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2. Estado da Arte

2.3. Flavescência dourada da videira em Portugal e o PAN-FD

Face à identificação de S. titanus na região Norte de Portugal (Quartau et al., 2001), nomeadamente em Arcos de Valdevez, em 1998, e em Vila Real em 1999, foi iniciada em 2001 a prospeção do cicadelídeo e em simultâneo a identificação de sintomas da doença da FD em videiras, bem como a pesquisa do fitoplasma no vetor (Mesquita, 2014, Sousa et al., 2003).

O primeiro caso oficial positivo de FD em Portugal foi detetado no vetor da doença no âmbito da prospeção do cicadelídeo na região Norte de Portugal (no Entre-Douro e Minho e em Trás-os-Montes) entre 2001 e 2003. Das 54 amostras de S. titanus

recolhidas, 9 deram resultados positivos, para o fitoplasma pertencente ao sub-grupo 16SrV-D (Sousa et al., 2003). O material que deu origem a estes resultados positivos teve origem em Trás-os-Montes, Vila Real (Sousa et al., 2004). Segundo Sousa et al., 2004; Sousa et al., 2003 e Sousa et al., 2001, até a estas datas o fitoplasma ainda não tinha sido detetado na videira. Também é referido em Sousa et al., 2004, que as vinhas do Entre-Douro e Minho se encontram infetadas com o vírus do enrolamento foliar da videira o que dificultava a observação visual da sintomatologia típica da FD. Por outro lado, como o fitoplasma possui um período de latência em videiras infetadas entre um a três anos com a ausência de sintomas (DGAV, 2013) seria possível haver já videiras infetadas mas ainda sem análise positiva. Em 2006, foi detetado o fitoplasma quer no vetor quer em amostras de videiras provenientes da região do Entre-Douro e Minho (Amares) nas castas Loureiro e Vinhão, usando as técnicas de nested-PCR e RFLP (Sousa et al., 2007). A partir desse momento a DRAPN intensificou a prospeção e verificou que o inseto apresentava uma grande dispersão no Entre-Douro e Minho. Em 2010 surge o primeiro caso positivo de FD em videiras no Douro, em Vila Real, e em 2012 o segundo caso positivo em São João da Pesqueira (DGAV, 2013). É importante referir que neste último caso apenas foi detetada a doença e nunca foi capturado S.

titanus.

Face ao alargamento em 2011 da prospeção de S.titanus e da FD a viveiros e a campos de pés-mãe, em 2012 foram detetados dois casos positivos de FD provenientes de duas parcelas de vinhas-mãe de garfos pelo qual foram excluídas do processo de certificação (DGAV, 2013). Em 2013, na região do Douro, não foram encontrados casos positivos. A prospecção da FD é realizada anualmente e verifica-se que na região do Entre-Douro e Minho o número de casos positivos tem aumentado, sendo, em 2013, confirmadas mais 54 freguesias na presença do fitoplasma da FD (Mesquita, 2014).

Face à deteção da FD, em 2006, em duas vinhas do Entre-Douro e Minho e tendo presente os prejuízos que este agente patogénico provoca no setor vitivinícola, teve-se a necessidade de elaborar medidas adicionais para além da legislação geral fitossanitária cujos objetivos assentam na erradicação do fitoplasma e no controlo da dispersão do inseto vetor dando origem à Portaria nº 976/2008 de 1 de setembro, atualmente revogada e publicada a Portaria 165/2013 de 26 de abril que vigora até à data (Anexo 1). Assim, anualmente, é publicado por despacho do Diretor Geral de Alimentação e

Veterinária, a lista dos concelhos e das freguesias onde consta a presença da FD e/ou do inseto vetor.

O diagnóstico da doença deverá ser feito o mais cedo possível com o objetivo da cigarrinha não se alimentar em videiras infetadas. Caso se verifique um caso positivo a videira deve ser imediatamente arrancada mas como em muitas vezes se estabelece um paralelismo com o pico das práticas culturais, a falta de disponibilidade do viticultor poderá ser elevada. Quando assim é, o viticultor deverá cortar de imediato a vegetação de modo a que S. titanus não se alimente nessa cepa e no outono/inverno deverá proceder ao arranque e queima da mesma (Constant & Lernould, 2014).

Devido à dispersão da doença a nível nacional, foi elaborado o Plano de Ação Nacional para o Controlo da Flavescência Dourada (PAN-FD) por um grupo de trabalho liderado pela DGAV (DGAV, 2013); este plano de ação nacional visa a envolvência dos viticultores no combate a esta doença diminuindo assim o impacto deste agente patogénico no setor vitivinícola, elaborar estratégias que erradiquem a doença, ou caso não seja possível, fazer com que esta venha para níveis fitossanitários economicamente aceitáveis e por fim garantir a sanidade do material de propagação vegetativa da videira. Para ter uma melhor visão da realidade da dispersão da doença e do inseto a nível nacional, no âmbito da prospeção, será implementado no Sistema de Informação da Vinha e do Vinho (SIvv), gerido pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), uma ferramenta que irá permitir visualizar quais as tendências da dispersão da doença e do vetor criando ZIP`s. As ZIP`s são constituídas pelas freguesias onde se tenha verificado a FD, quer se verifique ou não a presença do vetor, juntamente com as freguesias limítrofes e não limítrofes compreendidas num raio a definir com base na informação do SIvv. Em agosto de 2013 estavam definidas nove ZIP`s a nível nacional (oito na região Norte e uma na região Centro) conforme no Anexo 2 e Anexo 3.

Para uma melhor prospeção da FD, a DGAV associada a outras entidades, têm realizado ações de formação para técnicos para que estes adquiram o conhecimento da sintomatologia mais típica da doença e do procedimento para a colheita de amostras. Por outro lado, a sensibilidade do agricultor perante este problema fitossanitário é fundamental para que a dispersão da doença e do inseto vetor seja minimizada. Como é referido no PAN-FD qualquer suspeita de FD e/ou de S.titanus tem de ser comunicada às entidades oficiais, obrigatoriamente. A prospeção do vetor em vinhas localizadas em

ZIP`s, onde ainda não tenha sido detetado, e nas zonas limítrofes vitícolas às ZIP`s, é de caráter obrigatório bem como a prospeção da FD em vinhas localizadas nas ZIP`s onde tenha sido confirmada a presença do vetor. Relativamente aos viveiros e campos de pés- mãe de garfos e de porta-enxertos é de caráter obrigatório a realização da prospeção da FD em locais onde já tenha sido detetado o vetor e quando o material vegetativo é proveniente de uma ZIP ou de outro estado membro onde exista FD (Mesquita, 2014).

No PAN-FD estão expressas medidas de proteção tendo em vista os objetivos deste plano de ação. A queima da lenha de poda, para eliminar os ovos de S.titanus diminuindo assim as populações, o fomento dos insetos auxiliares, o equilíbrio vegetativo e a aplicação de inseticidas posicionados no devido momento são as medidas propostas. Em situações que se verifique a presença da FD e seu vetor, (como é o caso das ZIP`s), é de carater obrigatório a realização no mínimo de três tratamentos insecticidas (Anexo 3). Ainda dentro das ZIP`s, mas em situações que se tenha registado reduzidas populações de S.titanus, poderá ser adotada a prática de dois tratamentos. Em locais fora de ZIP`s, ou seja, zonas onde apenas exista o vetor, apenas se realizará um tratamento inseticida obrigatório (Anexo 3). O posicionamento de todos os tratamentos a efetuar são divulgados nas circulares de avisos emitidas pelas Estações de Avisos Agrícolas onde também constam os produtos homologados e autorizados pela DGAV para o efeito; no Anexo 4 estão os produtos autorizados, à data de julho de 2014, e condições de utilização.

Também segundo o PAN-FD, quando o fitoplasma é detetado pelos testes de diagnóstico nos laboratórios oficiais, essas videiras deverão ser arrancadas e queimadas, bem como todas as cepas na mesma parcela que manifestem sintomas idênticos às infetadas, até ao dia 31 de março de cada ano. Este arranque e destruição é controlado pelas entidades oficiais em pelo menos 40% das parcelas autenticadas com cepas de resultado positivo. Caso não se verifique o cumprimento das medidas de proteção fitossanitárias relativas a este agente patogénico aplicar-se-á medidas sancionatórias expressas no Decreto-lei nº 154/2005. A colheita das amostras realiza-se de acordo com o PAN-FD não sendo necessário recolher amostras de videiras que apresentem sintomas caraterísticos da doença caso já se tenha confirmado o fitoplasma em videiras anteriormente diagnosticadas na mesma parcela ou em parcelas contíguas bem como se a distância for inferior a 1000 m da vinha em que o resultado foi positivo dando-se

assim declarado como oficial a presença do fitoplasma. Em parcelas que ultrapassem uma infeção superior a 20% das cepas totais, todas as videiras deverão ser arrancadas, mesmo que não exibam sintomas, pois é considerado um importante foco de dispersão da doença (DGAV, 2013).

Relativamente aos viveiros, estes devem ser instalados com uma distância mínima de 300 m a parcelas assinaladas como positivas mas caso não haja alternativa deverá colocar-se uma rede protetora contra o inseto. Caso seja confirmada a presença oficial do fitoplasma em viveiros a planta deverá ser destruída assim como as que tiverem os mesmos sintomas, e o inspetor oficial deverá realizar um estudo de rastreabilidade a esses lotes para tentar identificar a origem da infeção. As plantas que não manifestem sintomas desse lote poderão ser submetidas ao tratamento por água quente, método oficializado pela OEPP-EPPO (OEPP “PM10/18(1)”). Este tratamento consiste na imersão do material vegetativo, quer porta-enxertos quer garfos, a uma temperatura de 50 °C durante 45 min e permite a destruição do fitoplasma e de ovos de S. titanus.

As plantas tratadas com água quente apresentam um atraso no abrolhamento cerca de duas a três semanas, no entanto no final do ciclo vegetativo essa diferença não se verifica. Este tratamento não corresponde a uma “vacina”, pois a videira pode ser posteriormente contaminada pelo fitoplasma da FD no campo através do processo de alimentação de S. titanus infetado (Constant & Lernould, 2014).

A monitorização de S. titanus é obrigatória em todos os viveiros e todos aqueles que fiquem situados dentro de ZIP`s também é obrigatório a realização de tratamentos inseticidas contra o vetor da FD com os produtos homologados nas devidas ocasiões. O tratamento obrigatório estende-se a todos os viveiros de onde o material vegetativo seja proveniente de locais onde se confirme a presença de S.titanus caso esse material não tenha sido submetido ao tratamento por água quente (DGAV, 2013).

No caso dos campos de pés-mãe de porta enxertos, o tratamento por água quente é obrigatório dentro das ZIP`s visto que estes poucas vezes exibem os sintomas. Em plantas-mãe de porta-enxertos a sintomatologia pode não estar presente em todos os ramos mas o material originado dessa planta-mãe contém o fitoplasma sendo assim um método de transmissão eficaz (www.inra.fr).

Quando se verifica oficialmente a deteção do fitoplasma, essas plantas devem ser destruídas e a certificação e emissão do passaporte fitossanitário é suspenso até, pelo menos, dois anos sem que haja resultados positivos. É proibida a plantação de um campo de pés-mãe de porta-enxertos com uma distância mínima de 300 m a uma parcela onde tenha sido detetado o fitoplasma nos dois anos seguintes ao arranque (DGAV, 2013).

Conforme referido em Mesquita, 2014 e DGAV, 2013, perante um resultado oficial positivo, em campos de pés-mãe de garfos, não pode ser retirado material desse campo durante duas campanhas consecutivas sem sintomas. A certificação e emissão de passaporte fitossanitário fica suspensa e as medidas fitossanitárias aplicadas são as mesmas das vinhas em produção. Como no caso dos campos de pés-mãe de porta- enxertos também é proibida a instalação de campos de pés-mãe de garfos numa distância inferior a 300 m a uma parcela onde tenha sido detetado oficialmente o fitoplasma nas duas campanhas seguintes ao arranque das videiras infetadas. Um campo com uma distância inferior a 1000 m a uma parcela onde tenha sido confirmado oficialmente o fitoplasma, todo o material de propagação vegetativa tem de ser submetido ao tratamento por água quente quer no ano da deteção quer nos dois anos seguinte ao arranque das cepas infetadas. Nesta situação se não se verificar a presença do vetor a distância é reduzida para 300 m.

Quer em campos de pés-mãe de porta enxertos, quer em campos de pés-mãe de garfos a monitorização de S.titanus é obrigatória e se estes tiverem situados dentro das ZIP`s os tratamentos inseticidas são obrigatórios de acordo com os produtos homologados e aplicados na devida altura de acordo com os Serviços de Avisos Agrícolas. Os agentes económicos devem registar a data da aplicação bem como o produto e as doses utilizadas.

Relativamente às videiras abandonadas é de carater obrigatório o seu arranque e destruição das mesmas pelo fogo dentro das ZIP`s onde o inseto esteja presente. Caso se efetue os tratamentos contra o vetor nessas vinhas com os produtos homologados de acordo com as circulares emitidas pelos Serviços de Avisos não é necessário arrancar as videiras (Portaria nº 165/2013 de 26 de Abril).

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