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A educação no projeto Neoliberal do presidente Fernando Henrique

No documento GLEICE IZAURA DA COSTA OLIVEIRA (páginas 169-174)

As reformas educacionais implementadas na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso foram o resultado de um conjunto de eventos que estavam acontecendo nos aspectos econômicos, políticos e sociais.

[…] hoje vivenciamos um processo de globalização de um projeto educacional que se quer único. Mas, de que projeto estamos falando? Indubitavelmente, essas reformas só adquirem sentido se vinculadas a um projeto mais amplo, parido das entranhas do que vem sendo denominado de neoliberalismo, que vê a educação como algo extremamente estratégico[...]

Essas reformas foram implementadas a partir da segunda metade da década de 1990, com abrangência do ensino fundamental ao superior nos aspectos de financiamento, gestão, acesso, avaliação, currículo e carreira docente.

Baseadas nas recomendações do Banco Mundial, no âmbito político, as medidas educacionais refletiram as proposições do projeto neoliberal, que está vinculado ao processo mais amplo

[...] (1) de globalização econômica e o seu correlato, que foram as políticas de abertura em nível nacional; (2) a transformação tecnológica e a sua repercussão sobre os processos produtivos; (3) o papel regulador atribuído ao Estado; a ampliação da cobertura dos sistemas educacionais; (4) a nova organização do trabalho. (WEINBERG, 1996, citado por FONSECA, 2006, p.206)

Com base nesses aspectos explicitaremos cada um desses mecanismos integrantes do ajuste neoliberal para estabelecermos a relação com as políticas de Estado e depois entendermos de que forma estes se estabeleceram nos processos educacionais.

A globalização da economia está vinculada aos objetivos do sistema capitalista:

[...] produzir para acumular, concentrar e centralizar capital, não são, portanto, as necessidades humanas individuais ou coletivas a prioridade e nem as pessoas. Tanto as primeiras quanto as segundas vêm subordinadas às leis imanentes da produção capitalista, cujo fim é o lucro. Este ideário não é uma escolha, mas a própria forma de ser das relações capitalistas. (FRIGOTTO, 1996, p.143)

Nesse contexto, o processo de globalização econômica define-se como uma forma de internacionalizar e ampliar mercados como um movimento necessário para que as relações capitalistas se mantenham. Na tentativa de perenizar essa ordem econômica, reestruturam-se os modelos educacionais.

Desde a década de 1980, vive-se um momento na história de profundas transformações tecnológicas, que para alguns autores convencionou-se chamar de “reestruturação produtiva” ou “Terceira Revolução Industrial”. Essas mudanças implicam em

[...] um novo paradigma técnico-econômico, que emerge no sentido de promover a superação da crise do capital, implicando, dessa forma, a introdução, por parte das empresas de novas tecnologias –transformações na base técnica do sistema produtivo- e a implantação de novas formas de gestão da força de trabalho- transformações na organização do sistema produtivo-componentes que, no mundo do trabalho, se articulam entre si. (SANTOS, p.188, 2006)

Essas transformações redimensionaram o conceito de formação devido à necessidade de aproximar a educação às novas tendências produtivas na organização e gestão do trabalho.

Nessa perspectiva, é necessário que os currículos para formação profissional estruturem propostas para formar o trabalhador de acordo com as novas demandas do setor produtivo.

Sob a égide da Sociedade do conhecimento, conceitos como flexibilidade, participação, trabalho em equipe, competência, qualidade total, pedagogia da qualidade, multi-habilitação, policognição, polivalência e formação abstrata passam a fazer parte da ordem-do dia. As escolas passam a ser o objeto de crescente interesse e reformas educacionais passam a ser exigidas, com objetivo de proporcionar uma educação de “qualidade” para todos (as). (ROCHA, 2001, p. 17)

A preocupação das agências multilaterais, especialmente do Banco Mundial, estava no sentido de como o Brasil iria conseguir adequar seu sistema educacional às exigências do novo padrão de produção capitalista com um sistema educacional deficiente.

Um dos relatórios do Banco Mundial prescrevia que estas deficiências estavam relacionadas aos seguintes aspectos:

[...] a falta de livros didáticos e outros materiais de cunho pedagógico; a ineficiente e inadequada prática pedagógica dos (as) professores (as); a gestão do sistema realizada de forma ineficaz; os gastos inadequados ou ineficientes; e a ausência de prestação de contas por parte dos (as) funcionários (as), bem como carência de incentivos para que os (as) mesmos (as) melhorem suas performances.(ROCHA, 2001, p.25, grifos no original)

Com objetivo de sanar essas deficiências no período compreendido entre 1995/98 o governo de FHC iniciou as mudanças no sistema educacional para fortalecer e melhorar a qualidade da educação básica oferecida pela escola pública.

Entre essas políticas, destaca-se a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF). Com essa medida, o governou promoveu mudanças na distribuição de recursos para a educação, priorizando o ensino fundamental.

A emenda constitucional que oficializou o FUNDEF começou a vigorar em 1º de Janeiro de 1997.

Essa emenda permitiu que “no mínimo 15% do total de 25% dos recursos que estados e municípios são constitucionalmente obrigados a empregar na educação fossem destinadas ao FUNDEF com fins redistribuitivos” (ROCHA, 2001, p. 34). Isso significava que um percentual desses recursos seria destinado aos salários dos professores, como parte do programa de valorização do magistério.

Nas ações propostas para melhoria da educação básica, destaca-se: o programa TV Escola, o Programa Nacional do Livro Didático, o Programa de Aceleração da Aprendizagem, o Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), a Reforma da Educação Profissional, a Reforma do Ensino Médio, a Implantação do Exame Nacional de Cursos e os Programas: Acorda Brasil!, Está na Hora da Escola, Amigo da Escola e Toda Criança na Escola.

Para os fins e objetivos desta pesquisa, destacamos a Reforma do Ensino Médio e da Educação Profissional. Essas reformas foram implementadas com o objetivo de:

[...] modernizar o ensino médio e o ensino profissional no país, de maneira que acompanhem o avanço tecnológico e atendam às demandas do mercado de trabalho, que exige flexibilidade, qualidade e produtividade. Na concepção proposta, o ensino médio terá uma única trajetória, articulando conhecimentos e competências para a cidadania e para o trabalho sem ser profissionalizante, ou seja, preparando para vida. A Educação Profissional, de caráter complementar, conduzirá ao permanente desenvolvimento das aptidões para a vida produtiva e destinar-se-á a alunos e egressos do ensino fundamental, médio e superior, bem como ao trabalhador em geral, jovem e adulto, independentemente da escolaridade alcançada. (MANFREDI, 2002, p.128)

Um outro aspecto a ser considerado nas reformas implementadas durante o governo de FHC, foi expressar-se por um marco legal, normativo e institucional que prescreveu e conduziu as transformações substanciais nas instituições escolares.

Um desses instrumentos legais foi a LDB Nº 9394/ 96, que estabeleceu as bases para a educação brasileira em todos os níveis e modalidades de ensino, alguns desses criados a partir da própria lei, como é o caso da educação profissional e educação de jovens e adultos, que abriu novos e grandes espaços de possibilidades de aplicação dos preceitos neoliberais na educação de nosso país.

As discussões a respeito desta lei iniciaram na gestão de José Sarney, em 1988, quando deu entrada no Senado, o Projeto de Lei Nº 1258/88. Esse projeto teve como relator o

Deputado Jorge Hage, que apresentou um substitutivo. Até sua aprovação, em Dezembro de 1996, o projeto teve uma longa jornada de discussões, disputas de interesses, mobilizações e modificações.

Esse projeto foi aprovado no plenário da Câmara e enviado para apreciação no Senado Federal em 1993, com a denominação de PL C 101/93.

Em oposição ao PLC 101/93, deu entrada na Comissão do Senado, no dia 20 de maio de 1992, um outro projeto da LDB, de autoria do Senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), assinado pelos senadores Marco Maciel (PFL-PE) e Maurício Correa (PDT-DF). Para esse projeto, foi indicado como relator o senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). No entanto, devido a uma série de situações, esse projeto não foi aprovado.

Em Janeiro de 1995, na gestão de Paulo Renato Costa Souza no Ministério da Educação, foi realizada uma nova estratégia para viabilizar uma proposta que estivesse sintonizada com as políticas do Governo de Fernando Henrique Cardoso. O projeto que assinalava os ideais do governo de FHC era o do senador Darcy Ribeiro. As modificações propostas por este senador ao projeto que tramitava na câmara foram aprovadas em 20 de Dezembro de 1996, resultando na LDB Nº. 9394/96.

Os anos 90, com a edição da LDBN e de sua legislação complementar, apresentam uma política educacional subordinada a critérios expressos pelo Banco Mundial, que estão, por sua vez, adaptados aos princípios da ideologia neoliberal que são voltados para a competitividade, a produtividade e para o atendimento às demandas do mercado. E é nesse contexto e com esse mesmo referencial, que vai ser produzida e implementada a Reforma da Educação Profissional, que como a maioria das reformas que vêm sendo implementadas nos países latino-americanos, se alicerçam em diagnósticos produzidos por técnicos vinculados a organismos internacionais de financiamento, assessorados por especialistas locais, normalmente com uma marcada matriz economicista em sua formação. Os diagnósticos indicaram uma crise de qualidade e de gestão, em especial no sistema público de ensino, demonstrando que a educação latino-americana vivia uma profunda crise de eficiência, eficácia e produtividade. (SOARES, 2004, p.4)

A Reforma da Educação Profissional implantada no Brasil é conseqüência deste conjunto de fatores, que tem relação com as políticas de caráter neoliberal adotadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, onde se destaca a ingerência dos organismos internacionais e as mudanças no setor produtivo.

No próximo item, estudaremos como esses fatores influenciaram no modelo de educação profissional proposto pela Reforma da Educação Profissional (REP).

No documento GLEICE IZAURA DA COSTA OLIVEIRA (páginas 169-174)