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Liderança: o papel do líder no combate à indisciplina

Capítulo I – A Indisciplina: enquadramento teórico e normativo

2. O fenómeno da indisciplina na escola

2.4. Liderança: o papel do líder no combate à indisciplina

Na opinião de Estrela (2002), a problemática da indisciplina afigura-se como um dos mais antigos e persistentes desafios que as escolas dos países industrializados enfrentam.

O comportamento dos alunos no quotidiano escolar revela-se como um reflexo das suas experiências vividas no seio familiar e social, ainda que esta observação não possa ser tida como o factor determinante para o fenómeno da indisciplina. Cada indivíduo responde aos diversos estímulos provenientes do meio e nem todos o fazem do mesmo modo.

A escola, tendo em conta a sua função de formadora e integradora dos jovens, assume perante os alunos aquilo a que Maya (2000) apelida de uma espécie de “antecâmara da vida”, tendo em conta que os conhecimentos adquiridos se projectam numa vida futura.

Ao enunciarmos a questão das relações interpessoais, não podemos deixar de mencionar as questões relacionadas com a autoridade e a liderança como factores essenciais no controle da disciplina na escola.

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Yukl (1989) entende que o conceito de liderança envolve conceitos de grupo e influência onde um determinado membro de um grupo se destaca, fazendo sobressair e exercendo a sua influência sobre os demais elementos do grupo.

De acordo com Estrela (1992), em Portugal, a partir de 1974, assistiu-se a uma crise de autoridade dos professores que reforçou o conceito de autoritarismo, decorrente de uma crise de autoridade, levando alguns professores a desvalorizarem a disciplina e a associá-la a repressão, ao passo que outros professores reforçaram o autoritarismo como controlo da indisciplina generalizada.

Grint (1997) entende que a essência da liderança se prende com a capacidade de estabelecer relações dentro do grupo, sendo indefinível se o líder é quem condiciona os diferentes elementos do grupo ou se é condicionado pelo grupo.

A definição do conceito de liderança suscita algumas dificuldades, tal como referem Bolman e Deal (2003), no sentido em que se trata de um conceito abstracto que ganha diferentes significados, pois é apreendido por cada pessoa de modo diferente. É nesta perspectiva que os mesmos autores falam em diferentes “imagens de liderança” que muitas vezes estão ligados aos conceitos de gestão, autoridade e poder.

Actualmente, decorrente de sucessivas políticas e reformas educativas, verifica-se, na opinião de Silva (2008), uma progressiva diluição de autoridade dos actores educativos que, de acordo com este autor, se verifica não só em Portugal, mas, igualmente, generalizada em toda a Europa e nos próprios Estados Unidos da América (EUA).

Reportando-se a Portugal, Silva (2006) é de opinião que a ausência de uma normalização e reprodução de conceitos e valores consentâneos e ideologicamente orientados propicia a existência de um modelo educativo autoritário e conservador, fragilizando e perturbando as relações interpessoais dos vários actores educativos, condicionando os níveis de autoridade e de competência científica desejados.

Deste ponto de vista, podemos afirmar que toda esta turbulência a jusante das alterações de políticas educativas derivou numa certa confusão entre o sentido de autoridade e de autoritarismo. Entenda-se o último como o abuso da autoridade que o professor exerce na escola e, a verificar-se nas relações interpessoais que estabelece com os alunos, não a usa para educar, mas sim para se impor sem respeitar a legitima liberdade e o respeito pelo outro que deve preservar no desenvolvimento de todo o acto educativo.

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Na esteira de Maya (2000), a autoridade do professor deve revestir-se de princípios de respeito, tolerância e compreensão na interacção com os alunos, não podendo ser confundido o conceito de um professor ser autoritário e ter autoridade. Ainda na opinião de Maya (2000), o autoritarismo enquanto estilo de liderança não implica o reconhecimento de superioridade por parte do grupo.

Gomes (2009) considera que a existência e persistência de elementos rigidamente hierárquicos constituem um contrasenso da escola moderna do ponto de vista do processo de democratização da escola tal como se deseja para a sociedade em geral.

A competência comunicativa do professor reforçada por uma atitude de autoridade, de respeito e de reconhecimento do outro é essencial nas relações interpessoais e, desse ponto de vista, para Maya (2000) é crucial que o professor se assuma como uma figura real, sem disfarces, aceitando os seus alunos e confiando neles sem que essa atitude derive na validação plena dos seus comportamentos.

O conceito de autoridade leva-nos ao conceito de liderança cujo significado, de acordo com a mesma autora (2000), visa o controlo e a dinamização de acções dentro de um determinado grupo com vista à concretização dos objectivos do grupo.

De acordo com Maya (2000), o conceito de liderança no contexto educativo envolve níveis diferentes, sendo sustentado por uma política educativa auxiliada ministerialmente, por um lado, e ao nível das direcções regionais, por outro, prevendo na acção deste órgão institucional uma maior proximidade com cada escola.

Em contexto educativo, focamo-nos na liderança assumida pela direcção, pelos detentores de cargos intermédios e ainda pela liderança exercida pelos professores em contexto de sala de aula.

Apoiada nas investigações desenvolvidas por K. Lewin, Maya aponta três estilos de liderança diferentes: o estilo autoritário, o democrático e o permissivo.

O estilo autoritário caracteriza-se

[…] pela imposição de processos de decisão tomados unilateralmente por parte de quem tem o estatuto e o poder para o fazer, esperando a obediência por parte dos que lhe estão subordinados. Aqui o líder é o único a ter conhecimento do plano de conjunto, impondo ao grupo tarefas fraccionadas; não favorece as relações interpessoais entre os membros do grupo. (Maya, 2000: 21)

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O estilo democrático assenta, essencialmente, em

[…] tomadas de decisão baseadas no diálogo e na negociação com os intervenientes num determinado processo. O líder indica as grandes linhas da actividade, distribui responsabilidades e tem em conta as preferências pessoais. A presença do líder não é indispensável para que o grupo funcione, porque os diversos membros do grupo comunicam entre si […] (Maya, 2000: 21)

Finalmente, o estilo permissivo cujo enfoque é feito na

[…] delegação da função de liderança, permitindo que seja o grupo a impor as suas decisões. O líder não intervém e abstém-se de fazer qualquer sugestão, bem como de censurar ou negociar. Instaura-se a anarquia. (Maya, 2000: 21)

As relações que o professor estabelece com os seus alunos conduzem à necessidade de estabelecer um clima relacional onde a aproximação, a confiança, o respeito e a colaboração equilibrem a relação de ambos. Amado (2000) aponta para a criação de um ambiente de trabalho cuja interacção entre os seus membros resida no diálogo, na negociação, na responsabilização, na confiança mútua entre professor-aluno, na aproximação entre os diferentes actores educativos e no respeito pela integridade de cada um.

Em síntese, podemos inferir que uma liderança em contexto educativo deverá residir em padrões e valores de diálogo, negociação, responsabilização e de confiança, respeitando os valores, os direitos e a dignidade individual, factores essenciais para uma confiança entre os diferentes actores educativos.

2.5. A representação de diferentes actores socioeducativos no