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A Educação Sociocomunitária no contexto da pesquisa realizada

No documento CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO (páginas 117-120)

CAPÍTULO III – DOS CAMINHOS INVESTIGATIVOS

3.1 A Educação Sociocomunitária no contexto da pesquisa realizada

O conceito de educação Sociocomunitária não é unanimidade entre seus pensadores, haja vista a diversidade de concepções expostas por diferentes autores.

Para Gomes:

A Educação Sociocomunitária é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de processos educativos. Nessa primeira visão, ao buscar essa tática a comunidade concretiza sua autonomia. Buscar mudar a sociedade significa romper com a heteronímia, com ser comunidade perenemente determinada pela sociedade (GOMES, 2008, s/p).

Já outro teórico, o Pde. Manoel Isaú assim a define:

Por educação comunitária, em princípio, seria a educação realizada numa comunidade para viver em comunidade e realizar-se com a participação desta e para o desenvolvimento desta sem descuidar a realização da própria pessoa humana. Já a educação social realiza-se na sociedade, para o desenvolvimento da sociedade, ampliando o âmbito da educação comunitária, pois entendemos que a sociedade é a integração das comunidades em um organismo mais vasto, o “mundo social”, ou “superorganismo”. Em ambos os casos a educação individual só se concebe integrada nas duas estruturas, para a própria realização individual. Por isso chamamos de educação sócio-comunitária (ISAÚ, 2007, p. 07).

E em Azevedo:

A educação de cada um e de todos, ao longo de toda a vida e com a vida, só é possível no quadro destas dinâmicas sociocomunitárias fundadas, em síntese, no encontro, no re-conhecimento, na cooperação e no compromisso pessoal e social, quatro passos de dinâmicas que valorizem, reconheçam e comprometam os múltiplos poderes de um amplo leque de instituições e pessoas, seja para que ninguém fique de fora do acesso e do usufruto dos bens educacionais seja para que a solidariedade seja o real cimento de sustentação do desenvolvimento humano e da vida em comum (AZEVEDO, 2010, p. 10).

Num viés de “escuta polissêmica”, Bissoto concebe a Educação Sociocomunitária como:

A Educação Sociocomunitária, antes do que mais uma subdivisão ou uma especialização da educação, deve ser entendida como um processo: aquele de escuta – e assim de trazer à tona, de favorecer a emersão- das diferentes vozes que compõem as múltiplas educações, que vão nos configurando, construindo a nossa subjetividade- enquanto vamos sendo inseridos nas malhas de relações sociais, que constituem o viver. A escuta atenta destas vozes, colocá-las em diálogo, levantando a discussão de suas contradições e ideologias, é fundamental para que tenhamos uma tessitura da realidade mais crítica e emancipatória. É por meio desta discussão que a educação para a autonomia é possível (BISSOTO, 2012, p. 54).

E, finalmente, para Carvalho e Bissoto,

Os objetivos das ações educacionais que incorporam esse caráter de comunitário buscam, de forma geral, integrar a aprendizagem aos diversos contextos nos quais a vida transcorre. Visam promover a educação integral do indivíduo, com base na competência pessoal e da convivência em grupo (CARVALHO e BISSOTO, 2014, p. 91).

A reflexão sobre essas conceituações nos leva a ponderar que a principal razão de ser das práticas educativas vinculadas à educação Sociocomunitária está no pensar a autonomia dos sujeitos, compreendendo a natureza social e comunitária dessa autonomia, defendendo-se que a aprendizagem ocorre por meio de práticas coletivas e sociais.

Para que o sujeito desenvolva um pensamento crítico e consciente a respeito de si e de seu entorno, é necessário um afastamento e uma contraposição a uma educação burocrática ou bancária que se dá com a mediação de um profissional que foca sua práxis na reflexão.

No pensamento de Carvalho e Bissoto (2014), a educação sociocomunitária é uma possibilidade de construção do desenvolvimento da autonomia pessoal, dos relacionamentos sociais e comunitários e da valorização da diversidade cultural, tornando-se caminho para a o desenvolvimento de uma sociedade em que as pessoas, dentro da pluralidade das suas condições, constituam-se num processo discursivo de humanização:

A educação sociocomunitária se mostra uma perspectiva promissora para “oxigenar” o olhar sobre as práticas educacionais desenvolvidas no cotidiano vivido, dependendo, para seu amadurecimento teórico, da reflexão e da sistematização de conhecimentos que mais bem a caracterizem (CARVALHO e BISSOTO, 2014, p.93-94).

Por esse viés, percebe-se a educação sociocomunitária como diretamente ligada ao pensar e ao discutir o fazer educação, em prol de uma práxis educativa comprometida com a organização dos sujeitos e da comunidade para a problematização da realidade.

A Educação sociocomunitária deve se voltar à transformação social, o que leva os sujeitos a se colocarem em posição dialógica e dialética, passando pela “escuta” e análise das influências que impactam o desenvolvimento dos sujeitos e das suas circunstancialidades (BISSOTO, 2012).

Procurou-se, aqui, vincular os pressupostos da Educação Sociocomunitária à investigação desenvolvida, argumentando-se que a escuta das concepções dos professores que se formaram não somente baseadas em conteúdos acadêmicos, mas nos caminhos da vida, que tanto marcam o fazer e o pensar docentes, coaduna-se com o conceito de Educação Sociocomunitária como pensada por Bissoto (2012).

No entender dessa autora, a Educação Sociocomunitária constitui-se como o processo de escuta e de compreensão sobre os impactos que a educação, em seus diversos âmbitos, tem sobre os sujeitos, decorrentes dos vários microssistemas com os quais esses interagem, ao longo da vida, além de ser um caminho educativo favorável à promoção da autonomia dos sujeitos:

Educar para a autonomia significa desenvolver um sentido de agência, ou a percepção individual de que está no centro- e na origem- das próprias ações; e que essas se referem, imbricadamente, aos interesses, valores e escolhas, “internalizados” /construídos e transformados no processo de se tornar parte de um grupo social (BISSOTO, 2012, p.94, grifo do original).

É pela educação praticada nesses diferentes microssistemas em que os sujeitos convivem que se constrói esse sentido de agência, que é fundamental no processo de construção da autonomia dos sujeitos. E só a partir da construção dessa autonomia é que podemos considerar a possibilidade de termos sujeitos que expressem suas interpretações de mundo de forma consciente, dispostos a enunciar suas “verdades”, ao mesmo tempo em que, dialogicamente, percebem a fragilidade e as oportunidades de construir outras interpretações do real.

3.2 Concepções epistemológicas e suas correlações com modelos de ensino-

No documento CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO (páginas 117-120)

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