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Capítulo II – O estágio como contexto de aprendizagem

1. A observação como um elemento-chave antes das intervenções

Antes da prática propriamente dita é proporcionado aos estagiários um período inicial de observação, formalmente previsto nas dinâmicas das Unidades Curriculares de Prática Educativa Supervisionada I e II e intensionalmente preparado pelos estagiários, que criam os seus próprios instrumentos de observação.

A criação dos instrumentos de observação exigiu, por parte dos estagiários, uma pesquisa, fundamentação e reflexão, sofrendo várias reformulações ao longo do processo, em função daquilo que se pretendia observar.

O investimento debruçado na pesquisa e elaboração de instrumentos para a observação no âmbito da Educação Pré-Escolar foi bastante proveitoso, na medida em que puderam, mais tarde, ser adaptados para a observação em contexto do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

A observação inicial acabou por se revelar um elemento-chave motivador e fundamental antes das intervenções pedagógicas, pois, com base naquilo que observei, procurei adaptar as suas propostas de atividades às especificidades do grupo/da turma com que desenvolveu a sua prática educativa.

No entender de Vieira (1993) “a observação de aulas, tarefa tão promissora quanto complexa, é hoje plenamente aceite como estratégia de investigação e de formação de professores” (p. 38).

Partilhando a mesma ideia, Gonçalves (2006) refere-nos que a “observação e análise da relação educativa, ao apresentarem-se na formação de professores como um instrumento de auto-regulação das práticas, estão a assumir-se como facilitadoras da figura do professor encarado como construtor de êxitos” (p. 32).

Os momentos de observação facilitam bastante a vida dos estagiários, na medida em que visam um melhor conhecimento dos contextos concretos, pois para o professor “(…) poder intervir no real de modo fundamentado, terá de saber observar e problematizar (ou seja, interrogar a realidade e construir hipóteses explicativas)” (Estrela, 1994, p. 26).

Na educação, a observação é perspetivada como um importante instrumento de formação do professor/educador pois é a sua principal fonte de informação e possibilita uma maior adequação das suas práticas pedagógicas.

Alarcão & Tavares (1987, p.103) confirmam isso mesmo quando referem que a observação é um “conjunto de atividades destinadas a obter dados e informações sobre o que

Capítulo II – O Estágio como Contexto de Aprendizagem se passa no processo de ensino/aprendizagem com a finalidade de, mais tarde, proceder a uma análise”, mobilizando os aspetos observados para a prática.

Na opinião de Simão (2002) a observação “traduz-se na descrição exaustiva e objectiva da situação e dos comportamentos evidenciados pelos indivíduos em estudo e na inferenciação das relações possíveis entre esses dois elementos” (p. 242).

A meu ver, a observação promoveu ainda questionamentos e reflexões que acabaram por se traduzir em práticas mais sustentadas, consistentes e objetivas.

Denote-se que só através da observação/reflexão é possível promover um ensino promotor de aprendizagens significativas pois o bom professor é “aquele que sabe captar todas as componentes da situação em que está implicado com os alunos, e encontrar a atitude da resposta mais adequada” (Postic, 1979, p. 13).

É neste sentido que a observação torna-se um elemento fulcral para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem, pois tal como Damião (1996) refere, a “(…) estratégia de observação do desenvolvimento dos alunos permite orientar a construção dos planos e a interacção” (p. 69)

Também no documento das OCEPE é realçada a importância da observação, sendo considerada como “a base do planeamento e da avaliação, servindo de suporte à intencionalidade do processo educativo” (Ministério da Educação, 1997, p. 25).

Ainda no mesmo documento (OCEPE) consta que “observar cada criança e o grupo para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades” contribui em muito para “compreender melhor as características das crianças e adequar o processo educativo às suas necessidades” (ibidem).

Mas a verdade é que estes momentos de observação, tão importantes para os estagiários, revelaram-se insuficientes pela escassez de tempo, sobretudo no âmbito do estágio no 1.º ciclo do ensino básico.

Paralelamente a este processo de observação procedeu-se ainda à análise dos documentos internos da escola, nomeadamente: o Projeto Curricular de Grupo (PCG)/ Projeto Curricular de Turma (PCT); o Projeto Educativo de Escola (PEE); o Projeto Curricular de Escola (PCE); o Plano Anual de Atividades (PAA) e o Regulamento Interno da Escola (RIE). A análise dos referidos documentos também contempla inúmeras vantagens, pois, segundo Damião (1996) estes documentos norteadores incluem informações importantes sobre “conteúdos, actividades, avaliação, gestão do tempo (…)” (p. 60), que podem auxiliar o estagiário na planificação das práticas de forma mais coerente, adequando-as às especificidades do grupo/turma.

Capítulo II – O Estágio como Contexto de Aprendizagem Também Perrenoud (1993) reconhece a importância da observação no ato educativo, referindo que “formar professores significa prepará-los para observar, decidir e egir em situação, tendo em conta o conjunto de objetivos e dos constrangimentos que caracterizam a acção pedagógica numa sala de aula” (p. 157).

Mas o tipo de observação que aqui se fala é, segundo Quivy e Campenhoudt (1992) direta – aquela em que “o próprio investigador procede directamente à recolha das informações, sem se dirigir aos sujeitos interessados” (p. 165).

A observação direta é um importante instrumento e um viável recurso, tanto para educadores como para professores, pois permite a apreensão dos comportamentos e acontecimentos no preciso momento em que eles ocorrem.

Ora, no início do estágio utiliza-se uma observação não participante, em que os estagiários observam o grupo/turma do exterior “(…) com ou sem a ajuda de grelhas de observação pormenorizadas” (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 198).

Numa fase posterior, passa-se para uma variável participante da observação, podendo os estagiários interagir com as crianças-alunos, ao mesmo tempo que as observam e, assim, vão “(…) participando na vida colectiva” (Quivy & Campenhoudt, 1992, p. 197).

Estrela (1994) pactua com esta ideia, pois, para este autor, este tipo de observação, à qual dá o nome de ‘observação participada’ permite ao observador “participar, de algum modo, na actividade, mas sem deixar de representar o seu papel de observador” (p. 35).

Em suma, o processo de observação tornou-se muito importante e enriquecedor, tendo assumido uma componente decisiva na minha ação pedagógica, pois possibilitou por um lado, a recolha de dados, por outro, numa fase posterior, a reflexão e discussão sobre os mesmos, fazendo com que eu ficasse mais contextualizada e informada para, então, dar início às minhas práticas.

Além disso, toda a informação recolhida através da observação contribuiu, em muito, para a realização do meu Projeto Formativo Individual, outro procedimento que faz parte integrante do processo do estágio e que será debatido no ponto seguinte deste relatório.

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