isso colidiria com a sua essência particular e não serviria os desideratos do sistema de ensino actual que procura pautar-se por acções que valorizem, estimulem e respeitem a diferença e a individualidade. Ora, neste sentido, sempre que situações de indisciplina ocorrem, algumas destas acções podem estar em causa, debilitando o sucesso educativo.

Somos levados a concordar com Ventura (2002) na ideia de que a indisciplina na escola não constitui um fenómeno isolado, diríamos insular, socorrendo-nos do termo também usado por Ventura (2002), e inerente à própria escola e às suas idiossincrasias, mas é, antes de tudo, um fenómeno social que a escola importa ao abrir as portas a uma escolaridade que se pretende obrigatória e de acesso a todos. Trata-se de uma problemática inerente aos processos de globalização e democratização que implicam contextos de migração na sua vertente de movimentação de pessoas.

Ao mencionarmos os fenómenos da globalização e da democratização social importa relembrar Jares (2001) quando defende que a educação pode conduzir à construção de uma cultura de paz assente no respeito pela diferença, na aceitação pela diversidade cultural, na solidariedade, na edificação de uma educação que preconize a partilha e a cooperação.

A educação deve procurar estar ao alcance da formação do indivíduo num sentido global, procurando o seu desenvolvimento pessoal e social de forma a garantir a sua plena integração social e profissional futura, valorizando a formação integral e interior do indivíduo através de uma educação de respeito e de tolerância gerada no processo de ensino/aprendizagem. Estrela (1992) defende que a educação não poderá ser mais do que um meio “securizante” através do qual o indivíduo se reconhece e afirma na relação com os outros, propiciando a construção de um grupo coeso e em harmonia.

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Neste pressuposto cabe aqui decalcar a ideia de que a escola enquanto instituição criada para a transmissão intencional do saber considerado socialmente útil, tem acopladas outras funções, como defendia Estrela (1992), designadamente nas sociedades actuais industrializadas, exerce a função política de preparar os cidadãos para a democracia, como já aqui referimos, tem a função económica de preparar cidadãos para o mercado de trabalho e finalmente a função social de criar uma equidade de oportunidades.

Assim, estas funções que se esperam da escola exigem, de acordo com Estrela (1992), uma atitude diferente dos professores, isto é, o papel do professor deixa de estar focado na transmissão de conhecimentos e saberes para estar focado no papel de organizador da aprendizagem e de motivador e estimulador do desenvolvimento cognitivo e socioafectivo do aluno, sem com isso perder o seu estatuto de especialista de uma determinada disciplina, tratando-se de um novo perfil de professor pautado pelo dinamismo e pela intervenção, contrariando o professor rotineiro e acomodado.