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Estabelecida a relação conceitual entre o Projeto Político-Pedagógico e a gestão democrática através dos Conselhos Escolares, examinaremos brevemente alguns princípios para a sua elaboração.

Se o Projeto Político-Pedagógico exprime as intenções da escola e o desejo da comunidade escolar, então, como vimos, sua elaboração deve ser feita através do Conselho Escolar. Mostramos na seção 1.1 que a educação representa um ato político, cabendo à comunidade, em um processo de gestão democrática, decidir que tipo de educação será praticada na escola. Portanto esta decisão estabelece uma finalidade para o Projeto Político- Pedagógico, em torno da qual os meios e esforços devem se articular para assegurar sua realização.

Segundo Gadotti (1994) há alguma confusão entre plano e projeto: o plano privilegia a finalidade, sendo um referencial estático. O projeto, por outro lado, não se prende à finalidade: também os meios são significativos para a sua consecução, o que implica em um constante reexame de meios e fins em função da realidade, que é dinâmica e mutável. Sendo assim, enquanto o plano é instituído, o projeto é instituído e instituinte (GADOTTI, 1994).

Um projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos e o seu modo de vida. Um projeto sempre confronta esse instituído com o instituinte. Por exemplo, hoje a escola pública burocrática se confronta com as novas exigências da cidadania e busca de nova identidade de cada escola, pautas de uma sociedade cada vez mais pluralista. (GADOTTI, 1994, p. 2) Como observa Gadotti (1994), todo Projeto Pedagógico é sempre político, uma vez que reflete um ponto de vista sobre o quê e como deve ser ensinado, segundo uma visão de futuro. Por outro lado, e por sua natureza dinâmica, orientada não somente aos fins, mas também aos meios, resulta ser também inconcluso (GADOTTI, 1994).

Porém não se deve confundir o aspecto inconcluso do Projeto Político-Pedagógico com falta de objetividade. Um projeto, para ser viável, deve incluir um planejamento do que deve ser realizado. Segundo Maximiano (1994) o processo de planejamento pode ser definido de várias formas: como um processo de definição de objetivos e meios que possibilitem sua realização; uma intervenção na realidade como forma de passar de uma situação conhecida para outra desejada em um intervalo de tempo definido; tomar decisões que afetam o futuro, de modo a reduzir o grau de incerteza.

O tempo é, por sinal, um componente essencial de qualquer planejamento, e está presente tanto na definição de objetivos como na definição da forma como o projeto irá se realizar. Gadotti (1994) faz uma importante distinção entre os vários tempos envolvidos no planejamento:

a) Tempo político que define a oportunidade política de um determinado projeto. b) Tempo institucional. Cada escola encontra-se num determinado tempo de sua história. O projeto que pode ser inovador para uma escola pode não ser para outra. c) Tempo escolar. O calendário da escola, o período no qual o projeto é elaborado é também decisivo para o seu sucesso;

d) Tempo para amadurecer as idéias. Só os projetos burocráticos são impostos e, por isso, revelam-se ineficientes a médio prazo. Há um tempo para sedimentar idéias. Um projeto precisa ser discutido e isso leva tempo (GADOTTI, 1994, p. 4)

Ou seja, a dimensão temporal de um projeto é intrínseca a cada escola: seu alcance no futuro, o intervalo de tempo para que se dê a migração de um estado atual para outro desejado e o período necessário para que toda a comunidade escolar possa conceber e refinar sua visão de educação são parâmetros que variam de escola para escola. Essa é outra razão por que não se pode falar de Projeto Político-Pedagógico sem incluir mecanismos de participação e autonomia: ao não considerá-los, um projeto poderá tanto perder-se num arrastar perpétuo de correntes, como também desembocar em conflitos de assincronia, em função de diferentes percepções sobre a velocidade de realização do projeto versus a velocidade desejada pelos diferentes atores. Em ambas as situações, a credibilidade do projeto fica comprometida, essencialmente por não representar um compromisso firmado pelo coletivo.

Segundo Riscal (2009), o planejamento deve não apenas considerar a estrutura formal da escola, com as relações estabelecidas por normas e regimentos, mas também a existência de grupos informais, cujo poder de influência sobre a realidade escolar é formidável, como evidenciado por Candido (1964). O Projeto Político-Pedagógico deve considerar a existência desses grupos informais como elementos essenciais e únicos da cultura de cada escola, tratada em sua diversidade e pluralidade.

Riscal (2009), sem pretender apresentar um “modelo pronto” de planejamento, oferece, não obstante, um roteiro simples e útil para auxiliar a elaboração do Projeto Político- Pedagógico. Não entraremos em minúcias quanto a esse roteiro, que o leitor encontrará em Riscal (2009, p. 105). Apenas cabe mencionar que todo projeto necessita de detalhamento quanto à sua justificativa (isto é, a situação atual da realidade escolar), deve se originar a partir de um diagnóstico objetivo (com base em uma análise dos problemas escolares e dos indicadores da escola, tanto externos como internos), deve se basear em concepções e diretrizes pedagógicas consistentes, apresentar metas factíveis e mensuráveis (deve incluir medidas de sucesso), e deve incluir planos de ação específicos e detalhados (prazos, custos e responsáveis) para cada item do diagnóstico.

Mais importante, porém, é que cada um destes pontos tenha sido definido com a participação coletiva, e que os avanços da consecução do projeto sejam comunicados e discutidos com a máxima transparência (GADOTTI, 1994). É somente dessa forma que se assegura que o Projeto Político-Pedagógico ultrapasse os limites da escola e seja compreendido como um projeto de toda a comunidade.

SEÇÃO 2 ­ AVALIAÇÕES EXTERNAS E DESEMPENHO DE APRENDIZAGEM