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A eficácia do desenvolvimento profissional dos professores

Qualquer iniciativa de desenvolvimento profissional só faz sentido através da obtenção de resultados. Neste sentido, estas iniciativas devem ser acompanhadas dos meios necessários à avaliação da sua eficácia (Meignant, 2003). No entanto, segundo Estrela (1999), a avaliação da formação encerra uma variedade e complexidades de problemas que a transforma numa tarefa difícil e que requer tempo e conhecimento sobre a formação e a avaliação “que estamos longe de deter”, pois pressupõe sempre um ato investigativo de recolha de informação e de determinação de quadros de referência em função dos quais essa informação adquire sentido.

Guskey (2002) identifica os recursos mais relevantes para avaliar a eficácia do desenvolvimento profissional dos professores, através de um roteiro em cinco níveis: (i) as reações dos participantes; (ii) a aprendizagem dos participantes; (iii) o suporte organizacional e mudança; (iv) o uso de novos conhecimentos e habilidades dos participantes e, finamente, (v) os resultados de aprendizagem dos alunos. Todavia, na formação contínua de professores, segundo este autor, a

43 avaliação das ações desenvolvidas incide, na maioria das vezes, apenas nos primeiros dois níveis: (i) a satisfação dos professores é recolhida através de um formulário no momento da conclusão da atividade formativa e a (ii) classificação é atribuída em função do desempenho do formando no decorrer da formação, de acordo com critérios pré- definidos, incluindo um relatório crítico que se resume a uma mera formalidade sem relevância para uma efetiva reflexão do docente sobre o seu percurso formativo.

Todavia, a mudança de atitudes e crenças dos professores, segundo Guskey (2002), não se prende tanto com a qualidade do desenvolvimento profissional contínuo em si, mas com as experiências bem-sucedidas. Sabendo-se que as práticas que não produzem evidências tangíveis de sucesso são geralmente abandonadas e que a falta de evidências de melhores resultados nos alunos poderão ser uma das razões para a resistência à alteração de práticas de ensino, é crucial proporcionar experiências bem-sucedidas dos professores junto dos seus alunos. Deste modo, na formação contínua, deve ser tido em conta que o processo de mudança ao nível das crenças e atitudes está intimamente relacionado com os efeitos produzidos nos resultados dos alunos.

Day (2001) defende que o desenvolvimento profissional eficaz deve basear-se num plano de desenvolvimento pessoal assente em seis princípios subjacentes. Segundo este autor, em primeiro lugar, o desenvolvimento profissional que sustenta a aprendizagem do professor é uma aprendizagem ao longo da vida. Em segundo lugar, deve ser autogerido, embora de responsabilidade conjunta do professor e da escola. Em terceiro lugar deve ser apoiado, através da disponibilização de todos os recursos necessários, o que pode implicar outras pessoas, pois nem sempre o professor é autossuficiente. Em quarto lugar, o desenvolvimento profissional deverá ser planeado com base nos

44 interesses do professor e da escola, embora possa não ser em simultâneo. Em quinto lugar, deve haver prestação de contas, o que pressupõe uma avaliação do trabalho desenvolvido. Finalmente, em sexto lugar, o desenvolvimento profissional deve ser diferenciado, através de um plano de desenvolvimento pessoal, de acordo com as necessidades de cada um. Segundo Richard (2018), os fatores que condicionam o desenvolvimento profissional contínuo dos professores são complexos e diversos, mas relacionam-se entre si e entrelaçam-se, de forma interdependente. Nesta linha de pensamento, este autor explicita cinco princípios para a eficácia do desenvolvimento profissional contínuo dos professores.

O primeiro princípio é de que o desenvolvimento profissional deve visar explicitamente melhorar as aprendizagens dos alunos e avaliar, sistematicamente, o efeito nos resultados dos mesmos. Assim sendo, as atividades de formação contínua devem ser enquadradas no contexto de sala de aula, com o propósito de melhorar os resultados dos alunos. O segundo princípio para um desenvolvimento profissional eficaz consiste em desenvolver atividades fundadas em evidências, combinando a teoria e a prática. Isso significa que as intervenções ou ações formativas devem ser lideradas por especialistas com experiência reconhecida na área de formação dinamizada.

Um terceiro princípio, que permite tornar o desenvolvimento profissional mais eficaz, inclui um acompanhamento da formação baseado no trabalho colaborativo. Neste sentido deve ser implementada uma abordagem de prática reflexiva em contexto de trabalho colaborativo, pelo que este autor defende a constituição de comunidades de aprendizagem profissional (CAP) para o desenvolvimento profissional e acrescenta que os estudos, de onde recolheu elementos para identificar os cinco princípios aqui referenciados, realçam a importância do trabalho

45 colaborativo entre professores, num contexto de desenvolvimento profissional direcionado para a melhoria dos resultados dos alunos. A distribuição das atividades formativas ao longo do tempo é o quarto princípio a ter em conta para um desenvolvimento profissional eficaz, pois segundo Richard (2018) as atividades de formação contínua, no quadro de um processo sustentado, devem ter uma duração de, pelo menos, 20 horas, durante um período de, pelo menos, um ano escolar. Para além disso, o desenvolvimento profissional dos professores deve ainda ser apoiado por uma liderança pedagógica, pois, de acordo com o quinto princípio, este autor afirma que é importante que a formação seja bem gerida, por uma liderança capaz de criar um ambiente favorável à aprendizagem. Essa liderança deve promover ativamente a aprendizagem profissional e partilhar uma visão orientada para a melhoria das aprendizagens dos alunos.

Em síntese, Guskey (2002) e Richard (2018) associam a eficácia da formação aos resultados dos alunos, o que pressupõe uma avaliação da formação mais aprofundada e mais prolongada no tempo, mas que também exige, segunda Estrela (1999), um maior conhecimento sobre a formação e sobre a avaliação, que nem todos os intervenientes nos processos de formação contínua de professores possuem.

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2 - O desenvolvimento profissional dos professores e as TIC

2.1 O desafio da educação e dos professores/educadores na era