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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.4 A Escola

3.4.4 Turma Residente

No dia em que a PC tomou conhecimento das suas turmas, deu-nos a oportunidade de escolher a que queríamos lecionar. A PC tinha duas turmas de décimo ano, uma de décimo primeiro e uma de décimo segundo. A notícia foi-

Figura 10 - Núcleo de Estágio

Gráfico 1 - Escola frequentada no ano anteriorFigura 10 - Núcleo de Estágio

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nos dada quando estávamos todos juntos (NE) e, como nenhum de nós tinha preferência no ano de escolaridade e ninguém tomou a iniciativa, optamos por sortear as turmas. Assim, o destino decidiu que eu ficasse encarregue de uma turma de décimo ano. A partir desse momento, a minha turma residente passou a ser o 10 CSE3, constituída, inicialmente, por 15 alunos e, a partir do segundo período por 14 alunos. O número reduzido de alunos deveu-se ao facto de os restantes elementos da turma (7 alunos) integrarem o Ensino Articulado e a aula de EF coincidir com o horário de outra aula na Academia. Por este motivo, estes alunos integraram outra turma nas aulas de EF. Dos 14 alunos, 9 eram do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 14 e os 15 anos, sendo a média de idades 15 anos.

Um professor não é um simples transmissor de conhecimento e matéria de ensino, acima de tudo, é um educador. Com o propósito de desempenhar o meu papel da melhor forma possível foi essencial conhecer os alunos com quem lidei diariamente. Nesse sentido, conhecer o “outro lado” da realidade de cada discente foi fundamental para a minha atuação, quer em contexto de aula ou fora dela. Todos os alunos são diferentes e, por isso, o professor tem de reconhecer e responder às diferenças individuais de cada um, respeitando as necessidades de qualquer aluno, repensando, inclusive, em todos os alunos (Carvalho, 2011) e, para isso, o professor tem de considerar o aluno como um sujeito individual, não esquecendo as particularidades e as características de cada um. O conhecimento mais aprofundado dos alunos, quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista global enquanto turma garantiu uma melhor viabilidade do processo ensino-aprendizagem. Tendo em conta tudo o que foi referido anteriormente, o meu olhar e a minha atuação centraram-se naquelas que são as características do grupo, atendendo sempre às individualidades de cada um. A estratégia adotada pelos elementos do NE para conhecer melhor os alunos baseou-se na realização de um questionário biográfico e socioeconómico individual online que permitiu criar mais facilmente um Excel, gerando, desta forma, gráficos para procedermos ao estudo da turma e apresentarmos as características dos alunos ao conselho de turma. Na primeira aula (aula de apresentação) pedi aos alunos que no prazo de uma semana respondessem ao questionário online, enviado para o email da turma.

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Apresento, de seguida, as informações recolhidas do questionário que considerei mais pertinentes para a caracterização da turma e para a prática pedagógica. É de referir que estes dados apenas dizem respeito a 12 alunos, uma vez que dois alunos (1 do sexo masculino e 1 do sexo feminino) não responderam ao questionário.

No que concerne à caracterização da turma, destaco as escolas das quais os alunos eram provenientes (Gráfico 1). Como a turma é de décimo ano era importante perceber se os alunos já se conheciam ou não e que escolas frequentaram, pois estas transmitem diferentes vivências aos alunos. Assim, fiquei a perceber que cinco dos alunos provém da escola EB 2/3 D. Afonso Henriques e dois alunos da escola EB 2/3 Pevidém. De destacar que cinco alunos vêm isoladamente de diferentes escolas e, por isso, foi necessário acompanhar a integração dos mesmos na turma.

Carvalho e Taveira (2009) citam Schulenberg, Vondracek, e Crouter, (1984), Whiston e Keller (2004) ao afirmarem que o estatuto socioeconómico, a etnia da família e a sua configuração, o encorajamento parental, a interação pais/filhos e o comportamento intencional da família tem impacto no desenvolvimento da carreira dos jovens. Assim, no tópico referente ao agregado familiar, destaco as habilitações literárias dos pais (Gráfico 2) e o número de irmãos (Gráfico 3). Como podemos verificar no Gráfico 2, mais de metade dos pais não completaram o ensino secundário (17 pais), 5 concluíram o 12º ano de escolaridade e apenas 2 prosseguiram os estudos no Ensino Superior. Relativamente ao número de irmãos, 9 alunos têm um irmão, 2 alunos são filhos únicos e 1 aluno tem dois irmãos.

Gráfico 1 - Escola frequentada no ano anterior

Gráfico 2 - Habilitação literária dos paisGráfico 3 - Escola frequentada no ano anterior 5 1 1 2 1 1 1 0 2 4 6 EB 2/3 D. Afonso Henriques EB 2/3 S. Martinho do Campo Didáxis Riba d'Ave EB 2/3 Pevidém EB 2/3 João de Meira EB 2/3 Virgínia Moura EB2/3 do Vale de São Torcato

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No tópico referente à habitação, realço a distância de casa à escola (Gráfico 4) e o meio de deslocação usado (Gráfico 5). Penso que foi relevante saber de onde eram provenientes os alunos e o modo como se deslocavam para a escola de forma a perceber se havia possibilidade de os alunos chegarem atrasados às aulas. Considero que tanto a zona de residência como o transporte utilizado eram motivos para atrasos, principalmente, na aula de quarta-feira, visto que esta era ao primeiro tempo da manhã (8h25). Assim, após analisar o questionário percebi que 1 aluno vive a menos de 1km da escola, 5 alunos vivem entre 1km a 5km da escola, 5 alunos vivem entre 5km a 10km da escola e somente 1 aluno vive a mais de 10km da escola. Relativamente ao modo de deslocação utilizado casa-escola, 2 alunos vão a pé para a escola, 8 alunos utilizam o autocarro e 2 alunos vão de carro. De destacar que dos 8 alunos que utilizam autocarro, 3 fazem um percurso de 1km a 5km, 4 alunos realizam um percurso entre 5km a 10km e 1 aluno realiza um percurso superior a 10km.

Gráfico 2 - Habilitação literária dos pais

2 11 4 5 1 1 0 2 4 6 8 10 12 2 9 1 0 2 4 6 8 10

Nenhum 1 irmão 2 irmãos

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A EF é uma disciplina que também tem como função promover um estilo de vida saudável e bons hábitos de saúde e, por isso, foi essencial perceber se os alunos tinham noção que para melhorarem a sua performance quer em EF como nas restantes disciplinas era importante descansarem bem (horas de sono por dia) (Gráfico 6) e alimentarem-se corretamente, sendo o pequeno almoço a refeição mais importante do dia (Gráfico 7). Gathercole (cit. por Klein et al., 2007) afirma que a privação do sono diminui o rendimento cognitivo, motor e neuro comportamental, estando estes relacionados com os processos de atenção, memória, concentração e rendimento académico. E Frota et al. (2009), defende que “a fome dificulta a capacidade de concentração comprometendo o rendimento”. Tendo em conta o Gráfico 6, é possível verificar que a maioria dos alunos dorme 8 horas por dia (7 alunos). Todavia existem 4 alunos que dormem 7 horas por dia. Relativamente aos hábitos alimentares, apenas 1 aluno não toma o pequeno almoço, tendo sido averiguados os motivos.

4 7 1 0 2 4 6 8 7h 8h >8h 2 8 2 0 2 4 6 8 10 A pé Autocarro Carro

Gráfico 5 - Modo de deslocação casa-escola

Gráfico 6 - Número de horas de sono por dia

Gráfico 4 - Pequeno almoçoGráfico 5 - Número de horas de sono por dia

1 5 5 1 0 1 2 3 4 5 6 <1 Km 1 Km a 5 Km 5 Km a 10 Km > 10 Km

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No que diz respeito às questões da saúde, tópico essencial na atuação de qualquer professor de EF, é fundamental destacar que 5 alunos revelaram ter problemas se saúde (Gráfico 8).

Com o objetivo de perceber se os problemas de saúde evidenciados pelos alunos pudessem interferir, de alguma forma, na prática regular das aulas de EF, foi também elaborada no questionário uma pergunta referente a este aspeto mais específico, sendo que nenhum aluno referiu problemas em realizar atividade física.

É importante um professor saber se os alunos gostam da sua disciplina, se estão motivados para aprender e se têm vivências. Assim, no separador dedicado à especificidade da disciplina de EF, estavam incluídas perguntas referentes ao interesse dos alunos pela EF, à motivação dos alunos para as aulas de EF (Gráfico 9) e à atividade física regular. Relativamente à pergunta “gostas da disciplina de EF”, apenas uma aluna respondeu que não e, consequentemente, não se encontra motivada para as aulas. No que concerne à prática de atividade física regular 5 alunos praticam desporto federado.

11 1 0 5 10 15 Sim Não 5 7 0 2 4 6 8 Sim Não

Gráfico 8 - Problemas de saúde

Gráfico 6 - Motivação para as aulas de EFGráfico 7 - Problemas de saúde

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Estando eu em início de carreira achei que era importante ter conhecimento no que respeita às características que os alunos mais valorizavam e menos valorizavam num professor. Assim, no questionário existia uma pergunta sobre este tema e, após a análise das respostas, destaco o ser competente, comunicativo e motivador como as características que os alunos da turma mais valorizaram, e o ser agressivo e antipático como as que menos apreciaram num professor.

Relativamente ao comportamento da turma, apesar de ser constituída apenas por catorze alunos, nas primeiras aulas percebi que não ia ser fácil controlar a mesma. Desde cedo, foi-me possível observar que alguns alunos eram pouco concentrados, pouco interessados e que, por vezes, gostavam de perturbar/ destabilizar o normal funcionamento das aulas e sair fora das tarefas propostas. Por vezes tinham algumas atitudes infantis, como por exemplo, amuar se estivessem a perder um jogo. Não eram mal-educados, contudo, às vezes, não tinham noção do que podiam e não podiam fazer em contexto de aula. Assim, ao longo deste ano enfrentei um grande desafio: melhorar as atitudes, o interesse, o empenho e as capacidades motoras destes alunos. A partir do momento que introduzi o MED nas aulas, os alunos começaram a envolver-se e a empenhar-se muito mais. O trabalho de equipa, a cooperação, a entreajuda e a competição foram aspetos fundamentais para que os alunos melhorassem o seu comportamento, se comprometessem mais nas aulas e se tornassem uma turma mais unida. Estas “pestinhas” puseram-me à prova todos os dias, pois se não estivessem satisfeitos com a aula mostravam o seu desagrado. Foram essenciais nesta minha jornada, visto que sem eles, não teria desenvolvido as competências que, acredito, ter desenvolvido. Foram a minha primeira turma e,

6 5 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 4 - muito motivado 3 - motivado 2 - pouco motivado 1 - totalmente desmotivado N ú me ro d e al u n o s

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por isso, guardo com carinho e saudade todos os momentos que vivemos juntos. Foi um ano muito marcante e foi gratificante ver a evolução de todos os alunos. Acima de tudo, foi compensador ter levado a modificar algumas mentalidades e ter passado para os alunos o gosto pela atividade física. Sei que de alguma forma marquei a vida destes jovens, assim como eles marcaram a minha:

“A minha maior batalha nesta modalidade (Ginástica Artística) prendeu-se com a aluna B. Esta aluna tem muitos complexos com o seu corpo e tem pouca autoconfiança. Como tem dificuldades nesta modalidade, nas primeiras aulas dizia- me sempre que não queria fazer os elementos gímnicos propostos. Fico feliz por ter vivenciado a evolução desta aluna. Nas últimas aulas já não me dizia que não queria fazer, mas dizia: “professora quero tentar, se não conseguir ajude-me”.” (RA – aula 37 e 38 – 20 de novembro, 2018)