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Capítulo III – A Cidadania transversal ao currículo

2. A Educação para os Valores: Conceitos e perspetivas

Está na ordem do dia a crise da educação contemporânea que se deve, também, grande parte, a uma crise de valores na sociedade.

E, parece evidente que a estabilidade social só será conseguida através de uma educação ao longo da vida, pautada pelos valores morais e sociais e, claro, pelo respeito dos Direitos Humanos.

Nelson Mandela chegou a proferir que “A educação é a arma mais poderosa que se pode usar no mundo”.

O nosso sistema educativo visa uma formação não só assente no desenvolvimento de conhecimentos e competências, mas também no desenvolvimento de atitudes e valores, fomentando, assim, o respeito pelos princípios fundamentais da vida, preparando as crianças para o viver em sociedade.

Se recorrermos a Marques (2002) constatamos que “Os valores possuem um importante papel no equilíbrio da personalidade, guiando as condutas e orientando a tomada de decisões para que não sucedam incongruências entre atitudes e acções que possam pôr em risco a saúde mental” (p. 15).

A educação está, de facto, comprometida com os valores éticos, por isso nota-se, cada vez mais, uma preocupação das escolas em “Educar para os Valores”, tendo em vista a formação moral, pessoal e social do indivíduo.

Do ponto de vista de Patrício (1993) “os valores envolvem tudo o que merece o nome de educativo, pois educar é realizar progressivamente o que é tido como o bem mais valioso para cada indivíduo” (p. 21).

Seria ao mesmo tempo absurdo e presunçoso acreditar que a formação ético-moral das crianças-alunos nada tem a ver com as questões pedagógico-didáticas e com a aprendizagem, daí a importância de se promoverem dinâmicas educativas que desenvolvam as atitudes e valores, pois, tal como nos refere Medeiros (2009) “Educar é valorar” (p.79). Mais, “Ser pessoa é crescer em valores” (ibidem).

Torna-se, pois, indiscutível a presença dos valores nos discursos e nas práticas educativas, devendo os educadores e professores incutir nas crianças-alunos um conjunto de atitudes e valores que os permitam viver saudavelmente em sociedade e, sobretudo, que os possibilitem aprender a ser pessoas e bons cidadãos.

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Aprender a ser é, como nos refere Reboul (1982), uma experiência humana essencial (p.13).

Também Patrício (1993, p. 20) diz-nos que a educação é um “fazer-ser ético” e, como tal, é decisivo educar alimentando valores.

Sim, porque os valores não se ensinam - “Os valores vivem-se. Não se adquirem através de conceitos abstractos” (Leite & Rodrigues, 2001, p.25).

Indo ao encontro das palavras de Medeiros (2006, p. 145) desde muito cedo os adultos educam as crianças com valores essenciais de base, mas que devem ser fomentados numa educação ao longo da vida.

E porque cada um de nós tem a sua dignidade, o seu carácter e transporta, em si, um conjunto de valores de base, nos devemos reconhecer “como pessoas, seres conscientes, livres e responsáveis, podemos crescer e realizar-nos no mundo dos valores, progredindo pelo caminho da educação” (José Ribeiro Dias, 2010, p. 39).

No entanto, para cultivar os valores é necessário identificá-los de forma objetiva e universal e, assim, transmiti-los numa caminhada pela educação.

De acordo com a reflexão ética de Hessen (1980) sobre o nosso modo de viver os valores, “na própria vivência do valor vai já incluída a vivência da sua objetividade. Incontestavelmente, vivemos os valores como objectivos” (p.101).

Na mesma linha de pensamento, José Quintana (1995) refere-nos que os valores são o eixo sustentador da educação por três ordens de razões:

a) são o resultado objectivo, subjectivo e pessoal de todo o processo de interpretação significante da realidade operada no sujeito; b) são a origem do quadro e sistema articulado dos motivos, critérios, normas, modelos e projectos com os quais o indivíduo busca e constrói o seu plano pessoal de vida; c) são as premissas que inspiram e unificam aquela conduta madura à qual ela tende (p.223). É necessário que tenhamos, como futuros educadores/professores, a consciência e a preocupação de transmitir valores às crianças-alunos das futuras gerações para que cresçam e se desenvolvam seguros, emocional e socialmente, proporcionando um ritmo de crescimento saudável, à luz de uma sociedade verdadeiramente globalizada.

Porém, para promover-se uma verdadeira educação para os valores, os educadores e professores devem ser, eles próprios, portadores de valores e ética.

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Por falar em ética, Maria da Conceição Azevedo (2010) acredita que os valores estão inteiramente relacionados com a ética e refere-nos o seguinte:

A ética – e, portanto, também a educação nos valores morais – envolve fazer cálculo das consequências e dar razões para uma escolha; (…) A ética aponta para o querer humano que não se reduz a um querer parcial, momentâneo e caprichoso, mas para o «querer que radicalmente me constitui» e afirma a não identidade entre o meu agir e o «ter de ser» da natureza, a negação da relação física de causa-efeito que aí ocorre. (…) é deste querer radical que brotam normas e valores ( pp. 57-58).

Mesmo as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar enfatizam que “São os valores subjacentes à prática do educador e o modo como este os concretiza no quotidiano do jardim - de - infância, que permitem que a educação pré-escolar seja um contexto social e relacional facilitador da educação para os valores” (Ministério da Educação, 1997, p.52).

Perante a sociedade atual, torna-se necessário recorrer a uma metodologia de ensino que aja de forma preventiva, na educação de valores éticos e morais, para que cada indivíduo atue de forma consciente, quer na tomada de decisões, quer na resolução de situações conflituosas.

Assim sendo, educadores e professores deverão proporcionar o desenvolvimento global das crianças-alunos, estimulando-as para a vontade de querer compreender e mudar alguns comportamentos e atitudes, promovendo, assim, a construção da sua identidade e da sua consciência cívica.

As atitudes e os valores vão-se formando ao longo da vida, através das experiências e vivências de cada indivíduo, devendo a educação possibilitar a sua construção e/ou aperfeiçoamento, visando sempre o desenvolvimento crítico e integral das crianças-alunos.

Consideremos a seguinte perspetiva da educadora entrevistada acerca dos valores: “Os valores, acho que estão já implícitos em cada pessoa, em cada ser humano. Têm é que ser trabalhados, têm que ser reforçados e… relembrados, constantemente” (Educadora Y).

Já o professor do 1.º Ciclo entrevistado acredita que os valores tanto podem ser aprendidos de modo mais indireto, como podem ser ensinados de modo explícito e direto. E o docente dá o seguinte exemplo:

Tendo por base o que pretendo fazer no 3.º período, quando falar no consumo iremos realizar uma visita ao Centro Comercial. A partir daí vou propor que façam uma lista

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de itens que desejariam ter e o preço de cada um. Depois, cada aluno irá estabelecer prioridades de compra e de seguida iremos construir um mealheiro para que, exclusivamente, com o seu esforço, eles consigam amealhar dinheiro até ao final do 3.º período para comprarem o que desejarem. Vamos ver se vai resultar (Professor X). Não há uma disciplina própria para os valores, nem precisa haver. Os valores podem muito bem ter um tratamento integrado e transversal ao currículo.

A educação é, ela própria, na sua essência, um valor a cultivar nas pessoas.

Aliás, a aposta na educação é um objetivo válido, dado que são as crianças de hoje que irão constituir o mundo do amanhã e serão elas os futuros políticos, professores e educadores.

Medeiros (2009) salienta que “A Educação e a Cultura alimentam-se dos valores. Os valores são a seiva da educação e da cultura” (p. 75).

Por tudo isto que foi referido até agora, os valores devem ser incutidos, ou melhor, despertos e consciencializados, desde cedo, nas crianças que, antes de serem pequenos aprendizes - ou ao mesmo tempo que são pequenos aprendizes - são, acima de tudo, pessoas.

Porque os valores, como nos conta Afonso (2005), “estão, sempre, onde estiver a pessoa, seja qual for o lugar, a circunstância, o estatuto e o papel social que cada um desempenhe” (p. 10).

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