1 O TRABALHO E SUAS TENTATIVAS DE RESSIGNIFICAÇÕES NA
2.2 A educação superior: a universidade de instituição a organização social
A universidade e, assim, uma organização
social que presta um serviço ao Estado e
celebra com ele um contrato de gestão.
(CHAUÍ, 2001)
Há vasta produção acerca do debate sobre Educação Superior. Grosso modo, o
marco dos anos de 1990, indica o fim da social-democracia e dá lugar a uma nova
configuração do Estado á luz do neoliberalismo.
Desde logo, reafirmando que o Estado, na percepção de Gramsci:
[...] é certamente concebido como organismo próprio de um grupo, destinado a criar as condições favoráveis à expansão máxima desse grupo, mas este desenvolvimento e esta expansão são concebidos e apresentados como a força motriz de uma expansão universal, de um desenvolvimento de todas as energias “nacionais”, isto é, o grupo dominante é coordenado concretamente com os interesses gerais dos grupos subordinados e a vida estatal é concebida como uma contínua formação e superação de equilíbrios instáveis (no âmbito da lei) entre os interesses do grupo fundamental e os interesses dos grupos subordinados, equilíbrios em que os interesses do grupo dominante prevalecem, mas até um determinado ponto, ou seja, não até o estreito interesse econômico-corporativo. (GRAMSCI, 2016, p.42)
Disso trazemos para a presente discussão como este tem mantido relações com o
ensino superior através de legislação específica, que neste trabalho se desenrola também
pelo acompanhamento dos Decretos: Nº 2306/97; Nº 3860/2001; Nº 5773/2006; Nº
9.235/2017, no que se refere a sua instituição no país.
Os Decretos supracitados demonstram, tanto em governos da dita direita quanto
da esquerda, avanços do neoliberalismo no setor educacional superior. Metas sendo
alcançadas, e uma política forte de expansão desse nível de ensino e regularizada para o
adentramento do setor privado e enxugamento das instituições públicas se comparada ao
crescimento das instituições privadas, sem contar a discrepância financeira destinada à
ampliação, por exemplo, pelo Reuni, e manutenção dessas autarquias.
Mais uma vez identificamos um Estado forte ao construir, através do legislativo,
formas ordeiras de instituição entre a educação pública e privada. Entretanto, observa-se
que os decretos supracitados surgem mais para organizar e concretizar a expansão de
instituições privadas em detrimento das públicas.
Sampaio (2000) reflete que os instrumentos normativos são poucos eficazes para
controlar o modo como o setor privado se expandiu e ao seu dinamismo para tal
crescimento em detrimento das instituições públicas.
Entretanto, não percebo tais instrumentos como contrários à sua expansão tendo
em vista que o setor privado, na nossa sociedade, tem exercido até os tempos atuais
ainda a função complementar de acesso e democratização do ensino superior no país, ao
atender a chamada massa de suas matrículas.
As relações operacionais do Estado, nesse sentido têm sido de forma a atender
essa dinâmica de existência dual entre o público/privado, atuando em estabelecer e
editar normas que formalmente promoveriam condições mais semelhantes entre eles
para que se equipararem em relação à qualidade do ensino oferecido (SAMPAIO,
2000, p. 373).
Esses arranjos legais criam adequações do ensino superior no país a serem
atendidas por: a) instituições públicas e, b) instituições privadas. Estas últimas
caracterizam-se como 1) particulares em sentido estrito; 2) comunitárias; 3)
confessionais; 4) filantrópicas, definidas conforme a LDB9394/96, em seus artigos 19 e
20:
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público;
II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias:
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características dos incisos abaixo;
II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº 12.020, de 2009)
III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;
IV - filantrópicas, na forma da lei. (BRASIL,1996).
No tocante, por mais que se tenha uma estrutura administrativa, nessa
reorganização do ensino superior, a moldura legal quanto ao financiamento dessas
instituições cria no Estado uma espécie de “polvo” para manutenção da expansão desse
nível de ensino no país. Dito de outra maneira, legalmente é possível o financiamento
por parte do Estado para a dobradinha público-privado.
Frente à discussão de IES a compreensão de heterogeneidade é fundamental,
pois:
[...]expressa as desigualdades regionais, a diversidade da demanda de ensino superior, o preparo e as expectativas de seus consumidores, as características dos cursos oferecidos, a qualificação do corpo docente – que não se baseia estritamente no critério de titulação acadêmica – e suas potencialidades, entre outros. Para falar da heterogeneidade do setor privado não basta elencar aspectos formais referentes à organização acadêmica e/ou às desigualdades regionais da oferta do sistema; tampouco heterogeneidade restringe-se a uma questão de qualidade mensurável, em que se contabilizam os programas de pós-graduação stricto sensu oferecidos, os mestres e os doutores do quadro docente, com a finalidade de se abrir um parêntese no setor privado e ressalvar duas ou três instituições construídas à imagem e semelhança de algumas públicas. (SAMPAIO, 2000, p.370)
Assim, uma das questões- chave nas políticas para o sistema de ensino superior,
em especial para o setor privado, diz respeito, portanto, ao equacionamento de dois
aspectos: a heterogeneidade do sistema e a sua qualidade. Todavia, é importante
ressaltar que o ensino privado de sentido estrito configura-se como aquele que melhor
consegue ser dinâmico no quesito oferta de mercado, e este tem o mercado como:
[...] o principal motor das transformações que, desde os anos 60, vêm ocorrendo no setor privado. Tanto nos períodos de crescimento como nas fases de diminuição da demanda e, em conseqüência, de declínio das matrículas, o mercado sempre teve peso muito maior sobre o setor privado do que as regulamentações burocráticas do Estado (SAMPAIO, 2000, p.373, grifo meu).