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A doutrina da tolerância e a liberdade de consciência

No documento ADELAIDE MARIA MURALHA VIEIRA MACHADO (páginas 160-170)

PARTE 2. O INVESTIGADOR NA EUROPA E NO MUNDO

2.3. A doutrina da tolerância e a liberdade de consciência

Era neste quadro que a tolerância ocupava um lugar central e determinante, na ideia do todo político e social que o jornal pretendia expor e afirmar. Fundamental para a compreensão de uma religiosidade, que para além de a incorporar na própria definição 500 “Pelo direito comum têm, e sempre tiveram os metropolitanos o direito reconhecido de

confirma erritórios, e este mesmo direito foi ainda sancionado pelo Concílio Ecuméni

IP, Vol. XVIII, p. 248 rem os bispos dos seus t

co de Basileia; que dificuldades podem logo haver nesta prática, e porque não se há-de impedir não se renovem ainda, uma vez ou outra, factos iguais ao que, tão afrontoso para El Rei N. S. e para a nação Portuguesa, acaba de acontecer com a confirmação do sábio e benemérito actual Prelado de Évora?”IP, Vol. XVIII, p. 247

501 IP, Vol. XVIII, p. 249 2

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de suje

o será expressa falta de caridade roubar a paz de consciê

ito, lhe atribuía uma conotação dicotómica, fazendo-a, por um lado, derivar da caridade cristã, enquanto amor do próximo, e por outro, incorporava-a na panóplia de deveres e direitos em sociedade, em independência da crença de cada um503.

A partir destas constatações, várias questões são equacionadas em ligação com a que se iniciou o tema, e dela derivando, da essência como consciência para uma mundividência de liberdade. A evolução radical verificada na separação entre indivíduo, enquanto espécie, e as opções de crença que o contextualizavam, eram verdade e consequência, para a separação entre a fé dos indivíduos e o regime que os governava.

“A liberdade de consciência, longe de ser contrária às leis da Igreja, é segundo entendemos muito conforme com ela, porque está fundada sobre a caridade cristã, sobre a impossibilidade moral e religiosa de uma única crença no Universo; e sobre as leis gerais da providência de Deus, ou regulamento constante do mundo moral... Não será pois então, neste caso, conforme com a religião cristã a tolerância de todas as religiões dentro do mesmo Estado; assim com

ncia, e todos os direitos civis e políticos aos indivíduos que forem de diferente comunhão da nossa? E não é, além disso, corroborar a intolerância judaica, tão reprovada por J. Cristo, fazer com que os homens, que não pensam como nós em matérias de fé, sejam excluídos dos mesmos benefícios e bens sociais de que gozamos? A caridade cristã, única base da redenção do género humano, e da religião divina que lhe trouxe essa mesma redenção, proclama por conseguinte a tolerância religiosa como necessária para a paz do mundo para o cumprimento das vistas de Deus, e para felicidade temporal dos Estados.”504

O ponto de vista do redactor, assumido como cristão, reforçava a abertura necessária, que as contingências histórico-políticas não deviam obscurecer, antes ajudavam a clarificar505. Assim, a propósito da publicação de extractos da obra de

503 “Uma coisa é bem extraordinária, que vendo os Eclesiásticos quanto Deus é tolerante, e até

em sofrer muitos deles; pois que até permite e tolera no mundo toda a diversidade de opiniões, e dá tanto ao judeu como ao gentio, tanto ao católico como ao protestante e ao incrédulo o mesmo ar para respirar e a mesma istirem no mundo; ainda assim mesmo a sua soberba seja tal que se arroguem

ário, para assim

dizer, um ens querer ser mais sábios ou mais

comida e vestido para ex

maior poder e autoridade do que exercita a Divindade.”IP, Vol,XIV, p.545

504IP, Vol.XVIII, p.533/4

505 “Nós já o dissemos alguma vez, e agora o repetiremos, que uma crença universal em matérias

religiosas não só é moralmente impossível, porque de facto nunca se acham dois homens que pensem da mesma maneira nas coisas mais indiferentes da vida; e como se pode então pretender que milhões de indivíduos tenham uma e a mesma crença religiosa? É contrária aos princípios de fé católica, porque é Artigo de fé, que, em ordem à salvação, o homem nem sequer pode desejar [itálico no texto] o bem sem uma graça muito especial de Deus. Logo para haver uma só e única religião é necess

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Joseph Fievée506, História da Sessão de 1816, o redactor, reflectindo a partir de uma frase do autor francês, na qual este afirmava que, se antigas liberdades dos franceses não tivessem sido aniquiladas pelo poder absoluto dos reis a revolução, não teria acontecido, elaborou um resumo da história política e religiosa, para demonstrar as verdadeiras causas das extraordinárias mudanças ocorridas na Europa, nos últimos séculos.

“Tem havido modernamente duas grandes revoluções, que transtornaram, por assim

o? Foram os filósofo

stear a magnificência romana, lançara, como mercadoria para o mundo cristão

s “dragonadas” de Luís XIV, coincidindo com o poder dos cardeais ministros, primeiro Richelieu, depois Mazarino com Luís XV, e a consolidação do absolutismo

dizer, os antigos hábitos, costumes e leis, que por muitos séculos regeram a Europa; e uma destas revoluções foi religiosa, operada pela imediata cooperação de Lutero e Calvino; e outra política, operada pela imediata cooperação do povo francês, capitaneado, se assim o querem, pelos filósofos nacionais e estrangeiros. Perguntamos agora: foram realmente causas da revolução religiosa Lutero e Calvin

s realmente a causa da revolução francesa? Para se responder a estas duas questões será preciso examinar rapidamente o que era o mundo religioso e o mundo político antes da explosão de ambas as revoluções; e só assim poderemos saber, se aqueles, a quem elas se atribuem, foram na realidade causas, ou meros efeitos de causas muito fortes, que a isso os induziram.”507

Recuando ao século X, Liberato ia seguindo a história dos papas e a sua acção perante povos e reis. Demonstrando a sua tese, através da desordem e luxo, escândalo, cismas e perseguições, promovidos pela Cúria Romana, culminava com Leão X, papa que, para cu

, as indulgências plenárias, causa próxima da revolta protestante508.

Quanto à história de França, começava-se no século XVI com Francisco I, que para o redactor marcava o início do poder absoluto com o fim dos Estados Gerais, seguiam-se referências à ambição, desgoverno e perseguições religiosas, assinalando-se a noite de S. Bartolomeu contra os huguenotes. Após um elogio a Henrique IV, “modelo dos homens e dos reis”, e ao seu ministro Sully, lembravam-se a revogação do Édito de Nantes e a

austeros do que é a Providência? A tolerância religiosa é pois um dever social, a que estão sujeitos todos os homens, não só como indivíduos, mas como nações ou governos.”IP, Vol.XIX, p.534

-1839), publicista e ensaísta francês.

rá decidir sem erro, se eles

foram ca ção religiosa da Europa.”IP, Vol. XX, p.106

506 Joseph Fievée (1707 507 IP, Vol. XX, p. 102

508 “Mas eis que o mundo acorda, e à sua frente se põem Lutero e Calvino, que executam a

grande revolução religiosa da Europa. Perguntamos agora, foram causas, deste espantoso transtorno os dois pregadores citados, ou meramente efeito de causas já existentes, e de muito antes preparadas? Lance- se a vista imparcialmente para traz, antes de Lutero e Calvino, e então se pode

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contra

elementos se iam ac

tencionados: mas qual era o objecto contra que escreviam tanto uns como outros?

povo deveria sempre ser autómato insensível sem olhos,

vém, portanto, ressalvar que a tolerância implicava o aceitar da existência de desaco

desão individual seria válida para qualquer delas, teríamos o fundamental da agenda do jornal

os parlamentos franceses, e todas as formas de poder, que ao absoluto se opusessem.

“O que merece notar-se com muita atenção é, que ao passo que os

umulando para formar as duas revoluções, religiosa e política, cresciam rapidamente as luzes tanto na Europa como em França; e por conseguinte todas essas acções, que noutras épocas se faziam, por assim dizer, às escuras, eram agora perpetradas à luz do meio-dia, e vistas por todos. O povo já conhecia mais porque sentia mais: e neste estado de coisas a desaprovação pública se tornava mais forte e mais geral.”509

Os chamados filósofos e escritores, começavam a despertar o interesse, reflectido no número de leitores, e a provocar, na troca de opiniões e debates em espaços públicos e privados, o descontentamento geral e a crítica política.

“É indubitável também que entre esses escritores haviam homens de boa fé e homens mal in

Um objecto comum: - as desordens das finanças do Estado; os tributos enormes; a corrupção pública da corte; os insultos cometidos contra a liberdade individual, e a dos Parlamentos por meio de letras de cachet, e outros actos igualmente arbitrários; e enfim, a intolerância religiosa, que cometia desacertos e despotismos tão fortes como as autoridades civis e políticas… e o

nem ouvidos nem língua? Exigir isto, era querer mais do que a natureza humana é capaz de praticar… Contentaram-se com queimar os livros, desterrar os autores, sem se lembrarem, que esta operação não queimava a consciência e as ideias dos homens.”510

Con

rdo, e essa aceitação, seguida de uma atitude de diálogo ou consenso, criando um espaço de opinião e debate, configurava uma sociedade de homens livres e autónomos; ao mesmo tempo que a verdade, como ideia reguladora, surgiria inevitavelmente do livre confronto de práticas e ideias.

Se ao respeito pela consciência e autonomia de cada um, e dele decorrente, juntássemos a separação das esferas política e religiosa, lembrando que só a livre a

509 IP, Vol. XX, p. 112 510 IP, Vol. XX, p. 112/3

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e do se

a diversidade de opinião era intrínseca à natureza human

franceses, mesmo contra a vontad

, pelo reconhecimento da sua liberdade de u redactor, bem como a bagagem que transportava consigo para o debate político de ideias.

Assim, a argumentação religiosa a favor da tolerância surgia paralela com a fundamentação política, porque

a. Se pensarmos na defesa da tolerância que vinha a ser feita desde Bayle511, Locke512 ou Voltaire513, reforçada nos textos que acompanhámos de Rousseau e Mercier, percebemos que, mesmo salvaguardando as diferenças entre países, um longo caminho teria ainda de ser percorrido, e que nunca era demais insistir no assunto.

Quando o rei de França, Luís XVIII, aprovou, como artigo da Carta Constitucional, a liberdade de consciência para todos os

e de Pio VII514, Liberato publicitou o facto, dando relevo à sua importância política para todos os governos.

“Eis aqui pois agora o Filho mais velho da Igreja [o rei de França] defendendo um princípio que não parece o mais ortodoxo ao Pontífice Romano; e como esta questão pode muito bem servir de regulamento político para outros países, bom será que digamos sobre ela alguma coisa. Nós, ainda que respeitamos como devemos, o alto carácter e dignidade do chefe da Igreja, também ousaremos ser contra a sua opinião; e desta vez nos poremos pela parte do Monarca Francês.”515

Seguindo o exemplo de Cristo na crítica à intolerância, e baseando a conduta dos crentes no exemplo prático e na palavra de Jesus, definiu o próximo516, não só como todo e qualquer ser humano, mas também, como o concidadão, isto é, para além do amor e respeito cristãos a ele devido

511 Pierre Bayle, Ce que c’est que la France toute catholique, sous le règne de Louis Le Grand,

Paris, 1973

512 John Locke, Carta sobre la tolerância, 1988 513 Voltaire, Traité sur la tolérance, Paris, 1989

514 “S.S. o Pontífice Pio VII, parece ter dado a entender que muito se tinha escandalizado com

alguns artigos da Carta Constitucional, relativos à liberdade de consciência, julgando-os como contrários às leis da Igreja, e aos princípios religiosos que o Rei sempre tem manifestado. O monarca francês julgou então do seu dever declarar publicamente, por meio do seu ministro quais tinham sido as suas intenções a este respeito; e em virtude delas ousou manter a sua primeira opinião, apesar de não ser conforme com a opinião de S. Santidade.”IP, Vol. XIX, p. 532/3

515 IP, Vol. XIX, p. 533

516 “O pregador, o chefe, e instituidor da religião cristã quis unir os homens pelos laços mais

fortes do amor e caridade; e para isso proclamou a grande e sublime máxima moral do ilimitado amor do próximo, fazendo ver que o próximo não eram só os nossos parentes e amigos, ou os homens da mesma religião ou princípios, mas todo o género humano, quaisquer que fossem suas opiniões ou pensamentos. Esta dou na não só foi a obra da palavra, porém, do exemplo.”IP, Vol. XV, p. 333 tri

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consciê

filho mais velho da Igreja parece que os seus escrúpulos devem cessar;

ribunais e Autos de fé520, já banidos da maioria dos países europe

ncia que incluía a liberdade de culto517, e o direito ao usufruto de todos os direitos e deveres políticos e sociais, por parte dos membros das minorias religiosas518. Esta mensagem terminava com um comentário dirigido ao governo português no Brasil, onde se esperava que o exemplo do monarca francês fosse seguido.

“Consta-nos que no Reino do Brasil já se quis também promulgar uma lei sobre a liberdade de consciência, que na verdade lhe seria assaz proveitosa, porque removeria plenamente todos os sustos daqueles Europeus que para ali desejassem emigrar; e que a publicação desta lei liberal e política fora embaraçada por pessoas escrupulosas, em razão de a considerarem contrária às leis de Deus e da Igreja. Agora à vista do exemplo do Rei cristianíssimo e

porque, se esta lei não é considerada herética em França, hoje governada pelos Bourbons, como poderá ser considerada como tal no Reino do Brasil, governado por um Rei fidelíssimo? Um bom exemplo vale às vezes mais do que um grande livro; oxalá que ele aproveite.”519

Na verdade, o Reino Unido de Portugal e Brasil estava ainda a braços com o Santo Ofício e com os seus T

us, excepção feita a Portugal, Espanha e Itália. Constava, no entanto, que no Brasil não se iria permitir a sua instauração, de modo que a notícia vinda de Roma, de que a tortura estava banida desse tribunais pelo Papa, deixou o redactor do Investigador entre perplexo e indignado.

“Não se envergonha um Pontífice Romano, um sucessor de S. Pedro, de confessar ainda agora ao mundo que a Inquisição aplicava a tortura? É verdade, que toda a gente bem o sabia, mas é vergonhoso para quem se diz vigário de um Deus de

517 “Sim, porque não hão-de ter templos em Portugal, os protestantes de todas as nações, e até os

mouros e judeus? Se os diferentes indivíduos destas religiões ali são admitidos, porque não lhes há-de ser permitido adorar a Deus a seu modo.”IP, Vol. XIV, p.544

518 “As leis gerais da providência divina estendem-se a todos os indivíduos de toda a crença e de

todas as opiniões: sobre todos eles reparte igualmente Deus o sol e a chuva, o vestido e o sustento; e numa palavra a todos confere os seus benefícios, sem atenção a serem Católicos, Protestantes, Judeus, Turcos ou Gentios… A to

Jesus Cr

perseguição ao ateu.

520 “Espectáculo ímpio, dado em nome da religião de um Deus de amor e caridade.”IP, Vol. XV,

p.532/3

lerância religiosa é pois muito conforme com a caridade cristã, pregada e praticada por isto; está fundada na impossibilidade moral e religiosa de uma crença universal; e entra no plano das leis gerais da providência de Deus, ou regulamento constante do mundo moral. Além disto, é política e civilmente necessária para a felicidade dos Estados. Se neles, por interesses mundanos, se admitem indivíduos de todas as religiões, e se os governos não têm escrúpulos de viverem com eles, e de se aproveitar de suas riquezas, braços e indústria, porque o terão de os deixarem adorar a Deus a seu modo, e de lhes conceder todas as prerrogativas civis e políticas, a que têm direito como homens e como cidadãos?” IP, Vol. XIX, p. 535. Embora rejeitasse o ateísmo como anti-social, Liberato, não admitia a

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paz e humildade, declarar que por grande mercê, que faz aos homens, a Inquisição não continuará a despedaçar como até aqui membros humanos para extorquir revelações, quase sempre filhas ou da desesperação ou da fraqueza. E os cárceres, e os processos misteriosos, e ocultos não são ainda também outra espécie de tortura que sempre perman

políticos por que a Europa e a Am

a tentativa de Fernando VII em restaurar o absolut

duas esferas de acção, e não seriam possíveis se a independência entre religião e política

tolerância, reflectida no número de artigos e reflexões to, estava plenamente justificada se nos lembrarmos de que a sociedade ece enquanto houver Inquisição. Pio VII, obraria com espírito mais cristão se aniquilasse este monstruoso Tribunal; a graça que agora pretende fazer ao mundo, parece mais filha de uma piedade irónica, do que de um verdadeiro amor do próximo.”521

Não era possível, depois de todos os acontecimentos

érica tinham passado, do nível de debate que se estabelecera em torno de possíveis soluções políticas para as nações envolvidas no Congresso de Viena, um retorno ao passado que alguns configuraram logo após derrota de Napoleão, nem mesmo para países com atraso estrutural como Portugal. O que se passava em Espanha, com a reposição da dinastia reinante e com

ismo, acompanhada das perseguições religiosas e políticas, funcionava como o exemplo do que não deveria acontecer.

As perseguições religiosas, aqui personificadas na Inquisição522, misturavam as

fosse atingida, como a vanguarda ilustrada da Europa pretendia, e de que alguns países serviam já de exemplo. Aí, a tolerância abrira espaço para o aparecimento de uma opinião pública bem informada, educada e participativa523.

A importância dada à sobre o assun

que se pretendia divulgar como justa e livre, teria que assentar, num primeiro momento, no encadeamento político entre liberdade de consciência, liberdade de pensamento e consequentemente liberdade de opinião524.

521 IP, Vol. XV, p. 346/7

cípio cristão,

la seja, é tão injusto no seu

522 “A Inquisição foi um monstro em política e em religião... As bases da Inquisição foram pois a

intolerância, e para acabar com aquela é preciso aniquilar esta. Enquanto se não admitir como prin político e filosófico, que a tolerância das opiniões humanas é não só uma virtude, mas uma lei absolutamente necessária no estado social, as inquisições existirão sempre de direito, e de facto, porque concedendo-se a um inquisidor a prerrogativa de circunscrever os limites do entendimento humano, com ela também se lhe concederá a outra imediata – de punir e queimar os indivíduos que ousarem trespassar esses limites.”IP, Vol. XV, p. 329

523 “Inglaterra com razão se pode chamar o tribunal supremo da opinião pública do mundo.”IP,

Vol.XV, p.335

524 “A intolerância é a mais horrorosa de todas as tiranias humanas, e ela está fundada num dos

vícios mais vergonhosos do homem, que é a vaidade ou soberba. O homem, que se atreve a perseguir ou castigar outro homem porque não é da sua opinião, qualquer que e

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O respeito pela autonomia525 configurava uma sociedade que permitia o pleno desenvolvimento das capacidades de todos os seus membros, e principalmente, sendo o reverso

ava-se, em termos morais, a ideia contratual da tolerância, que partia da eviden

da medalha da intolerância generalizada526, retratava a única possibilidade de existência de uma sociedade pacífica e laboriosa, cujo valor moral supremo seria a própria vida.

Reforç

te diversidade natural para uma unidade diferente527, mais verdadeira, ou capaz de vir a produzir a verdade, porque mais próxima do que era justo, no sentido do que estava certo.

Base da moral pública, e alimentado pela mesma fonte, o direito público528 e as leis dele extraídas deviam funcionar como cimento equitativo, que nivelava para além das diferenças529, ao mesmo tempo que interessava o todo social na sua execução.

A publicação no jornal de uma Memória censurada em Portugal530, da autoria de

Francisco de Melo Freire531, sobre delitos e penas, isto é, sobre a necessidade urgente

procedim porventu

“A natureza que caracteriza os homens com variedade infinita de formas exteriores, também essencialmente os distingue no interior por outra variedade não menos infinita.”IP, Vol. XV, p. 330

526 “As máximas de perseguição e intolerância são boas para os governos essencialmente

bárbaros e tirânicos, porque este sistema promove as perseguições, as vinganças, os roubos legais, e as prisões; e em tudo isto acham semelhantes governos, um fundo inexaurível de riquezas parciais, com que engorda

desenvolvimento das faculdades intelectuais, porque cada um esconde as

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