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CAPÍTULO III UM OLHAR ACERCA DA TRAJETÓRIA DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

4.4 A REFORMULAÇÃO DO CURSO OCORRIDA EM 1999

4.4.1. A emancipação da licenciatura em Ji-Paraná

A historiografia acumula uma diversidade de tempos que perpassam a cronologia da construção dos fatos. Estes vão desde o tempo da documentação ao da pesquisa culminando no tempo para a escrita do texto, vindo a posteriori o tempo do leitor, “Por isso, a historiografia se caracteriza como o gênero do desdobramento no

qual convivem várias temporalidades em tensão, que provocam contradições que precisam ser percebidas e moderadas pelo historiador” (MORAES, GAMBETA, 2011, p. 169), neste sentido e, considerando que o curso em Ji-Paraná era uma extensão de Porto Velho, de que forma ocorreu a temporalidade que culminou na emancipação da licenciatura?

A luta pela emancipação da licenciatura em Matemática jiparanense foi árdua. A periodização que a antecedeu foi construída por conflitos da comunidade acadêmica local exigindo maior atenção ao curso. Até a publicação da Resolução 334/CONSEPE de 14 de janeiro do ano 2000, foram necessários 12 anos para que esta licenciatura se tornasse emancipada do curso que o originou em Porto Velho, adquirindo independência, tendo a partir de então Projeto Político Pedagógico e corpo docente próprios.

Foram períodos em que ocorreram mobilizações no sentido de derrubar ações que pediam a suspensão do vestibular e a não realização de concurso para docentes conforme texto presente no Memorando Circular 014/VR de 18 de agosto de 1992 que fazia referência a uma representação contra o projeto PIQUE onde os autores,

[...] apresentaram representação contra o Reitor da UNIR requerendo ao Senhor Procurador da República em Rondônia a anulação do projeto PIQUE, a suspensão do concurso vestibular para o interior e a suspensão do Concurso para Docentes. Esta deve ter sido a primeira vez na história da universidade brasileira em que professores entram na justiça contra a contratação de mais professores. Desnecessário dizer os prejuízos que os Campi teriam se os autores alcançassem êxito na sua funesta intenção (UNIR, Memorando Circular 014/VR, 1992, p.1).

Eram recorrentes as reivindicações do Campus para a Reitoria cobrando investimentos em infraestrutura, acervo bibliográfico, contratação de pessoal docente e administrativo. Houve momento que o descaso era tão eminente a ponto de levar o professor José Carlos Cintra, então diretor do Campus, a publicar em 21 de outubro de 1993 uma carta aberta à comunidade, explicando a situação caótica e pedindo mais respeito a unidade acadêmica de Ji-Paraná:

Gostaríamos que num órgão federal pudesse acontecer um tratamento igualitário, sem discriminações para este Campus e entendemos ainda que a eleição para Reitor já aconteceu e precisamos trabalhar para construção (edificação) deste Campus (JI-PARANÁ, Carta aberta, 1993, p.2).

Cintra havia enviado para o Reitor, um dia antes, em 20 de outubro de 1993 o ofício nº 88 da Diretoria do Campus de Ji-Paraná, relatando em três páginas o descaso

com o Campus, finalizou o documento colocando seu cargo a disposição, caso fosse ele o impedimento para o que chamou de “comunidade marginalizada do Campus” pudesse receber os benefícios a que tinha direito. Os conflitos foram aos poucos se resolvendo e o diretor permaneceu no cargo até meados de 1996.

Há um déficit histórico de licenciados em todas as áreas para atuar nas escolas públicas e, na área de Matemática, este déficit é maior ainda. A microrregião de Ji- Paraná não era e não é diferente. Faltam muitos professores de Matemática sendo, portanto, inconcebível qualquer ação no sentido de fechamento deste curso. Havia na época, o receio de alguns docentes da capital, que com a criação de polos de concentração por área de conhecimento em cada Campi do interior por meio do PIQUE, implicaria em suas transferências para estes municípios e, acreditamos que seria esta a motivação dos céticos aos cursos interioranos em especial, a licenciatura em Matemática.

Na busca da construção de nosso objeto que passa por investigar as permanências e rupturas, podemos inferir que a luta por mudanças manifestadas nas tensões entre o curso da capital e do interior levou ao fortalecimento do curso localmente, que através dos enfrentamentos conquistou sua autonomia, suscitada por meio da reforma curricular ocorrida em 1999, caracterizando-se como um dos seus principais ponto de inflexão.

O Estatuto da UNIR havia passado por mudança em 1999, com isso o CONSUN aprovou também o novo regimento da universidade através da Resolução n.º 002/CONSUN, de 21 de agosto de 2000 de tal forma que culminou numa nova estrutura organizacional da universidade.

Independentemente da área de conhecimento, todos os cursos faziam parte de um único Departamento Acadêmico, a última reunião realizada com a estrutura antiga ocorreu em 13 até junho de 2001. Em atendimento as mudanças promovidas pela ruptura com o antigo modelo no Campus de Ji-Paraná, foram criados por meio da Portaria nº 549/GR de 22 de junho de 2001 os Departamentos de Ciências Exatas e da Natureza – DECEN composto pelos cursos de Licenciatura em Matemática e em Física e o DCHS composto pelo Curso de Pedagogia. Ambos ficam submetidos ao CONSEC, maior instância deliberativa e consultiva no Campus.

O Chefe de Departamento, além das funções inerentes a chefia agrega as atribuições anteriormente delegadas ao coordenador de cursos. Todas as decisões administrativas pertinentes ao curso, em nível executivo são designadas ao Chefe de Departamento enquanto que em nível deliberativo e consultivo, ao Conselho de Departamento (CONDEP) formado pelos docentes do curso.

Nas buscas pelos vestígios documentais, encontramos o livro ata e nele o registro da primeira reunião do DECEN, ocorrida em 08 de agosto de 2001, sendo chefe de Departamento a professora Beatriz Machado Gomes.

Em 9 de outubro de 2002, foi aprovado pelo DECEN o seu Regimento Interno. Em consonância com Regimento Interno da UNIR, o Chefe de Departamento, além das funções inerentes a chefia agrega as atribuições anteriormente delegadas ao coordenador de cursos. Todas as decisões administrativas pertinentes ao curso, em nível executivo são designadas ao Chefe de Departamento enquanto que em nível deliberativo e consultivo, ao CONDEP.