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A economia portuguesa no período antecedente à Reforma

2. Revisão de Literatura

2.7 A Reforma do IRC em Portugal

2.7.1 A economia portuguesa no período antecedente à Reforma

Desde o início do século XXI, a economia portuguesa apresentou um comportamento aquém do esperado e contrário ao desempenho verificado nos primeiros 15 anos de participação na UE. Na opinião de Martins (2014), o crescimento foi fraco, o investimento espelhou as fracas expetativas causadas, essencialmente por uma economia em depressão, o saldo da conta corrente carecia de financiamentos anuais de aproximadamente 10% do PIB, entre outros aspetos que revelavam um prognóstico desfavorável (Tabela 1).

Tabela 1: A Economia Portuguesa (2005- 2011)

No dia 7 de Abril de 2011, entre défices orçamentais contínuos e um nível de dívida pública elevada, o excesso de endividamento foi uma das principais causas do terceiro pedido de assistência financeira, solicitado por Portugal, desde o 25 de Abril de 1974 (Alexandre, Conraria e Bação, 2016).

Na verdade, segundo os mesmos autores, o elevado endividamento interno foi mais do que evidente nos prejuízos financeiros acumulados pelos bancos. Contudo, o que motivou esta crise foi particularmente o endividamento externo, na medida em que a mesma deu sinais a partir do momento em que os financiadores externos limitaram o crédito. Esta realidade fez com que o país perdesse a sua classificação no que diz respeito

Variáveis Económicas 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Taxa de crescimento real do PIB (%) 0,8 1,4 2,4 0,0 -2,9 1,9 -1,3

Taxa de crescimento da Formação de Capital Fixo (%) -0,5 -1,3 2,6 -0,3 -8,6 -3,1 -10,5

Défice Orçamental (% PIB) -6,5 -4,6 -3,2 -3,7 -10,2 -9,9 -4,3

Dívida Pública (% PIB) 67,69 68,1 68,2 71,58 83,05 93,32 107,7

Saldo da Balança Corrente (% PIB) -10,3 -10,7 -10,1 -12,6 -10,9 -10,6 -7,0

Tabela 1: A Economia Portuguesa (2005-2011)

(% / % PIB)

37 ao nível de investimento, passando de AA37, em 2000, para BBB, em 2011 (Martins, 2014).

As negociações foram conduzidas por uma equipa técnica composta pela Comissão Europeia, pelo BCE e pelo FMI, habitualmente conhecido como “troika”, das quais surgiu um extenso programa de ajustamento económico e financeiro, onde emergia uma forte consolidação orçamental, reformas estruturais ambiciosas e um fortalecimento do setor financeiro (Lourtie, 2011).

Na perspetiva de Martins (2014), este programa encontrava-se sustentado num princípio fundamental, o de provar aos credores que se encontrava em vigor um plano para reduzir o défice orçamental e, ainda, que a dívida pública era sustentável. Adicionalmente, o autor advoga que o ajustamento fiscal proveniente deste programa foi efetuado de forma mais evidente nas despesas públicas, sendo que 2/3 dependiam da redução das despesas e 1/3 de aumentos dos impostos ou de ampliação da base tributária.

Por intermédio da Tabela 2, para os anos de 2012 a 2015, verifica-se que as previsões apontadas no Memorando de Entendimento indicavam um considerável crescimento económico, quando comparado com os dados da tabela anterior, onde os défices já eram passíveis de gerir e, ainda, uma melhoria contínua no saldo da balança corrente, apesar de a conjetura indicar que este se mantenha negativo.

Tabela 2: Previsões do Memorando de Entendimento (2012-2015)

37 Esta avaliação tem por base a escala definida pelo Standard & Poor’s, uma das principais agências de

notação financeira a nível mundial, onde são emitidas informações e opiniões sobre o mercado financeiro e respetivo nível de investimento. Nesse sentido, tendo em consideração as classificações sugeridas pela agência, AA significa que a “capacidade do devedor para cumprir o seu compromisso financeiro é muito

forte”. Por seu turno, a classificação de BBB indica que “condições económicas adversas ou circunstâncias em mudança são mais suscetíveis de conduzir a uma capacidade enfraquecida do devedor para cumprir o seu compromisso financeiro”.

Itens 2012 2013 2014 2015

Taxa de crescimento real do PIB (%) -1,8 1,2 2,5 2,2

Défice Orçamental (% PIB) -4,5 -3,0 -2,3 -1,9

Dívida Pública (% PIB) 112,2 115,3 115 112,9

Saldo da Balança Corrente (% PIB) -6,7 -4,1 -3,4 -2,7

(% / % PIB) Fonte: Portugal (2014)

38 A Tabela 3 indica os valores reais associados aos anos de 2012 e 2013, onde se pode concluir que houve uma melhoria efetiva no equilíbrio externo, atingindo-se um saldo positivo que, na verdade, já não se verificava há décadas. Esta melhoria foi causada, na opinião de Martins (2014), pela utilização de medidas que tinham como objetivo reduzir a procura interna e, consequentemente, as importações, bem como pelo crescente esforço por parte das empresas exportadoras portuguesas em entrar em novos mercados. Por outro lado, a mesma tabela indica que o investimento se encontrava estagnado e a dívida pública continuava a aumentar, o que fez com que a economia portuguesa se revelasse pouco atrativa.

Tabela 3: A Economia Portuguesa (2012 e 2013)

Importa, ainda, referir que o plano enquadrado no MoU celebrou, em 2012, que o governo deveria canalizar os seus esforços no sentido de introduzir medidas capazes de limitar as deduções fiscais de todos os regimes especiais em sede de IRC, tendo de obter, no mínimo, uma receita de 150 milhões de euros. Nessas medidas insere-se:

a. Eliminar todas as taxas reduzidas de IRC;

b. Limitar a dedução de prejuízos fiscais contabilizados em anos anteriores,

sendo reduzido para três anos o período de reporte aplicável;

c. Reduzir os créditos de imposto e revogação de isenções subjetivas;

d. Restringir os benefícios fiscais, nomeadamente os sujeitos à cláusula de

caducidade do Estatuto dos Benefícios Fiscais, e reforçando as regras de tributação das viaturas atribuídas pelas empresas;

e. Propor alteração à Lei das Finanças Regionais a fim de limitar a redução das

taxas de IRC nas regiões autónomas a um máximo de 20%38 quando

comparadas com as taxas aplicáveis no continente.

38 De notar que, antes do MoU, as Regiões Autónomas tinham direito a usufruir de uma redução da sua taxa

de IRC de um máximo de 30% face à taxa vigente em Portugal continental (25%). Nesse sentido, após o cumprimento do estipulado, as regiões autónomas perderam parte dos benefícios fiscais que usufruíam anteriormente, implicando uma subida da carga fiscal.

Variáveis Económicas 2012 2013

Taxa de crescimento real do PIB (%) -3,2 -1,8 Défice Orçamental (% PIB) -5,0 -5,9 Dívida Pública (% PIB) 120,0 127,8 Saldo da Balança Corrente (% PIB) -3,0 0,9 Formação de Capital Fixo (variação em %) -14,5 -7,8

Tabela 3: A Economia Portuguesa (2012 e 2013)

Fonte: Portugal (2014)

39 Tendo em conta estas propostas, o foco centrava-se no alargamento da base de tributação, essencialmente com recurso à limitação ou, até mesmo, eliminação das deduções.