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2. Estado da Arte

2.5. A doença do enrolamento foliar da videira

A videira pode ser atacada por vários vírus, alguns latentes mas outros com maior ou menor impacto, fazendo com que a planta não expresse todo o seu potencial genético. Recentemente, Martelli, (2014), publicou o Diretório das viroses e doenças semelhantes a viroses que foram identificadas na videira até esta data apresentando pormenorizada revisão bibliográfica com o historial dessas várias doenças parasitárias e caracterização dos seus agentes patogénicos. Também, como descrito no Quadro 1, no último Congresso do ICVG (International Council for the Study of Virus and Virus-like diseases of Grapevine,) Martelli, (2012), refere 63 vírus atualmente conhecidos na videira e a sua atual afiliação taxonómica (Família, Género e Espécie), referindo o nome científico das espécies e alguns nomes de possíveis novos vírus mas ainda não completamente caraterizados.

Quadro 1– Classificação taxonómica de 63 vírus cujo hospedeiro é a videira. (Fonte: Martelli, 2012)

No que se refere ao enrolamento foliar da videira, Martelli, (2014), faz uma revisão bibliográfica completa com o historial da doença desde 1905 com o aparecimento do “rougeau” em França. Atualmente, associado à doença do enrolamento foliar da videira estão vários vírus sendo Grapevine leafroll associated virus-3 (GLRaV-3) o vírus que está mais disperso pelas vinhas europeias incluindo as portuguesas e, pontualmente,

Grapevine leafroll associated virus-1 (GLRaV-1) e Grapevine leafroll associated virus-

2 (GLRaV-2) (Martelli, 2014; Naidu et al., 2014; Martelli et al., 2012; Moutinho- Pereira et al., 2012; Magalhães, 2008; Santos et al., 2003, 2001).

As várias espécies de GLRaV pertencem à família Closteroviridae; GLRaV-1 e GLRaV-3 pertencem ao género Ampelovirus e GLRaV-2 ao género Closterovirus (Martelli, 2012). Como todos os vírus, GLRaV`s disseminam-se principalmente através de material de propagação vegetativa se este estiver infetado, nomeadamente porta- enxertos assintomáticos. Alem disso, GLRaV-3 e GLRaV-1 apresentam como vetor várias espécies de cochonilhas da família Coccidae e Pseudococcidae nomeadamente

Planococcus ficus, Planococcus citri, Pseudococcus longispinus, Pseudococcus viburni, Pseudococcus calceoridae, Pseudococcus maritimus, Phenacoccus aceris, Heliococcus bohemicus e Pseudococcus comstocki (Naidu et al., 2014; Le Maguet et al., 2012; Tsai

et al., 2010; Douglas & Kruger, 2008; Cabaleiro & Segura, 2007, 2006; Cid et al., 2006; Gugerli, 2003; Sforza et al., 2003; Golino et al., 2002; Petersen & Charles, 1997; Golino et al., 1995; Belli et al., 1994; Engelbrecht & Kasdorf, 1990; Tanne et al., 1989). Também os “scale insects” (Hemiptera: Coccidae) Pulvinaria vitis, Ceroplastes rusci,

Parthenocanium corni, Neopulvinaria innumerabilis, Coccus hesperidium, Coccus longulus, Saissetia sp., Parasaissetia nigra e Ceroplastes rusci estão referenciados

como potenciais vetores de GLRaV-3, (Naidu et al., 2014; Mahfoudhi et al., 2009)

Para além da classificação taxonómica e dos vetores Martelli, (2014, 2012), e Martelli et al., (2012), apresentam também as caraterísticas genómicas atualmente conhecidas para os vários GLRaV`s como se pode analisar pelo Quadro 2.

Quadro 2 – Caraterização genómica dos diversos GLRaV`s (Fonte: Martelli, 2014)

Há muito que são referidos efeitos prejudiciais em termos principalmente qualitativos, mas por vezes também quantitativos, devido à presença de GLRaV`s na videira (por exemplo Santos et al., 2003; Cabaleiro et al., 1999; Bovey et al., 1980; Pearson & Goheen, 1988). Nas videiras infetadas com GLRaV-3 verifica-se alteração na fisiologia da videira, nomeadamente na fotossíntese levando ao atraso na maturação, aumento da acidez, decréscimo dos açúcares (menor grau álcool nos vinhos), decréscimo das antocianinas e polifenóis nos bagos podendo chegar a uma perda de pigmentação nas castas tintas na ordem dos 50% (Attalah et al., 2012; Moutinho-Pereira et al., 2012; Bertamini et al., 2004; Gugerli, 2003; Cabaleiro et al., 1999; Pearson & Gohen, 1998; Magalhães et al., 1997; Bovey et al., 1980; Over de Linden & Chamberlain, 1970). No entanto é de salientar que muitos dos estudos referem-se apenas a um ou poucos clones de uma casta.

A sintomatologia da doença do enrolamento foliar da videira causada por GLRaV-3 é mais evidente a nível das folhas e inicia-se da parte basal dos pâmpanos para a zona apical. Manifesta-se a partir de junho/julho, dependendo das temperaturas, em que se verifica o enrolamento para a página inferior das folhas bem como um amarelado no limbo nas castas brancas e uma cor avermelhada nas castas tintas mas, as nervuras principais e secundárias mantêm-se verdes, como se poderá ver, por exemplo, nas fotografias publicadas em Martelli, (2014), Pearson & Gohen, (1998) e Bovey et al., (1980). Se o enrolamento não for evidente, a sintomatologia, por vezes, pode

assemelhar-se a uma carência nutricional. O vírus não se manifesta em locais cujas temperaturas sejam elevadas estando a cepa comprovadamente infetada, nem em porta enxertos; são exemplos desta situação clones em campos de seleção da casta Castelão que manifestaram os sintomas em Óbidos e não os manifestaram em Palmela, bem como em clones da casta Touriga Nacional que manifestaram os sintomas no Dão e não os manifestaram no Douro Superior (Magalhães, 2008).

Após a observação visual dos sintomas, e visto que existem diversos fatores que podem provocar uma sintomatologia semelhante, a identificação do vírus é comprovada através de testes laboratoriais nomeadamente por teste serológico (DAS-ELISA), por teste molecular (PCR) ou, então por indexagem em indicadores lenhosos, como se fazia antes da existência de bons soros e/ou de bons primers específicos, sendo utilizados como indicadores para a técnica da indexagem o híbrido Baco 22A, na Califórnia, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Barbera na Europa Meridional, Pinot Noir na Europa Setentrional (Boudon-Padieu et al., 2000) e apesar de não ser utilizada como indicador a casta Mourisco Tinto, na Região do Douro, manifesta marcadamente os sintomas da doença do enrolamento foliar (Magalhães, 2008).

A primeira técnica serológica para o diagnóstico de vírus, bem conhecida como DAS- ELISA (Clark & Adams, 1977), com antissoros Agritest (Bari, Itália) está referida nos protocolos validados para deteção de vírus de videira incluídos no diagnóstico obrigatório pelas regras fitossanitárias da OEPP-EPPO (Faggioli et al., 2013) e tem sido utilizada em Portugal para o diagnóstico do material para a coleção ampelográfica nacional (com. pess. A. Pereira, em Setembro de 2014; Santos et al., 2012). Assim, no âmbito dos trabalhos de seleção da videira realizados na UTAD, como membro da PORVID – Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira, verificou-se que na prospeção por DAS-ELISA feita em 2011 na Região dos Vinhos Verdes, das 1514 plantas testadas para GLRaV-3 de várias castas, 67,57% estavam infetadas e em 2012, em material para homologação, foi diagnosticado ainda em 8 plantas das 398 plantas testadas (com. pess. A. Pereira, em Setembro de 2014) o que demonstra a dispersão deste vírus nesta região. Já em 1997, Magalhães et al., referiam a elevada percentagem de infeção por este vírus detetada nos trabalhos de seleção de várias castas de videira em Portugal e, em 2012, Santos et al., detetaram 59,1% (em 758 plantas testadas) de infeção por GLRaV-3 no material em prospeção para a coleção ampelográfica nacional,

sendo 30 plantas de V. vinifera subespécie sylvestris (onde foi detetado 25% de infeção).

Para o controlo fitossanitário, quando não é necessária a identificação individual, poderá ser usado um teste serológico único (multiplex ELISA) para a deteção simultânea de GLRaV-3 e GLRAV-1 e também de GFLV (Grapevine fanleaf virus) (Digiaro et al., 2012). Também a utilização simultânea de técnicas serológicas e moleculares, como por exemplo a deteção imunoenzimática dos produtos de PCR, técnica PCR ELISA (Nolasco et al., 2002), é uma técnica muito sensível e que poderá permitir o eficaz diagnóstico de vários vírus nomeadamente em material de propagação vegetativa ou nos vetores.

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