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A dualidade rural/urbana: diferenças que se complementam

CAPÍTULO IV METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

V. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE DE CONTEÚDO E DISCUSSÃO

V.2 Apresentação dos resultados

V.2.1 A dualidade rural/urbana: diferenças que se complementam

O espaço rural é visto pelas entidades entrevistadas como um espaço de baixa densidade

populacional, alvo de alguma desertificação, onde a natureza prevalece, oscilando entre

o rural profundo e o extremo urbano que Viseu representa.

Os GAL abordam o espaço rural da região VDL com a identificação física e

caraterísticas morfológicas que lhe conferem uma grande diversidade de paisagens mas

também uma mais-valia em termos de reservas de águas nacionais, por abrigar as principais bacias hidrográficas do país (GAL 2). A intervenção humana ainda é visível, sendo esta uma região de micropropriedades, onde os habitantes da zona rural praticam uma agricultura de subsistência, apesar de um certo abandono dos espaços com maior escala, notificada pelos atores regionais (GAL3). De um ponto de vista demográfico, a

baixa densidade é um facto assumido em VDL como o salientam os GAL 1, 2 e 3, a EPu

1, onde a “dinâmica de emigração” (EPu 1) contribui para o fenómeno de “desertificação em algumas freguesias” (GAL 1). Este é apontado como sendo o resultado de taxas de

desemprego altas e da pobreza que lhe é inerente (GAL 3). Observa-se mais esta situação

em concelhos considerados de “rural profundo […] nomeadamente Castro Daire, até o próprio concelho de S. Pedro do Sul, que é toda a parte ligada à Serra da Freita” (GAL 3). Para as CM1, CM3, CM4, EPu2 e EPr3 a referência ao espaço rural é a “paisagem

natural” ou “natureza”, “por ter zonas de florestas, de montanhas, de rios.” (EPu2) ,

contrastando com as CM2, CM5, EPr1 que orientam mais o discurso para uma ruralidade representada pela “autenticidade, e pelas vivências e experiências” que este espaço pode proporcionar. Apesar da CM3 mencionar a situação de desemprego acentuada, situação já citada pelo GAL3, o lado autêntico da ruralidade mantém o interesse das autarquias, sendo este aproveitado para fins turísticos.

A CM 1 reforça que o território “prende-se muito […] com a dinamização das nossas paisagens”, ou seja a preservação “o lado rural, situações genuínas, aspetos diferenciadores” (CM2) e o facto de privilegiar uma experiência de vida ao turista (CM2, CM5), mais aberto ao contato com os autóctones. As EPr1 e EPr2 introduzem um elemento relevante desta região que também é o resultado da valorização do espaço rural através da agricultura. Assim, considerando que a região VDL possui “cerca de 40% do termalismo

79 a emergir como uma aposta crescente na região, começa-se a vislumbrar o perfil da região em termos turísticos.

Outro aspeto do espaço rural foi abordado pela CM3 e pela CM4, com a questão da

imagem que o espaço rural transmite, considerando que existe “um desleixo completo”

(CM4) e “uma paisagem mais ao abandono” (CM3), que não valoriza o potencial deste espaço, nem “preserva a sua autenticidade” (CM5), contrapondo assim o argumento da importância da autenticidade do espaço rural em VDL.

Contudo, a CM3 denota um regresso à terra pelos jovens que se traduz pelo aumento de candidaturas aos fundos comunitários (GAL 1) no sentido de criar ou dar continuidade a uma exploração agrícola.

O discurso sobre o espaço rural está sem dúvida ligado ao discurso sobre o espaço urbano, representando estes dois espaços mosaicos constituindo um todo, reconhecido na unanimidade como dois espaços complementares pelas entidades entrevistadas.

Face à preponderância de Viseu, todas as entidades concordam: “Viseu, polo atractivo” refere o GAL1, “peso significativo que é o caso de Viseu” (GAL2), “Viseu que se destaca” (GAL3), “Viseu […] elemento atractor e atractivo” (GAL4), “meio cosmopolita como o é Viseu” (CM1), “polo de atração […] sobretudo a cidade de Viseu” (CM2), “ o caso de Viseu, sede de distrito com outra escala” (CM4), “um aspeto de urbanidade acentuado […] como Viseu” (CM5), “constelação urbana Viseu” (EPu1), “Viseu é incontornável, sendo a maior (cidade)” (EPu2), “grande centralidade de Viseu” (EPr1), “tem uma cidade que polariza […] que é o caso de Viseu” (EPr2).

Repara-se a noção de centralidade e de atratividade de Viseu, por estar a uma “distância tempo […] rápida” (GAL1) e assim permitir o usufruto dos serviços propostos na cidade em questão, mas também de um “território acolhedor, no meio da natureza, sem a confusão e sem trânsito” (GAL1). A CM5 reforça que “há muita gente que faz opção de morar num espaço rural e de se deslocar para um espaço urbano onde trabalha”, sintoma da inegável ligação entre os espaços rurbanos.

Os GAL referem a existência de “outros centros mais pequenos não com a mesma representatividade” (GAL3), ou seja, trata-se de “núcleos urbanos que têm funções de nível hierárquico inferior a Viseu” (GAL2).

80 Os núcleos urbanos secundários mais citados pelos entrevistados são Mangualde,

Tondela e S. Pedro do Sul, cada um com caraterísticas distintas que os posicionam

como “polos de atração e polos diferenciadores” (CM2).

Mangualde tem “três indústrias que atraem imensas pessoas” (CM3) “no setor automóvel

[…] na área da confecção” (EPu1) cuja “capacidade de atractividade em termos de empresas e emprego” (EPu1) é notável na região.

Tondela também se distingue pela indústria presente no seu território, constituindo “uma

malha urbana que é uma fonte de atração em termos de residência” (CM2), com “grandes empresas que são responsáveis em termos de exportações, que contribuem muito para o total das exportações da região Centro” (EPu1).

S. Pedro do Sul por sua vez, tem o “termalismo e até, alguma agro-indústria ligada à parte

dos frangos” (GAL3) que participa na definição da sua parte urbana.

Destaca-se a CM3, que menciona Viseu como uma cidade importante que polariza

demasiado o espaço da região, retirando algum protagonismo aos outros polos urbanos

ditos secundários.

Em suma, o lado urbano da região VDL é caraterizado pela presença de uma malha

habitacional mais densa, assim como a presença de empresas que vão atrair através da criação de postos de emprego (GAL1, EPu1), agregando os “equipamentos básicos fundamentais para as populações, nos diversos domínios da saúde, educação, transportes” (GAL2), com uma “parte histórica” (GAL4), onde o “património arquitectónico e cultural” (CM1) “têm importância fundamental” (EPr1), sendo parte integrante dos espaços urbanos.

Pelo contrário, a CM4 argumenta que o espaço urbano não será “uma mais-valia neste

território […] tirando o caso de Viseu”, pois apesar de possuir “algum património cultural”, é primordial neste território “aproveitar toda a natureza” para “ganhar enquanto turismo urbano”.

Salienta-se ainda a predominância da cidade de Viseu como espaço urbano polarizador,

que “concentra um conjunto vasto de valências” (GAL2), e possui “um castro antigo” (GAL4), evidenciando que Viseu é “uma cidade muito antiga com muita história […] tentando valorizar o que tem” (EPu2), prova do seu dinamismo e potencial turístico esmagador, em termos culturais.

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