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Tendências contrárias às crises: saídas para a sobrevivência do capital

No documento LUCIENE MARIA DE SOUZA (páginas 118-121)

Vale ressaltar, que Marx (1980), utiliza a denominação tendência da queda da taxa de lucro para enfatizar que se não fossem as tendências contrárias ao processo real de acumulação capitalista, essa queda seria muito maior e mais rápida. Assim estão em jogo diversos fatores que impedem essa tendência. Castells (1979, p.95), aponta que “como as sociedades são moldadas por conflitos sociais e decisões políticas, é certo que as classes (a burguesia em particular) podem atuar conscientemente para modificar as tendências às crises nos limites impostos pelas relações sociais capitalistas”. O capital articula saídas aos obstáculos que ele mesmo coloca para si e que são contradições históricas impostas ao sistema produtor de mercadorias.

Como bem afirma Castells em sua obra “A teoria marxista das crises econômicas e as transformações do capitalismo”,

Tanto as tendências como as tendências contrárias encontram-se estruturadas e são intrínsecas à lógica capitalista. Por tal razão, o processo de acumulação é contraditório. Não só porque tende à crise, como também porque, simultaneamente, tende a impedi-la, provocando novas contradições que geram novas formas de crise em um processo sem limites econômicos, socialmente perturbador e politicamente limitado dentro de uma perspectiva histórica. (CASTELLS, 1979, p.95).

Segundo essa lógica, tanto as tendências que levam às crises como as tendências contrárias são características básicas do modo de produção capitalista, mas tendem de modo contraditório, a influir na queda da taxa de lucro. Uma das principais tendências contrárias que tem constituído a ofensiva do capital é o aumento da taxa de exploração da força de trabalho. Contribuindo com esse debate, Mello (2000) afirma que a queda da taxa de lucro aumenta a concorrência entre capitais e conduz, ao final, à superacumulação, à superprodução, à crise que implica em expandir as bases do mercado e ampliar ainda mais a taxa de exploração do trabalho, tudo em função da recuperação da taxa de lucratividade.

2.3 A intensificação da exploração da força de trabalho: pressuposto

fundamental da acumulação capitalista

A intensificação da exploração da força de trabalho é o pressuposto fundamental da lógica de acumulação do capital. Segundo Castells (1979, p.97), o aumento da exploração “constitui a tendência contrária mais direta na acumulação do capital à tendência ao descenso da taxa de lucro. Trata-se de obter, com a mesma composição orgânica do capital, uma taxa maior de mais-valia mediante vários mecanismos complementares”. Como bem afirma Marx (1980, p.267), “o grau de exploração do trabalho, a extração de trabalho excedente e de mais-valia, aumenta, antes de mais nada, pelo prolongamento da jornada e pela intensificação do trabalho”. No entanto, a exploração do trabalho pelo aumento da jornada de trabalho esbarra hoje na luta dos trabalhadores pelos seus direitos sociais. Então como saída, o capital investe em capital constante (novas tecnologias), a fim de aumentar a produtividade do trabalho sem necessariamente prolongar a jornada de trabalho. Para Castells (1979), isto se realiza através do desenvolvimento das forças produtivas, segundo as orientações definidas pela busca de lucro capitalista.

Nessa conjuntura, Marx afirma no livro “Terceiro de O Capital” que:

A lei da queda progressiva da taxa de lucro ou do decréscimo relativo do trabalho excedente extorquido, ao confrontar-se com a massa de trabalho materializado posta em movimento pelo trabalho vivo, não exclui de maneira alguma que aumente a massa absoluta do trabalho explorado e mobilizado pelo capital social, e portanto que cresça a massa absoluta do trabalho excedente de que apropria, nem tampouco impede que os capitais sob o domínio dos diversos capitalistas comandem massa crescente de trabalho e por conseguinte de trabalho excedente, podendo este aumentar mesmo quando o número de trabalhadores comandados não aumente. (MARX, 1980, p.248).

O aumento do capital constante reduz a introdução do capital variável, mas não o elimina, pois como sabemos a mais-valia é sinônimo de lucro do capital. Assim, é possível manter a produção através da intensificação do trabalho daqueles que neles

permanecem. Os investimentos em capital constante e a redução do variável implicam em um “exército de reserva” que devido ao alto grau de desemprego se submete a qualquer tipo de condições de trabalho. Nesse sentido, Lucena contribui com a discussão ao afirmar que:

Estamos vivendo um período denominado “Tempos de Destruição”, que colocam os homens em disputa entre si não mais por melhores salários ou conquistas sociais, mas pelo direito de venda da sua força de trabalho. O emprego capitalista, materialização histórica de obtenção de mais-valia absoluta e relativa e da alienação, em vez de negado, transforma-se em uma utopia a ser atingida. Aqueles que vendem sua força de trabalho passam a lutar pelo direito de serem explorados. (LUCENA, 2004, p.13).

Através dessa afirmação podemos constatar que o que está em pauta pelos trabalhadores atualmente não é mais a reivindicação pelos seus direitos sociais como aumento de salário ou redução da jornada de trabalho, mas simplesmente o direito de vender sua força de trabalho para atender suas necessidades mais imediatas. A luta desses trabalhadores se concretiza pela inserção e permanência no emprego; o que era direito passa a ser privilégio de alguns.

De acordo com Castells (1979), o principal obstáculo estrutural colocado à acumulação capitalista é a resistência dos trabalhadores à exploração. É possível, pois, depreender disto que o capital em um movimento insaciável por lucratividade procura regiões do mundo em que a luta de classes seja menor e a compra da força de trabalho seja mais barata. E quando ocorre de se ter resistências dos trabalhadores perante tanta exploração, rapidamente essas empresas procuram outras regiões para se instalarem. É neste contexto, que se instalaram no Brasil diversas empresas de Call Centers em busca de força de trabalho mais barata e menor resistência dos trabalhadores. Pode-se observar, por exemplo, na cidade de Uberlândia algumas empresas de telemarketing, como o caso da empresa X pesquisada, que nem mesmo possui uma organização sindical que represente os interesses desses trabalhadores. Nesse contexto de mudanças no mundo do trabalho vale destacar então, a atividade telemarketing, que se materializa

em precárias condições de trabalho, baixos ganhos salariais e elevada produtividade e, no entanto, é um dos ramos que mais emprega no setor de serviços.

Diante de tudo isso, Castells corrobora para compreendermos tais questões ao afirmar que:

O capital internacional transfere cada vez maior parte de seus investimentos aos países do Terceiro Mundo. Conseqüentemente, em lugar de importar trabalhadores, simplesmente tratam de reproduzir as condições de superexploração nos países dependentes, com o objetivo de beneficiar-se da repressão política. (CASTELLS, 1979, p.101).

Dessa forma, ao elevar a produtividade do trabalho é possível aumentar a massa de lucro, apesar de o capital variável diminuir em relação ao constante. Essa se torna então, a principal estratégia do capital para superar a queda tendencial da taxa de lucro. No entanto, há outras tendências contrárias importantes apontadas por Marx (1980), como o denominado “comércio exterior”, que chamamos hoje de mundialização do capital, e que consideramos de extrema relevância abordar, tendo em vista as conseqüências que este movimento traz para o mundo do trabalho no limiar do século XXI.

No documento LUCIENE MARIA DE SOUZA (páginas 118-121)