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A divisão do trabalho na perspectiva de Taylor

No documento LUCIENE MARIA DE SOUZA (páginas 50-54)

maior do trabalho aos interesses do capital. Para Marx (2002), esse processo desenvolve- se na manufatura, que mutila o trabalhador e intensifica-se na industria moderna, que faz da ciência uma força produtiva independente do trabalho de forma que atenda aos anseios de lucro do capital.

Em outras palavras, Marx afirma que a divisão parcelar do trabalho:

Desenvolve a força produtiva do trabalho coletivo para o capitalista, e não para o trabalhador e, além disso, deforma o trabalhador individual. Produz novas condições de domínio do capital sobre o trabalho. Revela- se, de um lado, progresso histórico e fator necessário do desenvolvimento econômico da sociedade e, do outro, meio civilizado e refinado de exploração. (MARX, 2002, p.420).

Desse modo, compartilhando com a mesma perspectiva acima apontada,

Braverman (1987, p.79), afirma que “traduzindo em termos de mercado, isto significa

que a força de trabalho capaz de executar o processo pode ser comprada mais barata como elementos dissociados do que como capacidade integrada num só trabalhador”. Dessa forma, a divisão parcelar do trabalho é de grande interesse do capital, pois é uma forma de se precarizar e baratear ainda mais, o valor da força de trabalho que se encontra fracionada nos seus elementos mais simples.

Assim, após ter feito uma breve exposição a partir de uma visão crítica sobre a divisão parcelar do trabalho, retomaremos alguns princípios de administração cientifica de Taylor, sendo esta, acreditamos, um dos fortes pilares da base de organização do trabalho nas centrais de atendimento.

1.6 A divisão do trabalho na perspectiva de Taylor

Taylor, contrariamente a uma posição crítica da divisão do trabalho nos moldes capitalistas defendida pela concepção marxiana e marxista, se apresenta como um fiel

apologista dessa forma de organização do trabalho presente na sociedade capitalista. Para Taylor (1976), o trabalhador sempre que pode reduz a produção através da chamada “cera” no trabalho. Segundo Taylor essa atitude de fazer “cera” no trabalho está ligada a dois tipos de indolência: natural e sistemática. A indolência natural está ligada ao instinto natural dos homens de fazer sempre o menor esforço. A indolência sistemática é considerada por Taylor a mais perigosa e a que causa mais danos para os capitalistas. Nela, o trabalhador sabe como o trabalho pode ser feito mais depressa, mas prefere deixar seus patrões na ignorância e assim produzem muito menos propositadamente.

Nesse sentido, Taylor percebe que existe uma ciência do trabalho que não pode mais ser deixada sob o domínio dos trabalhadores, mas deve ser analisada e estudada por uma gerência científica que ficará responsável pelo planejamento e concepção do trabalho. Na perspectiva apontada por Taylor

O homem cuja especialidade sob a administração cientifica é planejar verifica inevitavelmente que o trabalho pode ser feito melhor e mais economicamente mediante divisão do trabalho, em cada operação mecânica, por exemplo, deve ser precedida de vários estudos preparatórios, realizados por outros homens. E tudo isso envolve, como dissemos, uma divisão eqüitativa de responsabilidade e de trabalho entre a direção e o operário. (TAYLOR, 1976, p.51).

Dessa maneira, os trabalhadores expropriados do seu saber apenas executariam as tarefas propostas dentro de uma divisão parcelar do trabalho que tenta separar ao máximo o saber intelectual do saber fazer manual. É nesse sentido que Taylor (1976) afirma que um tipo de homem é necessário para planejar o trabalho e outro tipo diferente para executá-lo. Depreende-se a partir disso, que o trabalho intelectual deve ser eliminado do cotidiano dos trabalhadores para ser desenvolvido por uma gerência científica. Segundo Rago e Moreira (1986), Taylor astutamente compreendeu que o saber intelectual dos trabalhadores é uma arma contra o capital e que a divisão do trabalho entre concepção e execução concretiza ainda mais a dominação do capital sobre o trabalho no interior do processo produtivo. Através dessa expropriação do saber, o

trabalhador perde o controle sobre o processo de trabalho, e o saber fazer profissional que sempre foi um poderoso instrumento de luta para reduzir a exploração e intensificação do trabalho perde forças perante o capital, que com a hegemonia pode impor ao trabalhador o tempo e o ritmo da produção de acordo com suas exigências lucrativas. Como bem afirmam Rago e Moreira (1986, p.26), “o sistema Taylor apresenta- se como uma estratégia adequada à dominação burguesa que visa constituir o trabalhador dócil politicamente e rentável economicamente”. Mais que docilizar e padronizar esse trabalhador, o sistema Taylor de organização do trabalho quer criar uma identidade da figura do trabalhador como um verdadeiro “soldado do trabalho” (RAGO E MOREIRA, 1986, p.26), um individuo pacífico e que compartilhe dos mesmos ideais dos detentores dos meios de produção.

Ainda no que se refere à subordinação do trabalho ao capital,Braverman (1987,

p.106), afirma que não apenas o capital é propriedade do capitalista, mas o próprio trabalho tornou-se parte do capital. “Não apenas os trabalhadores perdem controle sobre os instrumentos de produção como também devem perder o controle até de seu trabalho e do modo como o executa”.

Nesse sentido, Gramsci (1980), aponta algumas implicações sobre o taylorismo em “Americanismo e Fordismo” ressaltando como essa forma de trabalho leva a uma mecanização do trabalhador na tentativa de retirar o conteúdo humano do trabalho, desenvolvendo ao máximo nesse trabalhador atitudes automáticas e rotinizadas, rompendo com o velho discurso do trabalho profissional qualificado que exigia uma determinada participação ativa da inteligência, fantasia e criatividade do trabalhador.

Discurso o qual será problematizado nessa pesquisa9 e que se faz presente em nosso

cotidiano nas falas dos “homens de negócios” que ressaltam a necessidade de trabalhadores qualificados para exercerem atividades cada vez mais repetitivas, monótonas e idiotizadas como, por exemplo, o que ocorre com a função de telemarketing na cidade de Uberlândia, MG.

Para Kuenzer, o trabalho na sociedade capitalista desenvolve-se, sobretudo a partir de sua desqualificação,

Quanto mais se desenvolve a mecanização, mais ele se fragmenta e automatiza, menos domínio do saber sobre o trabalho total ele exige, menos energias intelectuais e criativas ele mobiliza; gerido externamente pelo capitalista, cuja eficácia repousa na divisão do trabalho, na ruptura entre decisão e ação, entre trabalho intelectual e manual, ele passa a ser desinteressante e monótono.(KUENZER, 1989, p.77).

Assim a pesquisa realizada por Venco (1999) sobre “Telemarketing nos bancos: o emprego que desemprega” corrobora para essa referida pesquisa, resguardadas as devidas particularidades por serem em diferentes setores da economia pesquisados. O que podemos observar é que a base de organização taylorista do trabalho permanece a mesma. Venco (1999, p.63), afirma que “em telemarketing são observadas características do sistema taylorista de produção tais como a divisão do trabalho, o controle de tempos e movimentos e a seleção científica do trabalhador na busca de maior produtividade e da produção de mais-valia”. Em outras palavras, o que verificamos nessa atividade são praticas tayloristas apoiadas fundamentalmente na telemática, resultando ao capital, um eficiente exemplo de aumento da produtividade. Práticas estas que se apresentam como “novas”, mas na verdade não são e que se manifestam por um caráter híbrido entre um modelo e outro de organização do trabalho.

De acordo com Braverman (1987), a divisão parcelar do trabalho nesse modelo de organização do trabalho em que se busca simplificar ao máximo as atividades exerce claramente um efeito degradador sobre os trabalhadores tendo em vista que viola as condições humanas de trabalho. Ainda de acordo com o autor, a divisão do trabalho no capitalismo “ao estabelecer relações antagônicas, de trabalho alienado, mão e cérebro tornam-se não apenas separados, mas divididos e hostis, e a unidade humana de mão e cérebro converte-se em seu oposto, algo menos que humano”. (BRAVERMAN, 1987, p.113).

Nesse sentido a afirmação de Rago e Moreira vem contribuir para compreendermos melhor essa organização científica do trabalho.

O taylorismo implica, portanto, uma representação apologética do trabalho como atividade fundamental do homem. Sua lógica é a de ocupar o trabalhador, preencher todos os seus momentos de tal modo que sua alienação se consuma radicalmente. O homem robô é a representação interna do homem que este sistema carrega: forte, ativo, produtivo, massa bruta destituída de consciência, de capacidade crítica e de criatividade.(RAGO e MOREIRA, 1986, p.37).

Em outros termos, o sistema Taylor carrega no seu interior uma estratégia de fabricação de indivíduos docilizados, submissos e produtivos que tem como objetivo a formação de um verdadeiro “soldado do trabalho” (RAGO E MOREIRA, 1986) comprometido com os interesses do capital. Desse modo, o capital, na tentativa de moldar o trabalhador para sua lógica, se apóia em uma rígida disciplina do trabalho como apontaremos a seguir.

No documento LUCIENE MARIA DE SOUZA (páginas 50-54)