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A Educação Inter/multicultural Face à Diversidade

No documento A escola e a diversidade étnica e cultural (páginas 59-64)

CAPÍTULO I – Escolas e Sociedades Multiculturais

4. A Escola e a Diversidade Étnico-cultural

4.4. A Escola na Era da Interculturalidade

4.4.4. A Educação Inter/multicultural Face à Diversidade

À esteira dos estudos desenvolvidos por Banks (1993) podemos inferir que numa educação multicultural deve-se reflectir a diversidade racial e cultural da sociedade, sendo que todas as crianças deverão beneficiar de igualdade

60 educativa. Para atingir este fim e caso se revele necessário dever-se-á modificar valores e atitudes dos funcionários da escola, o currículo e materiais didácticos, processos de avaliação, metodologias, valores e normas do próprio estabelecimento de ensino.

Banks (1981, in Wyman, 2000:13) assinala que “Como resultado desta educação multicultural, todos os alunos deixarão as nossas escolas com os conhecimentos, capacidades e atitudes que lhes permitam actuar produtivamente nas respectivas culturas individuais, na cultura dominante e noutras onde possam ser inseridos.”.

Ramos (2001:156) menciona que “a noção de intercultural implica relação, processo, dinâmica, a tomada em conta das identidades (individuais e colectivas), das interacções entre os indivíduos e os grupos. (…) As problemáticas do domínio intercultural, os problemas originados pelo pluralismo e multiculturalidade, impõem desenvolver uma competência social, cultural, pedagógica e comunicacional, construída na experiência da alteridade e da diversidade, no equilíbrio entre o universal e o singular.”.

A autora salienta (2001:170) que “A comunicação e educação intercultural visam desenvolver em todos os indivíduos, pertencentes a grupos minoritários ou não, atitudes e comportamentos mais bem adaptados ao contexto da diversidade individual e grupal, desenvolver um outro olhar sobre nós mesmos e o outro, desenvolver aptidões que conduzam a um processo de consciencialização cultural e a uma melhor capacidade de comunicação e de participação na interacção social, assim como, desenvolver uma melhor compreensão dos mecanismos psico-sociais e factores sociopolíticos susceptíveis de originarem a rejeição, a intolerância, a violência, o racismo, o “fundamentalismo”.”.

A educação intercultural é uma forma de promover a aceitação e valorização das diferenças e contribuir para a edificação de uma sociedade em que todos os cidadãos beneficiem de igualdade de oportunidades.

Marques (2003:76) salienta o papel da “pedagogia intercultural como valorização de culturas e das identidades culturais, como ferramenta de intervenção, de diálogo, de conhecimento, de enriquecimento mútuos”.

Muitos agentes de ensino ao constatar a crescente diversidade cultural existente nas escolas optam por desenvolver actividades de intervenção. Os

61 Projectos Educativos, Curriculares de Agrupamento, de Escola e de Turma são um meio eficaz para se propor estratégias direccionadas para uma pedagogia intercultural.

Para melhor planificar as suas actividades educativas no âmbito da interculturalidade, a escola deverá solicitar parceiros como Departamento da Educação Básica, Direcção Regional de Educação, Centro de Área Educativa, Autarquia, Estabelecimentos do Ensino Superior, Alto Comissariado para a Imigração e as Minorias Étnicas, Associações, Mediadores Culturais e Linguísticos, etc. Todo o apoio recebido é uma mais valia que é importante aproveitar e usufruir.

Para promover a igualdade de oportunidades para todos os alunos é necessário estar receptivo a novas estratégias e é imprescindível que os professores sejam flexíveis e demonstrem abertura a novas metodologias. O papel do professor é conhecer os seus alunos, tomar consciência da heterogeneidade existente na turma e procurar compreendê-la. Perante um retrato do grupo deverá adequar as suas práticas pedagógicas adaptando as metodologias e conteúdos programáticos atendendo às características dos seus alunos. Deverá elaborar dispositivos pedagógicos motivantes para os seus discentes e fomentar a compreensão mútua.

Perotti (1997:51) refere “Num meio intercultural, a criança deve, com efeito descobrir no outro, ao mesmo tempo a alteridade e a semelhança”. Neste domínio, Claude Lévi-Strauss (in Perotti, idem:ibidem) afirma “A descoberta da alteridade é a de uma relação, não a de uma barreira.”. Salienta-se a advertência de Perotti (idem:54) que “A educação intercultural não pode limitar-se a fazer descobrir a alteridade e a diversidade, concebidas como relação com o outro; ela também deve produzir na criança e no jovem uma capacidade de agir em matéria de direitos do homem e integrar na formação da personalidade da criança, nas diferentes etapas do seu crescimento, o sentido do combate contra qualquer forma de discriminação.”.

A educação intercultural não foi concebida somente para crianças imigrantes, mas para toda a sociedade. É com a diversidade que se aprende e deve-se partir das vivências e das competências das crianças para a aprendizagem.

62 Díaz-Aguado (2003:31) refere que “embora a escola seja, normalmente, o contexto por excelência da construção de uma sociedade menos ostracizante, é nela que se reproduzem frequentemente as discriminações e exclusões existentes no resto da sociedade, como aquelas que são constantemente sofridas pelas crianças e jovens de culturas minoritárias”.

Algumas das estratégias possíveis para a promoção do sucesso de todos os discentes são as seguintes: (1) utilização de dispositivos de diferenciação pedagógica; (2) currículo aberto à diversidade; (3) educação para a cidadania; (4) interdisciplinaridade; (5) trabalho de grupo; (6) projectos que envolvam toda a comunidade educativa; (7) contacto com familiares, comunidades imigrantes e associações de imigrantes para melhor compreender e apreciar os costumes, tradições e valores de outras populações; (8) ensino da língua do país de acolhimento em aulas de apoio suplementares; (9) leccionar línguas maternas dos alunos (medida difícil de ser implementada devido à falta de apoios económicos para a contratação de professores especializados); (10) etc.

Banks (1993) dá um particular enfoque à necessidade de o currículo contemplar acontecimentos e comemorações de natureza étnica, abranger temáticas como alimentação, danças, significados culturais dos objectos e artefactos materiais dentro de uma cultura étnica, serem abordados livros sobre outras culturas e grupos étnicos ou religiosos, sendo que os alunos deverão encarar os acontecimentos, conceitos, temas, questões e problemas através de várias perspectivas étnicas.

É importante a dinamização de situações em que possa existir intercâmbios culturais, porém é preciso eliminar estereótipos e valorizar positivamente todas as culturas.

Marques (1999:75) advoga que “A resposta adequada reside na defesa de uma educação cultural que, por ser eminentemente cultural, se revela na abertura às outras culturas, num diálogo intercultural que não produza marginalidades curriculares expressas nos guetos curriculares, mas também não hostilize as outras vozes e as outras culturas, dando, pelo contrário, espaço para que essas vozes se façam ouvir e contribuam para que, da diversidade cultural, se construa uma sinfonia e não uma algazarra curricular.”.

63 É patente que, actualmente, ainda se sente a necessidade de alterações no sistema educativo. Os conteúdos programáticos definidos necessitam de ter em conta a diversidade sociocultural dos alunos, dado que são definidos com base no património histórico e cultural da sociedade portuguesa. Os discentes de origem cultural diferente manifestam dificuldades na compreensão e aquisição destes conhecimentos, visto que retratam uma realidade que não conhecem e evidenciam dificuldades ao nível da linguística, uma vez que a língua ministrada nas escolas é o português. Consequentemente, as crianças que utilizam um código restrito de comunicação revelam dificuldades acentuadas na compreensão dos conteúdos programáticos, bem como na interacção verbal com professores, funcionários e colegas.

“A educação intercultural promove relações de igualdade e de mútuo enriquecimento entre pessoas oriundas de culturas diferentes, mediante o ensino/aprendizagem de valores, habilidades, atitudes e conhecimentos. Estão em jogo a cooperação, a solidariedade, o encontro entre culturas e a resolução razoável dos conflitos.” (Colectivo Amani, 1994, in Peres, 2000:59)

As práticas pedagógicas devem promover a autonomia do aluno e desenvolver competências que lhes permitam demonstrar as suas potencialidades e aprendizagens realizadas. Os professores deverão desenvolver atitudes positivas com todos os alunos incentivando-os para progredirem no seu percurso escolar e estimulando o desenvolvimento da auto-estima, do auto-conceito e da autoconfiança, promovendo a autonomia e a participação activa na construção no seu próprio processo de ensino-aprendizagem.

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CAPÍTULO II

No documento A escola e a diversidade étnica e cultural (páginas 59-64)