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Capítulo III – A Cidadania transversal ao currículo

3. A Formação Pessoal e Social na Educação Pré-Escolar

Na educação Pré-Escolar a Cidadania é perspetivada como “Formação Pessoal e Social”, sendo esta considerada uma área “transversal, dado que todas as componentes curriculares deverão contribuir para promover nos alunos atitudes e valores que lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e solidários, capacitando-os para a resolução dos problemas da vida” (Ministério da Educação, 1997, p.51).

Na opinião de Campos (1991), a formação pessoal e social:

tem como ponto de partida várias preocupações, de que se destacam três até de certo ponto relacionadas com as mudanças em curso no processo de socialização das novas gerações: a capacitação para a resolução dos problemas de vida, a promoção do desenvolvimento psicológico e a educação para os valores (p. 11).

Deste modo, a Educação Pré-Escolar é uma das etapas privilegiadas para ajudar a criança a criar hábitos de cidadania e a desenvolver atitudes e valores.

No entender de Leite e Rodrigues (2001), nas idades mais precoces:

para além da atenção ao tipo de mensagens vinculadas através do discurso pedagógico, justifica-se uma particular preocupação com o questionamento das atitudes e situações observadas ou vividas em grupo desencadeadas, ou não, pelas “aprendizagens formais” – oportunidades que não poderão ser negligenciadas quando se pretende educar para “viver juntos e viver com os outros” (p. 28).

As autoras supracitadas valorizam muito o recurso aos “contos de fada”, tão característicos na educação pré-escolar, na promoção da educação para a cidadania, porque “a par de toda a magia que transportam e do prazer que proporcionam eles veiculam também mensagens culturais que marcam positiva e/ou negativamente a formação das crianças” (Leite & Rodrigues, 2001, p. 35).

Se pensarmos como as autoras supracitadas, realmente, dificilmente se encontrará, hoje, um educador que não inclua os contos e as histórias nas suas práticas educativas.

Enfim, mas na Educação Pré-Escolar, a Formação Pessoal e Social, tal como todas as outras áreas de conteúdo, não têm um tempo específico como acontece no 1.º ciclo do EB.

E este foi um aspeto esclarecido pela educadora entrevistada, sendo impossível dizer ao certo quanto tempo dedicava a esta área por semana, até porque considera-a uma área

Capítulo III – A Cidadania Transversal ao Currículo

transversal e “há dias que se calhar é mais trabalhada que outros, mas todos os dias é trabalhada” (Educadora Y).

Relativamente aos temas e assuntos trabalhados com crianças em idade pré-escolar, a educadora entrevistada proferiu que:

Todos os temas que já foram trabalhados desde o início do ano letivo até agora pressupõem esta área, desde os temas relacionados com a comemoração de dias específicos como o dia do pai ou o dia da mãe, os amigos, as amigas, a amizade… as festas do natal onde também está implícita a solidariedade, a partilha na comemoração da amizade… todos os outros temas que estão relacionados com o viver em sociedade, tais como as profissões, os meios de transporte… enfim, todos os temas trabalhados, a Formação Pessoal e Social está em tudo, está sempre presente (Educadora Y).

O desenvolvimento pessoal e social das crianças é fundamental e, como tal, o educador deve, ele próprio, garantir o bem-estar das suas crianças, valorizando-as e respeitando-as, cada uma, na sua individualidade.

Do ponto de vista da educadora entrevistada a Formação Pessoal e Social pode contribuir para a construção e desenvolvimento da criança, como Pessoa e Cidadã, porque:

A Formação Pessoal e Social é a base para que o indivíduo construa o seu ser, a sua individualidade, onde vão estar implícitos os valores que adquiriu, que adquiriu, que aprendeu, que… que vai pôr em prática durante a sua vida toda, porque são as características daquele indivíduo. Inclusive eu, e acredito que todos os educadores e professores tenham os seus valores mas têm sempre a preocupação de os aperfeiçoar sempre, não é? Portanto, quanto mais Formação Social e Pessoal aquela pessoa tiver ou aprender, mais apta estará para viver em sociedade, para praticar as ações que se espera que o ser humano pratique, para viver em sociedade (Educadora Y).

Deste modo a Formação Pessoal e Social é uma área importante para a formação e desenvolvimento integral das crianças. Aliás, na opinião da Educadora entrevistada: “é a mais importante, porque é transversal a todas as outras, todas as outras áreas pressupõem que se trabalhe a Formação Pessoal e Social” (Educadora Y).

É importante que os educadores desenvolvam projetos ou promovam simples atividades que motivem as crianças para formas de ação solidárias. Apreciemos o seguinte testemunho da Educadora entrevistada, que procura realizar:

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atividades onde estão implícitos realmente o desenvolvimento de ou a apreensão de determinados valores, como por exemplo a questão da partilha na altura da… dos amigos e das amigas, onde fez-se uma partilha de um lanche, onde os amigos um dia trouxeram para oferecer às meninas, às amigas no dia… no outro dia trouxeram, as meninas, para oferecer aos meninos e também nos temas relacionados com o viver em sociedade, como eu já referi, profissões por exemplo, as crianças aderiram e participaram e gostaram muito de uma atividade relacionada com a visita da PSP à nossa escola, onde tomaram contacto com algumas realidades desta profissão, tais como: os veículos utilizados pela polícia, para que é que servem… ahhh, os cães, também foi-lhes explicado o que é que eles fazem, qual é o seu principal objetivo para a polícia, o contacto com determinadas realidades dessa profissão que as crianças não se apercebiam até aí e ficaram a perceber, enfim… (Educadora Y).

A área de Formação Pessoal e Social fundamenta-se no propósito de que a criança é um ser em crescimento e desenvolvimento que, através das relações que vai estabelecendo com o meio e com os outros, vai construindo os seus próprios conceitos e opiniões relativamente ao que observa e experimenta.

A Formação Pessoal e Social é, pois, uma área que tem de ser, constantemente, trabalhada, devendo os educadores relacioná-la com todos os assuntos que vão sendo abordados no dia-a-dia da atividade educativa, despertando as crianças para as questões de carácter moral e social, visando e facilitando a sua integração na sociedade de que faz parte.

Também é necessário sensibilizar as crianças para as questões que afetam as sociedades atuais, através do diálogo, pôr as crianças a pensar e a debater umas com as outras. A educadora entrevistada dá-nos um exemplo disso, apreciemos:

Temos um caso de uma criança que é de outra religião, onde já foi falado com as crianças essa diferença, foi dado a conhecer às crianças as principais características dessa outra religião para eles perceberem a diferença e respeitarem, porque para nós percebermos, na minha opinião, para aceitarmos uma coisa que é diferente temos que a compreender, temos que a perceber, temos que ter contacto com ela, percebê-la, compreendê-la para depois a podermos respeitar (Educadora Y).

Capítulo III – A Cidadania Transversal ao Currículo