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Capítulo II – O estágio como contexto de aprendizagem

4. As avaliações e reflexões após as práticas

A reflexão e a avaliação são duas referências indissociáveis para a ação educativa. Fala-se tanto no conceito de profissional reflexivo, sobretudo no âmbito da formação de professores e educadores e já tem sido minha intenção, ao longo deste trabalho, despertar para a importância de uma prática educativa reflexiva.

Aliás, num trabalho em que a problemática passa propriamente pelas questões da Cidadania faz todo o sentido a abordagem a esta conceção do profissional reflexivo, pois a “cidadania começa pelos professores, começa pela reflexão crítica sobre as suas práticas desenvolvidas” (Medeiros, 2006, p. 37).

Mas, o que é ser um educador/professor reflexivo? Estarão os estagiários a ser estimulados e preparados para uma prática reflexiva ao longo da sua formação?

De facto, o estagiário é preparado para esta intencionalidade ao longo do seu processo formativo, nomeadamente durante o período de estágio profissional. No entanto, aprender a pensar e a refletir deveria ser uma competência a trabalhar nos formandos o mais precoce possível, isto é, desde o início da sua formação.

Após cada intervenção houve sempre uma reunião com os docentes cooperantes que constituíram verdadeiros momentos de reflexão quer para o estagiário que acabara de intervir – reflexão da/sobre a ação – quer para o formando que iria intervir na semana seguinte – reflexão para a ação.

As reflexões sobre a ação, que surgiram na primeira parte das referidas reuniões, foram realizadas com a finalidade de os estagiários poderem “pensar no que aconteceu, no que observou, no significado que lhe deu e na eventual adopção de outros sentidos” (Nunes, 2000, p. 13).

No Decreto-Lei n.º 41/2012, de 21 de fevereiro (Diário da República, 1.ª série – N.º 37 – 21 de fevereiro de 2012), mais precisamente no capítulo II, artigo 10.º, alínea g), podemos ler que o pessoal docente tem o dever de “desenvolver a reflexão sobre a sua prática pedagógica, proceder à auto-avaliação e participar nas actividades de avaliação da escola”.

De acordo com Nóvoa (1992, p. 16), “(…) tudo se decide no momento de reflexão que o professor leva a cabo sobre a sua própria acção”. Mais, a Autoconsciência é “uma dimensão decisiva da profissão docente, na medida em que a mudança e a inovação pedagógica estão intimamente dependentes deste pensamento reflexivo” (ibidem).

Capítulo II – O Estágio como Contexto de Aprendizagem Por seu turno, a avaliação é outro processo imprescindível no desenvolvimento da profissão docente, pois a sua função é, justamente, parafraseando Ribeiro (1997), a de contribuir para o sucesso e a de averiguar em que medida foi conseguido aquilo que era pretendido (p. 5).

Mas a avaliação que aqui se fala refere-se não só às aprendizagens dos alunos, mas também aos desempenhos dos estagiários no decorrer das suas práticas educativas.

As avaliações dos alunos influenciam, ou pelo menos deveriam influenciar, a ação dos docentes, pois se algo não esteve bem e por isso determinados objetivos não foram atingidos, cabe ao educador/professor refletir e perspetivar uma nova forma de colmatar as dificuldades para que os objetivos sejam alcançados de futuro.

Por isso é que, após cada intervenção, os estagiários procedem à avaliação dos alunos e à reflexão do seu próprio desempenho, pegando sempre nos aspetos que ficaram em aberto para reforçar nas intervenções futuras.

A avaliação é a fase em surgem as questões do tipo: O que foi bem conseguido? O que não correu bem e poderia ter corrido melhor? O que é que as crianças aprenderam com a minha intervenção? … A avaliação é isto mesmo, um processo de reflexão que permite explicar e analisar os resultados das ações realizadas, reconhecendo os sucessos e os erros da prática educativa para, no futuro, corrigi-los e não repeti-los.

Nas palavras de Perrenoud (2002a):

(…) em todos os grandes pedagogos que, cada um a seu modo, consideram o professor ou o educador um inventor, um pesquisador, um improvisador, um aventureiro que percorre caminhos nunca antes trilhados e que pode se perder caso não reflita de modo intenso sobre o que faz e caso não aprenda rapidamente com a experiência (p.13).

Neste quadro de ideias Rosales (1992) entende a avaliação como “uma função característica do professor que consiste, basicamente, numa actividade de reflexão sobre o ensino” (p.11).

Avaliar implica, assim, refletir e, na opinião de Demo (1999), “refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos etc.” (p.1).

Neste sentido, importa que o educador/professor avalie o processo de ensino e aprendizagem com base nas suas observações, para que tome consciência da pertinência e sentido das oportunidades que proporcionou às suas crianças-alunos e, assim, perceber se contribuiu para a aprendizagem e desenvolvimento dos mesmos.

Capítulo II – O Estágio como Contexto de Aprendizagem

Na perspetiva de Hohmann & Weikart (1997) “Pensar reflexivamente sobre as observações das crianças é um processo aberto no qual os adultos exploram essas observações, juntam detalhes que haviam passado despercebidos, relacionam informação nova com aquilo que já sabem sobre a criança e especulam sobre possíveis significados” (pp. 144- 145).

No âmbito do estágio desenvolvido nas Práticas Educativas Supervisionadas I e II, a avaliação do desempenho das crianças teve sempre como base a observação direta, que é o principal instrumento de um educador/professor e tem sido um dos procedimentos mais utilizados para recolher dados, com o intuito de suportar as decisões educacionais.

Este é outro aspeto que os docentes devem ter em conta quando avaliam os seus aprendizes, devendo estes adotar novos procedimentos e instrumentos, que terão de ser variados e “adequados à diversidade das aprendizagens que se pretendem promover e à natureza de cada uma” (Abrantes, 2001, p. 24).

Para observar e regular tudo aquilo que pretendi que cada criança-aluno atingisse em cada uma das suas sessões letivas, optei por criar listas de verificação que comportassem as várias áreas curriculares a avaliar e onde fossem discriminados os objetivos e os descritores de desempenho, estes últimos muitas vezes desdobrados em indicadores, tendo sempre por base os programas curriculares, as metas de aprendizagens e/ou curriculares, entre outros tantos documentos norteadores da ação pedagógica.

Para C.Silva (1999) “as listas de verificação constituem o instrumento mais objectivo, a nível da observação, que pode ser usado, de uma forma ocasional ou sistemática, tanto por professores como por alunos para registar comportamentos individuais ou de grupo” (p. 170).

Em jeito de síntese, e parafraseando Pinheiro (2008), a avaliação é reconhecida como uma componente essencial e integral do processo educacional e consiste num processo de reflexão que permite explicar e avaliar os resultados das ações realizadas (p. 31), quer por parte de quem aprende, quer por parte de quem ensina.

Avaliar e refletir são processos que fazem parte integrante da prática docente, devendo os educadores/professores pensar antes de agirem, para agirem e depois de agirem.

Capítulo II – O Estágio como Contexto de Aprendizagem