• Nenhum resultado encontrado

2 ESTADO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA

2.2 ESTADO, PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA

2.2.1 A economia da borracha na Amazônia: impactos e rebatimentos para a

A extração da borracha faz parte de um dos ciclos econômicos com o objetivo de implementar o desenvolvimento da Amazônia, posterior ao ciclo da extração de “drogas do sertão”. De acordo com Homma (1992, p. 169), a valorização da extração da borracha como recurso econômico inicia em 1882 a 1850; de 1850 a 1912 passa a atender a demanda internacional; de 1939 e vai até 1945 a extração da borracha retoma sua importância como produto estratégico depois de um longo período em baixa. A considerar estes contextos, a Amazônia é incluída no cenário nacional com possibilidades de contribuir para a arrancada da economia. A produção gomifera foi a segunda tentativa neste sentido. Essa economia teve o seu boom estendido por três décadas (WEINSTEIN, 1993, p. 89). Esta autora realiza uma comparação entre a economia cafeeira e a gomifera destacando que a primeira desenvolveu-se

[...] no início às custas do trabalho escravo e posteriormente com a imigração européia subsidiada pelo Estado alcançando as bases do desenvolvimento regional. E com a evolução de uma economia de trabalho assalariado em São Paulo, fazendo crescer o mercado interno e a circulação de bens, e ampliando as oportunidades de investimento em indústrias urbanas e em transporte, acabou pôr permitir que aquele estado emergisse como principal centro de atividade agrícola e industrial do Brasil. Em contraposição, a expansão do negócio da borracha não levou a esse tipo de mudanças qualitativas a organização da vida econômica da Amazônia [...] O malogro das elites da Amazônia em criar uma economia próspera e diversificada resultou desfavorável para elas em comparação com as elites de São Paulo (WEINSTEIN, 1993, p. 12).

As diferenças entre esses dois momentos da economia agrícola e extrativista são notórias. É demonstrado que quando ocorre, por parte do Estado, investimento de maneira séria e eficiente, planejamento, vontade política e responsabilidade social, com a força que tem esta expressão, é possível alcançar as bases do desenvolvimento regional.

As evidências do insucesso da economia da borracha, permeada de quedas e altas de preços, na tentativa de alcançar uma certa estabilidade nacional e mundial foram seguidas de uma série de medidas legais. Dentre estas, a criação de órgãos como: Superintendência de Defesa da Borracha, Instituto Agronômico do Norte (IAN), transformado na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Serviço Especial de Mobilização de Trabalhador, Banco de Crédito da Borracha, posteriormente transformado em Banco da Amazônia (BASA), SPVEA que se transformaria em SUDAM dentre outros, que pouco contribuíram para o seu fortalecimento e consolidação. O problema econômico desta época vinculava-se ao modelo de economia extrativista que não conseguia readaptar-se às mudanças nacionais e internacionais. Um dos problemas a ser destacado neste processo é a desvalorização do trabalho extrativista e sua conseqüente exploração. Para Simonian (2003, p. 04), a produção extrativa dos balatais

[...] em tal contexto, de fato, marcado pela persistente acumulação primitiva do capital (MARX, [1867] 1946), as relações de trabalho só poderiam constituir-se como aviltamento de direitos, para não dizer simplesmente desumanas. Na Amazônia da economia extrativa, essa tendência se reatualiza, facilitada pelo sistema de aviamento e por um modo em que condições opressivas, de exploração quase extrema e de repressão da mão-de- obra se impõem nas áreas interioranas e de fronteira.

Tal entendimento demonstra que em todas as formas de trabalho de exploração extrativa predominou as condições desumanas de trabalho e a o aviltamento a humanização do ser humano.

Dentro desta perspectiva, D’Araújo (1992, p. 42), analisando a Amazônia como local de produção gomifera, afirma que a entrada em cena da borracha de cultivo proveniente do Sudeste asiático teve um impacto arrasador para a economia da região, tais como:

9 Às custas de cinco vidas para cada tonelada produzida, a borracha representava então a expressiva parcela de um sexto da renda nacional.

9 A predominância do sistema de barracão ou de aviamento ganhou notoriedade. Modalidade de crédito introduzida no auge da produção, e que praticamente dispensava o dinheiro, submetendo o seringueiro a uma situação crônica de endividamento constante (MAHAR, 1978 apud D’ ARAÚJO, 1992, p. 42). 9 A situação de penúria em que viviam os seringueiros defrontando-se com uma

série de deficiências de saúde, educação e moradia.

9 Belém e Manaus concentraram não só a distribuição da produção como também a maior parte de vida social, econômica, administrativa e política. 9 Uma outra importante característica foi o acelerado crescimento do custo de

vida.

Estas evidências ajudam a entender o caráter secundário que tiveram os trabalhadores e trabalhadoras que davam suas vidas para que apenas uma reduzida elite, seja regional, do Centro-Sul ou internacional, tivesse acesso aos lucros e riquezas desta economia.

Costa (1993) indica dois aspectos a serem destacadas nos anos de 1920 relacionados ao papel das oligarquias amazônicas, relativo às produções da borracha: 1) o esplendor da economia da borracha foi um esplendor das oligarquias amazônicas e marginalmente, para as classes médias formadas nos grandes centros urbanos. Para os trabalhadores o período do boom não implicava diferenciação na qualidade de vida, senão pela elevação da miséria; 2) a estrutura de poder oligárquico excluía a representatividade ou subordinava a participação política de todos os demais setores, que não oligárquicos. Daí pode-se concluir que a aposentadoria como soldados/soldadas da borracha garantida aos seringueiros é ínfima diante das agruras e sofrimentos vivenciados por esses trabalhadores.

Costa (1993) enfatiza ainda que a postura das oligarquias paraenses e sua aceitação da idéia do soerguimento com base no controle estrangeiro dos meios de

produção, ilustrado pelo projeto fracassado de Henry Ford,2 que se apropriou de uma área no estado do Pará para cultivo da borracha para exportação. Tal situação há que ser entendida à luz de suas condições concretas. Nesse sentido destaca dois aspectos fundamentais: 1) a extrema fragilidade econômica em que se encontravam e a marginalidade política conseqüente no interior do bloco no poder em nível nacional; 2) o seu caráter eminentemente mercantil-exportador levava a que: a) qualquer projeto de reestruturação econômica lhes interessaria de imediato se implicasse a canalização do trabalho disponível para a produção de mercadorias de exportação e; b) fosse indiferente em relação ao controle da propriedade da terra e dos recursos naturais. Desta maneira, há que se considerar os desdobramentos que envolvem este processo para a compreensão do desenvolvimento da economia gomifera na região.

Os estudos acima descritos sobre a forma de ocupação na Amazônia no período da produção da borracha indicam a forma como são concebidos o planejamento e o desenvolvimento para a região. A ausência de uma política econômica eficiente para o extrativismo orientada pela maneira aleatória com que eram definidos leis, decretos, e criação de órgãos que dessem conta de responder pelos problemas surgidos no decorrer da implementação dessa economia gerou tantos entraves para o alcance do sucesso. Esta política, mesmo funcionando precariamente, atendia aos interesses externos do país

2

Com a crise da produção mundial da borracha, os americanos voltam-se para a Amazônia. O governo do Pará abre-se a esta possibilidade uma vez que os EUA reconhecem que este estado produz a melhor borracha do mundo. Assim sendo, entremeadas de negociações e negociatas, um decreto assinado em 1927 transfere a Companhia Ford Industrial do Brasil a concessão de 1.000.000 de hectares de terras devolutas nos municípios de Itaituba e Aveiro para uma plantação gigante de borracha no rio Tapajós, área que passou a ser chamada de Fordlândia. Tal projeto tentou ser executado, mas ao não ser considerado as viabilidades locais teve uma série de entraves que o levaram ao fracasso. Dentre eles: ausência de meios infra-estruturais, problema com a força de trabalho e relações de produção no contexto amazônico, produção e distribuição de alimentos, questões agronômicas, ausência de acumulação de conhecimento tecnológico, etc.

amparando os países industrializados na carência de matéria-prima, e as grandes indústrias do Centro-Sul do país.

A atuação do Estado, dentro deste contexto, foi no sentido de facilitar a entrada no negócio aos que tinham condições de dar retorno para a economia nacional, através de financiamentos, isenções fiscais e benefícios outros que contribuíssem para alçar a produção. Em outro momento passa a concentrar sua prioridade na expansão da indústria de artefatos da borracha. Mas em geral foi uma política que favoreceu os industriais e seringalistas e desconsiderava os seringueiros, sem a ocorrência de investimentos pesados em tecnologia adequadas ao setor, assim como em educação e qualificação profissional.

A perceber a lógica de raciocínio dos responsáveis por esta política, isto é compreensível, pois era eminentemente compromissada com a exportação e com os industriais do Centro-Sul do Brasil. Pinto (1984) retrata de maneira muito clara, a diferença entre a política adotada na Ásia, onde o Estado teve papel estruturador quanto aos seringais, promovendo a infra-estrutura, pesquisa e assistência técnica, fazendo com que as grandes plantações fossem gradualmente se inserindo aos médios e pequenos produtores. O tratamento asiático dado à exploração gomifera pelo Estado garantiu o sucesso de sua produção. Na Amazônia, nos dias atuais, ainda é visível a existência da economia gomifera, embora em menor escala e sem maior importância para a economia dos estados. Os seringueiros permanecem em situações de pobreza, sem acesso, na sua maioria, a educação, saúde, saneamento básico.

2.2.2 Os Grandes Projetos como alternativas para alavancar o desenvolvimento

Documentos relacionados