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3. Estudo empírico

3.2 Dados

No que diz respeito à seleção dos dados a analisar, foi adotado o método da pesquisa documental, nomeadamente a análise dos diversos campos do Quadro 07 da Declaração de Rendimentos Modelo 22.

61 No subcapítulo referente à recolha de dados serão descritos e justificados todos os procedimentos

utilizados e a necessidade de adotar um estudo exploratório-descritivo, sem efetuar o correlacional.

62“Os dados primários são aqueles que resultam da aplicação de técnicas de recolha de dados, reunidos especificamente para o objetivo da pesquisa”(Oliveira e Ferreira, 2014: 111).

63“Os dados secundários são aqueles que já foram recolhidos, sujeitos a tratamento estatístico e foram publicados ou estão disponíveis, e que não são da responsabilidade do autor”(Oliveira e Ferreira, 2014:

56 Em primeiro lugar, é necessário perceber em que consiste a referida declaração e quem é que está sujeito a sua entrega à Administração Tributária. Nesse sentido, a DR Modelo 22 destina-se a declarar anualmente64 os rendimentos provenientes das pessoas coletivas e intimamente associados ao IRC. Esta possibilita o apuramento do lucro tributável ou prejuízo fiscal e, consequentemente do montante de imposto a pagar ou a receber. Esta declaração deve ser apresentada pelos seguintes sujeitos passivos:

 Entidades residentes, quer exerçam ou não, a título principal, atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola;

 Entidades não residentes com estabelecimento estável em território português;  Entidades que não tenham sede nem direção efetiva em território português e neste obtenham rendimentos não imputáveis a estabelecimento estável aí situado, desde que, relativamente aos mesmos, não haja lugar a retenção na fonte a título definitivo.

Por outro lado, nos termos do n.os 6 e 8 do artigo 117.º do CIRC, apenas estão

dispensadas da apresentação da referida declaração:

 As entidades isentas ao abrigo do artigo 9.º do Código, exceto quando sujeitas a uma qualquer tributação autónoma ou quando obtenham rendimentos de capitais que não tenham sido objeto de retenção na fonte com caráter definitivo;

 As entidades não residentes sem estabelecimento estável em território português que apenas aufiram, neste território, rendimentos isentos ou sujeitos a retenção na fonte a título definitivo.

Em segundo lugar, importa salvaguardar que a informação utilizada é agregada, não havendo, por isso, possibilidade de realizar uma análise correlacional exaustiva e individualizada sobre o comportamento das empresas, tendo em consideração, por exemplo, o setor onde se insere, a região onde se encontra sedeada, a própria dimensão da mesma, entre outros aspetos que poderiam ser interessantes. Nesse sentido e tendo em

64 Tendo em consideração o postulado no n.os 1 e 2 do artigo 120.º do CIRC, a declaração deve ser enviada

“por transmissão eletrónica de dados, até ao último dia do mês de maio, independentemente de esse dia ser útil ou não útil, e para os sujeitos passivos com período especial de tributação, até ao último dia do 5.º mês posterior à data do termo desse período, independentemente de esse dia ser útil ou não útil”.

57 consideração o que já foi descrito na metodologia, perante os dados disponibilizados, apenas poderemos realizar uma análise exploratória-descritiva.

Em terceiro lugar, é necessário perceber de que forma é que o estudo foi estruturado numa primeira fase, quais os problemas e limitações encontrados e, ainda, de que forma é que estes foram solucionados.

Deste modo, inicialmente, pretendeu-se analisar o impacto das alterações legislativas – Reforma de IRC de 2014 – na dedutibilidade dos gastos fiscais para empresas da região Norte.

A escolha desta região foi, essencialmente alimentada pelo facto de, em 2015, concentrar a parcela mais expressiva das empresas em Portugal (Tabela 5: em 2011, 31% e em 2015, 33%), ultrapassando marginalmente a região de Lisboa, que era, em 2011, a mais relevante (Tabela 5: em 2011, 35% e em 2015, 32%) no que diz respeito a este indicador. Simultaneamente e tendo em consideração a Tabela 5, a região do Norte foi a que sofreu o maior aumento, na ordem dos 2 pontos percentuais (p.p.), enquanto na região Centro apenas cresceu 1 p.p. e a região de Lisboa decresceu 3 p.p..

Tabela 5: Evolução do número de empresas por região (2011 e 2015)

No que diz respeito ao volume de negócios e ao número de pessoas ao serviço, através das Tabelas 6 e 7 verificamos que a região de Lisboa agregava a maior parcela de volume de negócios (47%) e do número de pessoas ao serviço (38%), realidade motivada pelo facto de o tecido empresarial ser composto maioritariamente por empresas de grande dimensão na região de Lisboa e de Pequenas e Médias Empresas65 na região Norte66.

65 Consideram-se PME’s, segundo os critérios postulados na Recomendação n.º 2003/361/CE da Comissão

Europeia, de 6 de maio, as empresas cujo número de efetivos é inferior (<) a 250 trabalhadores, o volume de negócios não é superior (≤) a 50 milhões de euros e, ainda, o valor do balanço total não é superior (≤) a 43 milhões de euros.

66 Mediante a informação disponibilizada pelo INE, na edição de 2013, acerca das “Empresas em Portugal

– 2011”, percebeu-se que, em 2011, a região Norte concentrava o maior número de PME’s (360.197 empresas), o que equivalia a 32,4% do total, enquanto as empresas de grande dimensão se localizavam na região de Lisboa (559 empresas), 51,1% do total. Perante este facto, é justificável que a maior parcela do volume de negócios de encontre localizada na região de Lisboa. Relativamente ao boletim estatístico para

Descrição 2011 2015 Variação

Região Norte 31% 33% ↑ 2 p.p.

Região Centro 19% 20% ↑ 1 p.p.

Região de Lisboa 35% 32% ↓ 3 p.p.

Tabela 5: Evolução do número de empresas por região (2011 e 2015) (em percentagem / pontos percentuais)

58 Contudo, importa ressalvar que, entre 2011 e 2015, foi a região Norte que sofreu o maior crescimento em ambos os indicadores67.

Tabela 6: Evolução do volume de negócios por região (2011 e 2015)

Tabela 7: Evolução do número de pessoas ao serviço por região (2011 e 2015)

Paralelamente, uma vez que a informação fiscal não é pública e existe alguma rigidez, por parte das empresas, em divulgá-la, esta escolha foi igualmente justificada pela maior proximidade física face às mesmas, na medida em que me encontro a residir na referida região. Perante esta realidade e tendo em conta a evolução do tecido empresarial da região Norte, considerou-se oportuno realizar o estudo nesta mesma região e apenas incluir PME’s.

Após definida a região a analisar, uma amostra de 180 empresas foi extraída, a 13 de janeiro de 2017, da base de dados Amadeus, versão 14.01, cumprindo os seguintes requisitos de seleção (Anexo 1):

 Classificação NUT’s: PT11 – Norte;  Número de trabalhadores;

 Todas as empresas com valores conhecidos;  Último ano disponível;

o ano de 2015, a informação não se encontra tão detalhada e, por existe, método de comparação com o referido ano.

67 Segundo a “Análise Setorial das Sociedades Não Financeiras em Portugal 2011-2016” elaborada pelo

Banco de Portugal, em novembro de 2016, entre 2011 e 2015, a região Norte sofreu um crescimento de 3 p.p. tanto na parcela do volume de negócios, como na referente ao número de pessoas ao serviço. Por seu turno, a região Centro cresceu, respetivamente, 2p.p. e 1p.p. e a região de Lisboa decresceu, respetivamente 4p.p. e 3p.p..

Descrição 2011 2015 Variação

Região Norte 25% 28% ↑ 3p.p.

Região Centro 14% 16% ↑ 2 p.p.

Região de Lisboa 51% 47% ↓ 4 p.p.

Tabela 6: Evolução do volume de negócios por região (2011 e 2015) (em percentagem / pontos percentuais)

Fonte: Banco de Portugal (2016)

Descrição 2011 2015 Variação

Região Norte 31% 34% ↑ 3 p.p.

Região Centro 16% 17% ↑ 1 p.p.

Região de Lisboa 41% 38% ↓ 3 p.p.

Fonte: Banco de Portugal (2016)

Tabela 7: Evolução do número de pessoas ao serviço por região (2011 e 2015) (em percentagem / pontos percentuais)

59  Exclusão de empresas sem informação financeira recente disponível;

 Todas as empresas com e-mail.

Através desta, foi-nos possível selecionar aquelas que cumpriam os requisitos de PME e, ainda, utilizando os seguintes critérios de exclusão:

 Empresas do setor financeiro (banca e seguradoras), da Administração Pública e Segurança Social e do setor imobiliário, uma vez que são setores fortemente regulamentados, com normativos bastante específicos e, em alguns casos, com sistemas de contabilidade próprio;

 SAD’s, na medida em que o período de encerramento das DF’s não coincide com o habitualmente estipulado (ano civil);

 Empresas com NIF’s inválidos.

Nesse sentido, a amostra final ficou composta por 153 empresas. Em seguida, foi enviado um e-mail (Anexo 2) a cada empresa, cujo assunto era “Pedido de utilização de informação em Dissertação de Mestrado”. O mesmo requeria a utilização da DR Modelo 22 e da Informação Empresarial Simplificada (IES) referentes aos anos de 2012 a 2015, reforçando que, ao longo do estudo, iriam ser respeitados todos os princípios éticos e deontológicos, designadamente o princípio de confidencialidade onde toda a informação passível de identificação da empresa seria retirada.

Após o envio dos e-mails e de várias insistências posteriores, apenas foram obtidas três respostas, uma com interesse em integrar o estudo e as restantes com impossibilidade de participação, uma vez que as políticas internas da empresa não o permitiam. Apesar de não querermos desistir ao primeiro problema, percebemos que não seria viável, nem conclusivo, avançar com o estudo empírico que tínhamos idealizado. Esta decisão foi justificada pelo facto de a rigidez por parte das empresas, inicialmente apontada, se ter efetivamente verificado.

Esta adversidade fez com se tivesse optado por outra via, recorrendo, por isso, às Estatísticas sobre o IRC, disponibilizadas no site oficial da Administração Tributária, tendo sido utilizadas as referentes aos anos de 2010/2012, 2012/2014 e 2013/2015. Com recurso às mesmas, foi aglomerada toda a informação referente ao Q07 da DR Modelo 22, nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, numa nova base de dados.

60 Posteriormente e tendo em conta as alterações provenientes da Reforma de IRC de 2014, analisou-se quais os campos da respetiva declaração que foram alvo dessas mesmas alterações. Nesse sentido, foram identificadas 29 correções fiscais a acrescer e 16 correções fiscais a deduzir. Com o intuito de perceber quais as correções que representavam uma maior parcela do valor global, tanto em número de declarações, como em valor, foi utilizado o Princípio de Pareto68. Este proclama que 80% das consequências advêm de 20% das causas (Sales, 2013), ou seja, mais concretamente, 20% das correções fiscais produzem efeitos em 80% do número de declarações global ou do valor total consignado nas mesmas.

Importa ressalvar que são conhecidos alguns trabalhos69 que abordam a temática associada às alterações legislativas em sede de IRC provenientes da Reforma de 2014. Contudo, estes fazem uma análise exaustiva sob o ponto de vista teórico e, por isso, são escassos os estudos empíricos semelhantes ao que aqui pretendemos desenvolver. Por essa mesma razão, será difícil efetuar um meio de comparação com os mesmos, uma vez que os objetivos proclamados não são os mesmos.