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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.1 A Educação Física na Atualidade

Para compreendermos a EF na atualidade temos de perceber em que circunstâncias a escola se encontra. Nesse sentido, numa primeira fase irei situar a escola no panorama atual. Hoje em dia, a escola é vista como um meio de socialização e de promoção do desenvolvimento individual (Carvalho, 2006). Tem uma identidade própria, tem um ADN, isto é, um conjunto de aspetos que a caracterizam, que permitem que esta se distinga dos outros tipos de organização. Segundo Carvalho (2006), a escola ilustra os valores que orientam a sociedade e que esta pretende transmitir, existindo uma cultura própria que reflete um conjunto de valores e crenças partilhadas por todos aqueles que interagem e integram o seu ambiente. A comunidade local assume um papel central na educação, uma vez que a escola é um “espelho” da sociedade. A educação, a cultura e a escola têm sempre como referência a comunidade e, portanto, não se pode dissociar de forma alguma.

A escola é um espaço de diversidade cultural e, por isso, requer uma educação intercultural quanto aos conhecimentos e aos valores. Assim, torna-se necessário promover o respeito, a diversidade sexual, etc. Tal como afirmam Patrício e Hargreaves (cit. por Rosado & Mesquita, 2015b), a sociedade atual caminha a passos largos para um processo crescente de globalização, graças ao encontro entre diferentes culturas e povos, reconhecendo que também tocará ao sistema educativo participar neste processo de construção da sociedade. Assim, a EF também deve atender à formação global do Homem, do “Homem Intercultural”, contribuindo desta forma para que exista uma igualdade de oportunidades sustentada no “respeito, na diversidade e no pluralismo” (Mesquita & Rosado, 2015, p. 22).

Em suma, a educação escolar constitui um dos pilares mais importantes das sociedades contemporâneas, sendo que a escola tem influências ideológicas, socias, políticas e económicas. Esta pertence a todos e influencia todos aqueles que estão à sua volta, seja de forma direta ou indireta. Desta forma, cabe à escola e aos seus docentes ajudar a que cada aluno, cada ser humano, se possa

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desenvolver em todas as suas dimensões. Só assim será possível desenvolver uma escola efetivamente cultural, capaz de propiciar o sucesso educativo e de colaborar para a formação de uma comunidade dinâmica e apoiada na cultura (Raposo, 1991).

Após ter realizado uma breve introdução sobre o panorama atual da escola, pretendo enquadrar a EF na atualidade. Nesse sentido, é necessário destacar que a Atividade Física surge desde cedo com uma enorme importância (correr, saltar, lançar, arremessar), que se foi desenvolvendo até aos dias de hoje sob a égide do Desporto e/ou na Educação Física.

Indo ao encontro das ideias de Graça (2012), a EF é uma área de matéria inscrita no currículo dos mais diversos sistemas educativos à escala do planeta. No entanto, essa condição não se tem revelado suficiente para lhe fazer merecer o estatuto devido. Para essa falta de reconhecimento contribui o facto de a EF atravessar um período em que o currículo é dominantemente voltado para as questões das habilidades desportivas. A acrescentar a esta realidade, os movimentos são reformadores e pressionados fortemente pelo discurso da saúde e pela procura de legitimação por via de uma academização da EF, com valorização do conhecimento.

É essencial olhar para a EF com outro olhar e outro entendimento, uma vez que que não é nestas condições que reside a sua verdadeira natureza e riqueza. Neste sentido, Bento (2012) fala-nos da EF enquanto espaço de exercitação desportiva e corporal, enquanto pedagogia do esforço, da ação e da vontade. Graça (2015), completa o raciocínio anterior afirmando a EF como meio potenciador da capacidade dos indivíduos em compreenderem e agirem no mundo, como contributo para o bem-estar, realização pessoal e melhoria da sociedade. Para que isto seja possível, precisamos de valorizar a nossa área. No entanto, a forma como o currículo tem sido elaborado não atesta a favor da EF. Estamos perante unidades demasiado pequenas, superficiais, sem sequência ou consistência, e que tendem a tornar-se demasiado monótonas e repetitivas, facilitando assim a desvinculação, a desconsideração e a marginalização (Ennis, 2000).

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Batista (2012), alerta para o facto de caminharmos em direção a uma formação mais empobrecida, em que a componente educativa se desvanece no reforço pelas áreas que aparecem com a designação de fortes, em detrimento das fracas. Temos de entender o conteúdo da EF, enquanto matéria de ensino, que não deve ser destituída ou depreciada, mas sim protegida e valorizada. Devemos realçar o conteúdo da disciplina por ser algo da ordem do ócio e não do negócio, algo que é bom por si mesmo, algo da ordem do jogo, do lúdico, algo que pode ser praticado sem qualquer fim utilitário, mas que é da maior utilidade para a edificação humana (Graça, 2012). O autor reforça ainda que, a EF deve atender, não apenas à especificidade da matéria, mas também às particularidades dos alunos e dos contextos, das situações e circunstâncias.

A EF não é estática, trata-se de um processo mutável, que se vai alterando conforme a situação, com a qual se depara, e que se deve procurar ajustar às necessidades e solicitações do momento. De acordo com Mesquita e Graça (2015), a eficácia de ensino deve ser interpretada através do recurso a modelos de instrução que forneçam uma estrutura global e coerente para o ensino e treino do desporto. Os tempos foram mudando, bem como as mentalidades, principalmente as dos alunos. Antigamente a única preocupação por parte dos professores era a de transmitir conhecimentos teóricos (Kirk, 2010). Neste sentido, era inevitável recorrer ao Modelo de Instrução Direta (MID) como estratégia a adotar nas aulas. O MID caracteriza-se por ser um modelo centrado no professor, visto que é este que toma praticamente todas as decisões acerca do processo ensino-aprendizagem, nomeadamente, a prescrição do padrão de envolvimento dos alunos nas tarefas de aprendizagem (Mesquita & Graça, 2015). Os defensores das abordagens de ensino centradas no professor mencionam algumas vantagens desta abordagem, nomeadamente altos níveis de repetição de padrões de movimento, altas taxas de feedback por parte dos professores e o facto de não existir perdas de tempo em funções não relacionadas exclusivamente com tarefas motoras – por exemplo, responsabilidades gerenciais (Farias et al., 2016). Face a esta conceção, durante as minhas aulas, também recorri ao MID em determinados momentos. Dado que o aluno é o ator principal e é o foco da nossa intervenção, temos de saber tirar o melhor partido de todos os modelos. Destaco ainda que apesar de

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o MID ser um modelo eficaz no ensino de conteúdos técnicos que necessitam de uma elevada resposta motora (como é o caso da técnica de corrida no atletismo ou do remate no voleibol), apresenta alguns constrangimentos no que respeita ao domínio cognitivo, visto ser um modelo centrado no professor. Atualmente, a educação é muito mais do que a transmissão de conhecimentos, sendo fundamental formar indivíduos críticos, conscientes e autónomos (Farias et al., 2016). Assim, o processo educativo transforma-se num processo social e cultural, onde a relação entre todos é fundamental. Hoje em dia, devemos centrar-nos nos alunos, nas suas características, nas suas dificuldades e interesses e o professor deve surgir como um indivíduo reflexivo, com conhecimento específico na área, capaz de potencializar o desenvolvimento integral de todos os alunos (Farias et al., 2016). O objetivo do professor passa por formar pessoas “desportivamente competente, desportivamente culta e desportivamente entusiasta” (Mesquita & Graça, 2015, p. 59). Com o propósito de promover estas situações optei por recorrer ao MED. Segundo Mesquita e Graça (2015), este modelo é uma alternativa válida às abordagens tradicionais, nomeadamente, ao currículo múltiplas atividades, uma vez que a sua visão vai ao encontro da valorização da dimensão humana e cultural do desporto. O MED adota ideias construtivistas e, por se sustentar no Modelo de Aprendizagem Cooperativa (AC), afasta-se do MID, visto que favorece estratégias mais implícitas e informais no processo ensino-aprendizagem (Mesquita & Graça, 2015).

Concluindo, é imprescindível valorizar a EF, por se tratar da única disciplina que lida diretamente com o corpo, com as pessoas, gerando relações e interações. É o único elemento capaz de fazer vivenciar outras sensações e valores proporcionados pelo desporto (cooperação, trabalho em equipa, superação, perseverança). É, assim, uma disciplina que ensina o que é ser um ser humano, estando muito para além do saber fazer.

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