• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I Contexto conceptual da educação multicultural

2. Culturas e cultura escolar

2.3. A Diversidade cultural

2.3.2. A diversidade cultural e o ensino

Desde que se toma consciência da problemática que contém a presença habitual de estrangeiros num determinado país, tratou-se de buscar soluções orientadas para conseguir uma coexistência pacífica. Também no âmbito educativo, especialmente preocupado pelas implicações derivadas da diversidade cultural nas aulas, buscaram-se alternativas e efectuaram-se propostas para dar respostas adequadas à mesma, algumas das quais já foram examinadas.

Uma primeira aproximação a este tema traça um modelo básico geral de acolhimento, representado por duas concepções extremas: separação ou integração, representando um contínuo que admite distintas posturas e diferenças de grau. Dentro deste esquema elementar, não faltam autores que descartam qualquer posição tendente a um dos tais extremos esses pronunciam a favor de uma orientação intermédia, representada pela ideia da “adaptação”. Este processo de adaptação corresponde a ambas as partes, por um lado, que tem de acomodar-se a um contexto muito distinto ao seu e, por outro, dos cidadãos do país de acolhimento, que devem habituar-se à presença de estrangeiros, atingindo-se, entre todos, uma sociedade mais cosmopolita (Albericio, 1991; Aguado Ondina, 1999).

A simples adaptação, ainda que supõe um avanço antes a estreita separação entre etnias e culturas diferentes, é hoje muito criticada (ainda às vezes subtilmente praticadas), e resulta insuficiente para conseguir a totalidade dos propósitos que persegue a educação intercultural. Na realidade, este enfoque caracteriza-se nas primeiras propostas de uma educação multicultural que se realizaram nos países desenvolvidos durante as décadas de cinquenta e sessenta do século passado. Postura que, escreve Quintana (1992) era promovida por uma atitude muito egoísta, orientada para aproveitar a nova força de trabalho que chegava com a imigração. Considerava-se inferior a cultura dos estrangeiros por isso era desejável que se adaptassem à nacional. Este primeiro modelo denominado de assimilação. Este modelo etnocêntrico foi ultrapassado nos anos setenta com a adopção, de acordo com o citado autor, de dois pressupostos muito distintos. Um deles sustenta a não hierarquização das culturas, e a partir desse momento já não se emprega o termo “desigualdade”, mas o termo “diferença” entre indivíduos de distintas culturas, suprimindo-se toda a ideia de inferioridade. O outro defende o valor de todas as culturas, consideradas como fonte de enriquecimento mútuo e uma ajuda para alcançar o desenvolvimento cultural dos povos. Este avanço é relevante, porque de um primeiro modelo, já mencionado de assimilação, se passou a outro de compreensão e valor às culturas estrangeiras. A atenção à diversidade cultural originou diferentes propostas educativas como resposta e são vários os autores que propuseram modelos para aplicar na prática a identidade e pluralidade cultural. Da extensa literatura existente sobre o tema que apresentam diversos esquemas com a intenção de resumir e sintetizar os diferentes enfoques sobre o tratamento da diversidade cultural seleccionamos a classificação feita por Munõz Sedano (1997). As cinco grandes finalidades dos enfoques estabelecidos são: (a) Manter a cultura hegemónica de uma sociedade determinada; (b) Reconhecer a existência de uma sociedade multicultural; (c) Fomentar a solidariedade e reciprocidade entre culturas; (d) Denunciar a injustiça provocada por uma assimetria cultural e lutar contra ela; (e) Avançar para um projecto educativo global que inclua a opção intercultural e a luta contra a discriminação. Tanto os enfoques como os modelos se apresentam desde uma evolução histórica e um processo não linear. Seguindo o esquema proporcionado, elaborou-se o Quadro 3 com o objecto de obter uma visão de conjunto dos distintos modelos, programas e suas características diferenciais de cada um dos enfoques recolhidos.

Há outras classificações de paradigmas da multiculturalidade para além da exposta, e nenhuma pode ser definitiva, já que nos referimos a um fenómeno que vai mudando constantemente, sem protótipos puros. É difícil responder à questão de qual é o melhor modelo e o mais adequado. Ainda que, após a revisão efectuada, se considera que há a tendência para um modelo intercultural integrador, tendo em conta os princípios éticos e o marco educativo legal definido em cada sociedade. Tal modelo permite oferecer a todos os grupos étnicos o conhecimento dos elementos culturais comuns, promover o específico de cada cultura e valorizar positivamente as relações entre elas.

Enfoques Modelos Características

Afirmação hegemónica da cultura do país de acolhimento Assimilacionista Compensatório Segregacionista

Currículo baseado unicamente nos valores dominantes.

Minorias portadoras de déficit a

compensar para garantir a

igualdade de oportunidades

Escolarização diferencial baseada em critérios biológicos, sociais, psicológicos, étnicos. Reconhecimento da Pluralidade cultural De currículo multicultural De pluralismo cultural De competências multi- culturais De orientação multicultural

Incorporar distintas modalidades de instrução e aprendizagem, estimular

a identificação com o grupo de origem e até estabelecer escolas étnicas. Opção intercultural baseada na simetria cultural Educação intercultural

Reconhecimento positivo das

diversas culturas e línguas e da sua necessária presença e cultivo na escola.

Holístico de Banks Educação para os valores.

Sociocrítico Educação antiracista

A questão reduzida a valores encobre diferenças de poder na sociedade. A educação deve estar unida para a conquista de direitos e libertar de opressões as minorias. Global Inclui a opção intercultural E a luta contra a

discriminação

Formação e fortalecimento na escola e na sociedade dos valores humanos de igualdade, respeito, tolerância, pluralismo, cooperação e coresponsabilidade social.

Quadro 3. Enfoques e Modelos de atenção educativa à diversidade. Elaboração à partir de

Munõz Sedano, op.cit., p. 40.

Alguns autores criticaram este delineamento por entender que coadjuva a identificação com a cultura dominante e, portanto, a perda da própria identidade cultural. Trata-se de uma interpretação incorrecta, posto que na realidade o que implica é o reconhecimento positivo das diversas culturas e da sua necessária presença na escola e o compromisso activo contra toda a manifestação de racismo ou discriminação. Não há que esquecer

que as finalidades de toda acção educativa é salvaguardar os direitos humanos, a tolerância, o entendimento mútuo, a democracia, a identidade cultural e a busca da paz, valores que se consideram conforme com os supostos citados que propunha uma educação intercultural integradora.