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PARTE I QUADRO TEÓRICO

1. A Educação Sexual em Meio Escolar: Um Contributo para o

A Educação Sexual esteve sempre presente nas escolas de forma informal, adoptando conotações positivas e negativas, conforme a abordagem realizada e influenciando comportamentos, reprimindo alguns e proclamando outros como aceitáveis. A Educação Sexual informal assume um papel fundamental na formação dos jovens, uma vez que “é o processo mais básico de aprendizagem da

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sexualidade” (Vaz, 1996: p. 17). Adoptando pais e mães como primeiros modelos,

transmissores de valores que moldam o carácter e permitem a construção da sua identidade e a definição dos papéis de género, as crianças partem à descoberta edificando o saber junto dos pares, dos livros e dos media. É nesta fase que os mitos, as concepções erradas e a informação pouco rigorosa podem enraizar falsos conhecimentos e influenciar negativamente o crescimento da mente. Esta Educação Sexual, apesar de descuidada pela Escola e pouco entendida como tal, é essencial para a construção do indivíduo de forma sadia e plena, desde que os educadores tenham a sensibilidade de explorá-la e mantiverem uma atitude aberta que possibilite a livre expressão (Camamero et

al., 1985). A Escola é, pois:

Adoptando uma visão reflexiva sobre o tempo passado pelo(a)s aluno(a)s nas escolas verifica-se que, muitas vezes, suplanta o tempo passado com as famílias. Para além disso, é um espaço muito importante de encontro entre amigo(a)s e parceiro(a)s (Vilar, 1987). Em conjunto constroem identidades, descobrem-se, inter-relacionam-se... A sexualidade “não consegue ser mantida fora da

escola”(Louro, 2000: p. 47) porque faz parte de cada um de forma intrínseca,

desde o nascimento e por todas a nossa existência como individualidade. Daí a necessidade de converter a Educação Sexual à sua forma formal nas escolas, de modo a contribuir para a construção do conhecimento, para a aquisição de informação científica essencial, para a definição dos papéis de género, para a construção de uma sociedade mais tolerante e respeitadora da diferença. O silêncio não é deveras a melhor opção, podendo transmitir uma certa carga negativa à sexualidade (Vilar, 1987) que deve ser encarada de forma positiva.

Nos dias de hoje, considerando a sociedade actual, a Escola não deverá adoptar o papel das famílias, mas deverá exercer um papel mediador entre a família e

“(...)um espaço privilegiado, pelo seu contributo na aquisição e

estruturação de conhecimentos, na interiorização de valores e no desenvolvimento de práticas que vão constituir um suporte essencial para a cidadania (Ferreira, 1998: p. 28).

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o(a) aluno(a), levando-os a estabelecer o diálogo fundamental para a resolução de tantos problemas que se verificam em meio escolar. Deverá também recorrer, se necessário, a profissionais de saúde para casos específicos que a Escola não possa solucionar. O(A)s profissionais de saúde deverão, pois, intervir em casos pontuais e em articulação com a Escola e nunca adoptar o papel de promotores únicos da Educação Sexual em meio escolar, como disposto nas orientações oficiais.

A Educação Sexual em meio escolar implica a discussão da sexualidade humana nas suas diferentes dimensões, na nossa opinião, indissociáveis. As diversas dimensões dinamizadas interactivamente promovem uma sexualidade sadia e livre de tabus ou preconceitos, contribuindo para o desenvolvimento pleno e global do(a)s aluno(a)s. Hoje está mais que verificado que abordar a sexualidade na sua dimensão biológica é redutor, embora essencial para a aquisição de conhecimentos com rigor científico, sendo possível extinguir mitos e afastar falsas ideias enraizadas (Sampaio, 1987). É necessário que a dimensão psico-afectiva, gerindo emoções, sentimentos esteja presente (Machado, 1998) e seja estimulada, contextualizando o prazer noutras áreas para além da fisiológica. E, porque ninguém é uma ilha, e a capacidade de estabelecer laços é fundamental para o bem-estar, saber comunicar e partilhar sentimentos é essencial para a vivência da sexualidade, sendo a dimensão comunicativa a responsável por esta abertura (Machado, 1998). A dimensão ética não pode ser deixada para segundo plano, já que compreende a responsabilização das acções praticadas a título individual e a capacidade de tomar decisões ponderadas (Machado, 1998; Pinto, 1982). Uma visão mais pragmática corresponde em saber distinguir o certo e o errado em questões que envolvam a sexualidade (Bruess e Greenberg, 2004). Existe uma estreita relação entre ética e educação, uma vez que a ética é a arte de saber viver consigo e com os demais, sentindo amor e gosto pela vida. A Escola promove essa aprendizagem, contribuindo para a formação do carácter e da personalidade da criança (Oliveira, s. d.). Desta forma, a Educação Sexual contribuirá também para o “desenvolvimento do

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raciocínio moral” (ME, 2002: p. b) e de uma consciência social, fundamental para

a vivência em sociedade. Inter-relacionada com a dimensão sociocultural e política (Machado, 1988), a Educação Sexual promoverá o espírito de cidadania, a tolerância e a aceitação da diferença, a partir da compreensão de valores e atitudes culturais, muitas vezes enraizadas e decisivas no modo como é encarada a sexualidade de cada um e as suas variadas expressões. Estas dimensões - biológica, psico-afectiva, comunicativa, sociológica, ética, cultural e política - em interacção, moldam a personalidade do indivíduo desde a nascença e imprimem atitudes e valores face à sua sexualidade e ao modo de encarar a sua vivência em comunidade. No entanto, o tema é controverso por nem todos encararem a sexualidade como uma componente essencial da vida sendo, muitas vezes, negada ou reprimida. Mas a sexualidade faz parte de cada um (Myles et al., 1983), intrinsecamente.

A sexualidade é expressa através de comportamentos e pode ser uma fonte de bem-estar e de prazer (López e Fuertes, 1999). Segundo a OMS (citado em Frade

et al., 2001), a sexualidade é:

Atendendo a esta definição, nada mais evidente que estabelecer a Educação Sexual de modo formal, planificada e estruturada em meio escolar. Não só sugere que a sexualidade esteja intrinsecamente ligada ao carácter e que leva a comunicar, a estabelecer relações, como daí depende o bem-estar individual e social. A Escola possui o dever de promover o bem-estar do(a)s aluno(a)s e deve potenciar um crescimento informado e o desenvolvimento de competências individuais fundamentais para uma vivência feliz e positiva. Contribuirá, pois, para que se façam escolhas acertadas e se optem por estilos de vida saudáveis. A partir da administração de um questionário em 63 escolas,

“uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e

intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influência pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso,

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inquirindo o(a)s aluno(a)s de uma turma do 10º ano e de uma turma do 12º ano, Vilar e Ferreira (2010) verificaram que a escola assume um papel cada vez mais evidente na Educação Sexual, contribuindo para uma vivência da sexualidade mais positiva, denotando-se a adopção de comportamentos preventivos, indiciando-se a capacidade de recorrer a ajudas quando necessário e evidenciando-se o início das relações sexuais mais tarde. A escola deverá proporcionar, na opinião de vário(a)s autore(a)s que privilegiam as dimensões psico-afectiva, comunicativa e ética, uma educação para as atitudes e valores (Oliveira, s. d.; Buxarrais, 2000; Zapiain, 2003), alegando que a formação de atitudes positivas sobre sexualidade devia ser um dos principais focos de reflexão na Educação Sexual, considerando que “la actitud hacia la sexualidad

interviene en el proceso” (Zapiain, 1993: p. 206) de desenvolvimento pessoal

global. Segundo Oliveira (s. d.), “su objetivo es eyudar al alumnado a tomar

decisiones responsables en lo que respecta a su relación con los demás” (p. 176), mas

não é fácil educar para uma atitude sexual adequada. Brennan (1995) alerta para as atitudes que o(a)s professore(a)s/educadore(a)s trazem para a sala de aula, pois são observadas e interiorizadas pelo(a)s aluno(a)s. Muito(a)s professore(a)s/educadore(a)s transmitem a sua atitude negativa, para com a sexualidade própria, adulterando informação e transmitindo sensações de medo e de perigo (López, 1985). Brennan (1995) salienta a necessidade de haver uma mudança nas atitudes do(a)s professore(a)s/educadore(a)s em relação a estereótipos, auto estima ou imagens negativas de si e medos em relação à sexualidade ou vergonha do seu próprio corpo. Para que esta mudança de atitudes se concretize, revela-se fundamental a formação de educadore(a)s/professore(a)s, que inclua dinâmicas de grupo reflexivas que privilegiem a participação activa dos intervenientes.

Na opinião de Zapiain (1993), as atitudes são tendências que assentam em três aspectos fundamentais: cognitivo, afectivo e comportamental. O autor indica que a informação, mesmo que precisa, não implica um comportamento adequado, mas releva o facto da possibilidade das pessoas, que expressam uma

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atitude negativa face à sexualidade, não possuírem a informação adequada. Zapian (2003) sublinha a necessidade da Educação Sexual assentar na esfera das atitudes e justifica:

Partir da esfera das atitudes para privilegiar a esfera das competências individuais e, desta forma, promover a vivência da sexualidade de forma sadia e positiva é uma proposta a considerar nos programas e projectos de Educação Sexual. No entanto, a esfera dos conhecimentos não deve ser ignorada.

2. As Escolas Promotoras de Saúde e a Implementação da Educação Sexual